• Nenhum resultado encontrado

Infância e Instituições: A Roda dos Expostos

Conforme estudos de Marcílio (2006), o modelo de atendimento do período colonial, no Brasil, até meados do século XIX, pode ser chamado de caritativo: um assistencialismo com conteúdo paternalista, sem pretensão de mudanças sociais, de inspiração religiosa, e numa forma de ação que privilegia a caridade e a beneficência. É uma atuação caracterizada pela benevolência dos mais ricos com os mais pobres, procurando minimizar o sofrimento dos enjeitados. Os ricos, em contrapartida, receberiam como recompensa o salvamento de suas almas, e o reconhecimento da sociedade como beneméritos. Nessa fase caritativa, a assistência e as políticas sociais em favor das crianças abandonadas apresentavam três formas básicas: uma informal e duas formais. As Câmaras Municipais e as Roda de Expostos representavam as formais a adoção de crianças por parte de cidadãos civis, a informal – os filhos de criação, uma prática comum no Brasil desde o século XVI.

O médico Dr. Rocha (1947) registra que a criação da Roda de Expostos, no Brasil, se deu primeiramente pela preocupação com a mortalidade e o abandono infantil, sendo a criação das Rodas de Expostos um dos primeiros reflexos nas ações políticas, no país, para a solução de sobrevivência das crianças abandonadas. No período Colonial e Imperial, muitas vezes, as crianças eram deixadas nas igrejas, nos conventos, nas portas de residências, nas portas das Câmaras Municipais. O sistema de Rodas de Expostos será criado diante do número elevado de crianças abandonadas, que morriam antes de serem acolhidas. A primeira providência em relação à criança abandonada, no país, teria sido tomada em 1693, com uma recomendação do vice-rei ao governador da Capitania do Rio de Janeiro Antonio Paes de Sande, que ordenava que os enjeitados fossem alimentados pelos bens do conselho.

Na obra do Dr. Moncorvo Filho (1926) há um relato, no capítulo que se intitula “A primeira demonstração de interesse do Poder Público pela Proteção as Crianças Pequenas no

Brasil”, da carta do Vice-rei ao Governador da Capitania do Rio de Janeiro, em 1693, solicitando que a Câmara atendesse as crianças abandonadas:

O anno de 1693 marca a primeira demonstração official pela protecção directa à infância. Refere-se ella ao amparo das creancinhas desherdadas da sorte no Rio de Janeiro. [...] “Livro da Secretaria, fls. 31: Antonio Paes de sande. Amigo. Eu El Rey vos envio muito saudar. Havendo visto que me escreveste acerca da pouca piedade que achastes nessa Capitania com as crinças engeitadas, achandos-e muitas mortas ao desamparo, sem que a Misericórdia, nem os officiaes da câmara as queiram recolher, dizendo não terem rendas para as mandar criar, apontando-se como remedio o aplicar para a despeza da criação destes engeitados a própria pertencente ás obras pias, que desa Capitania vem para este Reino de poucos, annos a esta parte de Ordem Minha. Fui servido não admittir este arbítrio por ser esta consignação feita para se alimentarem viúvas pobres e pessoas desmapardas; e por ser muito próprio da obrigação da Câmara o cuidado destas crianças, por attenderem ao bem commum da sua terra, se não lembrarem até agora de Me avisar desta maneira para se accudir o remédio della, Me pareceu Mandar-lhes estranhar este descuido e ordenar-lhes que dos bens do conselho, tirem o que for necessário para essa despeza, havendo arrecadação nesta consignação que de nenhuma sorte possa ser divertido pra outro effeito, porque assim. Hei por bem. De que Me pareceu avisar-vos para que fiqueis entendendo a resolução que neste particular. Fui servido tomar. Escripta em Lisboa a 12 de Dezmebro de 1693. Rey – Para o Governador da Capitania do Rio de Janeiro” (MONCORVO FILHO, 1926, p.32-3).

Segundo o Dr. Moncorvo Filho, de nada adiantou o pronuncimento do Monarca através da carta, pois a situação das crianças enjeitadas continuou a mesma até meados dos anos 1700. A primeira da Roda dos Expostos20 é criada somente em 1726, em Salvador, através da iniciativa do arcebispo de Salvador e do vice-rei que, preocupados com a situação das crianças abandonadas, e a negligência da Câmara em pagar sua criação, solicitaram à Irmandade da Santa Casa a abertura de uma Roda de Expostos nos moldes de Lisboa. O nosso sistema de Roda de Expostos foi semelhante ao da Europa. As crianças, quando deixadas na Roda, eram alimentadas pelas amas- de-leite; essas eram governadas por um regente que morava com elas. Logo que a criança entrava, era examinada e tinha registrado o sexo a que pertencia, sua cor, seus sinais de fato, se havia a existência de bilhetes acompanhando-a. Após esse registro, o tesoureiro lhe punha um número, o nome e as mandava batizar na Igreja da Misericórdia. As crianças doentes não eram mandadas ser criadas fora. A Roda de Expostos do Rio de Janeiro foi fundada em 1738, por

20

A Roda dos Expostos consistia em um cilindro de madeira que girava em torno de um eixo, unindo a rua ao interior das Santas Casas de Misericórdia; funcionava dia e noite, sendo que qualquer pessoa, na esperança de que a criança recebesse auxílio, podia depositá-la no cilindro sem ser identificada. Por ocasião da criação da Roda dos Expostos do Rio de Janeiro pronuncia-se Escragnolle Doria: “pereciam nas ruas, nos adros da igreja, e nas praias, sem que a fé se movesse, a esperança se apiedasse e a caridade os tutelasse. Rejeitados pelo coração dos progenitores, tinham a miséria por cobertor e cova por berço” (ROCHA, 1947, p. 40-1).

Romão Mattos Duarte com o objetivo de abrigar enjeitados da Santa Casa de Misericórdia, após Duarte ter encontrado pelas ruas os corpos desnudos de criancinhas devoradas pelos cães (MARCÍLIO, 2006).

Em sua obra “História da Proteção à Infância de 1500-1922”, o Dr. Moncorvo Filho descreve a iniciativa de Romão de Mattos Duarte na criação da Roda de Expostos no Rio de Janeiro: “Em 1738 appareceu no Rio de Janeiro o vulto de um benemérito que merece aqui referencia especial: foi o de Romão de Mattos Duarte, o fundador da “Casa de Expostos”, vulgarmente denominada de Roda. Era elle um burguez, possuidor de cabedaes e resolvera empregal-os em prol dos engeitados” (MONCORVO FILHO, 1926, p. 33).

As Rodas de Expostos não foram criadas ao mesmo tempo no país; as Câmaras muitas vezes solicitavam auxílio para a manutenção dos Expostos, antes de essa atribuição ser direcionada às Santas Casas de Misericórdia. Esse é o caso de Porto Alegre/RS, que, em 1812, tem a Câmara responsável pela despesa dos Expostos e solicita auxílio:

Nesse anno de 1812 a Câmara, estando mal de finanças, resolveu solicitar algum donativo que preenchesse a conta de 400$000 para suprimento das despesas indispensáveis desta Câmara. Além de que fosse necessária para a criação de Expostos. Com o sentimento atualíssimo de comunidade de quem sonhava naqueles tempos, o povo, a começar pelos próprios vereadores de Juiz de Fora, assinaram a lista com quantias que variavam de 1$280 a 32$000, continuando o ‘peditório’ até dezembro. E por essa forma pode a Câmara de 1812 entregar à sua sucessora a administração municipal em dia, ou mais ou menos em dia e com dinheiro no cofre para as principais necessidades, entre as quais a criação de expostos (rejeitados pelos pais, e ocultamente, colocados, recém nascidos, nas portas de famílias da própria Câmara. A criação desses infelizes expostos era, sempre feita por famílias, ou voluntariamente, ou indicadas pela Câmara. As despesas corriam por conta da Câmara. [...] Estes expostos, beneficiados, pela caridade da Câmara Municipal, foram mais tarde, atendidos pela Santa Casa de Misericórdia, que criou para que as crianças não ficassem ao frio, à chuva, ao sereno a ‘Roda de Expostos’ (SPALDING, 1967 p.77-78).

Como nas outras grandes cidades do país, a Roda de Expostos de Porto Alegre foi criada entre o final do século XVIII e o início do XIX, em 1837. As Câmaras Municipais eram responsáveis pela preservação dos Expostos, mas nem sempre conseguiam honrar a manutenção das crianças, muitas vezes chegando a recorrer a donativos, como nesse caso.

A Roda de Expostos foi um dos primeiros sistemas de proteção à infância desvalida surgidos no século XVIII, chegando até à independência somente em Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Destinava-se à proteção de bebês de até 3 anos de idade, período chamado de criação, e a quase totalidade das crianças era cuidada em casas-de-amas mercenárias. Até os sete anos, essas

crianças voltavam para a Casa dos Expostos e eram colocadas em casas de família ou encontrava- se “um meio” de criá-las. Esse sistema esteve associado, até o século XIX, às Misericórdias, similar ao vigente nos estabelecimentos congêneres na Europa. Nas Santas Casas de Misericórdia de Lisboa, as Câmaras Municipais eram as únicas responsáveis, na legislação portuguesa, por dar assistência aos enjeitados. Com a Lei dos Municípios, de 1828, a obrigação das Câmaras Municipais é reformulada, sendo que em todo o lugar onde houvesse Santas Casas, as Câmaras poderiam repassar diretamente a estas o cuidado com os expostos. Diante da penúria da Roda de Expostos, no entanto, as Assembléias Provinciais acabavam por assumir suas despesas (MARCÍLIO, 2006).

As dificuldades de manutenção da Roda de Expostos podem ser confirmadas pelo relato de Moreira de Azevedo, da transcrição do relato das observaçãos feitas por D. Pedro I no asilo, apresentadas na Assembléia Constituinte de 1823 e reproduzidas pelo, Dr. Moncorvo Filho:

A primeira vez que fui a Roda dos Expostos, achei parece incrível, sete crianças com duas amas, nem berços, nem vestuário. Pedi o mappa e vi que em treze annos tinham entrado perto de doze mil e tinham vingado mil, não sabendo a misericórdia verdadeiramente onde elas se acham. (MONCORVO FILHO, 1926 p 38).

Para o cuidado das crianças na Roda de Expostos, entra em cena uma nova figura feminina: as irmãs de caridade. As Irmandades estrangeiras chegam ao Brasil entre 1857 e 1920 – cinqüenta e oito congregações européias se instalaram no Brasil nesse período – e assumem a responsabilidade pelo atendimento a crianças e idosos nos asilos e orfanatos. As irmãs de caridade têm como missão uma atuação social junto aos necessitados, atividade presente na Europa desde o início do século (NUNES, 2002).

Para o grande número de crianças abandonadas no período, Arrantes (1995) considera, os seguintes motivos: para que o senhor pudesse alugar as escravas como amas-de-leite, para proteger a honra das famílias escondendo o fruto de amores ilícitos, para que os senhores evitassem o ônus da criação dos filhos de escravos, pela esperança dos escravos de que seus filhos ficassem livres. Há ainda a justificativa de dar à Roda as crianças para que essas – diante da morte iminente – tivessem um enterro decente, devido às epidemias de febre amarela, cólera e varíola no Rio de Janeiro, que fizeram um grande número de vítimas.

Na obra de 1926, o médico Dr. Moncorvo Filho critica a existência da Roda de Expostos. A partir da questão moral, seria a Roda um recurso para salvaguardar a desonra:

Desde muito que a Roda, além de muitos outros incovenientes, é considerada como uma instituição condennada a essa afirmação é uma verdade tão flagrante que, dos paizes, civilisados, sómente Portugal o Brasil a possue nesta’ hora. Há mais de vinte annos Manoel Victorino affirmava. As rodas constituem uma verdadeira affronta ás leis sociaes e humanas e perpetua um matadouro de inncoentes sob o pretexto de velar a deshonra ou amparar o crime (MONCORVO FILHO, 1926, p.44-45).

Pelos dados acima expostos, justifica-se o fato de as Rodas de Expostos, durante os séculos XVIII e XIX, serem consideradas como prejudiciais à preservação da infância pelas condições de atendimento às crianças. A Roda de Expostos passa a ser alvo de crítica dos médicos-higienistas, que fazem campanhas para que sejam extintas no país. Valem-se, para isso, de modelos de países europeus onde ela já havia sido extinta. A mortalidade infantil nas instituições será o foco das críticas a partir da criação por amas mercenárias. Como alternativa à Roda, os médicos sugerem a adoção de um escritório de admissão aberta. Dr. Olavo , em sua tese Da Protecção à Primeira Infância, de 1901, faz críticas à Roda de Expostos:

[...] Todas as vezes que apparece um destes crimes de aborto e infanticidio – que são a vergonha e a chaga de uma sociedade civilisada – os moralistas e philantropos não cessam de invocar a antiga instituição como um remédio infallivel. [...] Das causas que concorrem para o abandono, o terror do escândalo não é a única, e, mesmo nos casos em que intervem a acção exercida não aparece exclusiva. A grande generatriz do sacrifício materno, aquella que empolga as vontades e abate as consciências, a miséria, não reclama o segredo, a pobreza tem suas gradações como o crime e suas variantes múltiplas não comportam ao mesmo tratamento.

[...]

A grande falta comettida pelas administrações das rodas é a de não dispensar socorros preventivos, cuja principal virtude é poupar às parturientes pobres ou abandonadas, o horrível sacrifício de deixar o próprio filho. Em geral, os defensores da roda apenas consideram um dos aspectos da protecção a infância, collocam-se exclusivamente no ponto de vista dos segredos, a salvaguardar; ainda argumentam a dificuldade, não se inquietando com as creanças nascidas no mysterio senão a partir do delivramento da mulher, como si a verdadeira roda, eficaz e hospitaleira, não devesse abrir desde a prenhez (BAPTISTA, 1901, p. 39-40).

Baptista, mesmo pertencente ao grupo de médicos-higienistas, apresenta um discurso que destoa do costumeiramente proferido, pelo grupo, já que o médico ao analisar as condições da Roda de Expostos, contempla, pioneiramente, a situação da mulher em ter de abandonar seu filho. Nesse cenário, não deixa de fora as dificuldades materiais de existência de grande parte da população no início do século XX. A idéia de abandonar o filho na Roda significando melhores possibilidades de vida para a criança, na verdade, mostra-se falsa. Para o médico, a substituição

da Roda pelo Escritório de Admissão continuaria a salvaguardar o segredo da proveniência da criança – além de dar a ela um atendimento mais qualificado que o atendimento superficial do modelo da Roda de Expostos e, atenderia a mãe desde a gestação.

Também no meio jurídico a ineficiência da Roda de Expostos é motivo de controvérsias. No início do século XX, o jurista Franco Vaz (1905) contempla a discussão da mortalidade infantil no país, e de como se tratou a questão em países como a França:

Conforme o Anuário Estatístico Demográfico Sanitário de 1895, organizado pelo Sr. Dr. Bulhões Carvalho do Instituto Sanitário Federal de 18.226 óbitos verificados nesta capital, durante aquelle anno, incluindo 1.147 nascidos mortos, 5.407 foram creanças até a edade de cinco annos. [...] Na França, o systema de admissão chamado roda começou a provocar dentro em pouco vivas discussões, nas quaes, d´um lado, se collocavam os que lhe encontravam a vantagem de offerecer um meio mais amplo para garantir a vida e a educação das crenças desgraçadas e, do outro lado, os que viam nas suas facilidades um incentivo para as mães e os paes indignos privarem-se voluntariamente do exercício de suas funcções mais elementares e mais ennobrecedoras, transferindo, assim de, si para o Estado as attribuições que só a ellas devem caber e concorrendo para a dissolução da família e da sociedade. [...]. Os da última facção começaram a sua marcha triumphal, pois a roda foi progressivamente desapparecendo. Em 1827, administração dos recolhimentos de Paris iniciou um serviço de vigilância da roda, fazendo conhecer a identidade da creança exposta, a edade de sua mãe, o que era já um passo dado em favor do desapparecimento daquele meio de admissão (VAZ, 1905, p. 24).

Esmeraldino Bandeira, no prefácio da obra do Dr. Moncorvo Filho (1926), registra o depoimento de Manuel Vitorino de crítica à Roda de Expostos: “As Rodas constituem uma verdadeira affronta ás leis sociaes e humanas perpetuam um matadouro de innocentes sob o pretexto de velar a deshonra ou de amparar o crime” (MONCORVO FILHO, 1926, prefácio).

A discussão da extinção da Roda de Expostos terá repercussão durante todo o final do século XIX e início do século XX, período em que a instituição sofre modificações a partir de críticas sofridas ao modelo de atendimento que instituía. Nessas críticas, o alvo principal é direcionado à criação de amas-de-leite mercenárias, a quem eram atribuídos pelos médicos- higienistas os índices alarmantes de mortalidade infantil (MARCÍLIO, 2006).

Nesse contexto, ainda no período imperial, teremos a aprovação do Decreto nº 4864 – de 2 de Janeiro de 1872, que autoriza a criação de uma Associação Municipal Protetora de Instrução da Infância Desvalida. Essa associação, de caráter assistencial, visava a fornecer às crianças pobres de um ou outro sexo roupa, calçado e o que fosse necessário para que freqüentassem as escolas municipais, além de proporcionar-lhes o tratamento médico em caso de moléstia. A

manutenção da Associação seria realizada por sócios mediante a contribuição de uma anuidade de 6$000. A Diretoria e o Conselho da Associação visavam a promover e proteger pelos meios mais adequados a instrução da infância desvalida no município, atender às requisições das comissões paroquiais, sobre o fornecimento de roupa, calçado e mais auxílios necessários para as crianças pobres que freqüentassem as escolas municipais existentes. A Associação é idealizada pelo Conde D’Eu, que participa das reformas da Instrução no Império.

No ano de 1888, é fundada uma filial da Associação Protetora da Infância Desvalida no município de Santos/SP. A Associação criada em Santos visava a atender crianças órfãs que haviam ficado desamparadas pela morte dos paisdevido à febre amarela. Em 18 de março de 1888, o Conde D’Eu, representando a família real, se dirige à cidade de Santos, acompanhado do Dr. Jose Xavier Carvalho de Mendonça – guarda-mor da Alfândega e de Aureliano Nogueira da Gama – juiz de órfãos e propõe a criação de um asilo provisório para órfãos. O asilo é fundado em 21 de abril de 1888. O cuidado dos órfãos é designado às irmãs da Congregação Coração de Maria, e os cuidados médicos são confiados ao Dr. Soter de Araújo (NOVO MILÊNIO: Histórias e Lendas de Santos, 2007).

No final do Império, diante da necessidade de modernização do Estado após a Abolição da Escravatura e do início de uma urbanização, as condições de salubridade eram precárias e a infância desamparada ainda carregava as marcas da escravidão. Encontramos, então, os asilos, os orfanatos e a Roda de Expostos como instituições de acolhimento às crianças pobres numa ação caritativa de entidades e do próprio Estado. A criação de uma Associação Protetora da Instrução da Infância Desvalida, no período, passa a ser uma das primeiras iniciativas da Monarquia para o atendimento às questões do amparo, da instrução dessas crianças e de seu cuidado. Entre os princípios da Associação, está previsto, também, um acompanhamento com levantamento de dados da situação das crianças pobres, o que indica uma primeira preocupação com levantamento da situação da infância desamparada.

O advento da Primeira República acontece com a situação ainda precária da infância sob índices alarmantes de mortalidade infantil, aliadas à falta de salubridade. O processo de urbanização do final do século XIX e início do século XX traz de forma acirrada a discussão da infância pobre como questão social. Nas primeiras décadas da Primeira República, outras instituições serão criadas para assistência à criança, entre elas se destaca o Instituto de Proteção à Infância (IPAI), idealizado pelo médico Dr. Moncorvo Filho.

2.5 INFÂNCIA, MATERNIDADE E CIÊNCIA MÉDICA NA PRIMEIRA REPÚBLICA –