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O Estado, O Discurso Médico Higienista e a Infância: A Infância Futuro da Pátria

A discussão da infância e sua proteção social tiveram continuidade, no país, com as iniciativas de médicos-higienistas como Moncorvo Filho. Em março de 1919, o médico inaugura um Departamento da Criança no Brasil, e o projeto do Departamento é apresentado como uma instituição de proteção direta e indireta à criança, servindo como órgão consultivo dos Poderes Públicos Federais, Estaduais e Municipais.

Apesar de ser uma inciativa de ordem privada, o Departamento foi criado a partir do modelo da agência federal americana “Children’s Bureau” – uma instituição federal, o Departamento da Criança no Brasil é assim apresentado:

De todos os tempos resentia-se o Brasil de uma Obra social que, preenchendo lacunas existentes se preocupasse seriamente do problema da infância, sob todos os pontos de vista, com o registro de todas as instituições de protecção directa e indirecta a criança e servindo, outrossim, como órgão consultivo não só dos Poderes Públicos Federaes, Estadoaes e Muncipaes, mas tambem do publico em geral, dest’arte sendo um símile do “Children’s Bureau”, repartição de natureza official, em 1912 nos Estados Unidos criada e que tão relevantes serviços sempre tem prestado. Foi para attingir esse escopo que o Dr. Moncorvo Filho resolvêra, ás suas próprias expensas fundar em 7 de Março de 1919, o

DEPARTAMENTO DA CRIANÇA NO BRASIL, com um vasto programma a um tempo social e philantropico e destinado a completar a sua antiga campanha pela infância graças a elementos de grande valor pratico, realisando a parte estática do movimentado emprehendimento levado a effeito com a melhor vontade e segurança. (INSTITUTO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA DO RIO DE JANEIRO. Departamento da Criança no Brasil. Boletim de 1933).

No relatório de apresentação do Departamento, o projeto ressaltava a atuação do IPAI que já havia amparado 650 mil indivíduos na grande cruzada pela infância. Havia também a declaração de que esse se assemelhava ao departamento criado com o Children’s Bureau46, órgão oficial dos Estados Unidos responsável pelo bem-estar das crianças pequenas e de suas mães.

O Departamento criado pelo Dr. Moncorvo Filho teve sua instalação definitiva em 13 de setembro de 1923, como sociedade civil de ordem cientifica e moral, de ordem jurídica e de direito privado. Os Estatutos da instituição – datados de outubro de 1923 – apresentam suas funções; pode-seobservar a semelhança de seus princípios com os do instituto americano:

1º Proceder ao histórico da assistência à infância no Brasil, seu aspecto nos differentes períodos da civilização do nosso paiz;

2º o estudo geral da situação do Brasil em matéria de protecção directa e indirecta á infância;

3º ter em ordem o registro minucioso de todas as instituições privadas officiaes, da capital da República e de todos os Estados, com a inscripção de dados históricos estatísticos, e serviços prestados á ellas referentes etc...etc.;

4º estabelecer um serviço perfeito de informações e dados completos a esse respeito; 5º obter informes precisos sobre toda a legislação nacional que directa ou indiretamente se refira à infância, devendo lembrar os poderes públicos as medidas legislativas tendentes a regular a situação da infância sob todos os pontos de vista de accôrdo com os resultados feitos pelo “Departamento”; 6º ter sob sua responsabilidade a organização de um archivo com a separação de todos os assumptos de assistencia puericultura, hygiene, etc, em relação ao nosso paiz, de modo a ser facilmente compulsado pelos interessados;

7º constituir, ao cabo de algum tempo, uma biblioteca especial de obras sobre protecção a infância á disposição do publico;

8º. ter sob seu especial cuidado o estudo social e demográfico da nupcialidade, da natalidade, da morbidade e da mortalidade infantis e da mortinatalidade em ordem de poder lembrar aos Poderes Governativos sempre que for conveniente,

46 A origem da agência nacional infantil nos Estados Unidos está ligada às atividades promocionais de líderes comunitários que viram essa agência como meio de atacar o trabalho infantil. Julia Lathrop foi nomeada a primeira presidente. O Bureau teve no início de suas atividades uma tendência conservadora por pressões políticas, o que afetou o desenvolvimento inicial da agência: a) cimentaram seu compromisso com a reforma através de localismo, gradualismo e cooperação entre elites já estabelecidas; b) encorajou um afastamento de questões sociais politicamente perigosas, especialmente nas oposições ao Bureau Infantil feito pelos grupos comerciais que temiam o ataque ao trabalho infantil. Julia Lathrop, aconselhada por Homer Folks (especialista em bem-estar infantil dos EUA), direcionou o foco dos esforços do Bureau para a mortalidade infantil e a educação das mães (SUTTON, 1996).

o estabelecimento das medidas urgentes e inadiáveis contra os factores negativos do nosso progresso e da nossa civilisação máxime em relação despopulação e às condições de robustez de nossa raça;

9º pôr em execução todos os recursos á mais fácil educação hygienica do povo em prol da boa puericultura, por meio de uma cerrada campanha contra o analfabetismo, o alcoolismo, a avaria, a tuberculose, a ignorancia, e o preconceito, para a conveniente criação e alimentação das crianças, sobretudo até a idade de um anno - o mais delicado período da vida – propragando o aleitamento materno etc, etc..,

10º estudar muito seriamente os meios efficazes de protecção das collecttvidades infantis principalmente as escolas, as fabricas e usinas,

11º Idem em relação á mulher grávida pobre, particularmente nos centros industriais;

12º estudar o problema da infância moralmente abandonada a deliquente e que é victima de paes ébrios ou immoraes, lembrando aos poderes competentes medidas que beneficiem sua situação;

13º fomentar a criação de todas as iniciativas que directa ou indirectamente, amparem a infância, máxime das que se refiram ao combate da mortalidade infantil e da mortinatalidade á boa criação dos lactentes á educação, á correção dos maus costumes e ao ensino principalmente profissional nesse instituto promovendo a realisação de CONGRESSOS e PALESTRAS PÚBLICAS, a divulgação de conselhos impressos e outras deliberações que hajam por objetivo do desenvolvimento physico, moral e intellectual da criança, mantendo a organisação do “MUSEU DA INFANCIA” de carater permanente, onde esteja representado todo o movimento naquelle sentido já operado no Brasil, o que será sobremodo instrutivo à nossa população, servindo outrossim á orientação dos poderes dirigentes do nosso paiz;

14º O DEPARTAMENTO publicará, periodicamente um Boletim sommatico de todo o movimento de caridade e assistência á infância, estatísticas e dados históricos do que se for operando em nosso paiz, sendo logo que possível, feita uma publicação annual completa, de todo o movimento com as conclusões praticas oriundas do estudo e da observação do DEPARTAMENTO acompanhada de mappas graphicos, estampas, etc... a fim de que possam os Poderes Públicos nella colher dados para agir no melhor sentido;

15º informar aos Poderes Públicos, quando lhe for solicitado sobre qualquer assumpto que se refira, directa ou indiretamente ao amparo ou salvaguarda da saúde ou da vida da criança;

16º corresponder-se directa e assiduamente com os Governos e altas autoridades sanitárias desta Capital e dos Estados afim de que possa o DEPARTAMENTO estreitar relações e suggerir medidas, todas visando a melhor proteção e a divulgação de conselhos da maior utilidade prática;

17º fomentar a Fundação de ASSOCIAÇÕES ou de LIGAS DE BENEFICENCIA em favor das mães e das crianças pobres, auxiliando sempre que for possível, por todos os modos obras de amparo à infância;

18º entrar em relações directa com todas as agremiações ou instituições sociaes ou scientificas de protecção a primeira e a segunda infância ou ás mães pobres, a fim de serem remettidas informações sobre o seu funccionamento e méthodos modernos introduzidos.

19º lembrar aos Poderes Públicos quaes as fontes de renda aproveitáveis e a sua melhor applicação ao benefício da infância desprotegida;

20º fornecer aos Poderes Públicos, quando lhe seja solicitado, todos os elementos com que possam cuidar o mais possível da organização geral da “Assistência Publica”, particularmente na parte que se refere á infância e adolescência;

21º levar ao conhecimento das autoridades competentes o caos de atrocidades, castigos, e attentados contra a infância e a puerícia, afim de que sejam tomadas as mais promptas e eficazes providencias;

22º divulgar conhecimentos, informações, conselhos e indicações que despertem a iniciativa, em todo o território brasileiro, da criação de obras de protecção e assistência á infância, rigorosamente scientifica como: Dispensários, Creches, Gottas de Leite, Consultas de Lactentes. Restaurantes para as mães nutrizes pobres, Mutualidades Maternaes, Jardins-de-Infância, ou Escolas Maternaes, Externatos ao ar livre, Colônias de Férias, etc, etc, e bem assim do ensino de Puericultura e da Hygiene Infantil em geral;

23º concorrer tanto quanto possível, para a aplicação pratica das leis protectoras da infância para que sejam evitadas a sua infracção, má comprehensão e/ou execução; 24º procurar conseguir em todos os Estados do Brasil a uniformisação das estatísticas, sobretudo as da mortalidade infantil, afim de que haja sempre base para o estudo do importante assumpto, de accôrdo com as hodiernas conquistas da sciência (INSTITUTO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA DO RIO DE JANEIRO. Departamento da Criança no Brasil. Rápida Noticia sobre o Departamento da Criança no Brasil. 1934, p. 2-6). O Departamento idealizado pelo médico Moncorvo Filho também foi apresentado como uma agência de divulgação dos cuidados com os recém-nascidos e de aconselhamento às mães, atividade que será desenvolvida em meados do século XX.

Para tanto, baseou-se no modelo do Children’s Bureau. O Children’s Bureau, no início de sua criação, distribuiu gratuitamente boletins para as mães para o cuidado de seus filhos, como Cuidado Pré-Natal – 1913 e Cuidado com o Recém-Nascido – 1914, que rapidamente se tornaram best-sellers do governo nos Estados Unidos, onde entre 1914 e 1921 quase 1.500.000 cópias de Cuidado com o Recém-Nascido foram distribuídas.

Em 1929, o Children’s Bureau estimou que metade dos bebês americanos haviam sido beneficiados pelas informações do governo sobre crescimento infantil (LADD-TAYLOR, 1986).

O Departamento americano realizou estudos sobre a mortalidade infantil e a natalidade, montou campanhas para um sistema uniforme entre os estados para registrar os nascimentos, organizou conferências para educar as mães e mulheres grávidas sobre os cuidados pré-natais e como cuidar dos bebês.

O Children’s Bureau se constituiu numa agência nacional infantil dos EUA, o combate à mortalidade infantil foi a principal missão assumida por Julia Lathrop – presidente do instituto – que utilizou uma metodologia de estudo social para convencer os políticos da importância do

trabalho desenvolvido. Para tanto, ela se valia do argumento de que essa era a agência de cuidado infantil do governo que utilizava uma perspectiva sociológica, cujo método era estatístico e não clínico.

O trabalho da agência se desenvolveu em duas campanhas: uma primeira a de promover um sistema de registro de nascimentos uniforme entre os estados como meio de gerar um universo utilizável de dados sobre mortalidade e uma segunda, representada por uma série de projetos de demonstração e conferências de saúde projetadas para educar as mães em comunidades locais47 (SUTTON, 1996).

O que parece diferenciar a agência americana do Departamento da Criança do Dr. Moncorvo Filho é ser esta uma obra filantrópica, e o Departamento Americano uma agência estatal. Outro aspecto diz respeito ao foco das campanhas impulsionadas pelos Departamentos. As pesquisas realizadas pela agência americana demonstravam que a mortalidade infantil tinha como causas questões sociais: simplesmente a pobreza, aquela advinda do desemprego e os acidentes industriais (o trabalho de menores nas fábricas). Aqui, no entanto, as campanhas e os

47 O Children´s Bureau também foi responsával pela Lei Sheppard-Tower. Segundo Ladd-Taylor (1986), o Bureau Infantil foi o responsável pela administração do Ato de Proteção da Maternidade e da Infância Sheppard- Tower de 1922- 1929. A legislação, que executava as transferências federais casadas para os estados para a enfermagem pública de saúde, clínicas, e instrução sobre higiene maternal e infantil. Comovida com as vidas árduas e com a coragem das mulheres rurais, Lathrop elaborou um projeto de lei para prover as mulheres em áreas remotas com acesso a tratamento de saúde. O “projeto de lei para as mães” se tornou prioridade legislativa das mulheres organizadas, apresentado em 1918 na Câmara de Deputados por Jeannette Rankin, a primeira congressista. As mulheres inundaram congressistas com petições e cartas sobre os benefícios do “maravilhoso” projeto. Os proponentes da legislação defendiam que as altas taxas de mortalidade maternal e infantil demonstravam o baixo valor que a sociedade dava à vida das mulheres e crianças. Os congressistas afirmaram que o governo não tinha dinheiro para financiar a saúde de mulheres e crianças. Florence Kelley, em audiências no congresso, testemunhava: “mas quando dizem que esse país é tão pobre e que esse congresso tão perturbado por assuntos de maior importância do que a morte de um quarto de milhão de crianças, por ano...” nos perguntamos Realmente não vamos levar isso a sério ? Por quê o Congresso deseja que mulheres e crianças morram?”O projeto de lei foi apoiado pela Associação Médica das Mulheres, pela Associação da Saúde Infantil e por alguns pediatras, mas a classe médica se opôs à medida. Os grupos conservadores e a Associação nacional de Oposição ao sufrágio Feminino também se opuseram à ajuda maternal e infantil. Mesmo com a oposição dos médicos e conservadores, a lei foi aprovada com ampla margem em 23 de novembro de 1921. As sufragistas consideraram a Sheppard-Tower o primeiro projeto para mulheres a ser aprovado depois de terem conseguido se tornar eleitoras, uma garantia de que as mulheres na política melhorar o bem-estar da nação. A provisão orçamentária do projeto de lei foi modesta de US$ 1.480.000,00 para 1922 e US$ 1.240.000,00 para cada um dos próximos cinco anos como transferências casadas para os estados e utilizadas para a instrução da higiene maternal e infantil. Apesar da modesta provisão, o Ato Sheppard-Tower teve impacto na saúde de mulheres e crianças. Quando os fundos públicos da lei Sheppard-Tower estavam para ser votados em 1927, apesar da popularidade da legislação entre as mães da zona rural, a classe médica e os conservadores votaram contra a prorrogação do orçamento. Após longa batalha as idealizadoras do programa conseguiram aprovação por mais dois anos, e em 1929 o Ato foi cancelado. Os dirigentes do Bureau Infantil montaram um plano de oposição com apoio do Serviço Público de Saúde para renovar o cuidado infantil e maternal. Em 1935, o Ato de Seguridade Social recuperou um pouco do atendimento maternal e infantil (LADD-TAYLOR, 1986).

projetos do Departamento da Criança centravam-se na higienização como solução para diminuir a mortalidade infantil, muitas vezes sem buscar as soluções dos problemas sociais em suas raízes.

Contudo, ao analisarmos os fins do Departamento da Criança criado pelo médico, verifica-se que suas proposições estão partindo de medidas de proteção social à infância e à maternidade, ainda não assumidas pelo Estado na primeira República. Muitas de suas atribuições sobrepõem ações que deveriam derivar do Estado. Apesar de o Dr. Moncorvo Filho ter como modelo o Departamento americano, o Departamento por ele criado era uma iniciativa filantrópica. Para a manutenção financeira do Departamento, o médico tem que recorrer, freqüentemente, a subvenções do próprio Estado, ou a de doações de particulares. No mesmo ano de criação do Departamento, em 1919, o IPAI é considerado uma instituição de utilidade pública por Decreto Federal:

DECRETO N. 3.877 - DE 12 DE NOVEMBRO DE 1919

Considera de utilidade publica a Liga Brasileira contra o Analphabetismo, a Liga Pro-Saneamento do Brasil e o Instituto de Protecção e Assistencia á Infancia, todos com séde nesta Capital, bem como de suas filiaes já existentes.

O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil:

Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu sancciono a resolução seguinte:

Art. 1º - São considerados de utilidade publica a Liga Brasileira contra o Analphabetismo, a Liga Pro-Saneamento do Brasil e o Instituto de Protecção e Assistencia á Infancia, todos com séde nesta Capital, bem como as suas filiaes já existentes.

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrario.

O reconhecimento de utilidade pública é simbólico, mas garantia ao IPAI receber heranças e donativos para sua manutenção financeira e maior possibilidade de recursos públicos de âmbito federal. Mesmo com o reconhecimento de utilidade pública federal, o IPAI necessitava de auxílio e doações financeiras para sua manutenção. No ano de 1920, o Deputado Dr. Veiga Miranda propõe à Câmara de Deputados a criação de uma Loteria para dar auxílio ao instituto. O parlamentar assim se pronunciava (VEIGA MIRANDA, 1920):

Se a instituição de loterias é sempre um mal, infelizmente impossível de ser debellado ao menos da cultura da sociedade brasileira, procuremos tornal-o até certo ponto sympathico, objectivando-o como pretexto para conseguir auxiliar para obras e insituições de beneficência. É justo pelo que se deprehende do seu parecer a opinião, da digna Comissão de Finanças. E por parecer-me que, quando maiores forma os resultados benéficos desse mal, melhor o teremos rehabilitadom e com elle o poder publico da condescendência, que lhe tem invarialvelmente despensado, é que apresento a emenda, acima, propondo a extração de uma loteria de fins, invarialvelmente dispensado, de fins, igualmente, althruísticos, por ocasião de amomorarmos o centenário da Independência. Ninguém desconhece a tarefa ingente e gloriosa a que metteu hombros o benemérito

‘IPAI” – fundado pelo dr. Moncorvo Filho em 1899 e installado em 1901. O seu programma, executado desde o começo com inequebrantavel dedicação, affecta sem duvida os mais sagrados e visceraes interesses da nacionalidade. Não se trata se uma simples insituição de caridade, nem mesmo de uma obra de philantropia como ha tantas pelo paiz inteiro, elle já se consituio, pelo enorme vulto, dos seus trabalhos pela sua esclarecida orientação scientifica e social uma verdadeira cruzada (VEIGA MIRANDA, 1920, p. 2).

[...] Neste momento em que creamos o Departamento Nacional de Saúde Pública, iniciando um longo programma de hygiene, em todo o paiz, não é licito recusar amparo a um pedido de alcance que se consusbstancia na presente emenda (VEIGA MIRANDA, 1920, p. 3).

O deputado ressalta as ações do IPAI, nos anos de atuação, e entre elas, destaca o acolhimento aos filhos de operárias e empregas domésticas da creche Sra. Alfredo Pinto:

[...] Pode-se dizer que a tarefa estava de todo por fazer se não fosse a abnegada dedicação do IPAI – Rio de Janeiro, cujas portas se abriram em 1901, e vão desempenhando corajosmante as suas funções a despeito de limitado auxílio que lhe tem prestado o Governo Federal. Divulgando preciosos conhecimentos para a salvação da infância, distribuindo uma infinidade de socorros, prodigalisando, o melhor aleitamento, proporcionando a mais scientifica assistencia medica, cirúrgica e dentaria, procedendo ao exame das nutrizes mercenárias, facultando ás mães grávidas pobres o enxoval para os nasciturnos, protegendo-os durante a gestação e dando-lhes assistência ao parto em domicilio, facilitando ainda a salutar da Créche para os filhinhos de operários e famulas, em que traços rápidos, como pelos seus brilhantes serviços cotidianos, o Instituto se impõe cada vez mais gratidão nacional (VEIGA MIRANDA, 1920, p. 8).

O IPAI já era considerado uma instituição de utilidade pública por vários segmentos sociais; assim como a proposição do deputado Veiga Miranda, outros parlamentares apresentaram proposições financeiras reconhecendo o valor social, do então criado Departamento da Criança do mesmo instituto. O Departamento da Criança fora reconhecido somente de Utilidade Pública Municipal pela Lei no. 2.349 de 18 de novembro de 1920. A instituição continuava a depender de auxílios que não eram regulares e, em 1921, o deputado Maurício Lacerda conseguiu aprovar uma emenda que concedia verba para o Departamento do Ministério da Agricultura. O deputado federal Dr. Mello Junior obteve a aprovação, em 1923, de uma parcela de impostos de bebidas alcoólicas como auxílio (Departamento da Criança. Rápida Notícia sobre o Instituto de Protecção e Assistência á Infancia, 1937).

O Departamento da Criança, criado pelo Dr. Moncorvo Filho no IPAI, apresentava proposições de ações que já poderiam ser assumidas pelo próprio Estado, em âmbitos federal, estadual e/ou municipal, no período, diante da grave situação social de exclusão em que se encontravam crianças pobres, abandonadas, no país. Na atuação do Departamento havia também propostas para a melhoria da situação de precariedade do trabalho de mulheres e crianças nas

fábricas e o eminente médico apontava algumas alternativas. Entre essas ações que já poderiam estar sob a vigência do Estado, destacam-se: fazer estudos sobre a mortalidade infantil e mortinatalidade; cuidar da Assistência Pública em relação à infância e à adolescência; fazer arquivo dos assuntos de puericultura, higiene e assistência do país; registrar as instituições privadas e oficiais da capital, e de todos os estados, com dados estatísticos e históricos que a eles