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CAPÍTULO III: A CONVALESCENÇA COMO POSSIBILIDADE DE

5. O riso e a grande saúde

enfim voltou a falar. Nunca fui tão feliz comigo mesmo como nas épocas mais doentias e dolorosas de minha vida (Nietzsche, 2008 a, p. 72).

A perspectiva de Nietzsche perante a vida, no decorrer da sua convalescença, foi sendo reeducada, tornando-se mais próxima da terra, fiel a esta. Para tanto, o filósofo passa por uma transmutação, ressignificação do que até então, de certa forma, fazia parte da sua concepção de vida. O autor manifesta essa brusca e lenta mudança de ótica, entre outras obras, nos seus escritos de Humano, Demasiado Humano, onde ele prescreve os meios escolhidos para retornar a si. Nietzsche se afasta daquilo que ele não considerava digno de sua natureza de guerreiro. O autor, através dos seus escritos na obra referida acima, "dita" a dinâmica de afastamento daquilo que era prejudicial a sua saúde. "Humano, Demasiado humano, este monumento de uma rigorosa disciplina de si, com a qual dei um brusco fim a todo 'embuste superior', 'idealismo', 'sentimento belo' e outras feminilidades de que for contagiado" (Nietzsche, 2008 a, p. 72).

5. O RISO E A GRANDE SAÚDE

Enquanto a seriedade na busca por uma verdade na filosofia sempre foi levada a finco, Nietzsche faz o caminho inverso e, chega a colocar esta seriedade como um tipo de doença, de fraqueza. A defesa ou a busca de uma única verdade, exclui muitas perspectivas interessantes, esta, talvez, tenha sido a percepção de Nietzsche. Isto fica um pouco à mostra quando o autor se propõe a não levar a sério nem a si mesmo, considerando-se malicioso demais114, assim, mostra sua opção em navegar por outros mares filosóficos, a beber de todas as fontes possíveis. "Moro em minha própria casa, Nada imitei ninguém E ainda ri de todo mestre, Que não riu de si também"115. Nas palavras do autor, parece ficar

certo, que nesse processo, se faz necessário duas coisas: primeiro, você deve ter o seu próprio fundamento, segundo, ser capaz de rir dele, isto é, colocá-lo sobre questionamento. Para tanto, se faz necessário se conhecer.

O fato de ser capaz de rir de si mesmo, de suas próprias convicções, mostra um elevado grau de força, de saúde. Optar por peregrinar por outros

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Aforismo 1 de Ecce Homo (Por que sou um dest ino).

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caminhos, mas sem esquecer-se de si, sem defender um único meio a ser seguido. Esse antagonismo116 no filosofar de Nietzsche, exige um elevado estado

de espírito e conhecimento de si mesmo. Essas características não se conquistam da noite para o dia, é preciso passar por experiências, muitas vezes, indesejadas, em que a dor, a desilusão, o vazio, a dúvida estão presentes; e também a certeza, a crença em uma verdade, a alegria fazem parte do mesmo fio de novelo. Não há juízos de valores negando ou afirmando uma determinada vivência, todas são de igual "valor", só muda a perspectiva.

O filosofar com o riso não tem uma fórmula, um esquema pré- estabelecido, isto é, o esquema é não ter esquema. Este riso não é um riso qualquer, mas um rir que manifesta uma saúde que está sempre se elevando, é o resultado de um processo de muitas vivências. Esse caminho é para poucos, não são todos que têm a coragem de rir de suas próprias verdades, de colocá-las em questionamento. Nessa nova proposta de filosofar, se encontra um desafio ousado, no qual a recompensa é o vazio, a angústia de não ter uma verdade para si, embora, aquele que se propõe a tal filosofia, seja cheio de si mesmo, ele é o seu próprio alimento e combustível. O seu anseio não é encontrar uma verdade, ele não traça uma meta a alcançar, a meta é não ter uma meta, e ser capaz de "sustentar" esta perspectiva.

O indivíduo que se propõe a tal desafio, se pressupõe, que ele esteja disposto a se perder e a se encontrar constantemente, isto será inevitável ao longo desse processo em que a ousadia e coragem vislumbram um novo caminhar. Melhor, este se torna o seu desejo. Ao se propor e, ao aceitar este desafio o indivíduo deve estar disposto a experimentar o inesperado, e melhor, não renegar o diferente, que muitas vezes, tem um sabor amargo. Para isso, se precisa de uma coisa, adquirir "a grande saúde"117. Este novo indivíduo não tem

uma única identidade, uma única pátria, não defende uma moral específica. Pois, além de ter passado por várias mutações, continuará a passar por diversas transmutações. Nietzsche vê nesse tipo de espírito, no qual há um acúmulo de experiências, e superações, o que ele chama de a grande saúde.

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A temática do antagonismo na filosofia de Niet zsche é abordada por M üller-Laut er, na sua obra,

Niet zsche: sua filosofia dos ant agonismos e os antagonismos de sua filosofia.

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Uma grande saúde, como é entendida por Nietzsche, não é dada, mas sim, conquistada, constantemente adquirida. Mas, aquele que retoma sua saúde de volta, tem que estar disposto a perdê-la, só assim ela é digna de ser reconhecida como uma saúde elevada. Na perspectiva de Nietzsche, são poucos os que têm força para conviver com a multiplicidade de valores que circundam o homem, que se encontra em meio a um turbilhão de novidades, que estão sempre transvalorando.

Nós, os novos, os sem-nome, os difíceis de entender, nós, os nascidos cedo de um futuro ainda indemonstrado - nós precisamos, para um novo fim, também de um novo meio, ou seja, de uma nova saúde, de uma saúde mais forte, mais engenhosa, mais tenaz, mais temerária, mais alegre, do que todas as saúdes que houve até agora118.

Quando Nietzsche diz, na Gaia Ciência119, que ri de todo mestre120 que não ri de si mesmo, ao mesmo tempo, ele mostra em Ecce Homo121, que sua ponderação sobre isso, de certa forma, é um alerta para aqueles que levam a vida, a busca por uma verdade absoluta, por demais a sério. O filósofo parece anunciar uma profecia, que uma grande crise de valores caminha lentamente sobre a terra e, só aquele que é capaz de rir, tomar distância daquilo que ele acredita, será forte o suficiente para conviver com o abalo que sofrerão as verdades que foram acreditadas até então. Para o filósofo, essa crise de valores, será diretamente ligada ao seu nome. Conheço minha sina. " Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo - de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, requerido" (Nietzsche, 2008 a, p. 102).

Através do riso, Nietzsche transforma a vida em um palco de teatro, onde cada ator é protagonista de sua própria peça, conduzindo sua existência no grande palco da existência. Esse cenário teatral, tem como propósito, transformar o que é sinônimo de sofrimento, dor, ou até mesmo o que é tido como "sério", a busca por uma verdade, por exemplo, em algo mais leve, flexível, para que assim, o homem seja um dançarino, que dance de acordo com a música escolhida pelo

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Nietzsche, Friedrich. A Gaia Ciência. In: Obras Incompletas, p. 22.

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Idem, p. 187.

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Assim, os inventores de "finalidades" nos proíbem o riso corretivo e salutar, o riso aliado à sabedoria, que explode "do fundo da verdade inteira" sobre nossa "miséria de moscas e rãs (Ferraz, 2009, p. 101).

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acaso, sem transformar essa condição em um fardo. A existência transformada em paródia, eis o segredo de uma grande saúde. Aquele que consegue transformar suas próprias dores em motivos de risos, para Nietzsche, mostra que não é um ressentido diante da sua existência, mas sim, é alguém que soube superar o que de mais grave afligiu o homem até então, a busca por uma verdade absoluta, um sentido. "Voltando seu 'terceiro olho' para os doutores da finalidade da existência, Nietzsche rompe com a seriedade trágica que tais personagens instauram sobre a terra" (Ferraz, 2009, p. 102).

Para Nietzsche, o riso funciona como uma espécie de arte, a arte da conquista. Através desta, o homem transmite a superação de um trauma, como por exemplo, o "fato" de não ter superado a não conquista da verdade. Na ótica do filósofo, a busca pela verdade, foi tida como algo extremante sério, mas os meios usados para tal propósito foram equivocados. Para o autor, a verdade não é para ser levada a sério, ela ri daquele que se comporta de tal forma. Na concepção de Nietzsche, os meios usados para lidar com algo tão "encantador", no caso a suposta existência de uma verdade, são formas enrijecidas, rústicas, que não acompanham a sutileza exigida por essa "senhorita" que sempre troca sua maquiagem. O remédio contra "alguém" que não quer ser levado a sério, na ótica de Nietzsche, é o riso. A busca pela verdade deve ser uma brincadeira de criança, em que o construir e desconstruir é a regra a ser seguida, isto é, deve se comportar como uma criança arteira, que não leva as coisas muito a sério, mas só quer brincar.

Nesse jogo pela busca da verdade, Nietzsche coloca os filósofos de até então, como aqueles que não souberam jogar de acordo com as regras, melhor dizendo, eles tinham uma única regra, tudo pela verdade. Para o filósofo, a regra desse jogo, é não ter uma, mas várias, pois esta suposta verdade, não casa com um único "cavalheiro", ela gosta de ser cortejada por vários, mas sem ser de nenhum.

Supondo que a verdade seja uma mulher - não seria bem fundada a suspeita de que todos os filósofos, na medida em que forma dogmáticos, entenderam pouco de mulher? De que a terrível seriedade, a desajeitada insistência com que até agora se aproximara da verdade, foram meios inábeis e impróprios para conquistar uma dama? É certo que ela não se deixou conquistar (Nietzsche, 1992, p. 7).

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Na perspectiva do filósofo, só se deve falar daquilo que se superou122, isto

é, aquele que esboça suas vivências, não deve ser um ressentido diante destas, mas ser capaz de tomar distância, rir daquilo que em muitas situações, deixaria o homem moribundo, entristecido. Segundo Nietzsche, esse tipo de comportamento, manifesta o bem-estar diante da existência, só se devem levar em consideração as palavras de alguém que se curou da doença do ressentimento diante da vida, que é capaz de transformar a tragédia vivida em situações cômicas. Nesse ato está presente a grande saúde, isto é, quem realiza tal façanha é capaz de tomar distância e analisar os momentos que teve de convalescença.

Para tanto, Nietzsche exige muito de quem ousa adquirir essa grande saúde, que tem o riso como forma de expressão. Nessa perspectiva "terapêutica", o indivíduo só fala, só ri daquilo que ele já superou. Nesse superar nietzscheano está contido a superação de si mesmo, isto é, colocar suas próprios crenças em jogo, transfigurá-las. Como Nietzsche diz em Ecce Homo, "ser demasiado malicioso" (Nietzsche, 2008 a, p. 102), até consigo mesmo. Segundo o autor, o melhor remédio contra tudo aquilo que foi levado a sério até então, tido como inquestionável, como por exemplo, verdades absolutas, que na sua visão, é mendaz ao homem, é fazer bufonices. Não é por acaso que Nietzsche coloca a arte dos bufões como pré-requisito para ler seus escritos, ele quer se prevenir de que se transforme seus escritos em supostas verdades, valores que sirvam de "caminhos" àqueles que não têm forças para se guiar, que usam a filosofia para blasfemar a vida. Por isso, ele diz:

Tem um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão por que publico este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo... Eu não quero ser um santo, seria antes um bufão... Talvez eu seja um bufão... E apesar disso, ou melhor, não apesar disso - pois até o momento nada houve mais mendaz do que os santos (Nietzsche, 2009, p. 102).

Para chegar a esboçar o riso, que na perspectiva de Nietzsche representa a grande saúde, não é tarefa fácil, pois esse tipo de humor nietzscheano, implica um processo, digamos, desafiador. Nietzsche não fala de qualquer riso, mas de um riso que representa superação, dor, convalescença. Segundo Nietzsche, a vida se desenvolve em um cenário um tanto sério e, que o riso a deixaria mais

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leve. Esse tipo de risada, seria algo que dignifica a existência humana, em todos os aspectos. Reconhecendo o desafio do procedimento que leva ao grande riso, Nietzsche concebe este tipo de risada como algo divino, pois através dele se diz sim a vida, esta é louvada, cultuada. Para o autor, o grande representante deste riso divino, é Dionísio, dele provém esse artifício dignificador da vida.

Dionísio, esse grande e ambíguo deus tentador, é filósofo. De sua filosofia podemos aprender que o riso não é uma grande enfermidade da natureza humana, e que toda boa cabeça pensante deveria se esforçar por superar. (...) Dionísio está justamente no cume da hierarquia dos filósofos, porque dele aprendemos a risada de ouro (Muñoz, 2014, p. 12).

O riso nietzschiano deve ser compreendido como um desafio feito à vida, com tudo aquilo que ela tem para oferecer. Isso fica mais forte em Ecce Homo, onde o autor deseja até o que tem de mais "pesado"123na existência, a dor. Esse

desafiar de Nietzsche, não deve ser entendido como negação, ou ressentimento contra a vida, mas um desejo maior por esta, pelo mais viver. Mas quem é capaz de transformar a dor em riso, quem é forte o bastante para rir da sua própria "tragédia" existencial, indaga Nietzsche. "Quem, entre vós, pode ao mesmo tempo rir e sentir-se elevado?" (Nietzsche, 2011, p. 41). O autor entende, que só aquele que desafia as mais elevadas altitudes da existência, que sabe rir do seu próprio "cenário", é capaz de tal tarefa. O riso representa não só a boa saúde do indivíduo, mas sua "aceitação" diante da "realidade" e também uma boa relação com os contrastes dela. Sobre isso, diz Nietzsche: "Quem sobe aos montes mais altos ri das tragédias do palco e da vida" (Nietzsche, 2011, p. 41).

O riso como Nietzsche o entende, funciona como uma sátira, que brinca com a vida, ele é o contrário de um espírito de negação. Enquanto este, range os dentes contra aquilo que o acaso lhe apresenta, Nietzsche prefere o contrário, isto é, o riso. Na perspectiva do filósofo, quanto mais se nega a condição existencial, pior ela se torna, por isso, o autor sugere o encantamento do riso, que com o seu jeito sarcástico, desdenha de uma dama que se faz de difícil. Para Nietzsche, não importam as condições que a vida tem a lhe oferecer, se tem somente a dor124,

que seja, mesmo assim, ela vale a pena ser vivida, desejada. Para tanto, o remédio que melhor funciona, segundo o filósofo de Zaratustra, é o riso. Ele alivia, desmonta o peso da negação que tende, em momentos adversos, a andar sobre

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Ecce Homo, aforismo 1 ( Assim Falou Zaratust ra), 2009, p. 79.

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os ombros do homem, fazendo com que ele negue essa parte da sua existência. "Não com a ira, mas com o riso é que se mata. Eia, vamos matar o espírito de gravidade" (Nietzsche, 2011, p. 41).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática do corpo é algo sempre presente nos escritos de Nietzsche, de modo mais enfático em Assim falou Zaratustra, onde a linguagem do corpo está na boca de Zaratustra e, em Ecce Homo, sua "autobiografia", na qual ele retrata suas próprias experiências vividas através do seu corpo, mostrando o quão importante esta problemática se apresenta em seus escritos. O filósofo vai longe nas suas investigações em torno de algo tão múltiplo como é o corpo. Na ótica do autor, limitá-lo, restringi-lo, enquadrá-lo em simples conceitos, jogos de linguagens, é uma má interpretação que se faz deste, aquilo que Nietzsche chama, no aforismo 22 de Para Além de Bem e Mal, de má filologia.

Sendo algo que perpassa todos os seus escritos, Nietzsche toma o cuidado para não reduzir o corpo a conceitos morais, que segundo ele, foi ao que este foi reduzido. Para desconstruir a teia moral na qual o corpo foi enquadrado, o filósofo faz um percurso na tentativa de livrá-lo dessas redes. Para tanto, o autor procura, através de figuras singulares, diagnosticar como estas limitações se deram em determinadas épocas, buscando ver e desvelar o que está por trás destas interpretações. Em Crepúsculo dos Ídolos, por exemplo, no caso Sócrates, Nietzsche analisa a figura de Sócrates não só como alguém onde a decadência se faz mais forte, mas também de forma simbólica, no intuito de dizer o que ocorria com a polis de Atenas. Já para aludir aos valores que regiam o contexto da Europa de sua época, o filósofo fala, no prólogo de Além do Bem e do Mal125, da influência cristâ-eclesiástica, referindo se ao cristianismo como platonismo para o povo, e mostra como os valores europeus estavam calcados nos valores platônicos-cristãos. Para falar da amplitude do corpo, ele se apossa do conceito científico de fisiologia e o transvalora.

Usar figuras singulares como meio para diagnosticar problemas que afetavam toda uma cultura, foi o método utilizado por Nietzsche em seus escritos. Na singularidade de Sócrates, por exemplo, e como já dissemos, o filósofo traz questões que afetavam a pólis de Atenas. Isto porque, segundo Nietzsche, através de Sócrates e Platão, começa a mudar algo muito importante na cultura

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Paulo de Cesar traduz por Além de Bem e M al, ao passo que o Rubens, traduz por Para Além de Bem e

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Grega, o gosto126. Com isto, uma questão fica, se Sócrates corrompeu o gosto

grego antigo, sendo Platão um grego e discípulo de Sócrates, sendo o bem em si, o puro espírito, uma invenção de Platão e, sendo Platão, na visão de Nietzsche, um cristão antes mesmo do cristianismo127, seria o cristianismo também um sintoma da decadência socrática?

Ao trazer presente a figura de Sócrates, Nietzsche quer mostrar, que nele se reflete de forma mais acentuada a doença da qual padecia a pólis de Atenas, isto é, de uma queda fisiológica, seus corpos estavam doentes, eles não conseguiam mais guiar seus instintos128. Com isto, Nietzsche parece mostrar, que

a má interpretação do que pode ser um corpo, começa com Sócrates, continuada por Platão e o cristianismo. Nestas três perspectivas se encontra algo em comum, o intuito de combater os instintos, o fluxo da vida, a terra, os afetos, o corpo. Com isto, seria prudente afirmar, segundo a perspectiva de Nietzsche, que a doença fisiológica que assolava a sociedade grega, uma vez que não conseguia mais conviver e direcionar seus instintos, permanece viva, disfarçada através do cristianismo?

Nos parece que a grande questão levantada por Nietzsche, que percorre seus escritos, parece girar em torno do corpo, essa indagação "começa", de forma simbólica, com o corpo doente de Sócrates, que representa a decadência da pólis de Atenas, contrapondo a tragédia grega e Dionísio, que afirmavam a vida, e caminham até a figura do corpo doente porém tipicamente sadio do próprio Nietzsche, que virou mestre na arte de convalescer-se129. A diferença da

decadência de Sócrates para com a decadência de Nietzsche, é que Sócrates não tinha forças para ir até o fundo, mergulhar na decadência e depois sair130,

afirmando a vida, ao contrário de Nietzsche, que também se declara decadente como ângulo, mas como totalidade, era saudável131.

Mesmo fazendo essa trajetória em torno das diferentes necessidades de cada corpo, dependendo do contexto geográfico e cultural que são fatores que muito o influenciam, Nietzsche percebe que este sempre foi mal compreendido,

126

Isto é retratado no aforismo 5 de Crepúsculo dos Ídolos (caso Sócrates).

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Isto Nietzsche diz no aforismo 2 de Crepúsculo dos Ídolos ( o que devo aos antigos).

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Dit o por Niet zsche no aforismo 11 de Crepúsculo dos Ídolos (caso Sócrates).

129

Aforismo 1 de Ecce Homo ( por que sou tão sábio)

130

Aforismo 11 de Crepúsculo dos Ídolos (caso Sócrates).

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mal interpretado, por isso, foi marginalizado tanto pela filosofia132 (talvez com a

exceção de Espinoza), pela ciência, como também pela religião, que o limitou a conceitos separados e valorativos como: corpo e alma, espírito. Tentando sair

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