• Nenhum resultado encontrado

2. OPÇÕES METODOLÓGICAS

2.1 TIPO DE ESTUDO

A escolha do desenho e das estratégias metodológicas estão directamente interligadas com o que se pretende descobrir (Flick, 1998; Silverman, 2005). Escolhida a abordagem qualitativa a partir dos seus pressupostos e da adequação destes ao estudo, importa agora escolher o método que melhor responde à pergunta de investigação. De

entre os muitos métodos existentes considerei o estudo de caso, também designado pelas ciências sociais como método de pesquisa de terreno dado exigir uma presença prolongada do investigador no contexto em estudo (Costa, 2005), como o adequado. As considerações teóricas que a seguir apresento sobre o estudo de caso enquanto processo e produto de investigação fundamentam a sua escolha.

O estudo de caso tem sido usado em diferentes contextos e áreas do conhecimento como uma técnica de ensino, um modo de registo de dados, um método de avaliação e uma estratégia de investigação (Mariano, 2000; Yin, 2003). Esta multiplicidade de usos reflecte-se na variedade de unidades de análise que tanto pode ser um indivíduo, uma cultura, uma organização, um acontecimento, um processo ou

mesmo uma comunidade (Mariano, 2000). O termo “estudo de caso” espelha a ideia do

estudo detalhado de uma situação, que pode ser singular ou não, que admite por isso diferentes níveis de complexidade, e que mobiliza os métodos que se considerarem apropriados ao seu estudo (Mariano, 2000; Stake, 2003; Silverman, 2005). Ele responde à necessidade de compreensão dos fenómenos sociais, permitindo ao investigador captar os acontecimentos da vida real num todo significativo (Yin, 2003).

O estudo de caso consiste num processo de investigação empírica que estuda um fenómeno contemporâneo no seu contexto de vida real durante um período de tempo limitado, para se obter uma compreensão a mais profunda possível, especialmente quando as fronteiras entre fenómeno e contexto não são evidentes, (Yin, 2003; Silverman, 2005). Como os fenómenos a observar são complexos e nem sempre distintos do contexto, o estudo de caso lida com muitas variáveis de interesse, donde o uso de múltiplas fontes de evidência e a posterior convergência dos resultados; como resultado desta convergência pode beneficiar de um desenvolvimento a priori de proposições teóricas que orientam a recolha e também a análise de dados. Para Yin (2003), o estudo de caso é usado preferencialmente no estudo de acontecimentos contemporâneos, quando não há possibilidade de condicionar ou manipular os comportamentos, circunstância que caracteriza este estudo. A natureza contextual do estudo de caso, a incidência em fenómenos contemporâneos nos seus contextos reais e a

modelagem do desenho e procedimentos de recolha de dados à pergunta de investigação são os pontos fortes deste método (Meyer, 2001).

Considerando que pretendo obter uma melhor compreensão do fenómeno do poder que se reflecte na formulação da pergunta de investigação “como é que o poder se exerce durante os cuidados de higiene, na perspectiva do enfermeiro” o estudo reveste- se de um carácter explanatório. As perguntas “como” e “porquê” são de natureza explanatória e são as que o estudo de caso melhor responde, na medida em que impõem a necessidade de se estabelecerem relações e inter-relações para se obter uma visão global e compreensiva do caso, sem se recorrer ao controle ou manipulação de comportamentos (Yin, 2003; Jacelon e O’Dell, 2005).

No que respeita à sua tipologia o estudo de caso pode incidir sobre um só caso – estudo de caso único, ou sobre múltiplos casos – estudo de casos múltiplos (Mariano, 2000; Meyer, 2001; Yin, 2003; Jacelon e O’Dell, 2005) ou complexos (Stake, 2005). A utilização de um estudo de caso único está indicado em diversas situações, sendo uma delas o aprofundar o conhecimento sobre um determinado fenómeno ou tema ou questionar uma generalização; é um estudo em profundidade de um caso que pode ser típico ou não (Stake, 2003, 2005; Silverman, 2005). O estudo de casos múltiplos surge quando no mesmo caso existem várias unidades de análise, designando-se estas por subunidades. Este desenho está apropriado quando o interesse do investigador é estudar vários casos a fim de “investigar um fenómeno, população, ou condição geral”; os casos podem ser semelhantes ou não, sendo importante a variedade e a redundância em cada um (Yin, 2003). A sua escolha deve-se à convicção do investigador de que através dos estudos se chega a um melhor entendimento ou teorização sobre o assunto em estudo. O estudo de subunidades de análise também pode ser efectuado no estudo de caso único, proporcionando uma análise do caso mais abrangente e providenciando uma maior compreensão do mesmo.

Os dois tipos de estudo de caso podem ser vistos numa perspectiva holística ou composta, dependendo do fenómeno em estudo e das perguntas de investigação (Marino, 2000; Yin, 2003; Stake, 2003). No caso do estudo único, a perspectiva holística observa o fenómeno como uma totalidade, pelo que não há necessidade de se

identificarem subunidades de análise; este tipo de caso também se adequa quando a teoria que suporta o estudo tem também esta mesma compreensão sobre a realidade. A perspectiva composta examina múltiplas unidades ou subunidades que pertencem ao estudo de uma entidade singular (Mariano, 2000; Yin, 2003).

Um dos componentes do estudo de caso é a unidade de análise que define o que o estudo é, permitindo dizer se se trata de um estudo de caso simples ou complexo consoante se trate de um indivíduo – unidade primária de análise, um grupo ou uma organização; em qualquer dos casos ele é intencional, tem muitas vezes um self, sendo um sistema integrado e delimitado (Stake, 2005; Jacelon e O’Dell, 2005). Uma vez identificada a unidade de análise há que clarificar o seu contexto, elemento que tipifica o caso e que o caracteriza e determina. É difícil senão impossível isolar o caso da realidade em que ele ocorre, ou decompô-lo nas suas partes, e pretender ter uma compreensão alargada sobre o mesmo por três ordens de razão: a primeira refere-se à possibilidade dos resultados se aplicarem a outros contextos; a segunda razão respeita a assunção da multicausalidade e complexidade dos fenómenos ao invés de uma causalidade linear; a última dificuldade relaciona-se com a influência dos valores na construção dos contextos e no comportamento dos indivíduos (Mariano, 2000). No entanto, o contexto pode ser remetido para um papel secundário quando o foco de interesse não está no caso em si mas no fenómeno que se pretende estudar que é externo ao caso; conquanto a descrição do contexto e das actividades não sejam descuradas elas surgem como um suporte à compreensão do fenómeno (Stake, 2005). Esta distinção é, para Stake (2005), o traço característico e classificatório do estudo de caso único instrumental.

Conjugando a classificação dos tipos de estudo de caso e a pergunta de investigação, este estudo é um estudo de caso único e instrumental. Nesta trajectória de construção do desenho do estudo defini: como caso, os enfermeiros de um serviço de uma organização hospitalar; como unidade de análise, os enfermeiros na prestação dos cuidados de higiene; como contexto, um serviço de medicina de um hospital geral. A questão de investigação aponta como actividade a observar o momento dos cuidados de higiene pelo que o local a escolher teria de ser um serviço onde esta actividade, ou esta

intervenção de enfermagem, ocorresse com regularidade. De entre as organizações de saúde e os serviços nelas existentes, o serviço de medicina interna de um hospital geral, reunia esta condição primordial. Tradicionalmente é um serviço em que os doentes apresentam patologias que requerem um período de internamento superior ao verificado noutros serviços; na sua grande maioria são doentes com mais de 65 anos, encontrando- se temporária ou definitivamente incapacitados para realizarem alguns dos seus cuidados, nomeadamente os cuidados de higiene15. A escolha da organização de saúde recaiu sobre o hospital com o qual tenho uma relação de proximidade, por força das funções docentes nele exercidas ao nível da formação inicial e do protocolo institucional assumido entre as duas organizações. Conhecendo a organização e alguns dos elementos da direcção de enfermagem considerei que a entrada na organização estaria de certo modo mais facilitada. Em anexo 1 encontra-se o cronograma das actividades conducentes à realização do estudo.