• Nenhum resultado encontrado

Outra dimensão relevante nesta análise está na distribuição espacial entre área rural e urbana, as quais, de maneira geral, apresentam modos e qualidade de vida diferenciados. A Tabela 41 registra a evolução desta distribuição, seu crescimento relativo e a taxa geométrica de crescimento médio anual, entre 1980 e 2000. Diferentemente do que ocorreu no estado, onde a partir da década de 1950 mais da metade de sua população já vivia nas cidades, nestes pequenos municípios, somente em 2000 é que a população urbana passou a predominar. Mesmo assim, pode-se afirmar que havia equilíbrio entre as duas distribuições.

Tabela 41 – Crescimento total, relativo, e taxa geométrica de crescimento médio anual da população urbana e rural para o estado e pequenos municípios, entre 1980 e 2000.

População urbana População Rural

Municípios e UF 1980 2000 Cresc. (%) 1980-2000 Tx. geom. cresc. ano 1980 2000 Cresc. (%) 1980-2000 Tx. geom. cresc. ano Braga 1.304 3.340 156,13 4,815 4.481 858 -80,85 -7,932 Cambará Sul 2.904 3.047 4,92 0,240 3.875 3.793 -2,11 -0,106 Camp. do Sul 2.560 4.431 73,08 2,781 6.121 3.827 -37,47 -2,320 Chiapetta 1.376 2.546 85,03 3,124 3.036 1.935 -36,26 -2,227 Formigueiro 977 2.649 171,13 5,113 6.898 4.949 -28,25 -1,646 Herval 2.759 4.461 61,69 2,436 4.522 4.026 -10,96 -0,579 Humaitá 2.916 2.666 -8,57 -0,447 7.032 2.562 -63,56 -4,924 Lavras do Sul 4.251 4.828 13,57 0,638 4.974 3.281 -34,03 -2,058 M. Moro 586 1.070 82,59 3,056 2.755 1.404 -49,04 -3,314 Miraguaí 1.768 1.786 1,02 0,056 5.917 3.248 -26,69 -2,954 Nova Araçá 1.023 2.010 96,48 3,434 491 1.226 149,69 4,681 Paraí 817 2.823 255,53 6,395 3.712 3.197 -13,87 -0,744 Roca Sales 2.271 4.571 101,27 3,559 4.549 4.713 3,60 0,177

Sant. Boa Vista 1.759 3.818 117,05 3,951 7.157 4.810 -32,79 -1,967

Selbach 847 2.718 220,89 6,003 3.625 2.143 -40,77 -2,594

Total 28.118 46.764 66,31 2,576 69.890 45.962 -34,23 -2,073

RS 5250940 8310995 58,27 2,322 2522897 1868806 -25,92 -1,490

Fonte: Censos demográficos, IBGE, 1980 e 2000. Org.: Autora

Com relação aos totais, tanto a população urbana do estado quanto a dos municípios cresceram. A primeira em 3.060.055 e a segunda em 18.646. A análise particularizada dos pequenos municípios mostrou que, neste intervalo, a maioria deles apresentou um aumento proporcional não registrado pelo estado, como, por exemplo: Paraí e Selbach, com 2.006 e 1.871 habitantes, ou seja, 255,0 e 220,0%, respectivamente. Embora o número seja pequeno, do ponto de vista da população total no conjunto dos municípios, para aqueles destacados é um valor bastante relevante, podendo causar impactos que exijam que eles se preparem para o aumento deste contingente populacional. Entretanto, para estes municípios, é interessante ressaltar que o aumento derivado das migrações foi pouco significativo, o que minimiza os

efeitos mencionados. Destaque-se ainda que os pequenos municípios apresentam uma urbanização tardia em relação ao estado.

Como foi possível observar, em decorrência das mudanças dos valores absolutos da população total, os dados urbanos também mostraram alterações na hierarquia dos municípios, embora sem muita significância.

Quanto à população rural, teve-se uma inversão de valores marcados por resultados negativos: de 654.091 habitantes para o estado e de 23.928 para os municípios. No conjunto, o estado perdeu 25,9% da população rural, e os pequenos municípios, 34,2%. A diferença pode ser atribuída ao fato, já mencionado, da redução da população rural do estado de maneira antecipada àquela dos pequenos municípios, uma vez que a totalidade contempla municípios de médio e de grande porte cujas histórias demográficas são diferenciadas. Este processo também não foi homogêneo, fazendo com que o significado dos municípios mudasse no período. Foram estas mudanças que fizeram com que, em 2000, o município de Formigueiro, apesar da redução de população rural, se tornasse o primeiro na categoria em números absolutos: 4.946 habitantes rurais.

Quanto à taxa geométrica de crescimento, os resultados para o conjunto são bastante diferenciados, sendo negativos para 86,6% da totalidade, evidenciando, assim, o esvaziamento das áreas rurais. As razões para esta dinâmica vinculam-se aos problemas do próprio processo geral de desruralização provocado pela mecanização da lavoura, que expulsou mão-de-obra; ao retalhamento da propriedade rural que, na maioria deles, é de dimensão pequena; à busca de uma vida melhor na cidade, etc. Por outro lado, esta mesma redução demográfica verificada naqueles municípios de grande extensão territorial (onde dominam os latifúndios, como Herval, Lavras do Sul e Santana da Boa Vista) decorreu desta concentração que limitou as possibilidades de que mais pessoas se inserissem no processo produtivo. A Tabela 42 registra os valores relativos da população urbana e rural nos últimos três censos. Ela permite visualizar a natureza das mudanças, uma vez que possibilita a verificação dos períodos em que ocorreu a passagem de uma predominância rural para a urbana. Percebe-se que no período de 1980 a 1991 os municípios de Chiapeta, Herval e Lavras do Sul passaram a apresentar maior população urbana. Entre 1991 e 2000 foi a vez dos municípios de Braga, Campinas do Sul, Humaitá, Nova Araçá e Selbach apresentarem maior população urbana.

Os dados registram as diferenças do crescimento destas populações para o estado e para os pequenos municípios. O que se observa é que ocorreu a desruralização com prováveis impactos para as áreas urbanas. Entretanto, o nível de urbanização deles é inferior ao verificado no estado. Apenas Braga, em 2000, esteve bem próximo do valor do estado. Assim,

para o conjunto, percebem-se casos nos quais a desruralização foi compensada com a urbanização, bem como casos em que isto não ocorreu. Entre eles tem-se o município de Humaitá como o mais significativo.

Tabela 42 – Participação relativa da população urbana e da rural no estado e nos pequenos municípios, em 1980, 1991 e 2000

1980 1991 2000 Municípios e UF

Pop. urbana Pop. rural Pop. urbana Pop. rural Pop.urbana Pop.rural

Braga 22,54 77,46 35,82 64,18 79,56 20,44 Cambará Sul 42,83 57,17 32,16 67,84 44,65 55,35 Campinas do Sul 29,48 70,52 40,32 59,68 53,65 46,35 Chiapetta 31,18 68,82 51,18 48,82 56,81 43,19 Formigueiro 12,40 87.60 25,05 74,95 34,86 65,14 Herval 37,89 62.11 51,54 48,46 52,56 47,44 Humaitá 29,31 70,69 44,70 55,30 50,99 44,01 Lavras do Sul 46,08 53,92 54,50 45,50 59,53 40,47 M. Moro 17,54 82.46 28,30 71,70 43,25 56,75 Miraguaí 23,0 77,0 31,85 68,15 35,47 64,53 Nova Araçá 45,28 54,72 50,00 50,00 62,11 37,89 Paraí 22,88 77,12 25,75 74,25 46,89 53,11 Roca Sales 32,65 67,35 37,76 62,24 49,23 50,77

Santana da Boa Vista 19,72 80,28 34,02 65,98 44,25 55,75

Selbach 18,94 81.06 44,85 55,15 55,91 44,09

Total 28,69 71,31 39,18 60,82 50,43 49,54

RS 67,54 32,46 76,56 23,44 81,64 18,36

Fonte: Censos demográficos, IBGE, 1980 e 2000. Org.: Autora

Além da análise dos dados quantitativos, a espacialização dos mesmos é relevante. A Figura 17 mostra a distribuição espacial do aumento ou diminuição relativos das taxas específicas de cada município. De uma maneira geral, percebe-se que a maioria deles apresentou redução, exceto dois: Nova Araçá e Roca Sales. Quanto à relação entre os pequenos municípios e suas sedes, observam-se variações. Há aqueles em que o decréscimo foi mais acentuado do que o da sua sede; em outros foi semelhante; e noutros foi menor. O destaque coube a Caxias do Sul, que exibiu um crescimento positivo juntamente com um pequeno município da sua mesorregião.

A perda da população rural nos pequenos municípios tem provocado mudanças na sociedade rural, marcada por uma masculinização e envelhecimento diferencial da população. Os acréscimos urbanos decorrentes deste processo representam um grande desafio para os administradores locais, que não podem marginalizar aqueles que permanecem no campo. Ao mesmo tempo, necessitam criar nas cidades condições para receber esta parcela da população, de modo a atender suas demandas em termos de emprego, escolaridade, saúde, etc. Quando isto não ocorre há uma deterioração da qualidade de vida, de uma maneira geral.