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3. DESCRIÇÃO DO SUPORTE MATERIAL

3.4. Estado dos fólios

Os oitenta e oito fólios que actualmente constituem o manuscrito são de pergaminho de qualidade pouco uniforme. A raspajem não é homogénea, a pele apresenta diversas espessuras e encontra-se bastante enrugada em alguns lugares.

A disposição do pergaminho nem sempre foi idêntica, sendo possível observar a não concordância entre o lado esbranquiçado da carne e o lado mais amarelo da pelugem. Muitos fólios estão deteriorados, principalmente o que esteve colado à pasta anterior da encadernação. Em alguns dos que vieram de Évora são ainda visíveis as marcas das dobras, pois são fólios que estiveram dobrados em quatro. Observam-se também manchas enegrecidas, presença de fungos e humidade em excesso129. Alguns fólios apresentam raspagens, mais ou menos cuidadas e

alguns restauros de origem com algum êxito. Exemplos de algumas destas particularidades: No fl. 21v e no fl. 22 (cad. IV) vêem-se manchas acinzentadas ou ligeiramente azuladas do pêlo do animal. A pele foi menos raspada. O mesmo tipo de manchas observa-se no fl. 28v, no fl. 30, no fl. 35v (cad. V e cad. VI).

No fl. 40, há um rasgão, que no verso afecta a grande capital esboçada, característica de início de cicio individual de poemas. A edição fac-similada, não tendo tomado as devidas precauções, deixa passar, na reprodução fotográfica, parte da palavra ren (fl. 39v, cad. VIIa).

O fl. 46 (cad. VIIa) devido ao facto de ter sido dobrado para a encadernação, está mais reduzido na largura em relação à maioria dos outros fólios (cerca de 1, 5 cm a 2 cm).

No fl. 47 (cad. VII) há orifícios no centro, provavelmente provocados pelo desgaste, mas não afectam o texto.

No fl. 52 (cad. VIII), um rasgão foi cuidadosamente restaurado, sem que o texto sofra. No fl. 56 (cad. IX) são visíveis manchas de tinta verde, provocadas pela miniatura que desbotou.

No fl. 57 (cad. IX), um buraco oval (20 x 10 mm), feito na margem inferior, beneficiou de um hábil restauro, facilmente detectado pelo facto de o texto cobrir parte da pele que serve de tampão. Trata-se da última parte da col.b «mia sennor que eu auia de». No verso, o texto foi espaçado, de modo a que a escrita não se sobrepusesse no restauro: (col.c) «saberen ……mio mais».

Os fl. 62v e fl. 63 (cad. X) estão bastante manchados simetricamente da humidade que desbotou da decoração do, capital da col.b do fl. 63.

Nos fl. 64v e fl. 65 (cad. X) verificam-se ainda manchas simétricas que afectaram o texto, sem contudo o tornar ilegível. Estas manchas são posteriores ao desaparecimento do fólio intercalado de que resta a pestana irregularmente cortada.

O fl. 74 e 74v (cad. XIa) apresentam-se bastante manchados na parte superior. Os

vestígios parecem resultantes de cola idêntica ao do fólio que esteve colado à pasta anterior. Este fólio, que, agora, se encontra aqui colocado (desde a intervenção de C. Michaëlis que o encontrou também solto no início do códice em contacto, portanto com a cola da pasta de encadernação) apresenta o texto bastante danificado e, em alguns casos, de difícil leitura.

Como acidentes de menor importância assinale-se um pequeno orifício no fl. 4 na col.b que afectou ligeiramente o <o> de for e que se reflecte também no <p> de partir na fl. 4v na col. da direita130.

Nos fl. 8 e fl. 8v, um pequeno orifício que não afecta o texto.

No fl. 11 e fl. 11v, há uma escassa incisão, motivada talvez por uma correcção que atinge o <r> de cuidar e o <a> de q’uades.

Há vários fólios onde é patente o corte da guilhotina com eventual dano textual ou decorativo:

fl. 2 – a capital <C> tem a parte superior cortada (cabeça) fl. 5 – a capital <Q> tem a parte inferior cortada (pé)

fl. 5v – a capital <J> tem a haste inferior ligeiramente cortada (pé) fl. 11 – a capital <S> tem a parte inferior ligeiramente cortada (pé) fl. 12 – a capital <E> tem a parte superior cortada (cabeça)

fl. 13 – a capital <E> tem a parte superior cortada (cabeça) fl. 13v – a capital <Q> tem a parte superior cortada (cabeça) fl. 16 – o lado superior da miniatura ligeiramente danificado

fl. 17, fl. 18, fl. 21, fl. 29, fl. 33–o lado superior da miniatura também danificado fl. 34v – a col.c tem o 1.° verso cortado

fl. 35v – a col.c tem o <N> coratdo no lado superior e a col.d tem o 1.° verso muito próximo da cabeça do fólio.

fl. 37 – o lado superior da miniatura também danificado. fl. 38 – era quase afectado o 1.° verso da col.a

fl. 38v – na col.d era também quase afectado o 1.° verso.

fl. 39 – o primeiro verso tanto da col.a como da col.b erm quase afectados pela guilhotina.

fl. 40v – a miniatura danificada no lado superior.

130 Carter assinala grande parte destes acidentes na sua edição em notas relativas às composições ou no

fl. 42 – o 1.° verso da col.a quase danificado e o 1.° verso da col.b também, não se podendo conjecturar o número de versos perdidos a não ser pela estrutura do poema (Carter 1941: CLXII, CLXIII, CLXIV). As correspondências A 162/[...], A 163/B 316 (só a última estrofe).

fl. 42v – o 1.° verso das duas colunas igualmente danificado.

fl. 43v – o primeiro verso (ou os primeiros versos) das duas colunas muito danificados. fl. 44 – o 1.° da col.b mais danificado do que o da col.a. O 1.° verso da col.a é de difícil leitura «Prazer nen ben neno ar uerei» (Carter 1941: 103, CLXXII)

fl. 44v – os primeiros versos danificados das duas colunas de texto, « a que uos ar ey aquest a dizer» e « [U]lle eu dixi con graça mia sennor» (Carter 1941: 104, CCXXIII, CLXXIV).

fl. 45 – danificado o primeiro verso da col.a, «por quantỹst e que u9 ora direy» (Carter 1941: 105, CLXXIV).

fl. 45v – o 1.° verso da col.c «ro ben.sennor e buscan me conuusco» que aparece reescrito sem <me> na linha seguinte «ro ben sennor e buscã con uusco» (Carter 1941: 106, n. 2).

fl. 46v – as duas colunas têm o primeiro verso parcialmente danificado.

fl. 47, fl. 48, fl. 51v, fl. 55v, fl. 59, fl. 60 – a miniatura tem o lado superior parcialmente danificado.

A prova mais evidente de acidente material sofrido pelo Cancioneiro é constituída, no entanto, pelos fólios encontrados em Évora131:

fl. 4/p. 85 – parece arrancado. Está colada uma rebarba na margem interna do texto. Pergaminho mais fino com uma ligeira prega no lado interior direito.

fl. 16/p. 109 – parece arrancado. Pergaminho mais espesso com vestígio cclaro de ter estado dobrado (marcas de vincos).

fl. 17/p. 111 – cortado. Vestígios de dobra com marcas de tinta. O verso está em branco. fl. 29/p. 135 – arrancado. Não é tão visível a dobra. O verso só tem na coluna esquerda onze versos. O resto do fl. encontra-se em branco.

fl. 36/p. 149 – cortado ou, pelo menos, aparado. Também não é clara a marca da dobra. No fim da coluna da direita do verso há um espaço em branco de, mais ou menos, 10 cm.

131 «...às folhas descobertas na capital do Alentejo numeradas por Herculano de I a XI, dei eu, ao começar os meus estudos a numeração 117 a 127 indevidamente (...). A ordem que por este simples processo apurei em 1877 foi tres annos mais tarde plenamente confirmada pelo confronto com as partes análogas do apógrafo italiano C. B. (...)» (Michaëlis 1904, II, 136).

[cad. VII]

fl. 40/p. 157 – arrancado. Há um buraco na coluna esquerda do verso que afecta a capital. O rosto só tem a col.a preenchida. A col.b está em branco. O verso tem miniatura e está completamente preenchido.

fl. 41/p. 159 – arrancado. Não se notam as dobras. Não tem miniaturas e está preenchido tanto o rosto como o verso. Há uns pingos de tinta azul no rosto direito, talvez provocados pela miniatura do verso do fl. anterior.

fl. 42/p. 161 – arrancado com vestígios de união. Não tem miniatura e não se notam vestígios de dobras. Na margem superior, o texto está danificado.

fl. 43/p. 163 – arrancado com vestígios de união. Rosto e verso preenchido sem miniatura. Não se notam vestígios de dobras. O texto está também cortado na margem superior.

fl. 44/p. 165 – cortada ou aparada. Sem miniatura e sem dobras.

fl. 45/p. 167 – cortado e unificado. Texto danificado. Rosto preenchido. Duas capitais manchadas. Verso com espaço em branco na coluna da direita com cerca de 20 a 25 cm.

Desta abreviada delineação, verifica-se que o caderno eborense não sofreu o mesmo tipo de deterioração que os fólios desagregados.

No documento O Cancioneiro da Ajuda : confecção e escrita (páginas 138-141)