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CAPÍTULO 1 – O Setor Público, o Desenvolvimento Sustentável e as Compras Públicas

2.4 Os stakeholders do sistema de CPS no Brasil

3.2.1 Escolha dos casos e participantes dos grupos

34 Yin (2005) ressalta que a confiabilidade em estudos de caso está relacionada à demonstração das operações do estudo, tal como nos procedimentos adotados para a recolha dos dados, para que possam ser repetidos, ou seja, “a ênfase está em fazer o mesmo estudo de caso novamente, e não em ‘replicar’ os resultados de um caso ao fazer outro estudo de caso” (Yin, 2005:90).

127 O estudo global que utiliza a estratégia de casos múltiplos é considerado mais robusto, pois as evidências resultantes das análises normalmente são mais consistentes que o estudo de caso único (Yin, 2005). No entanto, a escolha dos casos nesses estudos deve levar em consideração uma lógica de replicação, em oposição aos trabalhos quantitativos, que geralmente requerem a adoção de uma lógica de amostragem representativa do universo da investigação.

Todos os cuidados adotados se propõem a estabelecer ao que Yin (2005) chamou de “generalização analítica” dos resultados de um estudo de caso, confrontado à outra maneira de generalizar os resultados – a “generalização estatística”. Dessa forma, no processo de escolha, os casos devem ser cuidadosamente selecionados pelo pesquisador, considerando-se a lógica de replicação, alinhada aos objetivos da pesquisa, à possibilidade de replicação e à representatividade dos casos.

Os estudos de caso múltiplos têm a vantagem de propiciar um maior nível de validade dos resultados da investigação. Por outro lado, além de serem mais dispendiosos, implicam em um menor grau de profundidade analítica (quando comparados, por exemplo, aos estudos de caso únicos). Esta limitação pode ser suficientemente superada no momento em que haja uma criteriosa seleção dos casos participantes, de maneira a representar adequadamente o fenômeno que se investiga (Voss, Tsikriktsis & Frohlich, 2002).

A seleção dos casos, portanto, é parte muito importante para uma boa investigação deste tipo, pois cada caso será um estudo completo, que terá valor por si só, mas que, posteriormente, a partir da análise agregada dos casos, retratará a realidade de forma profunda e completa (Triviños, 1997). Por outro lado, precisa-se observar também o impacto de algumas restrições, tais como a acessibilidade, os recursos e o tempo disponíveis (Rowley, 2002).

Yin (2005) elenca alguns aspectos para se considerar na seleção dos casos: i) a criticidade do caso para se testar uma teoria já formada; ii) a singularidade do caso; e iii) seu grau revelador, ou seja, quando o pesquisador tem acesso a um fenômeno até então inacessível. Como não há uma teoria sobre sistemas de CPS suficientemente desenvolvida

128 na literatura, os aspectos a se considerar na escolha dos casos recaíram sobre as opções ii e iii.

Além disso, três critérios (não mutuamente exclusivos) foram adotados para a escolha das organizações participantes desta fase: 1) serem citadas como referência ou objeto principal de estudos científicos sobre temas relacionados às CPS; 2) serem apresentadas como organizações de referência nas práticas de CPS, em encontros profissionais ligados à temática (seminários, workshops, entre outros) ou em sítios eletrônicos sobre sustentabilidade e CPS, mantidos por instituições governamentais (sítios do Ministério do Meio Ambiente35 e do Ministério do Planejamento36); e 3) serem apontadas como referências nas práticas de CPS pelos especialistas entrevistados.

Considerou-se que, em tese, as organizações que atendessem aos critérios supracitados apresentassem sistemas de CPS mais desenvolvidos e, portanto, em melhores condições de contribuir com o conhecimento relacionado ao tema. Pretendeu- se também que nos casos escolhidos houvesse organizações participantes do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, de forma a representar a diversidade inerente à Administração Pública brasileira.

Em relação ao quantitativo de casos, não existe consenso sobre um número ideal. Yin (2005) sugere de seis a dez, enquanto Eisenhardt (1989) defende que entre quatro e dez casos é suficiente. Merriam (1998) ressalta que a determinação de critérios de seleção é primordial para a escolha dos casos.

Considerando-se todos esses aspectos apresentados e com o objetivo de promover uma visão ampla do fenômeno pesquisado, foram escolhidas oito organizações públicas, localizadas em três estados brasileiros: Brasília, Rio de Janeiro e Pernambuco (Quadro 3.2). Os dados foram coletados durante o ano de 2017, entre os meses de fevereiro e setembro.

35 http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/a3p 36 http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/

129 Quadro 3.2 – Organizações participantes

Organização Sede Poder

Critérios de seleção Mês da coleta Nº de participantes Código dos participantes Banco Central do Brasil

(BCB) Brasília Executivo 1 e 3 Fev 9 P1-1 a P1-9 Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e Territórios (TJDFT)

Brasília Judiciário 2 e 3 Set37 3 P2-1 a P2-3

Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE)

Brasília Executivo 1, 2 e 3 Fev 5 P3-1 a P3-5 Câmara dos Deputados

(Câmara) Brasília Legislativo 2 e 3 Fev 7 P4-1 a P4-7 Superior Tribunal de

Justiça (STJ)

Brasília Judiciário 2 e 3 Fev 4 P5-1 a P5-4 Jardim Botânico do Rio

de Janeiro (JBRJ)

Rio de

Janeiro Executivo 1, 2 e 3 Fev 3 P6-1 a P6-3 Tribunal Regional do

Trabalho (TRT-6)

Recife Judiciário 2 e 3 Mar 5 P7-1 a P7-5 Tribunal Regional

Eleitoral (TRE-PE)

Recife Judiciário 1, 2 e 3 Jun 10 P8-1 a P8-10

Legenda – Critérios de seleção: 1 - ser citada como referência ou objeto principal de estudos científicos sobre temas relacionados às CPS; 2 - ser apresentada como organização de referência nas práticas de CPS, em encontros profissionais ou em sítios eletrônicos mantidos por instituições governamentais; 3 - ser apontada como referência nas práticas de CPS pelos especialistas entrevistados; Código dos participantes: PX-Y, onde X representa a organização-caso (1- BCB; 2-TJDFT; 3-FNDE; 4-Câmara; 5-STJ; 6-JBRJ; 7-TRT-6; 8- TRE-PE) e Y representa o número atribuído de forma aleatória e sequencial para cada participante dos respectivos grupos focais das organizações-caso.

Para obtenção dos dados almejados, os sujeitos-alvo da pesquisa foram os profissionais do setor de compras, do departamento de gestão socioambiental (quando houvesse) ou outros servidores que tivessem alguma relação com as atividades de compras públicas sustentáveis da organização participante, uma vez que, em princípio,

37 Os dados desta organização foram inicialmente recolhidos em fevereiro. No entanto, meses após a coleta, o sistema de governança das contratações da organização foi implementado, com alterações significativas das relações com os stakeholders envolvidos. Desta forma, para melhor representar a realidade organizacional, os dados foram revisados em setembro.

130 esses profissionais possuem a informação mais qualificada em relação ao objeto de investigação.

Buscando-se um maior potencial informacional de cada respondente associado à geração de insights para entendimento do fenômeno e resposta a perguntas sobre amplos aspectos do sistema de CPS da organização, optou-se pela recolha de dados por meio da formação de grupos para a discussão dos assuntos propostos.

Dessa forma, em cada organização participante, os dados foram coletados por meio de um grupo focal – uma das técnicas de entrevista exploratória mais empregada (Hair et

al., 2005), capaz de proporcionar uma visão aprofundada, ao ouvir um grupo de pessoas

sobre determinado tema de interesse do investigador (Malhotra, 2001; McDaniel & Gates, 2004).

Não há consenso em relação ao número de participantes de um grupo focal, com indicações que variam de quatro a doze (Fraser & Restrepo-Estrada, 1998; Krueger & Casey, 2000; Leitão, 2003; Morgan, 1988; Parent et al., 2000). No entanto, como defende Pizzol (2004) e Saunders et al. (2009), o tamanho ótimo para um grupo focal será aquele que propicie a participação efetiva dos membros, gerando adequada discussão dos tópicos envolvidos, considerando-se a natureza dos participantes, a habilidade do entrevistador e a complexidade do assunto.

Nesta pesquisa, o número de participantes variou, indo de três até dez servidores em cada organização e não foram percebidas dificuldades na condução das entrevistas, de acordo com o número de participantes menor ou maior. Por outro lado, alguns resultados relacionados à categorização dos stakeholders de duas organizações cujos respectivos grupos focais foram compostos por três participantes (TJDFT e JBRJ) apresentaram algumas inconsistências e divergências, em comparação com os resultados das demais organizações – fato que pode sugerir uma perda de qualidade das informações para os casos das avaliações quantitativas em grupos pequenos de respondentes.

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