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Neste capítulo, o estudo restringe-se a apenas 15 selecionados, ao contrário do capítulo anterior, onde foi feita uma análise comparativa envolvendo o estado e a totalidade dos pequenos municípios (60). Quando da elaboração do segundo capítulo, as unidades territoriais de análise foram os pequenos municípios do estado do Rio Grande do Sul e suas sedes que tivessem registrado, segundo os censos demográficos, tamanhos populacionais até 10.000 habitantes tanto em 1980 quanto em 2000. Embora em alguns momentos dados referentes a 1970 tenham sido considerados, não foi possível investigar todos os dados a partir desta data. Isto porque ela geraria problemas na análise comparativa no que se refere aos limites estabelecidos para a pesquisa. Assim, esta etapa consistiu na identificação do número de municípios que se enquadravam no estudo, tendo-se obtido um total de 60 (Anexo 1).

Dada a grande quantidade de municípios nesta categoria, os quais revelam uma certa homogeneidade, uma primeira tarefa correspondeu à identificação de alguns referenciais que serviram para selecionar uma amostra consistente, a qual deu suporte para o desenvolvimento da pesquisa. Para a escolha da amostra, consideraram-se: 1º) as diferentes classes de população, tendo em vista que, dentro dos limites de zero até 10.000, tem-se variações de tamanho: alguns muito próximos a 10.000, outros muito distantes; 2º) a densidade demográfica; 3º) taxas de crescimento da população total e urbana; 4º) taxa de crescimento da população idosa; e 5º) os valores do IDHM para o período. Para cada uma destas variáveis, considerou-se, para a seleção, valores máximos, médios e mínimos, evitando-se com isto analisar somente uma tipologia. Para esta composição, também o processo de partilha territorial e a distribuição espacial dos municípios constituíram dimensões relevantes. No primeiro caso contemplaram-se municípios que perderam território e que, mesmo assim, tiveram sua população aumentada e aqueles que, por outro lado, perderam território e iniciaram um processo de redução populacional. Além disto considerou-se aqueles que, mesmo não tendo sido submetidos à partilha, perderam ou não população. No segundo caso

procurou-se contemplar pequenos municípios pertencentes a todas as mesorregiões, exceto a Metropolitana de Porto Alegre, na qual não existia nenhum dentro do parâmetro demográfico estabelecido no Capítulo II.

Com base neste conjunto de sete variáveis é que foram selecionados 15 municípios, que totalizaram 25,0% do universo inicial. O processo de amostragem utilizado foi o não- probabilístico que, segundo Lakatos e Marconi (1991), não se utiliza de uma forma aleatória de seleção. Neste caso baseou-se em critérios pré-estabelecidos, mediante os quais se buscaram diferenciações, em diversos aspectos, entre os municípios analisados.

No conjunto amostral, foram avaliados os aspectos caracterizadores de cada um, complementados pela avaliação das dimensões objetivas da qualidade de vida. Para a realização desta etapa da pesquisa foram utilizados dados secundários obtidos através dos Censos Demográficos, Censos Econômicos, Anuários Estatísticos do Rio Grande do Sul, Registros da Secretaria Estadual da Justiça, Dados do Cartório Eleitoral, etc. A Tabela 38 mostra, para os municípios considerados, os valores das variáveis utilizadas para a seleção. A Figura 15 mostra a distribuição destes municípios, segundo as mesorregiões a que pertencem, com destaque para aqueles selecionados para o estudo.

Tabela 38 – Distribuição dos municípios segundo os critérios considerados para o estabelecimento da amostra Municípios Selecionados Classe de pop. Cresc. rel. pop.total 1980-2000 Cresc. rel. pop. urb. 1980-2000 Cresc. rel. pop. idosa 1980-2000 IDH M 1991-2000 Densid. Demog. 2000 Local. munic. no est.

Município para o qual perdeu território / ano Nova Araçá 0-3000 43,2 96,5 150,9 0.759-0.834 59,63 NE -

Chiapeta 1,5 85,0 70,1 0.715-0.760 11,29 NO Inhacorá - 92 Mariano Moro -25,9 82,6 85,8 0.720-797 24,10 NO Saldanha Marinho - 88

Paraí 32,9 245,5 170,6 0.780-840 49,77 NE - Selbach 3001 5000 8,7 220,9 72,3 0.796-0.856 27,39 NO - Braga -27,4 156,1 70,3 0.616-0.705 32,2 NO - Cambará Sul 0,9 4,92 52,6 0.676-0.780 5,91 NE - Campinas Sul -4,8 73,1 76,8 0.716-0.789 18,28 NO Ubiretama - 95

Formigueiro -3,5 171,1 24,6 0.693-0.741 12,94 C-Oc. - Herval 16,5 61,7 54,5 0.700-0-754 3,03 SE Pedras Altas-96 Humaitá -47,5 -8,5 8,1 0.735-0.802 36,73 NO Sede Nova - 88

Santa Cecília do Sul - 96 Lavras do Sul -12,1 13,5 15,9 0.695-0.772 3,11 SO -

Miraguaí -34,5 1,0 77,6 0.647-0.726 38,96 NO - Roca Sales 36,1 101,3 57,9 0.742-0.812 44,53 C-Or. Colinas - 92,

S. Terezinha - 92 Cel. Pilar - 96 Sant. da Boa Vista

5001 10.000

-3,2 117,0 57,1 0.635-0.724 15,90 SE -

Fonte: Censos demográficos, IBGE, 1980, 91 e 2000; FEE, 2000. FAMURS, 2000. Org.: Autora

Destaque-se que estes municípios não compõem uma região, ou seja, um espaço contínuo. Por suas localizações, eles mostram descontinuidade espacial com diferenciações nos distanciamentos entre eles. Um fato, no entanto, deve ser destacado: nenhum deles é contíguo ao outro de mesma categoria. Sendo assim, a espacialização da amostra, marcada por características sócio-econômicas e demográficas, não é homogênea, o que produz, mesmo para este pequeno número, diferenciações relevantes.

Na Figura 15, que registra a distribuição espacial dos pequenos municípios estudados no contexto do estado, observa-se que a maioria deles está localizada na metade norte do estado, que corresponde à área que foi mais submetida à partilha territorial. Do ponto de vista das mesorregiões, sete deles encontram-se localizados na Noroeste Rio-Grandense, e quatro na Nordeste Rio-Grandense, integralizando um percentual de 73,3%. Os demais (26,7%) distribuem-se nas outras quatro mesorregiões. Estes valores mostram a irregularidade na distribuição dos municípios, o que está vinculado aos processos sócio-econômicos mais amplos que ocorreram em cada uma das mesorregiões.

Para o estudo, além das variáveis utilizadas para selecionar a amostra, contemplaram- se também as variáveis: educação, PEA, renda, IDH-M, saneamento básico, serviços de infra- estrutura, comunicações e PIB.

Em acréscimo, com a finalidade de contemplar, em caráter detalhado, as dimensões quantitativas e qualitativas das administrações locais destas pequenas cidades, foi elaborado um questionário básico6 que envolveu a estrutura e o aparato das administrações locais, o qual foi enviado às prefeituras dos municípios, com o objetivo de obter um perfil das mesmas. Estas são informações relevantes, uma vez que da qualidade e eficiência dos governos locais decorrem os produtos destinados aos moradores, em especial as ações do estado na melhoria da qualidade de vida.

As dimensões subjetivas da população foram avaliadas, em sua maioria, de forma indireta através de dados específicos. Por exemplo: os níveis de participação nas eleições municipais representam mais do que um dado quantitativo – eles podem indicar o grau de integração dos moradores com o conjunto de sua comunidade, ou suas preocupações com seus governantes no futuro.

Neste aspecto é relevante considerar os partidos políticos aos quais os prefeitos eleitos estão vinculados, uma vez que cada um deles possui objetivos particulares e propostas

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Questionário enviado às prefeituras municipais: Quantas secretarias compõem o aparato administrativo desta prefeitura? Quais são elas? Quantas leis foram aprovadas pela Câmara de Vereadores entre 2000 e 2004? Qual o valor dos orçamentos destinados à educação e à saúde?

diferenciadas para os municípios. No atual período os prefeitos pertencem a 5 partidos políticos, quais sejam: PPB (6), PDT (4), PMDB (3), PTB (1) e PP (1).

A cobertura dos serviços oferecidos aos residentes é, também, um indicativo das prioridades dadas pelos governos em relação às populações que administram. Neste sentido destacam-se: disponibilidade de água tratada, coleta de lixo, existência de rede de esgoto, pré- escola, assistência à saúde, etc.

Os montantes do orçamento destinados à educação e à saúde, mais do que um volume de recursos destinados a esta atividade, representam o grau de consideração do governo local com esta dimensão da qualidade de vida. Além disto, modernamente, administrações locais passam a se preocupar de forma mais significativa com a disponibilidade de empregos, com a oferta de habitação, com a poluição ambiental, etc., que compõem o perfil da qualidade de vida e atribuem às administrações locais grande parcela de responsabilidade.

Para a totalidade da pesquisa, o referencial básico tem como pressuposto fundamental a avaliação das inter-relações entre a totalidade (o estado) e as unidades (os municípios). Considera-se igualmente importante a afirmação de que as pequenas cidades também enfrentam problemas de má qualidade de vida, embora em menor intensidade do que as grandes e médias, a despeito da imagem que muitas vezes é criada para as mesmas. Por isto pode-se admitir que elas são mais importantes do que aparentam.

Inicia-se a seguir o estudo dos casos que compreendem a avaliação detalhada dos municípios selecionados, de forma amostral, contemplando as diferenciações existentes entre eles e o estado. No conjunto, buscam-se respostas, mesmo que parciais, para algumas questões relevantes, como: 1º) Qual é o papel dos pequenos municípios no desenvolvimento do estado? 2º) Como se apresenta a qualidade de vida nestes municípios? 3º) Qual a correlação que existe entre desenvolvimento econômico e qualidade de vida? 4º) Quais foram as implicações das partilhas territoriais para estes pequenos municípios? 5º) Para onde caminham os pequenos municípios gaúchos?