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Escolha: elevação ou declínio

CAPÍTULO II: OS MEIOS ESCOLHIDOS PELO CORPO CONTRA A

2. Escolha: elevação ou declínio

A vida não pede licença, ela simplesmente "passa", segue o seu fluxo. No seu bojo, carrega consigo uma gravidez perpétua, cheia de surpresas. No meio desse turbilhão de novidades, encontra-se o homem, que rejeita e, às vezes, até aceita os filhos que este devir coloca no mundo, inclusive, aceita a si próprio, que é um desses filhos. Ele é o único animal que tem a capacidade de dizer sim ou não às circunstâncias que a vida aí coloca, embora, ele não tenha o poder para impedir o nascimento de qualquer "fato"50. No ato de dizer sim ou não de um

homem, ou se colocar contra ou a favor de um determinado "acontecimento", pode estar por trás de tal posicionamento a força (saúde) ou a fraqueza (doença). No que tange ao fato de escolher um determinado acontecimento como positivo ou negativo, depende da perspectiva de vida de cada indivíduo. Cada um escolhe o remédio que melhor lhe convém. Na escolha se esconde o grau de saúde de quem escolhe, denuncia-se uma saúde que está em constante elevação, ou em contínuo declínio. Isso fica mais em voga quando Nietzsche se refere às escolhas feitas por Epicuro e o estoico51, comparando as duas perspectivas.

Quando se escolhe algo, o teor da escolha dependerá muito do estado de saúde e do espírito daquele que escolhe. Quando se encontra doente, naturalmente, a escolha é diferente de quando se está são. Mesmo estando fisicamente doente, é possível se encontrar instintivamente saudável. Quando alguém se encontra fisicamente doente, mas os instintos aguçados, a cura física se torna mais fácil, pois as escolhas dos remédios são feitas de forma mais perspicaz e, livre de qualquer pressão psicológica. Por isso, para se manter saudável, mesmo estando doente, Nietzsche vê, naquilo com que o indivíduo ocupa o seu tempo, um dos remédios mais eficazes para se manter sadio. Os remédios para certas curas, no seu entender, passam pelo viés da escolha, como uma questão de saber escolher, onde não se pode cometer equívocos ao

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Na concepção do aut or, não existem fatos, apenas int erpretações. "Não há nenhum fat o, há apenas interpretações. Com estas palavras, Niet zsche apresenta o traço fundament al de seu int erpretacionismo. Tudo é fundamentalmente int erpretação e não há concomitant ement e nada dado para além de cada empreendimento de uma determinada int erpr etação" (Casa Nova,Cadernos Nietzsche, n° 10, 2001, p. 31)

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escolher os meios. Para isso, o indivíduo tem que, também, conhecer seu estado fisiológico.

A escolha na alimentação; a escolha de clima e lugar; - o terceiro ponto em que não se pode por preço algum cometer erro é na escolha de sua espécie de distração. Também nisso a medida em que um espírito é sui generis torna ainda mais estreitos os limites do que lhe é permitido, ou seja, útil (Nietzsche, 2008 a, p. 38).

É interessante perceber que em qualquer escolha, o instinto sempre está agindo, as escolhas não são feitas racionalmente, a reflexão racional, entra depois de um processo já resolvido instintivamente. O instinto se torna a defesa, ou, talvez se possa dizer, ele é quem seleciona os melhores meios para que o corpo não fique fadigado, cansado. O instinto se torna um filtro onde as impurezas que contribuem para a proliferação da doença, são barradas. De certa forma, aquele que se encontra em um processo de convalescença de uma enfermidade, não tem forças suficientes para se defender, então, suas reações são instintivas e limitam-se. Mas, é também interessante que se perceba, qual instinto que está agindo no momento das escolhas, seria um instinto saudável que quer mais vida, que deseja e anseia pela grande saúde ou, um instinto decadente, que nega a vida! Só é possível perceber qual deles está agindo pelos meios escolhidos no processo do restabelecimento de si.

O jeito como o indivíduo se comporta em meio às situações desfavoráveis, como na doença, por exemplo, está implícito e mostra qual instinto age. O instinto que quer mais saúde, mais vida, age de forma cautelosa, não gasta energia desnecessária com coisas que não ajudam o indivíduo a se restabelecer. Ele conserva energia para ser usada na hora certa. Tudo aquilo que causará uma perda de energia, é barrado pelo instinto. Talvez, o instinto de autodefesa que cuida das escolhas saiba se resguardar, como uma forma de se conservar, simplesmente para ganhar mais força e, agir na hora devida. Isto é o que Nietzsche deixa a entender, quando diz:

Em tudo isso - na escolha da alimentação, de lugar e clima, de distração - reina um instinto de auto-conservação que se expressa da maneira mais inequívoca como instinto de

autodefesa. Não ver muitas coisas, não ouvi-las, não deixar que se acerquem - primeira

prudência, primeira prova de que não se é um acaso, mas uma necessidade. A palavra corrente para esse instinto de auto-defesa é gosto. Seu imperativo obriga não só dizer Não sempre o Sim seria um "altruísmo", mas também a dizer Não o mínimo possível. Separar- se, afastar-se hábitos e regra levam a um empobrecimento extraordinário e completamente supérfluo. Nossos grandes gastos são os pequenos e muito e muito freqüentes. O

53 rechaçar, o não deixar que se aproxime é um gasto - não haja engano - ,uma energia

desperdiçada para fins negativos (Nietzsche, 2008 a, p. 44-45).

Na busca pela saúde, as escolhas têm que ser bem sucedidas, no entanto, um critério se torna indispensável para atingir tal objetivo. O critério é: não ser ressentido; o doente não deve deixar-se ser incubado pela doença, pois o resultado será o ressentimento. Com o ressentimento, o homem gasta toda a energia que deveria ser direcionada à conquista da saúde. Nietzsche entende, que para um indivíduo escolher os meios necessários para sua "cura", se faz imprescindível que primeiro ele cure o seu ressentimento da vida. Se isso não ocorre, suas escolhas serão escolhas de um doente e, um enfermo não faz escolhas sãs. Escolhas saudáveis são feitas por alguém tipicamente são.

Para tanto, o indivíduo deve conhecer as duas faces da existência, ascendência e declínio, isto é, deve vivê-las. Só a partir de então, ele saberá qual a melhor escolha a ser feita em prol da saúde do corpo. Nietzsche entende, que para se curar do ressentimento, é necessário saber o que é o ressentimento. Saber experimentar os extremos da vida e, não desvalorizá-los, mas ser capaz de transformá-los em benefícios para o mais viver. Eis um sinal de conquista da grande saúde por alguém que se encontrava em convalescença.

Para tanto, o sofredor tem de ter superado seu próprio ressentimento, tem de estar suficientemente esclarecido sobre a constituição e o sentido do ressentimento, o que não pode acontecer, na extensão e profundidade necessárias, sem que ele tenha sido capaz de vivê-lo tanto sob o prisma da força quanto da fraqueza (Giacoia, 2013, p. 191).

A tarefa de diagnosticar em si e aceitar que é um ressentido, é um primeiro passo dado por aquele que está disposto a se curar dessa doença. Depois desse diagnóstico vem a tarefa um pouco mais difícil, que é escolher os remédios certos para se curar dessa doença, pois, para Nietzsche, estar ressentido já é um tipo de doença. "Eis aqui a mais difícil de todas as tarefas para qualquer Hércules do conhecimento: estando enfraquecido e doente, superar em si mesmo o ressentimento" (Giacoia, 2012, p. 191). Na dinâmica desse processo, de se perceber como ressentido e, buscar meios que impeçam o avanço dessa doença, já é o processo de convalescença que está em andamento. Para tanto, aquele que padece do ressentimento e quer se ver livre de tal malefício, na perspectiva de Nietzsche, se faz necessário que o doente desenvolva a capacidade da flexibilidade, isto é, uma arte de camaleão, de se transfigurar de

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acordo com a exigência do "ambiente". Aqui, implica ter forças para saber escolher os meios certos para cada etapa.

No entender de Nietzsche, o saber se poupar de situações que consomem muita energia, é um sistema de defesa desenvolvido pelo doente. Esse poupar, implica em um saber "comer alimentos" que não fazem parte do seu cardápio de costume. Nisso tudo há uma sabedoria instintiva, na qual o doente faz experiências diferentes, que em situações favoráveis, ele não as faria, pois teria energia suficiente para fazer outra escolha. O saber dizer sim em situações desfavoráveis, onde normalmente diria não, se estivesse com saúde, para um doente tipicamente são, é um sinal de sabedoria, que o ressentimento não conseguiu se apoderar do seu corpo. O ser capaz de "se renegar", eis a artimanha de um doente tipicamente são. "Portanto, para poder superar o ressentimento em si mesmo, é necessário que o doente seja capaz de, como a serpente, 'trocar de pele', estar em condições de se converter no contrário de si mesmo" (Giacoia, 2013, p. 191).

Aquele que consegue passar pelo processo de desintoxicação, se livrando do sentimento de ressentimento diante das circunstâncias impostas pela vida, que muitas vezes são desfavoráveis, faz brotar em si, um olhar diferente diante da vida. Ele é capaz, depois do seu restabelecimento, de ter guardado em si, o mapa de suas andanças em busca do seu bem-estar. Mapeando as escolhas que foram feitas para atingir este objetivo, é possível saber para onde o seu corpo o conduzia nessa jornada, já que Nietzsche coloca na boca de Zaratustra, em Os Desprezadores do Corpo, que este é quem faz as escolhas que possam lhe proporcionar saúde.

A grande doença, portanto, amplia os espectro de visão, dela retornamos como que renascidos, a modo da fênix ressurgindo das próprias cinzas; pois, quando convalescemos, podemos perceber precisamente para onde, para que tipo de resguardo nosso pensamento foi aliciado por nosso corpo doente e sofredor (Giacoia, 2013, p. 190).

Em se tratando de escolhas que "elevam" a saúde do corpo, se torna interessante perceber, que este é quem toma as iniciativas para tal propósito. Tais iniciativas não passam pelo fio da razão, isto é, estão para além da compreensão racional, embora, depois de um tempo, a razão faça suas avaliações. Para que um corpo venha a se comportar desta forma é preciso que algo alavanque esse processo, forçando tal iniciativa. Ele manifesta sua recusa a certos tipos de

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situações de várias formas, sendo a doença a forma mais crítica dessa comunicação. Assim ocorreu com próprio Nietzsche, que tinha um corpo saudável o suficiente para preservá-lo de um declínio por completo. No filósofo, foi preciso que algo mais forte do que ele, o arrancasse da sua situação de declínio, Pois: "Era, em sua opinião, tão modesto que foi preciso que seu próprio corpo, extremamente enfraquecido por uma verdadeira batalha interna, o arrancasse, pela dor, das obrigações acadêmicas, projetando-o irreversivelmente na aventura filosófica" (Ferraz, 2009, p. 48).

No caso de Nietzsche, ele desenvolveu a capacidade de pensar através de um todo que se chama "corpo", assim, adquiriu a desenvoltura para criar meios que o preservassem saudável. Conhecendo bem os sinais emitidos pelo seu corpo, o filósofo aprende, a duras penas, a se esquivar das armadinhas que uma doença pode trazer. Nietzsche se mantém fiel a si mesmo, não permitindo que a doença o arrastasse para caminhos perniciosos à vida.

A doença terá um papel decisivo na vida de Nietzsche, funcionando como uma espécie de aguilhão que o incita a seguir sua vocação singular. Como filósofo que pensava com o corpo inteiro, Nietzsche conhecia bem o imenso valor estratégico de uma certa espécie de doença (Ferraz, 2009, p. 48).

No que tange às escolhas de quem passa por um processo de convalescença, se torna interessante perceber, que o que está em jogo, é a sobrevivência do corpo, ele é quem comanda o caminho a ser percorrido nesse processo. Só que, existe algo que se esconde por trás das opções feitas pelo corpo, é o instinto de autoconservação, que está a serviço da preservação da vida. Mas se faz necessário interrogar que instinto está agindo sobre um corpo doente, um que o levará ao declínio, ou à ascensão. Pois pode acontecer, que o instinto de conservação esteja a favor da preservação do homem e, não a favor da vida como um todo, no seu processo bruto, que não tende a preservar uma determinada espécie. Parece que, em momentos extremos, em que a vida está em jogo, os instintos que predominam, são os que conservam uma vida em particular. As escolhas são feitas em prol da preservação do indivíduo e não do todo. No próprio Nietzsche isto fica manifesto, "para ele, nesta necessidade de seleção é um instinto de auto-conservação que comanda; é ele que preside, em última instância, á tais escolhas" (Ferraz, 2009, p. 100).

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Mas por trás do instinto de autopreservação, há uma sabedoria de vida, que age por conta própria, isto é, mesmo estando doente, é possível que o indivíduo esteja em pleno vigor instintivo, que sabe a hora de recuar, esperando o tempo certo para agir. Neste caso, não há ressentimento, vingança, ou qualquer tipo de desilusão com a vida, ou uma entrega ao pessimismo, mas sim, uma sabedoria instintiva, que preserva o homem em situações desfavoráveis, como é o caso da enfermidade, por exemplo. "A conservação de si mesmo seria portanto uma verdadeira obra-prima na qual se revela, a posteriori, a astúcia da própria vida" (Ferraz, 2009, p. 100).

A astúcia de um instinto saudável, na concepção de Nietzsche, é diferente de um instinto décadent. Mesmo que os dois trabalhem em prol da vida, suas perspectivas a respeito dela, são diferentes. Enquanto um instinto se volta de forma afirmativa para a terra, afirmando sua existência, voltando seu olhar para ela, o outro, o instinto décadent, direciona sua atenção para um outro mundo, deslocando o foco da existência. Um escolhe declarar sua fidelidade à terra, o outro, a despreza. Através destas diferentes perspectivas de vida, se encontra a história da humanidade, em que ascensão e declínio caminham de mãos dadas. Ambos querem a vida, mas a partir de perspectivas diferentes. "A cisão surge, então, com toda clareza nas exposições de Nietzsche. Por um lado, a vida se nega na práxis ascética. Pois esta é somente uma ponte para uma outra forma de existência, oposta à vida" (Müller-Lauter, 2009, p. 130).

Na perspectiva filosófica de Nietzsche, um exemplo de espírito décadent, que escolhe meios perniciosos à vida, se encontra nas escolhas cristãs perante esta, que é negada em prol de um outro mundo. O propósito desse mundo ideal, é negar a existência enquanto tal, fugindo da "realidade" como ela se apresenta, isto é, cria uma máscara, um meio para desvalorizar a vida como ela aparece, na sua concretude. Um doente que recorre a tais meios, na opinião do filósofo, é um doente, seus instintos de autodefesa, que afirmam a vida, estão enrolados no casulo ascético que leva ao declínio do homem. Aquele que opta por tais meios, para Nietzsche, está abandonando a si mesmo, com isso, ratificando sua fraqueza diante do mundo. Um espírito forte, que valoriza a vida, que a tem como horizonte, não se permite tal dano. "Buscar refúgio, por exemplo, na consolação cristã seria, inaceitável para tais espíritos" (Giacoia, 2013, p. 186-18).

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Um doente, que ainda é saudável, consegue manter ativas as potências que lutam por mais vida, pela ascensão dela. Tal potência, o faz desejar ainda mais a sua existência, sendo capaz até mesmo de transformar momentos desfavoráveis em motivos para o mais viver. O seu olhar diante da vida, é um olhar alciônico, sem maquiagem, aceitando-a como ela se mostra. Não há, em seu comportamento, nenhum sinal de ressentimento para com a vida. "Percebemos, pois, que certo tipo de doentes graves conservam uma reserva de potência, que se manifesta como gratidão até mesmo para com os períodos de mais severa enfermidade" (Giacoia, 2013, p. 186).

Para Nietzsche, as escolhas feitas por um doente, de modo particular, as práticas ascéticas, se tornam um paradigma. Um asceta, representa um espírito décadent, mas é um tipo um tanto interessante, devido aos seus meios de escolhas. Ele não parte do vazio para fazer suas opções. Tem como parâmetro, ou medida, para tal fim, a vida mesma, como ela "é". Ele parte do que tem ao encontro do que não existe. Através do vazio desejado por ele, ele afirma a vida que tem; esta, é o seu horizonte, embora a partir de uma concepção diferente.

O paradoxo vivido pelo asceta, consiste na sua opção de vida, ele a afirma a partir de uma negação. Ele a nega para conquistá-la, ele parece não ter coragem para aceitá-la na sua concretude, na sua nudez. Na ótica de Nietzsche, um espírito desse gênero, que mesmo mediante a negação é capaz de criar, é para ser levado a sério. A sua contribuição para a humanidade deve ser reconhecida, pois o que se esconde por trás de tal ideal, é justamente a vontade de mais vida, de conservá-la.

Nesse contexto, precisa-se da força para "estancar as fontes de força". Assim, aqui domina a aversão à vida. Por outro lado, porém, o ideal ascético representa um "artifício da

conservação da vida". Pois se a vida é apenas ponte, então é preciso que se edifique e se

fixe nela (Müller-Lauter, 2009, p. 130).

Segundo Nietzsche, os meios ascéticos levam o indivíduo a um agravamento da doença, eles funcionam como um anestésico, que rapidamente passa o seu efeito, deixando o doente dependente. As consequências desses métodos, segundo Nietzsche, são uma elevação da gravidade da doença, eles criam uma falsa cura, ludibriando o paciente. Caso semelhante, acontece com Sócrates, que segundo o autor, é um falso médico, que utilizava meios perniciosos à vida (Crepúsculo dos Ídolos, caso Sócrates). O sacerdote ascético

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seria um falso médico, que não tem o intuito de sanar o sofrimento do enfermo, mas agravar a doença. Nesse jogo manipulado pelo sacerdote ascético, há como resultado o declínio do paciente, que se encontra num círculo vicioso, sem forças para retornar a si. "O sacerdote ascético combate como 'enfermeiro' não' o próprio estado doentio', mas busca, a seu modo, somente aliviar o sofrimento que está nele" (Müller-Lauter, 2009, p.130-131).

O que Nietzsche enfatiza com o ideal ascético, é que ele não se localiza em um único espaço histórico, não tem um começo. Em todos os tempos existiram e, continuarão havendo seus representantes. É algo universal que brota em todas as classes e culturas. "Pois consideremos com que regularidade, com que universalidade, como em quase todos os tempos aparece o sacerdote ascético; ele não pertence a nenhuma raça determinada; floresce em toda parte; brota de todas as classes" (Nietzsche, 1987, p. 131). Ideal ascético e niilismo52

são frutos da mesma árvore, isto é, são resultados da décadence fisiológica. Ambos usam meios perniciosos à vida, lutam contra ela, negando-a.

Mas para Nietzsche, não se deve cometer o engano de achar que no ideal ascético não há vontade de vida. Embora sejam usados meios que a descaracterize, ela é o propósito a ser atingido. Nas promessas de "cura" feitas por ele, alguns doentes se sentem atraídos, acalentados, encontram conforto, uma possibilidade de cura. A vida luta pela vida, embora use como método a negação da "realidade". O que ocorre com o asceta é o contrário do seu desejo, estando enfermo, ele parece não perceber que está agravando seu ressentimento ante a vida. Os meios ascéticos levam o indivíduo a se perder de si, ficando alheio do seu próprio "ser", pois o seu propósito maior está fora do "real", no qual ele se encontra e faz parte. No ideal ascético, age um instinto de cura, mas ele está contaminado pela doença, não consegue guiar o enfermo ao encontro de si, ele não consegue despertar na hora necessária. Esse paradigma vivido pelo asceta é abordado por Nietzsche no aforismo 13 de Para Genealogia da Moral (Nietzsche, 2005, p.155).

Os meios adotados pelos doentes, que optam pelos ideais ascéticos, consistem em desvalorizar a vida. Não porque ela é ruim, mas porque eles não suportam carregar o "peso" que esta implica. Estando doentes, padecem do "mal"

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Tal t emática aparece na obra de M üller-Laut er, Nietzsche: sua filosofia dos antagonismos e os

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de viver, pois segundo Nietzsche, isto é o que a existência representa para eles. Diante dessas circunstâncias, uma alternativa é adotada Já que viver implica dor,

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