• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 2 – SOBRE AS ESCOLHAS METODOLÓGICAS

2.3 A escrita do caso e o dado linguístico

No item anterior, defini o dado linguístico como o fato de linguagem paradoxal que se constrói com uma forma e um inesperado, a língua e o discurso em que o aspecto fundamental é o hiato entre o dois. Mas, é preciso que o dado – isto que é oferecido pelo inconsciente para dizer da condição da criança - seja escrito como texto tentando dar forma ao saber construído. Nesse ponto, a Psicanálise ajuda com a escrita do caso clínico que é ato integrante da experiência psicanalítica. Essa escrita é um ciframento e não um deciframento, sendo então preciso que o enigma do sujeito se presentifique nesse ciframento e não que seja resolvido pelo deciframento de sua significação.

Para desenvolver isso, tomo por base Erik Porge (2009, p.57) que, ao discorrer sobre o estilo de Lacan, coloca-o como “[...] um operador situado na confluência da verdade da cura com o saber transmissível dessa verdade [do sujeito] [...]”. Esse autor me ajuda a pensar que esse dizer sobre essa experiência clínica não é meramente relato de caso, mas que comporta a existência de “[...] um conflito entre teoria, dever de transmissão de um saber proveniente do tratamento e da prática, do dever terapêutico e do respeito à verdade do paciente que, segundo entendemos, deve ser lido em função da dialética do saber e da verdade [...]” (ibid, p.53-54). Conforme essas palavras há, nesse percurso, uma inexatidão entre a verdade da experiência na clinica e transcrição de sessões clínicas. E isso se justifica por ser essa experiência uma

experiência de linguagem e, como tal, mataria essa experiência primeira. Ainda, que o sujeito do inconsciente não prescinde dessa inexatidão, desse desencontro.

Porge (2009) faz referência ao traço de caso que Lacan sustenta ao escrever para a revista da Escola Freudiana de Paris Scilicet, em 1968. Para Lacan, segundo Porge nos conta, um caso clínico deve se sustentar por seu traço, ou seja, aquilo do caso que o torna único e singular como propõe Freud (1937/1996) para na construção da análise: um ponto fixo em torno do qual um caso será elaborado. Para Freud, e para Lacan também, trata-se do enigma do sujeito, do micelium que escapa à interpretação, apontando para uma espécie de fracasso de sentido. A Nota do Tradutor, em Porge (2009) esclarece:

Tait du cas é a expressão criada por Lacan no primeiro número de Scilicet. Cf. Seminários reunidos por Claude Dumézil em Le trait du cas, Le

psychanalyse à la trace, que insistem no fato de não ser possível teorizar apenas a partir das falas dos pacientes ou do analista, mas essencialmente a partir desse traço, que significa, ao mesmo tempo – o que faz laço, une, e o que corta, separa, escreve. (N.T., PORGE, 2009, p.57)

No dado linguístico, tal como venho definindo, o paradoxal é justamente a suspensão de sentido, a indeterminação, a rigidez na linguagem da criança que faz esse laço, que corta e instaura a angústia, o não saber como fio condutor da narrativa: é o fundamento da língua insistente de Cadu que faz traço, que lhe permite fazer laço e, é isto o que deve ser cifrado na escuta do caso e delimitado como dado linguístico.

Igualmente, um caso clínico é parte daquilo a que uma análise de criança se propõe e que é participar, pela transferência, do processo de subjetivação dessa criança:

Se nos parece óbvio que a análise de uma criança deva conduzi-la de um lugar infans à sua efetuação estrutural subjetiva, trata-se, para o analista, de criar condições para a transmissão simbólica: resgatando a criança do anonimato do desejo, reconduzindo-a a herança de sua linhagem simbólica própria, para que o sujeito, constituído, possa fazer dela algo de novo. (VORCARO, 2003, p.95)

Tomando-se por base essas palavras da autora, o dado linguístico deverá possibilitar nomear essa criança, reconstruir seu mito familiar e determinar sua demanda ao Outro inscrevendo seu lugar no campo da linguagem,

Em sua explanação sobre as escritas do caso, a autora supracitada ainda ressalta a literalidade da narrativa escrita do caso sem antecipar significações, em que:

[...] o encadeamento significante permite ler, no escrito, a construção real, ou seja, a singularidade do caso que não é nem apenas de estrutura do paciente nem de suas manifestações sintomáticas, mas refere-se ao encontro desencontrado do sujeito com o analista. (VORCARO, 2003, p.110-111)

Esse encadeamento significante é o traço da narrativa que proponho por supor um entre significantes distintivos em que se inscreverá o sujeito do inconsciente. Além disso, esse encadeamento significante comporta as marcas do Real no Simbólico, possibilitando esse traço contraditório e verdadeiro.

Vorcaro (2010, p.21) também ressalta que o caso clínico, na pesquisa psicanalítica – não tem a função de exemplificar e nem demonstrar um fenômeno. Sua função é justamente a de problematizar o aspecto de “[...] generalização necessária à teoria, explodindo a imaginarização de universalidade da teoria sempre avessa à presença do singular surpreendente implicado no inconsciente.” Diante disso, é preciso questionar a ‘natureza’ generalista da Linguística se a investida se dá articulada à Psicanálise como em trabalhos em que se solicitam respostas a participantes por meio de questionários: Qual o singular aí inscrito? Um questionário responde por um sujeito do inconsciente? Ainda, em relação à questão estrutural da língua não é possível repetir e nem generalizar ocorrências e descrições: a regularidade da língua, como uma ordem autônoma e própria, é singular em se tratando do sujeito do inconsciente.

Desse modo, e considerando que o caso clínico se refere ao (des)encontro que a clínica promove pela transferência entre dois, é preciso indagar a psicopatologia por meio da descontinuidade no relato do sintoma feito pela narrativa, atribuindo, dessa forma, dignidade de objeto de investigação ao inesperado e sem sentido, conforme Vorcaro (2001). Tem-se, nas palavras dessa autora, uma conformidade com o que venho falando sobre o dado linguístico como paradoxal e que é um acontecimento de linguagem, portanto, merece ser visto pela Linguística25.

25 Em texto específico sobre a tomada do dado linguístico na clínica psicanalítica, Vorcaro (2001, p.132)

ressalta, entre outros aspectos, a importância de se entender, antes de qualquer coisa, o que é a clínica e o que ela permite: “Como lembra Michel Foucault, a clínica é uma prática discursiva que não responde aos critérios formais do rigor científico, mas comporta um acúmulo, apenas organizado, de observações empíricas, de tentativas e de resultados, de prescrições terapêuticas e de regulamentações institucionais. Esse conjunto de elementos, formado de maneira regular por uma prática discursiva, é chamado de saber. O saber da clínica não coincide com a elaboração científica; é o conjunto das funções de observação, decifração e decisão, exercidas pelo clínico, a cada ocorrência, nas apropriações permitidas pelo discurso. Portanto, na clínica, o recrutamento e a interpretação do dado linguístico não obedecem ao critério de julgamento da ciência linguística: referem-se à decisão interpretativa de um outro falante, investido da função de agente da clínica, em relação à modalidade de desarranjo de uma língua num falante. Essas ocorrências, que apontam desvios e violações, sejam do léxico ou das posições gramaticais, apresentam uma gama enorme de lugares difíceis de interpretar e, muitas vezes,

Ainda sobre essa relação entre dado linguístico e clínica, a discussão levantada por Maria Francisca Lier-DeVitto (2009, s/p) sobre o que é acessível daquilo que se escuta da fala de uma criança e o que se recorta como empiria colabora para minha posição nesta pesquisa, porque vai na direção de sustentar o singular da criança que fala e o heterogêneo que aparece nessa fala. A autora, trabalhando com a clínica da linguagem, sustenta que o clínico que lida de alguma forma com a fala não deve sustentar essa escuta no desconhecimento acerca da língua e seu funcionamento, sua escuta não pode ser leiga. Ao constatar, com base também nos trabalhos De Lemos, a indissociação entre criança e fala, a ênfase é na escuta é de um corpo que fala, estabelecendo o lugar dos estudos da linguagem na clínica psicanalítica, não apenas da clínica da linguagem:

Ora, é a fala in vivo que o clínico de linguagem encontra e com o que deve se haver: deve se haver com um corpo que fala e com o corpo de uma fala e, diga-se, ele não poderá fazê-lo como falante/ouvinte leigo, mas como seu corpo-teórico.

Desse modo, na possível relação entre escrita do caso e dado linguístico tem-se um ponto que torna possível abordar os enunciados da clínica como dado linguístico: é o fato de que quem assume a posição de investigador da linguagem é, antes de tudo, analista e, como tal, nos dirá Laznik-Penot (1989, p.48): “Na qualidade de analista, supõe-se que se esteja aí para ouvir alguma coisa.” Também, na qualidade de investigador da linguagem da criança supõe-se que se esteja aí para ver e escutar essa experiência e discernir o que nela há de funcionamento da língua.

Logo, enquanto o dado linguístico, fora da clínica psicanalítica, visa classificações, regularidades e descrições, o caso clínico visa o sinthoma26 do sujeito. Desse modo, é preciso sustentar, que o dado atualizado nessa clínica deve tomar ares de sinthoma, no sentido de ser

indecidíveis. Enfim, na clínica, o dado linguístico é a materialidade linguajeira, ocorrência episódica que indicia o fato bruto da interrogação sobre a condição singular de realização de uma língua num falante.”

26 Neologismo criado por Jacques Lacan no Seminário, Livro 23, O Sinthoma (1975-1976/2007): aquilo do

próprio sujeito (de seu gozo) que, ao final da análise, ele deve se identificar, distanciando-se de uma lógica de cura analítica. Trata-se do que enoda o sujeito, do que possibilita a amarração sinthomática entre Real, Simbólico e Imaginário. Também, por hora de modo vago, trata-se do que o sujeito faz de seu sinthoma. Frente à importância da lógica paradoxal e contraditória – o homem é aquilo que lhe fracassa e é preciso que se faça algo disso – posta nesse seminário, manterei a escrita sinthoma para as manifestações da criança, para seus impasses subjetivos que têm essa função de amarração sinthomática, diferenciando de sintoma que remete ao psicopatológico da psiquiatria e da psicologia.

singular, não podendo ser “analisado” com o objetivo de torná-lo universal. Mas, na universalidade tanto de regularidades linguísticas como de invariantes psicanalíticas, deve-se torná-lo único e impossível de ser generalizado tomando-o como sempre incompleto, pois algo ficará de fora das gravações. Diante disso, uma das funções do dado linguístico seria enfrentar, pelas vias do Imaginário e do Simbólico (na possibilidade distintiva nesse dado), o Real inevitável.

2.4 A narrativa enunciativa

Diante das especificações em minhas escolhas metodológicas sobre ciência, dado linguístico e caso clínico, apresento, agora, minha escolha pela narrativa enunciativa para mostrar que, na fala de Cadu, há língua em funcionamento.

Conforme Bogdan e Biklen (1994), o caso clínico é o relato crítico de uma história que vai se delineando ao longo de seu desenvolvimento como tentativa de compreender o sujeito em causa. Assim, busco fundamentar como narrativa enunciativa esse relato crítico do caso clínico que contemple a criança em análise e sua linguagem.

Nesse sentido, Lacan (1971/2009, p.115) afirma que “Ninguém no mundo jamais segue a linha reta, nem o homem, nem a ameba, nem a mosca, nem o ramo, nem nada [...].” Dessa afirmação fica estabelecido, para o que proponho como o modo de apresentar o dado linguístico recortado do caso clínico, um percurso não linear que permite tanto um retorno sobre determinado ponto, como uma parada mesmo em descontinuidade. Essa escrita em linha tortuosa não implica uma sucessividade, mas uma lógica estrutural em que o que interessa é o efeito da relação entre os elementos que compõem essa história: a criança e sua linguagem, a clínica, a transferência, o Outro ali implicado, o mito familiar da criança. Por isso, nesse percurso, o que determinará o passo seguinte são justamente os pontos de suspensão de sentido e de impasses e, nessas condições, isto que é o impasse e o paradoxo, é importante porque “Algo de que não se compreenda nada é a esperança absoluta, é o sinal de que se foi afetado por aquilo.” (LACAN, 1971/2009, p.99).

Nesse ponto, justifico minha ênfase nos impasses subjetivos da criança, pois não é da ordem de uma sintomatologia negativa que colocaria a criança à mercê da alienação em que está imbricada ou que a reteria na solidão autista. Mas, esses impasses mostram a afetação da criança diante dessas possibilidades subjetivas como amarração sinthomática em seu percurso

de constituição resultantes desse afetamento e, assim, correspondendo ao seu modo de ir na direção de seu destino de vir a ser falante, mesmo que a psicose ou o autismo se efetive.

Também, importante que em minha escrita as cenas clínicas remetem aos acontecimentos de linguagem. Essas cenas são enunciativas por se tratarem da linguagem como acontecimento tal como interessa à Psicanálise e que permitem à criança fazer laço social a seu modo pela circulação de significantes. Essa circulação se dá no cenário analítico e na enunciação agora em pauta e que corresponde ao instante desta escrita. Desse cenário, uma característica é intrínseca quanto a essa circulação e à circulação como um todo no campo da linguagem: esta é incessante e insistente.

Do mesmo modo, conforme Laznik-Penot (1989), a linguagem em que está imersa a criança com possibilidade de psicose é incessante: os cenários e discursos se desdobram aos moldes do deslizamento metonímico operado por Lacan em sua leitura do conto A Carta Roubada, de Edgar Allan Poe27. Segundo a autora, se questionando se a criança dita psicótica não seria como essa carta roubada, há um desdobramento e uma alternância de posições entre os sujeitos envolvidos nos cenários analíticos. A similaridade entre os deslocamentos da criança nesses cenários são importantes, porque se trata de manifestações de linguagem da criança em seu percurso de subjetivação. Com isso, tem-se um percurso em que determinadas especificidades de linguagem tem ares de ecolalias, de rigidez sintática, de inversão pronominal, entre outras, manifestando os impasses subjetivos que assumem a posição de elementos a serem deslocados para outra função nesse percurso, como a língua de Cadu que faz laço, mas não comunica. Portanto, buscar o que não cessa como a estratégia de enfrentamento, como um trabalho incessante da criança de se desvencilhar de seu enodamento sinthomático patológico é parte da intervenção do analista, o que essa narrativa contribuiria permitindo o ciframento desse trabalho.

Diante dessa proposta de narrativa, retomo a leitura do conto de Edgar Allan Poe, A Carta Roubada, feita por Lacan (1956/1998, p.45) para mostrar como um significante puro vai se deslocando, deixando marcas e constituindo sujeitos até chegar a seu destino: “Uma carta sempre chega a seu destino.” Esse significante puro é aquele destituído de significado, que não tem sentido, mas tem efeito: é aquele que constitui um discurso sem palavras (pois, se não há significante/significado, não há signo) e que, no campo da linguagem, vai se deslocando e fazendo emergir no nonsense aquilo que é inconsciente. Nesse conto de Poe, a carta roubada é esse significante puro, esse discurso sem palavras: nela, não sabemos o que

27 Contudo, como será abordado ainda neste texto, esse deslizamento metonímico pode operar pela lógica da

está escrito, mas sofremos, sem dúvida, de seu efeito28 como a lógica do significante que é a de ter efeito, pois o que interessa de um significante é seu efeito.

Para acompanhar a leitura de Lacan recupero, de modo breve, o conto do poeta e escritor norte-americano Edgar Allan Poe. A carta roubada (The Purloined Letter, 1844) é o último conto do detetive Auguste Dupin, personagem presente nos contos Os assassinatos da rua Morgue (1841) e O mistério de Marie Roget (1842).

Nesse conto, o tempo cronológico são os idos de 1800, sem exatidão do ano, portanto, não se tratando de uma certeza localizada. As personagens do conto são quatro: o Narrador que mora com o detetive Auguste Dupin e, que apesar de conduzir a história, não tem seu nome revelado; o detetive Auguste Dupin que por ter ajudado o delegado de polícia a solucionar outros casos é procurado para ajudar a encontrar a carta roubada; o Delegado G. da polícia de Paris que pede ajuda a Dupin para solucionar o roubo da carta; e o Monsenhor D., o ministro que rouba a carta dos aposentos da rainha para chantageá-la. Além do detetive, ninguém mais é nomeado no conto, assim como o conteúdo da carta roubada também não é revelado, enfatizando o enigma como o que movimenta a linguagem. Pode-se supor que foi por essa ausência de conteúdo da carta que Lacan lhe conferiu estatuto de significante. Passo, na sequência, à história dessa carta roubada.

Em Paris, o narrador encontra-se refletindo sobre os dois casos anteriormente solucionados pelo amigo, o detetive Auguste Dupin: o caso da Rua Morgue e o mistério do assassinato de Marie Rôget. Esses dois personagens estão no gabinete de leitura de Dupin quando, por acaso e coincidência, chega Monsieur G., o delegado de polícia de Paris, para consultar Dupin sobre um caso que lhe estava causando transtorno. Dupin prefere manter-se no escuro do gabinete, pois é melhor para refletir sobre o sigiloso, estranho e simples caso apresentado pelo delegado e que lhe escapava à compreensão por ser evidente demais, já que se sabe quem cometeu o crime: o Ministro D. roubou uma carta escrita para uma pessoa importante (a pessoa roubada) de dentro do gabinete real, permitindo inferir que se trata da Rainha essa pessoa roubada. Esse roubo conferia ao Ministro D. relativo poder e, desse modo, ascensão política por meio de chantagens.

Dupin observa que é a posse da carta que confere poder ao ladrão e, portanto, ele não irá revelar o que nela está escrito. Assim, o objetivo, para solucionar o caso, é recuperar a carta roubada, o que o delegado não conseguiu após meses de tentativas malsucedidas, pois o

28 Posteriormente, essa carta será alçada, por Lacan, ao posto do próprio objeto a. Sobre Edgar Allan Poe, vale

lembrar que ele é o mestre das narrativas curtas e enigmáticas, que trazem sempre um enigma no limite estrutural, na sincronia de seus contos. Em seus contos há sempre um mistério que dita a direção da narrativa.

Ministro previra as buscas em todos os cantos secretos possíveis de seu apartamento, por ser poeta, conforme nos conta o narrador.

O delegado relata todas as buscas feitas no apartamento do Ministro, sem sucesso, enfatizando o modo minucioso dessas buscas feitas por meio de métodos conhecidos da polícia, buscas feitas pelos caminhos mais evidentes, porém, improdutivos.

Dupin, depois de ouvir o delegado, o aconselha a fazer uma nova busca na casa do Ministro e solicita uma descrição precisa da carta roubada sugerindo uma nova revista ao apartamento do Ministro, o que desanima o delegado.

Após um mês, o delegado retorna ao apartamento do narrador e de Dupin sem obter nenhum sucesso nas buscas. Ele, então, informa que há uma recompensa pelo resgate da carta. O detetive aceita o desafio e se compromete a entregar a carta ao delegado, por causa do dinheiro. Depois de receber o cheque da recompensa (pela certeza antecipada de Dupin em recuperar a carta), ele, de modo inesperado retira de sua escrivaninha a carta roubada e a entrega ao delegado. No momento seguinte à partida deste, Dupin explica ao narrador como encontrou a carta roubada. O detetive pensa como o Ministro: como um poeta, por isso consegue resolver o caso, acompanhar o percurso da carta até seu destino final, seguindo não as evidências, mas os mistérios na continuidade de um evento. Dupin não subestimou o Ministro considerando que o enigma do destino da carta não era simples e provável: para ocultar a carta, o Ministro não a escondeu, deixando-a a vista de todos.

Dupin narra como encontrou a carta: ele foi visitar, em uma manhã, o Ministro em seu apartamento estabelecendo um diálogo com este, ao mesmo tempo em que observava minuciosamente o que estava à vista, no local. Foi no porta-cartas do Ministro que o detetive encontrou a carta roubada, uma carta diferente daquela descrita pelo delegado e que estava em desacordo com as outras cartas do Ministro. Essa carta estava amassada, suja, dobrada e (re)dobrada como se estivesse em constante movimento, como se o Ministro não soubesse o