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S3 plataforma BIM

4.1 ESCRITÓRIO B

A segunda entrevista foi realizada com uma empresa de São Paulo já com aplicação da revisão na estrutura inicial do questionário, que gerou o modelo do protocolo de entrevista.

O escritório existe desde 1962 e, segundo o arquiteto entrevistado, a empresa foi também uma das pioneiras na implantação do CAD, em meados dos anos 80. Trata-se de uma empresa com grande atuação no mercado nacional, desenvolvendo projetos institucionais, comerciais, residenciais uni e multifamiliares, urbanismo e interiores. Seus clientes são caracterizados por pessoa física e pessoa jurídica. A tabela 12 apresenta as características desse caso, juntamente com seu digrama de operações de recorte.

Tabela 12. Características específicas e diagrama das operações

de recorte - escritório B.

ES

CRITÓ

RIO

B

São Paulo, Brasil entrevistado

Arquiteto e diretor de arquitetura. Um dos responsáveis pela implantação de

BIM na empresa.

equipe tempo data

60 arquitetos

+ 20 funcion. 0h58m45s 09.11.2010

ano de

implantação software consultoria externa

2005 Revit presente

modo de entrevista: presencial.

Do agrupamento feito a partir das operações de recorte que gerou o diagrama, é possível notar que as unidades de contexto B e D se destacam, como início das falas.

97 Desse cenário retira-se o seguinte agrupamento para os pontos de inferência: S1 e S5; S2, S6 e S8; S3 e S4, e S7, para o qual se apresentam as tabelas 13, 14, 15 e 16.

Tanto o perfil quanto o diagrama das operações de recorte demonstram que este caso apresenta uma participação relativamente homogênea de todas as UCs. Em outras palavras, desde o planejamento, vem ocorrendo uma boa articulação entre o conhecimento da tecnologia, o modo de implantação e o uso efetivo, influenciando principalmente, a metodologia de desenvolvimento de projetos empregada. Dessa leitura inicial, apresenta-se a análise do conteúdo das sequências identificadas, abaixo de cada uma das tabelas.

Tabela 13. Pontos de inferência escritório B:

Sequências de fala - S1 e S5.

ponto un. de contexto un. de registro

S1

S5

plataforma BIM

S1: fases projetuais, relação com parceiros, ferramentas, uso efetivo, gerenciamento, obra, equipe, compatibilização, mudanças,

planejamento, consultorias.

S5: inovação, propagandas, qualidade de projeto, planejamento, equipe.

A entrevista se inicia com uma breve exposição da maneira como o escritório lida com transições tecnológicas, através de uma analogia de como foi implantado o CAD em meados dos anos 80. Amarrado a isso é feita uma caracterização da visão pessoal do arquiteto sobre o que seria a plataforma BIM, expondo que no Brasil a sigla pode ser recente, mas fora se trata de uma terminologia considerada “gasta” (expressão do entrevistado). O raciocínio pessoal é reforçado com o fato de que o Brasil estaria pelo menos cinco anos atrás dos Estados Unidos e de outros países da Europa.

Partindo dessa abordagem inicial o entrevistado já inicia a caracterização da maneira como são desenvolvidos os projetos e como acontece a interface externa relatando que em ambos os aspectos, ainda se trata de um processo CAD. Algo fadado a mudanças principalmente em termos de fases projetuais, decorrentes do uso do BIM e da antecipação das decisões

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características do executivo no processo tradicional. Também nessa sequência é relatado de maneira mais superficial como se deu o planejamento e em que se motivou a implantação de BIM, que aconteceu com apoio de consultoria interna, tendo em vista que a empresa possui setor específico de TI.

É nesse planejamento que se estabelece a relação com a sequência 5, que parte do interesse na inovação como sendo o que mais motivou a transição. O entrevistado justifica esse interesse ressaltando que uma inovação não necessariamente parte de uma necessidade, pois no momento em que começaram a usar o Revit, não havia a necessidade. Muitas vezes se opta por não alterar uma estrutura corrente de bons resultados, como sempre foi o caso, por um risco desconhecido. Para ele a necessidade em termos tecnológicos é mais relacionada a investimento, pois o risco do desconhecido é sempre alto. Cientes disso, a opção foi de assumir os riscos com base na certeza de que a mudança é inevitável e que, por essa razão deveria ser bem planejada e ocorrer com solidez, mantendo como foco o retorno ainda que em longo prazo. Ele destaca ainda que se fosse considerar necessidade e prioridade, ainda hoje não é uma necessidade interna, mas está sendo encarada como prioridade pelos benefícios que vêm sendo percebidos.

Desses benefícios já cabe uma observação ao se considerar etapas de projeto. A empresa desenvolve Estudos de Viabilidade sobre os quais são firmados os contratos e, considerando o porte, a participação em um dos mercados mais ativos do país, a escala dos projetos que desenvolve e o tipo de clientes, fica evidenciada importância do EV. Dessa etapa é que são estimados custos que podem viabilizar ou não um determinado contrato. Isso demonstra a grande vantagem que pode ser tirada de um sistema ao antecipar as tomadas de decisões e aproximar o conceito de um projeto às suas características típicas da construção, facilitando desde estimativas de movimentação de terreno até escolhas de materiais embasadas em simulações do comportamento da edificação, por exemplo.

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Tabela 14. Pontos de inferência escritório B:

Sequências de fala - S2, S6 e S8.

ponto un. de contexto un. de registro

S2

S6

S8

implantação de BIM

S2: implantação, transição, software, conh. conceitual.

S6: parceiros, uso/ abandono de CAD, aprendizado, interoperabilidade, CAD, parceiros. S8: software, custos, outras ferramentas BIM, aprendizado.

O processo de transição (UC-C) que já dura cinco anos é descrito inteiramente na sequência 2. Desse tempo, os resultados foram atingidos basicamente no último ano (2010), na conclusão do primeiro projeto completamente desenvolvido em Revit, sendo que o próximo passo é viabilizar a primeira construção. Os custos com troca de equipamentos e aquisição de produtos são detalhados, juntamente com a inserção de uma equipe alocada para lidar apenas com a mudança, de onde parte outro dado importante.

O arquiteto relata na sequência 6 que, inicialmente, a nova forma de projetar era vista como o maior estímulo, porém na atualidade a motivação do funcionário é o que estimula as constantes descobertas e a satisfação que empregam no projeto, quando comparado ao trabalho mecânico que muitas vezes tinha de ser feito no sistema anterior. Disso fica claro que além do sistema e das definições em termos operacionais, pensar no funcionário se torna necessário, ressaltando ainda a possibilidade de resistência pessoal no abandono do CAD quando não há clareza e entendimento necessários acerca da importância do novo sistema. A essa resistência o entrevistado caracteriza “zona de conforto”, destacando que o CAD pode funcionar como um freio real na mudança, relatando como vem sendo abordado o uso e o abandono do sistema, na implantação de BIM.

Desse cenário é justificado um dos critérios de escolha do Revit como sendo a base BIM da empresa, uma praticidade vinda da “escola” AutoCAD que acaba funcionando como uma cultura difícil de mudar, segundo o arquiteto. A empresa acredita que a relevância disso repercute no aprendizado e na crença de ser

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esta a ferramenta mais completa na atualidade, mas reforça que estão prontos a trocarem todo o sistema caso alguma outra opção se apresente como sendo melhor para as necessidades internas. Nessa sequência já são demonstradas algumas desvantagens do Revit, dentre elas a necessidade de “tropicalização” e “customização”, de onde foi abordada a rigidez do programa em termos de organização do próprio arquivo. Segundo ele, é necessário que entidades e empresas nacionais comecem a discutir normas e padronizações em BIM, inserindo fabricantes nesse cenário.

Ainda nessa sequência é demonstrada a política de “blindagem” adotada pela empresa sobre não depender de terceiros para que a mudança aconteça, também uma forma de contornar os problemas que se apresentam gradativamente. Independente dos parceiros usarem ou não usarem BIM, e considerando ainda o fato da escolha dos parceiros não partir da empresa e sim dos clientes, foi adotada essa postura para minimizar a interferência externa nessa fase. O escritório recebe a informação da forma que for e a transforma em um material paramétrico. É uma adaptação a um problema de fora assumido internamente visando impulsionar a evolução. É ainda nesse contexto que a interoperabilidade é mencionada como um problema anterior, por isso não configura um impecílio.

A evolução é balizada por condicionantes internos. O entrevistado relata que estão sendo feitos testes com Revit MEP visando melhorias na compatibilização e que o número de interferências identificadas em anteprojeto foi absurdo, por isso é uma etapa que “infla” bastante em termos de produtividade.

Mas as simulações do comportamento da edificação são vistas como utópicas ainda. Mesmo já tendo sido realizados testes também nesse sentido, os resultados não foram satisfatórios talvez por não configurar uma exigência efetiva do mercado ainda. Por outro lado, se aumentam a qualidade do projeto, são exigências do mercado sim e por isso devem ser considerados. Porém é assumidade a necessidade de maiores definições nesse sentido.

101 Esse agrupamento reforça o comprometimento com a evolução no uso, comprovado pelo planejamento claro do que vem sendo realizado na atualidade e quais os próximos passos.

Tabela 15. Pontos de inferência escritório B:

Sequências de fala - S3 e S4.

ponto un. de contexto un. de registro

S3

S4

métodos de projeto

S3: parceiros, comunicação, ferramentas, reuniões, compatibilização, retrabalho, conceito, uso efetivo.

S4: padronizações, problemas.

As sequências 3 e 4 são as únicas iniciadas pelos métodos de projeto e se referem aos questionamentos sobre a interface com os parceiros e com a obra especificamente em termos de padronizações de desenho, ainda em um estágio inicial da entrevista, cujos tópicos de aprofundamento na tecnologia BIM ainda não tinham sido atingidos. Nesse momento é relatado que a comunicação com a obra se relaciona com a escala do projeto e a tendência é que, na maioria dos casos, exista outra empresa responsável pelo gerenciamento da obra, portanto, a comunicação é feita com essa empresa. Há uma intensa troca de arquivos bidimensionais com comentários multilaterais até a conclusão de cada etapa, inclusive com reuniões presenciais de acordo com a demanda.

A compatibilização das disciplinas é realizada em cima de plantas base da arquitetura que são atualizadas e disponibilizadas em repositórios FTP e SADP. Nesse cenário o retrabalho ainda é grande se for considerado o uso do sistema BIM, mas na opinião do entrevistado, depende menos de BIM e mais da postura da gestão e da coordenação, pois retrabalho sempre vai existir. A questão é o quanto de retrabalho ocorre em cada sistema. Também na sequência são relatados os padrões e as normas de desenhos usados segundo diretrizes da ISO, ASBEA e ABNT, que orientaram a criação do padrão que o escritório usa há anos.

Desse agrupamento ficam claras as diversas esferas que fazem com que a documentação de projeto siga um mercado que

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funciona dentro de uma mentalidade CAD, algo que marca a diferença do BIM enquanto processo e do BIM enquanto ferramenta. Pode-se dizer que esse é um indício de manutenção de um processo de projeto CAD com uso de ferramentas BIM, ainda que pontual.

A representação não tem a função única de aprovação junto a entidades legais ou ainda de construção. Na atualidade é crescente a necessidade de comunicação entre os participantes dos empreendimentos que, por sua vez, demandam um número cada vez maior de profissionais dada a complexidade, a escala e a velocidade com que essas obras precisam finalizar.

Em nenhum momento essa pesquisa buscou quantificar quanto da informação é gerada pela necessidade única de comunicar, porém esse cenário dá margens para tal questionamento podendo embasar o quanto se justificaria que modelos fossem compartilhados, pelo menos na comunicação, ao invés de desenhos apenas. Caberia ainda questionar até que ponto apenas as representações bidimensionais são suficientes para se comunicar a complexidade de determinados projetos ou para resguardar equívocos de interpretação.

Ainda assim, no momento em que essa comunicação é realizada pelo compartilhamento de modelos, se extrai a capacidade da plataforma BIM de funcionar como tradutora ou codificadora daquele modelo tridimensional em informações ou representações bidimensionais voltadas para cada finalidade específica, seja ela relacionada à aprovação, à obra ou mesmo a outra instância que se faça necessária. De fato, um processo BIM.

Tabela 16. Pontos de inferência escritório B:

Sequência de fala - S7.

ponto un. de contexto un. de registro

S7

uso efetivo S7: número de projetos, forma de projetar, conceito de BIM, diferenciais. Nessa sequência é apresentado um conjunto de pontos que caracteriza o estágio atual partindo de uso efetivo (UC-D) englobando implantação e conhecimento de BIM. No relatório

103 são fornecidos números desse estágio inicial, com resultados segundo ele, mais ou menos satisfatórios. Atualmente 40% das equipes da empresa usam Revit e os projetos já começam a sair Revit do escritório, sendo o próximo passo iniciar em Revit todos os projetos. Diante disso, as mudanças são apontadas como sendo inúmeras, porém a que mais se destaca na opinião do arquiteto, é o projetar.

Segundo o arquiteto, é realmente necessária outra lógica para o nível de discussões aprofundadas em arquitetura que surge. Se forem consideradas as etapas de um processo CAD, o ciclo evolutivo de um projeto é muito homogêneo e isso muda no BIM, onde no início se intensifica a demanda das decisões de projeto necessárias. O arquiteto destaca que “a modelagem tridimensional sempre existiu, porém a projetação tridimensional palpável e passível de ser visualizada com alto nível de informações de arquitetura presentes é novidade”. Por outro lado, é necessário que muitos elementos sejam pensados, como autoria de projetos e forma de realização de contratos.