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Para compreender a situação atual dos pequenos municípios, antes, é necessário recuperar elementos significativos de sua história. Dentro deste contexto algumas questões merecem destaque: De onde eles se originaram? Quando isto aconteceu? Qual o tamanho territorial7 e populacional na época de sua constituição e na atualidade (2000)? Como evoluíram do ponto de vista econômico? A emancipação construiu ou destruiu? A Tabela 39 mostra alguns dados que importam para compreender estas questões.

Tabela 39 – Distribuição dos pequenos municípios conforme a origem, o ano de criação e de instalação, a população e a extensão territorial pós-criação e em 2000, segundo o tipo de economia inicial e atual

Município Município de origem Ano de criação Pop. censo pós criação Ext. territ. na criação – Km²

Pop. 2000 Ext. territ. 2000 –

Km²

Tipo de economia na data de criação e na atualidade Braga Redentora, Campo Novo 1965 6.700 166,0 4.198 130,3 Agricultura/Agropecuária Cambará Sul S. Francisco de Paula 1963 8.578 1.246,0 6.840 1.157,6 Agricultura/ Agropecuária e fruticultura Campinas Sul

Erexim 1959 13.826 379,0 8.258 261,0 Agropecuária. e extrativismo vegeta/ Agropecuária Chiapeta Catuípe 1965 4.405 398,0 4.481 396,9 Agricultura/Agricultura Formigueiro São Sepé 1963 9.706 607,0 7.598 587,1 Agricultura/Agropecuária Herval Jaguarão 1883 7.168 2.747,0 8.487 1.758,0 Agricultura/Agropecuária Humaitá Criciumal Três Passos 1959 11.424 194,5 5.228 135,0 Agricultura e extração vegetal/Agropecuária Lavras do Sul Bagé, Caçapava 1883 7.604 2.747,0 8.109 2.602,0 Mineração e pecuária/Agropecuária Mariano Moro Erexim 1965 4.142 124 2.474 99,0 Agricultura/Agropecuária Miraguaí T. Portela, C. Novo 1965 8.400 131,0 5.034 129,4 Agricultura/Agropecuária Nova Araçá Nova Prata 1964 2.296 46,0 3.236 54,2 Pecuária e agricultura/

Agropecuária

Paraí Nova Prata 1965 4.167 134,0 6.020 121,0 Agricultura/Pecuária leiteira e extração mineral

Roca Sales Estrela 1954 9.708 197,0 9.284 208,5 Agricultura/Agricultura- Indústria Santana da

Boa Vista

Caçapava do Sul

1965 11.643 1.616,0 8.628 1.460,5 Agricultura/Agropecuária Selbach Passo Fundo 1964 4.509 169,0 4.189 177,4 Agricultura/Agropecuária

Fonte: FEE – Municípios (2005) ALMURS (2006) e FAMURS: Portal Municipal (2007). Org.: Autora

Através da tabela, podem-se fazer algumas observações importantes. No que concerne à origem destes municípios, constata-se que a maioria resultou da partilha de um único

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As diferenças na extensão territorial dos municípios, entre o ano de criação e o ano de 2000, têm relação ou com a perda de território devido à partilha, ou com as técnicas de medições pouco precisas que foram realizadas na época de sua criação, que divergem das atuais, realizadas com instrumentos mais precisos.

município, sendo que a maioria deles sem grande expressão econômica. Quanto ao ano de criação (emancipação), eles podem ser divididos em 2 períodos distintos. O primeiro data do final da segunda metade do século XIX e é representado por apenas dois municípios: Herval e Lavras do Sul. Ambos tiveram sua origem ligada a um acampamento, porém com funções diferenciadas: enquanto Herval se originou de um acampamento militar que tinha como finalidade demarcar limites entre as possessões de Espanha e Portugal, Lavras do Sul surgiu de um acampamento mineiro instalado às margens do rio Camaquã com a finalidade de explorar pepitas de ouro depositadas no leito do rio. Portugueses, espanhóis e índios, provavelmente trazidos por bandeirantes paulistas, trabalharam na mineração.

O segundo, representado pelos demais municípios do conjunto estudado, data do início da segunda metade do século XX, portanto, de origem mais recente, envolvendo um outro contexto político, social e econômico. Estes tiveram seu embrião ligado à colonização e à imigração. Os povos que se dirigiram para estas terras voltaram-se para as atividades agrícolas e a criação de animais, mantendo-as ainda hoje como a sua principal base econômica. Destaque-se que todos estes municípios tiveram a sua criação anterior à Constituição de 1967, quando a competência para a criação de municípios foi transferida ao Governo Federal. Desta forma, a Constituição que deu suporte à criação da maioria destes municípios foi a de 1946, que se encontrava a cargo do estado e era conhecida como Constituição Municipalista, conforme já referido no Capítulo II.

Quanto à população, constata-se que a maioria dos municípios, quando surgiu, apresentava totais pouco numerosos, os quais no decorrer de sua evolução mostraram algum crescimento em apenas cinco municípios, enquanto nos demais ocorreu decréscimo. Enquanto o estado, entre 1960 e 2000, apresentou um crescimento de 89,7% de sua população, os municípios estudados, em seu conjunto, apresentaram uma redução de 19,4%. Daqueles que tiveram sua população aumentada, nenhum teve crescimento igual ou superior àquele verificado no estado.

No caso do decréscimo populacional envolvendo 10 municípios, dois grupos foram considerados. O primeiro envolvendo aqueles que perderam população em decorrência do processo de partilha com perda de territórios, como Campinas do Sul, Humaitá, Mariano Moro e Roca Sales, o que é natural que ocorra nessa situação. O segundo abrange aqueles que perderam população sem partilha territorial, como Braga, Cambará do Sul, Formigueiro, Miraguaí, Santana da Boa Vista e Selbach. Isto evidencia a presença de outros fatores contribuindo para esta redução, como a emigração e também a queda da fecundidade.

Com relação à economia predominante, a base praticamente não se modificou. O que mudou foi a intensidade e a qualidade destas atividades. Assim, a sustentação econômica destes municípios ainda continua sendo predominantemente a agropecuária, em que o fator terra assume grande importância. Desta forma, é conveniente destacar que, com exceção dos municípios de Herval, Lavras do Sul e Santana da Boa Vista, nos quais predominam grandes propriedades, nos demais são as pequenas e médias que se sobressaem. Evidencia-se assim que a maioria deles manteve sua base econômica inicial, ou seja, agricultura e criação de animais, porém com algumas diferenças, pois estas atividades deixaram de ser basicamente de subsistência, como ocorria no passado, para se tornarem também comerciais. As técnicas de produção também se alteraram em face de modernização da agricultura. Contudo, esta modernização não se generalizou no espaço agrário gaúcho, pois esta mudança dependia dos recursos financeiros de que os proprietários de terras dispusessem. Aqueles que se encontram descapitalizados não conseguem se inserir nesta modernização, o que se reflete na produtividade de sua propriedade, como ocorre, por exemplo, em Miraguaí.

Quando se remonta à história de ocupação da parte do território que compõe hoje este conjunto de municípios, constata-se que o mesmo esteve vinculado, principalmente, às estâncias e à agricultura, mas também ao acampamento militar e mineiro. Neste aspecto, a agricultura é ainda a atividade que mais marca este espaço.

Conforme o exposto, constata-se que os territórios que hoje compõem este conjunto de municípios tiveram seus embriões nos séculos XVIII, XIX e XX, estiveram vinculados a disputas por território, à exploração mineral, às estâncias e à busca de terras por estrangeiros, especialmente os italianos e os alemães, para o desenvolvimento da agricultura de subsistência. O somatório de tais interesses muito contribuiu para o povoamento, desenvolvimento de formas de economia e, mais tarde, para o surgimento destes municípios. Entretanto, o que se pode observar é que a maioria destes municípios, que tanto almejaram a sua emancipação política, não logrou muito êxito. Desde a sua criação até 2000, nove reduziram suas populações, em seis deles houve partilha territorial, e a economia pouco se modificou. Quanto à qualidade de vida da população, as melhorias ainda não ocorreram em todos os sentidos, estando longe de atender a todos da mesma forma.