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CAPÍTULO II OS ESTÚDIOS DE ÓPERA

2.2 O ESTÚDIO DE ÓPERA DRAMÁTICA

Stanislavski, ao perceber que não conseguiria terminar em tempo hábil seus livros e, assim, poder passar à frente os seus conhecimentos e estudos que o levaram a criar um “sistema”, decidiu que a maneira mais eficiente de passar adiante seu legado era treinando uma geração mais jovem e criando, como outras vezes, um estúdio. Segundo Benedetti (1999, p. 359), “a única esperança para o futuro era um novo começo, com uma nova geração e uma escola”25. Assim, em 1935, foi criado o

Estúdio de Ópera Dramática. Este estúdio tinha como alvo atores e cantores.

O EOD (Estúdio de Ópera Dramática), tal como os estúdios teatrais de Stanislavski, foi constituído fora do espaço do Teatro de Arte. A sede deste Estúdio foi localizada na Alameda Leontievski, “[...] longe das lutas de poder e das ambições conflitantes dos jovens diretores, usando aqueles colegas os quais ele poderia confiar” (Benedetti, 1999, p. 359- 360)26. Stanislavski e sua irmã Zinaïda reuniram um grupo de

estudantes dela, que tinham conhecimento do “sistema” e que poderiam ensinar no EOD, sob a orientação de Stanislavski. A primeira reunião oficial ocorreu em 15 de junho, e pouco depois, em julho, Stanislavski partiu para as suas usuais “férias” em um centro de saúde. Durante a sua ausência, seus assistentes fizeram audições com 3500 alunos que estavam interessados em ingressar no EOD. As audições não eram, contudo, do estilo “comum”, ou seja, realizadas em poucos minutos, com o candidato sendo examinado através de poucas peças. Aproximadamente 500 candidatos foram logo eliminados por não terem, segundo Zinaïda, as qualidades necessárias. Os outros 3000 restantes foram remanejados em grupos pequenos para fazerem alguns trabalhos mais aprofundados com os assistentes. Para a parte de “drama”, apenas vinte foram selecionados.

25“The only hope for the future was a fresh start, with a new generation and a school”.

26 “[…] away from the power struggles and the conflicting ambitions of younger directors, using those colleagues whom he could trust”.

Benedetti (1999, p. 363) transcreve em seu livro Stanislavski: his life and art, um trecho de uma carta que Stanislavski escreveu a Elizabeth Hapgood, a respeito do novo Estúdio e de suas ideias sobre ele, que demonstram o que ele pensava sobre essa formação:

Nós não estamos apenas criando uma escola para a qual pessoas podem vir, estudar um pouco e, em seguida, irem para qualquer teatro antigo. A nossa escola vai produzir não apenas indivíduos, mas uma empresa inteira (operística e dramática). Nossa escola cria teatros e produz empresas eficientes com um pequeno repertório, os seus próprios diretores, figurino, maquiadores, gestores e funcionários. Essas empresas [de ópera e dramáticas] trabalham juntas. Pessoas da ópera podem se apresentar em peças de teatro e pessoas de teatro podem participar nos coros, na mímica, na ópera-balé27.

Stanislavski desejava realmente que as suas ideias tivessem prosseguimento, fossem se modificando e criando novos teatros e novas pesquisas. Mas, ele com certeza não gostaria que suas ideias ficassem estagnadas e mantidas a qualquer custo. Ele passou sua vida toda se aperfeiçoando e buscando novos caminhos, formas novas de atuar, de se desenvolver como artista. Isso, infelizmente, nem sempre foi bem compreendido por aqueles que estavam a sua volta. O exemplo disso é que, nessa época da criação do EOD, ele estava tentando aplicar o Método das Ações Físicas, e recebia, com

27 “We are not just setting up a school to which people can come, do a bit of study and then go off to any old theatre. Our school will produce not just individuals but a whole company (operatic and dramatic). Our school creates theatres and produces efficient companies with a small repertoire, their own directors, wardrobe, make-up artists, managers and staff. These companies [operatic and dramatic] work together. Opera people can perform in plays and drama people in the chorus, in mime, in ballet-opera”.

certa frequência, resistência por parte daqueles que já haviam assimilado seu “sistema” e seus outros métodos de criação e desenvolvimento de uma personagem. Preparar novos cantores e atores era o que parecia ser o único caminho. E, quanto mais ele se decepcionava com o teatro, mais ele via que talvez o caminho ainda estivesse na ópera. Segundo Benedetti (1999, p. 373), tanto Stanislavski quanto Meyerhold estavam convencidos de que o drama estava, ao menos naquele momento, estéril, e que a única forma de continuar era através da ópera.

No outono de 1935 Stanislavski reuniu os assistentes do novo Estúdio para relembrar novamente o “sistema” e demonstrar seus métodos de ensaio. A primeira aula oficial com os novos estudantes se deu em 15 de novembro de 1935. Os trabalhos de Stanislavski, contudo, não pararam: junto com o EOD, estava a escrita de O trabalho do ator sobre si mesmo, seus compromissos como diretor, tudo em meio a uma saúde frágil. Ainda assim, ele organizou metas para o EOD, estabelecendo um programa de quatro anos: dois anos de trabalho do ator sobre si mesmo, e dois anos de trabalho com personagens.

Para Benedetti (1998, p. xii), o trabalho do Estúdio de Ópera Dramática é o verdadeiro testamento de Stanislavski. Segundo o autor, “o legado foi passado de professor para professor nas principais escolas de teatro e uma tradição de treinamento foi criada muito antes que a edição completa de suas obras fosse publicada”28. Benedetti levanta a questão das

publicações justamente porque elas foram muitas vezes erroneamente interpretadas, além dos cortes que foram feitos da escrita original e da má tradução que se encontram presentes em grande parte das edições estrangeiras. Além disso, nessa última fase do mestre, e em seu último estúdio, estavam as mais recentes ideias e descobertas por ele realizadas. Ou seja, era o seu “sistema” visto a partir de novas perspectivas, e partindo da exterioridade para se chegar à interioridade.

28 “This legacy was handed down from teacher to teacher in major theatre schools, and a tradition of training was created long before a full edition of his works was published”.

Segue abaixo uma linha do tempo com as datas e ordem dos estúdios de ópera em cada fase da vida de Stanislavski, para melhor compreensão cronológica:

Figura 04 – Linha do tempo dos estúdios de ópera de Stanislavski Após a sua morte, em 1941 foi criado o Teatro Musical de Moscou Stanislavski e Nemirovitch-Dantchenko29, a partir da união definitiva do Teatro de Ópera de Stanislavski com o Teatro Musical Vladimir Nemirovitch-Dantchenko e nele prevalecendo as ideias principais de Stanislavski e Dantchenko. Até hoje, são representadas produções operístico-musicais, além de balés. O local é o mesmo teatro onde o Estúdio tomou parte em 1926, o Teatro Dmistrovski.

29 www.stanmus.com

CAPÍTULO III PROPOSIÇÕES E PROCEDIMENTOS PARA A