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3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 CONDIÇÕES DO EXERCÍCIO DO PODER

3.1.1 O contexto do serviço

3.1.1.1 Espaço físico

O serviço de medicina interna inclui um serviço de medicina e um serviço de gastrenterologia. Ocupa a ala sul e esquerda de um piso do hospital, estendendo-se por um longo corredor a meio do qual se encontra a entrada principal que serve de acesso a quem vem do exterior. À esquerda desta porta principal encontra-se um largo hall rectangular onde se encontra o acesso aos pisos superiores (escadas e elevador), o gabinete do director clínico e a sala dos médicos. Este espaço serve também de sala de espera de doentes, familiares e visitas. No lado esquerdo do hall encontra-se a porta que dá acesso ao serviço de internamento.

À entrada do serviço de internamento e separado deste por duas portas em batente, encontra-se à direita a copa e à esquerda o antigo refeitório dos doentes, que foi

transformado em gabinete de atendimento não programado24. O serviço de

gastrenterologia ocupa as primeiras 4 salas (salas 1,2,3 e 7) com 3 camas cada, e o serviço de medicina ocupa as 3 salas restantes (salas 8, 9 e 10), também com 3 camas cada, à excepção da última sala que tem 6 camas. De acordo com as necessidades, as salas destinadas aos doentes do foro médico podem ser ocupadas por doentes com patologia gastrenterológica e vice-versa. Sensivelmente a meio do serviço, e funcionando como um separador entre os dois serviços, existem 3 quartos individuais destinados a doentes que requerem isolamento. É também neste espaço central que se encontra um balcão, sanitários do pessoal de serviço e quartos de arrumos. O serviço de medicina interna tem 27 camas mas muitas vezes esta lotação é ultrapassada com camas suplementares colocadas nas salas, quando há espaço, ou no corredor o que traduz a elevada taxa de ocupação do serviço - a segunda maior taxa de ocupação (101,1%)do hospital25.

Ao longo do corredor que atravessa todo o serviço estão dispostas à direita as salas de internamento e à esquerda as salas de apoio: copa, gabinete da enfermeira chefe, sala de enfermagem, gabinete das duas secretárias de unidade, sala de enfermagem, stock de material, casas de banho para homens e mulheres, sala do banho assistido, sala de sujos e sala de descontaminação26. É por este corredor que também se faz o acesso aos vestiários que se encontram no piso inferior, o que ocasiona um vaivém de pessoas da organização e de estudantes de enfermagem, principalmente nos períodos que antecedem e sucedem às passagens de turno. Todas as salas de internamento dão para uma galeria que corre ao longo do serviço e dá para o exterior do edifício. Com cerca de três metros de largo este espaço tem várias utilidades: nele guarda-se a roupa, as macas, as cadeiras de rodas e outro material; aqui os doentes passam parte do tempo, sentados nos cadeirões espalhados ao longo da galeria e por vezes recebem as suas

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Segundo informação da enfermeira chefe, esta transformação surgiu na sequência do plano de contingência realizado em 1998, aquando da exposição mundial em Lisboa - Expo 98. Preparada para receber doentes, assim foi deixada por conveniência do serviço, em virtude do elevado número de consultas não programadas realizados pelos médicos de serviço.

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Dados obtidos no Relatório de Actividades de 2007 publicado na página electrónica do Hospital.

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visitas; os médicos, enfermeiros, estudantes de medicina ou de enfermagem reúnem-se para discutirem assuntos relacionados com os doentes e o ensino clínico. O acesso à galeria faz-se pelas salas de internamento que se transformam em corredor sempre que é necessário ir buscar ou arrumar material, reunir, ou utilizar o espaço para outro fim (ver diagrama 1).

A sala de enfermagem é o local onde os enfermeiros se reúnem para passarem o turno e onde fazem os seus registos. Nesta sala encontra-se o quadro com a identificação de todos os doentes internados, guardam-se os processos dos doentes e é o lugar onde enfermeiros e médicos se cruzam para equacionarem ou prescreverem os cuidados a prestar aos doentes. É também aqui que os enfermeiros se reúnem para discutir outros assuntos relacionados com o seu trabalho ou assuntos de carácter mais informal ou até privado, funcionando a sala de enfermagem como um local de maior privacidade.

Esta disposição espacial traduz uma necessidade organizacional de facilitação do trabalho e evidencia uma separação estratégica de duas áreas distintas: a ala esquerda, considerada mais reservada e de uso quase exclusivo do pessoal do serviço, onde se processa o trabalho de retaguarda necessário à execução dos cuidados; a ala direita, de acesso público, destinada à permanência dos doentes e onde os profissionais efectuam grande pate dos cuidados aos doentes.

Esta disposição espacial reflecte uma simbologia disciplinadora quanto à acessibilidade do espaço aos utilizadores do serviço. O pessoal do serviço circula livremente por todo o espaço, ao passo que não é esperado que o doente circule por todo o serviço nem para fora do serviço; é-lhe permitido circular nas salas, no corredor e na galeria; eventualmente os doentes independentes podem receber as suas visitas no hall. É na sala que o doente permanece a maior parte do tempo, ora sentado ora deitado. É aqui que o encontro entre enfermeiro e doente se processa. Habitualmente o doente não se desloca à sala de enfermagem para pedir alguma coisa à enfermeira mas quando o faz não transpõe a porta. O espaço que o doente tem para si, e que pode dar um toque mais pessoal, é a sua unidade: mesa-de-cabeceira, cama e cadeira.

Diagrama 1- Planta do serviço H all de E nt rad a G A L E R I A Corredor WC WC Balcão Su jo s WC

Mulheres Assistido Banho

Stock Material Sala de Enfermagem Se cre tá ria d e un id ad e G ab in et e En f. C he fe Desconta- minação WC Homens Copa G ab in ete d e ate n d im en to m éd ic o n ão p ro g ra m ad o Escadas de acessoao vestiário

Os doentes são admitidos essencialmente através do serviço de urgência do centro hospitalar e de outras unidades do próprio hospital (consulta externa). Como em qualquer serviço de medicina interna os doentes têm uma média etária acima dos 65 anos e mais, com doenças crónicas associadas decorrentes do próprio processo de envelhecimento, com períodos de internamento com uma demora média de 10,5 dias27. Os internamentos de longa duração são motivados por problemas sociais como abandono ou incapacidade da família para cuidar do idoso. Os doentes do foro gastrenterológico são mais jovens, têm internamentos de menor duração mas que se repetem ao longo do ano; muitas das patologias são crónicas e associadas ao alcoolismo.

A equipa médica é chefiada pelo director e constituída por duas equipas, a de medicina interna e a de gastrenterologia. Cada médico é responsável por um nº de doentes. A equipa médica dá apoio ao serviço até às 16h e a partir desta hora até às 9h do dia seguinte são os médicos de urgência interna de medicina e de gastrenterologia.

O expediente do serviço é secretariado por duas secretárias de unidade que efectuam todo o trabalho administrativo. O serviço de apoio é realizado por um grupo de treze auxiliares de acção médica, ficando quatro no turno da manhã, duas no turno da tarde e duas no turno da noite. De entre as funções das auxiliares, que se encontram definidas, uma delas é o de colaborar na higiene dos doentes.