• Nenhum resultado encontrado

4. Realização da Prática Profissional

4.1. Organização e Gestão do Processo Ensino-Aprendizagem 1 Conceção

4.2.1. Escolinhas do Desporto

O projeto “Escolinhas do Desporto” é apoiado pela Direção Regional do Desporto em parceria com as associações das diferentes modalidades e é destinado aos alunos do 1º ciclo do Ensino Básico, podendo realizar-se em escolas ou centros de atividades de tempos livres. Cada contrato tem a duração de um ano letivo, coincidindo com o período letivo (interrupções iguais às que acontecem na escola) e deve obedecer a um regulamento próprio.

Este ano candidatei-me a este projeto em dois centros, na modalidade de karaté, sendo um deles a EBSTB e o centro de atividades e tempos livres “Baloiço”. Lecionei um total de 180 aulas (6 aulas por semana, com duração de 1 hora), tendo cerca de 6 dezenas de alunos inscritos e a praticar, do 1º ao 4º ano de escolaridade. Das aulas semanais 4 eram lecionadas na EBSTB.

O primeiro contacto foi interessante e considero que era importante deixar uma imagem positiva perante os alunos e os professores que acompanham os alunos. Foi uma experiência trabalhosa repleta de avanços e algumas pausas, acompanhadas de reflexões sobre o que pode funcionar com cada grupo. As primeiras aulas foram uma análise constante da forma de reagir dos alunos perante determinadas tarefas, para então poder criar uma rotina que otimize o tempo de aula. O facto de ser uma modalidade diferente do que estão acostumados pode criar alguma curiosidade nos alunos. A maioria sabia que era uma modalidade de combate, e por isso foi importante estabelecer regras e explicar a essência do karaté, para que não ocorressem incidentes graves dentro e fora do dojo (local de prática).

O karaté tem a vantagem de se traduzir num percurso muito pessoal, onde todos os alunos conseguem verificar, de forma clara e evidente, que há uma transferência direta entre o seu empenho/concentração e o seu progresso. A implementação de estratégias de pontuações para alcançar as “riscas” nos

59

cintos foi fundamental para manter o foco e a motivação dos alunos nas aulas. Estas crianças exigiram de mim um comportamento tático constante perante a sua evolução e isso foi um verdadeiro desafio. Foi interessante verificar que os alunos perguntavam como podiam adquirir o material específico da modalidade, sendo que nunca o tinha mencionado nas aulas e este interesse deu-me motivação para continuar o trabalho que estava a ser feito. Mais tarde surgiram os encarregados de educação que cada vez mais se mostraram interessados na atividade que os filhos falavam em casa. Para alguns pais era evidente o interesse dos seus educandos e como tal optaram por incentivar e investir num desporto que pouco conheciam. Participaram em provas e estágios, fizeram exames de graduação e integraram demonstrações e desfiles juntamente com karatecas de outros clubes. A vontade de participar em todos estes eventos, quer dos alunos, quer dos pais, era sinal que havia interesse e entusiasmo. Quando assim é, parece que tudo se torna mais fácil. A integração neste projeto permitiu- me ter uma relação mais próxima com os encarregados de educação. Embora uma comunicação diferente, uma vez que a importância não é a mesma que a da escola, senti que a maioria dos pais foi ganhando interesse pela prestação do seu filho nestas aulas. Procuraram saber mais sobre a modalidade e o que eram os “pontos” e as “katas” que o filho falava em casa. Senti apoio e reconhecimento da maioria dos pais e isso foi fantástico.

Procurei ter, embora seja difícil, uma relação diferente com cada um dos alunos. Nem tudo foram flores e houve momentos de “sermões” menos bons e algumas chatices. No entanto procurei fazer com que percebessem que apenas o fazia porque me preocupava com eles e no fundo acho que a mensagem chegou, porque era recorrente me chamarem para contar acontecimentos do seu dia-a-dia ou problemas da escola. E eu ouvia. Ouvia com toda a atenção que o momento me permitia e procurava ajudar.

Houve um caso especial de um menino que foi alvo de uma transformação interna com a entrada no 1º ano. Segundo a mãe, começou a ter medos e inseguranças em determinadas situações. Como ele já tinha demonstrado interesse na modalidade, acreditou-se que o karaté fosse um bom “empurrão” para ultrapassar os obstáculos que sente. A motivação dele aumentou, mas em

60

dias de provas ou exame os nervos tomavam conta dele e foi-me difícil reagir. Contactei com o meu treinador no sentido de lhe pedir conselhos e conversei muito com os pais de modo a perceber qual seria a melhor abordagem e senti que aqui foi um momento de cooperação com a família. Foi um verdadeiro desafio perante um menino com todas as capacidades para ter um desenvolvimento de sucesso a todos os níveis. A confiança dele aumentou e segundo a informação que tive esta segurança também se transferiu para a escola. Nas aulas de karaté já faz exercícios perante a turma, sozinho, com segurança e confiança. Foi então que decidi “passar-lhe a bola”. Numa conversa informal disse-lhe para fazermos um acordo… Seria ele a pedir-me para fazer exame de graduação (passagem de cinto). Ele concordou e disse que o faria. Eu acredito, mas reforcei: “o que eu quero é que pratiques karaté”. Este caso especial fez-me ver o desporto de outra forma. Embora já tivesse esta noção, esta criança, sem saber, lembrou-me o quão bom é praticar atividade pelo simples prazer de o fazer. Sem “porquês” ou “para quês”. Sem olhos nas medalhas ou nos cintos. Sem o interesse puro nas vitórias físicas, mas pelo bem- estar e alegria que a prática nos trás. É esta a verdadeira motivação que pretendo transmitir aos meus alunos. A este menino, obrigado.

Foi uma experiência muito gratificante com todos os alunos, ver o crescimento deles quer a nível motor/físico, quer a nível pessoal e social. No final não queriam que terminasse e foi a melhor prenda que me podiam dar. Tive a oportunidade de construir uma relação de amizade e respeito com estas crianças. Eu comecei por dar um pouco de mim, que é a modalidade que pratico e eles deram-me tudo deles… o bom e o menos bom, memórias boas e aprendizagens constantes. Algumas alunas fizeram questão de me tirar o telemóvel sem ver e deixar fotografias de recordação. Foi fantástico.