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5. DOS ELEMENTOS DO ESTADO DE NECESSIDADE

5.3. Outras questões relativas ao estado de necessidade

5.3.4. Estado de necessidade e coação moral

Segundo Joseph Fabisch, além de agir impulsionado por uma força exterior irresistível, pode-se também agir, impulsionado por uma crença tão forte que seja capaz de suprimir a liberdade, que neste caso trata-se da coação moral.

Conforme o citado autor, a coação moral é o aniquilamento da liberdade produzido pela ameaça de um mal que não temos como ser evitado e que nos força a praticar

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Conforme FABISCH. Essai sur l‟état de nécessité. p.11-12: “Tel est le cas du juré qui ne se rend pas à

l‟audience d‟une Cour d‟aisses, parce qu‟il est seqüestre. Les conducteurs de voitures doivent tenir leurs lanternes éclairées lorsqu‟ils voyagent la nuit. Mais, si un grand vent empêche l‟entretien du feu, ils sont victims d‟une force majeure et, à ce titre, nom imputables”.

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Nesses termos FABISCH. Essai sur l‟état de nécessité. p.12: “Entre “necessité” et “force majeure” il a donc

ce trait comum, que, dans l‟un et l‟autre cas, l‟agent du délit se trouve victime des circonstances extérieures. Mais on a saisi déjà quelle différence les separe; em cas de contrainte physique, l‟acte est la conséquence inévitable d‟une insurmountable violence; em cas de nécessité l‟agent à toujours um choix à exercer entre deux partis: commettre le délit ou subir um dommage.

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uma infração: “La contrainte morale est, en effet, l‟anéantissement de la liberte, produit par la menace d‟un mal qu‟on ne peut éviter qu‟en commettant une infraction”.304

De acordo com Joseph Fabisch,305 a coação moral e o estado de necessidade, apesar de semelhantes, pois neles os agentes atuam sem intenções maldosas e em ambos podem praticar o delito ou sofrer o danos, na verdade, não são idênticos, havendo entre eles uma profunda diferença.

O mesmo autor306 afirma ainda que, no estado de necessidade temos requisitos objetivos, como a possibilidade material de agir somente segundo duas maneiras: uma delituosa e outra danosa. Na coação moral há requisitos subjetivos relativos ao estado de espírito do agente que pratica o delito em virtude do pânico provocado pelo perigo e que sequer compreende que tem as duas opções citadas à sua disposição.

Quanto aos aspectos da força irresistível e da coação moral em relação ao estado de necessidade, Contieri assim se manifesta:307

A força irresistível deve ser uma força externa, física ou moral. Se é uma força física, corresponde à força maior ou ao constrangimento físico do direito penal comum (arts.45º e 46º do Cód.penal) e só ela produz, para certas categorias de infracções militares, o efeito de excluir ou diminuir a imputabilidade, efeito expressamente negado, para aquelas categorias de infracções, à força irresistível moral (art.56º, 2º, do Cód.penal da marinha de guerra. No caso de se tratar de força moral, se ela tirou ao agente a capacidade de entender e de querer, não há que falar de estado de necessidade, mas de falta de capacidade de entender e de querer (vid.:art.85º do Cód.penal) em conseqüência de uma força moral externa.

Leonardo Isaac Yarochewsky,308 ao analisar as causas legais de exclusão de culpabilidade, fundamentadas pela inexigibilidade de conduta diversa, assim se manifesta sobre a coação irresistível:

É mister salientar que a coação da qual trataremos é tão-somente a coação moral (vis compulsiva, vis conditionalis, vis animo illata), posto que a coação física (vis absoluta, vis atrox, vis corpori illata), como sabemos, exclui a própria ação. [...] Dentre os autores que reconhecem na

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FABISCH. Essai sur l‟état de nécessité. p.13. 305

FABISCH. Essai sur l‟état de nécessité. p.13: “Qu‟il y ait contrainte morale ou necessite, on le voit, le

délinquant, dans les deux hypothèses, agit sans intention malfaisante; dans les deux hypothéses aussi, des circonstances exceptionelles et placent dans l‟alternative rigoureuse de commetre um délit ou de subir um domage”.

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FABISCH. Essai sur l‟état de nécessité. p.13: “S‟agit-il de necessite, nous ne voyons qu‟une qualité tout

objective de l‟acte: l‟impossibilité matérielle d‟agir autrement que de l‟une de deux manières, dont l‟une est délictuelle et l‟autre dommageable. S‟agit-il de contrainte morale, à cette considèration nous em substituons une autre toute subjective, relative à l‟état d‟esprit Du délinquant, qui affolé par le danger, n‟a pas méme compris que deux partis s‟offraient à son choix”.

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CONTIERI. O estado de necessidade. p.102-103. 308

inexigibilidade de outra conduta uma causa legal de exclusão da culpabilidade, a coação irresistível é, sem dúvida, a excludente que recebe da maioria da doutrina esse tratamento.

Na jurisprudência pátria, a coação moral é reconhecida frente ao temor de que um mal maior possa ser acometido ao coacto e, se esta ação tirou do agente a capacidade de entender e de querer, não há que falar de estado de necessidade, mas de coação irresistível:

FALSO TESTEMUNHO – Exclusão da culpabilidade – coação moral irresistível – Ocorrência – Encarcerado que assiste a perpetração do delito de dano por seus companheiros de cela que escavaram túnel para facilitar a fuga do presídio – Omissão da testemunha ocular de revelar os autores do ilícito, impedindo o conhecimento da verdade e a aplicação da lei – Conduta que embora caracterize o delito previsto no art.342, §1º, do CP, enseja a aplicação do art.22 do mesmo Estatuto – Delação que, no mundo da marginalidade, é punida com morte, motivo suficiente para que o acusado não exponha sua vida em favor da apuração da justiça. Ementa oficial:

Crime de falso testemunho (art. 342, § 1º, CP) - Acusado que, arrolado como testemunha presencial dos fatos, se omite, perante a Justiça, de revelar os seus autores, impedindo o conhecimento da verdade e a aplicação da lei - Crime caracterizado - Ausência de culpabilidade - Conduta do acusado justificada pela excludente da coação moral irresistível - Absolvição mantida nos termos do art. 386, V, CPP - Recurso ministerial desprovido. (TJMG – Ap.000.211.613-5/00 – 1ª Câm. - j. 10/04/2001 – Rel.

Des. Luiz Carlos Biasutti, RT795/655).