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Estudos que envolvem os temas do desenvolvimento e de qualidade de vida, seja em escala local ou nacional, demandam uma análise da População Economicamente Ativa (PEA). Primeiro, porque a estrutura da PEA guarda relação com a estrutura sexo-idade da população. Segundo porque a população que trabalha é fonte de geração de valor econômico para a sociedade, dependendo também dela o nível de desenvolvimento de um lugar. Terceiro, porque a PEA pressupõe a existência de renda, e esta interfere na qualidade de vida das

pessoas. É através da renda que se geram os recursos necessários para a aquisição de bens e serviços de que se necessita para viver e, conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida.

A PEA encontra-se distribuída em diferentes atividades econômicas, as quais dependendo da área a que se faz referência, revelam diferenças significativas em sua composição. As atividades econômicas que envolvem uma população são, via de regra, agrupadas em três setores principais: o primário, o secundário e o terciário. Destaque-se que estes setores econômicos ou de produção adotados até hoje foram propostos pelo economista australiano Colin Clark, na década de 1960 (apud SANDRONI, 1989, p. 288). O IBGE estrutura a disseminação de suas informações com esta base. A população inserida em cada um destes setores constitui a População Economicamente Ativa.

Quando se estudam as atividades econômicas de uma população, é necessário que se considerem alguns aspectos. O primeiro é que a estrutura sexo-idade interfere na composição da PEA. Esta estrutura guarda relação com a fecundidade, que tem sofrido o efeito das mudanças no perfil sócio-econômico das mulheres, bem como dos processos migratórios, cada vez mais intensos. Neste sentido, uma PEA fortemente rural envolve uma população com fecundidade mais alta do que uma PEA essencialmente urbana. Com o passar do tempo, os filhos destes trabalhadores que deixaram de nascer afetarão a estrutura etária da população e o processo reprodutivo.

A dinâmica demográfica de qualquer área decorrente da dinâmica vegetativa e social guarda uma relação com a estrutura da PEA. Isto porque ela influi no nível de renda, nas exigências de qualificação de mão-de-obra e na distribuição espacial da população. A Tabela 28 apresenta a distribuição absoluta das pessoas de 10 anos e mais (consideradas como população em idade ativa no Brasil – PIA) que trabalhavam, por condição de atividade e os valores relativos da PEA em relação a PIA em 1970, 1980, 1991 e 2000.

Tabela 28 – Pessoas de 10 anos ou mais que trabalhavam em 1970, 1980, 1991 e 2000, no estado do Rio Grande do Sul e nos pequenos municípios, e o número relativo das mesmas em relação à PIA

1970 1980 1991 2000 Local PEA % da PEA em relação à PIA PEA % da PEA em relação à PIA PEA % da PEA em relação à PIA PEA % da PEA em relação à PIA RS 2.268.935 46,25 3.204.117 52,54 3.991.329 54,69 5.164.528 61,15 Peq. munic. 151.349 37,98 169.012 44,63 191.542 52,27 195.942 58,30

Fonte: Censos demográficos, IBGE, 1970, 1980, 1991 e 2000 e cálculos da autora. Org.: Autora

Os dados absolutos registrados na tabela indicam a evolução da PEA tanto no estado quanto nos pequenos municípios. Os valores exibem um comportamento de aumento, embora se percebam diferenciações entre o estado e os pequenos municípios. O que motivou este crescimento diferencial no estado foi a oferta de empregos oriundos da expansão industrial e do setor terciário, que se refletiu no crescimento da população empregada. Entretanto estas mudanças não ocorreram da mesma forma nos pequenos municípios. Os dados referentes a estes municípios mostraram que a PEA teve seu maior incremento entre 1970 e 1980. Este foi ocasionado pelo crescimento do setor primário e do secundário, que geraram um número significativo de empregos neste período. O fraco incremento da PEA verificado no último período pode ser justificado pela perda de população e de formas de economia. Neste caso, o próprio desenvolvimento geral do município pode ocasionar a expulsão de diferentes atividades, e conseqüentemente das pessoas.

Os valores relativos mostram o comportamento da PEA em relação à PIA para o estado e os pequenos municípios. A análise dos mesmos evidencia um crescimento para os dois conjuntos considerados; porém o estado apresenta uma situação mais favorável, por incluir os municípios mais significativos e mais desenvolvidos. Mesmo assim, os dados indicam que ainda faltam empregos para significativas parcelas da população. Para reforçar isto, basta verificar o quanto representa a PEA em relação à PIA.

Quando se consideram, para todo o período analisado, os três setores básicos de atividades, observa-se que, nos pequenos municípios, sem oportunidades de grandes transformações, o que predominou foi o setor primário (Tabela 29), enquanto para o estado, desde 1980, predominava o terciário. Estas marcantes desigualdades nas formas de economia produzem um modo de vida diferente para as populações de municípios de tamanhos demográficos diferenciados.

Dentre os fatores que ocasionam mudanças na estrutura da população segundo os setores econômicos, podem-se destacar a industrialização, a urbanização, a modernização do setor primário e ainda a estrutura fundiária injusta, caracterizada pela grande concentração de terras em mãos de poucos. A indústria, dependendo de sua natureza, pode abrir novas fontes de empregos, estimulando a urbanização. O aumento da população urbana, por sua vez, estimula o crescimento do setor terciário ou de serviços. Ainda como conseqüência da industrialização, ocorre a mecanização da agricultura, que libera mão-de-obra do campo, a qual acaba se deslocando para a cidade. Tudo isto ocasiona mudanças na composição da força de trabalho. A Tabela 29 mostra as alterações na distribuição da PEA no período entre 1970 e 2000, segundo os ramos ou setores de atividades.

Tabela 29 – População economicamente ativa ocupada do estado do Rio Grande do Sul e dos pequenos municípios, segundo o setor de atividade, em 1970, 1980, 1991 e 2000

Rio Grande do Sul Pequenos Municípios

Setores 1970 1980 1991 2000 1970 1980 1991 2000 Primário 1.044.760 903.641 944.436 910.941 71.070 120.233 125.587 95.191 Secundário 378.127 812.608 1.006.724 1.107.019 2.985 12.479 17.848 17.405 Terciário 846.048 1.487.868 2.040.169 2.810.817 10.792 36.300 48.107 67.454 Totais 2.268.935 3.204.117 3.991.332 4.828.777 84.847 169.312 191.542 180.050

Fonte: Censos demográficos, IBGE, 1970, 1980, 1991 e 2000 e cálculos do autor. Org.: Autora

Os dados registrados na tabela evidenciam o peso do setor primário na economia gaúcha, que como se sabe apresentou crescimento até o censo de 1970. A partir daí ocorreu um declínio que foi visível no censo de 1980. Até então era o setor que mais gerava empregos, seguido pelos setores terciário e secundário. Entretanto, a partir da década de 1980 houve mudanças significativas na distribuição da PEA ocupada no estado. A partir deste período passou a predominar aquela empregada no setor terciário, seguida pelos setores primário e secundário. Novas mudanças foram registradas no censo de 1991, quando a PEA ocupada no setor secundário passou para a segunda posição, deixando aquela do setor primário na última posição, evidenciando a continuidade das conseqüências da mecanização do campo, bem como o crescimento do setor secundário e o surgimento de novos serviços dentro do setor terciário da economia.

Os dados de 2000 mostram que, enquanto no estado a PEA empregada na atividade industrial continuou a crescer embora de forma moderada, nos pequenos municípios ela perdeu a posição que ocupava em 1991. Nestes últimos, isto decorreu principalmente do fechamento de indústrias que não conseguiram se sustentar apenas com o mercado consumidor local. Como conseqüência disto houve redução da população empregada neste setor. Já a população do setor terciário da economia manteve-se em ambos os casos em crescimento, o que demonstra a importância deste setor, mesmo que de forma diferenciada, na composição do PIB.

Quando se considera a distribuição da PEA ocupada pelos setores econômicos, nos pequenos municípios observa-se que, embora tenham ocorrido mudanças quantitativas, continuou o predomínio do setor primário da economia. Isto se justifica pelo fato de a base econômica destes municípios estar centrada nas atividades agropecuárias e, em muitos deles, a modernização ser ainda incipiente, o que faz com que se utilizem de uma farta mão-de-obra.

Para facilitar a avaliação dos diferentes setores de economia e entender a situação atual, fez-se um detalhamento dos mesmos, evidenciando-se assim quais são as atividades econômicas inseridas em cada um dos grandes setores. Conforme o IBGE (2000), o setor primário envolvia as atividades agropecuárias, caça, pesca e exploração vegetal. O secundário englobava a indústria de transformação, da construção civil, de extração mineral e serviços industriais de utilidade pública como: produção e distribuição de energia elétrica, gás canalizado e água. Ambos os setores se caracterizam pela produção, porém o segundo produz através da transformação das mais variadas matérias-primas. O setor terciário é o mais amplo, abrangendo os serviços em geral, tais como: comércio; transportes e comunicações; serviços de alojamento e alimentação; saúde e serviços sociais; instituições de crédito, de seguros e de capitalização; administração pública, defesa e seguridade social, organizações intermediárias e representações estrangeiras, etc.

Considerando-se que ao longo do tempo o IBGE tem apresentado estes dados de forma diferenciada quanto às atividades nos diferentes setores, foi necessário compatibilizar as séries temporais apresentadas nos diversos censos demográficos. Por isto detalhou-se a evolução das seções ou setores de atividades (detalhamento dentro de cada setor econômico) entre 1980 e 2000. Isto foi necessário para que fosse possível estabelecer comparações. Para tanto se contou com a contribuição de Koucher (2006), que no estudo “Migrações internas no Rio Grande do Sul: os novos cenários da desconcentração espacial urbano-regional”, apresentou uma compatibilização das seções de atividades entre os censos demográficos de 1980, 1991 e 2000, conforme pode ser observado na Tabela 30. É com base nesta compatibilização das seções de atividades que foi feito o detalhamento dos setores de atividade para o estado do Rio Grande do Sul.

Foi somente a partir do censo de 1970 que o IBGE alterou nomenclaturas e formas de agregação da PEA. Até o censo de 1970 as atividades econômicas eram divulgadas com as seguintes agregações: Agricultura, Silvicultura, Pecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca; Atividades Industriais; Comércio de Mercadorias; Prestação de Serviços; Transporte, Comunicações e Armazenagem; Atividades Sociais; Administração Pública; e Outras Atividades. Como o objetivo desta análise era mostrar o detalhamento destas atividades, optou-se por iniciar a avaliação a partir da década de 1980, aproveitando a compatibilização das seções de atividades feita por Koucher (2006), que já apresentava a nova estrutura. A Tabela 31 mostra a população ocupada segundo esta nova estrutura para os censos de 1980, 1991 e 2000.

Tabela 30 – Compatibilização das seções de atividades entre os censos demográficos de 1980, 1991 e 2000

Seção de atividade – censos demográficos 1980

Seção de atividade – censo demográfico 1991

Seção de atividade – censo demográfico 2000

Seção de atividades

compatibiliz. – 1980, 91 e 2000 1- Agricultura. Silvicultura.

Pecuária. Extração Vegetal e Pesca

1- Agricultura. Silvicultura e Pecuária. Extração Vegetal e Pesca

1- Agricultura, pecuária, silvi- cultura e exploração florestal 2- Pesca

1- Agropecuária

2- Ind. de Transformação 2- Ind. de Transformação 3- Ind. de Transformação 2- Indústria de Transformação 3- Construção Civil 3- Construção Civil 4- Construção 3- Construção Civil

5- Ind. Extrativas 4-Outras ativ. Industriais

4- Outras ativ. Industriais (exceto limpeza pública e

remoção de lixo) 6- Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 4- Outras atividades industriais 5- Comércio 5- Comércio ( + reparação de

veículos)

7- Comércio e reparação de veículos automotores

5- Comércio 6- Transporte e Comunicação

6- Transporte e Comunicação 7- Serviços auxiliares de atividade econômica 8- Transporte, armazenagem e comunicações 9- Alojamento e alimentação 10- Serviços domésticos 7- Prestação de Serviços 8- Prestação de Serviços (+ limpeza pública e remoção de lixo, exceto reparação de veículos automotores)

11- Outros serviços coletivos, sociais e pessoais (inclusive limpeza pública e remoção de lixo)

12- Educação 8- Social 9- Social

13- Saúde e serviços sociais

6- Prestação de Serviços

9- Administração Pública 10- Administração Pública 14- Administração pública, defesa e seguridade social

7- Administração Pública 10- Outras Atividades 11- Outras Atividades 15- Atividades mal

especificadas

16- Atividades imobiliárias, aluguéis, serviços prestados às empresas 17- Intermediação financeira 18- Organismos internacionais / outras instituições extraterritoriais 8- Outras atividades

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1980, 1991 e 2000 Org.: KOUCHER, A. B., 2006

Tabela 31 – Pessoas de 10 anos e mais que trabalharam no ano de referência, por setor de atividade, no estado do Rio Grande do Sul e nos pequenos municípios em 1980 e 2000

Rio Grande do Sul Pequenos Municípios (60)

Setor de Atividade

1980 2000 1980 2000

1- Agropecuária 903.641 910.941 118.215 102.452

2- Indústria de transformação 549.155 778.566 6.915 16.189

3- Construção civil 219.362 295.000 3.935 6.736

4- Outras atividades industriais 44.091 33.453 2.140 1.216

5- Comércio 316.964 718.983 12.190 15.526

6- Prestação de serviços 889.009 1.218.902 22.325 23.965

7- Administração pública 131.198 225.184 3.381 8.031

8-Outras atividades 100.726 352.739 1.812 6.516

Total 3.154.146 4.533.308 171.048 180.631

Fonte: IBGE, Censos demográficos, 1980 e 2000 Org.: Autora

Avaliando-se estes dados pode-se verificar a importância da agropecuária na geração de empregos nos pequenos municípios. Em 1980, do total de pessoas com mais de 10 anos que trabalhavam nos pequenos municípios, 69,1% estavam inseridos neste setor, declinando em 2000 para 56,7%. Embora tenha ocorrido esta redução, este setor continua a ser o dominante, o que pode ser explicado pela vocação econômica destes municípios. Este perfil é bastante diverso daquele do estado, cujos percentuais são respectivamente 28,6 e 20,1.

Quanto à mão-de-obra empregada na atividade industrial (indústria de transformação, construção civil e outras atividades), observa-se que apesar de ela ter apresentado crescimento entre 1980 e 2000, passando de 7,6% para 13,4% do total da PEA, ainda é pouco significativa comparada com os percentuais de população empregada na agropecuária. Isto decorre do baixo nível de industrialização destes municípios, o que se reflete no número de pessoas empregadas neste setor. Já o estado apresentou um percentual mais significativo de mão-de- obra nesta atividade, 25,7% e 24,4% respectivamente, porém mostrou decréscimo entre 1980 e 2000. Isto pode ser justificado por vários fatores, como: guerra fiscal entre os estados, altos impostos cobrados internamente, falta de incentivo governamental, além da concorrência dos produtos importados.

Os setores do comércio, prestação de serviços e administração pública também apresentaram crescimento na participação, passando de 22,1%, em 1980, para 26,3% em 2000. De uma maneira geral, esta atividade tem apresentado crescimento em qualquer espaço, seja ele detentora de uma grande ou de uma pequena população, pelo papel que estes serviços desempenham no atendimento das necessidades da população. Destaque-se o aumento do setor vinculado à administração pública, cujo crescimento no conjunto do terciário foi o mais elevado, com 137,53%. Este é um aspecto interessante quando se estuda o desenvolvimento e a qualidade de vida nos pequenos municípios. Neste sentido, uma indagação pertinente é: o aumento do número de empregos no setor público significa avanços no desenvolvimento?

Quando se analisam somente os empregos gerados na administração pública de forma particularizada, constata-se que eles são pouco relevantes quando se considera a totalidade dos empregos (Tabela 31), porém cresceram de forma expressiva, tendo passado de 1,9%, em 1980, para 4,4% em 2000. Deve-se lembrar que estes empregos representam renda para alguns, e que normalmente os salários no serviço público, especialmente nas pequenas cidades, são mais elevados do que no setor privado. Entretanto, deve-se considerar que isto nem sempre representa melhoria nos serviços públicos. Ao se verificar o crescimento da população neste mesmo período, observou-se que ela decresceu em 14,0%. Assim, mesmo com a diminuição da população, houve aumento dos trabalhadores na esfera da administração

pública. A Tabela 32 mostra a relação do número de empregos no setor público em relação ao total da população no estado e nos pequenos municípios, em 1980 e 2000.

Tabela 32 – Total da população, número de empregos no setor público, número de servidores públicos por mil habitantes e relação entre número de empregos e total da população no estado e nos pequenos municípios em 1980 e 2000

Rio Grande do Sul Pequenos Municípios

1980 2000 1980 2000

População total 7.773.837 10.179.801 424.011 364.451

Nº empregos setor público 131.198 225.184 3.381 8.031

Nº servidores públicos/1.000 hab. 16,87 22,12 7,97 22,03

Relação nº empregos/total pop. (%) 1,68 2,21 0,79 2,20

Fonte: IBGE, Censos demográficos, 1980 e 2000 Org.: Autora

Os dados da tabela evidenciam que, tanto para o estado quanto para os pequenos municípios, houve um aumento do número de servidores públicos para cada mil habitantes, sendo este mais relevante para os pequenos municípios (176,4%) do que para o estado (31,1%). Isto deveria ser um indicador de melhorias nestes serviços, o que nem sempre se comprova. Os números dos empregos gerados no serviço público em relação à população total também aumentaram nos dois casos analisados. Contudo, foi mais significativo nos pequenos municípios do que no estado, ainda que aqueles tenham apresentado diminuição da população. Nesses municípios, o poder público local converte-se em grande empregador, o que pode indicar uma má administração.

Por último, as outras atividades identificadas – mal especificadas; atividades imobiliárias, aluguéis, serviços prestados às empresas; intermediação financeira –, apesar de apresentarem valores inferiores a 1,1% em 1980 e 3,6% em 2000, em relação à totalidade dos empregos nos pequenos municípios, foram aquelas que registraram o maior incremento. No estado este foi de 250,2% e nos pequenos municípios de 259,6%.