A metodologia das pesquisas e os resultados
16 Este grupo teve uma grande contribuição do aluno da Unicamp, Rodrigo Zamperlini, que trabalhou com
eles todo o ano de 2002, discutindo questões sobre o assunto, na redação dos textos e na elaboração dos gráficos ao utilizarem o software excel.
Esse gráfico foi elaborado com as respostas de 75 alunos das quintas séries: Podemos observar que a maioria acredita que deveria haver mais policiamento, seguido de evitar más companhias, menos brigas, maior conscientização, acabar com as drogas e outras formas (alunas, Caroline, Flávia, Bruno e Thamyris, 2003).
Podemos observar que os alunos entrevistados das 5ª (quintas) séries responderam que podem melhorar o ambiente da escola: 32% com mais policiamento, 24% evitando más companhias, 14% maior conscientização e 14% menos brigas.
A resposta das 7ª (sétima séries) para o mesmo questionamento foi de: 50% mais policiamento, 30% maior conscientização e 20% melhor educação.
As crianças e os adolescentes desta escola acreditavam que o poder público deve resolver o problema da segurança, pois 32% das crianças entrevistadas das quintas séries e 50% dos adolescentes das sétimas, responderam que para resolver o problema da violência deve-se aumentar o policiamento. Todavia, o grupo de alunos pesquisadores não esperava maior policiamento para resolver os problemas. Eles acreditavam que podiam fazer alguma coisa e começaram mudando a forma de olhar para as outras pessoas. Foram a campo imaginando que as pessoas pensavam da mesma forma sobre o assunto, porém não foi isso que observaram. Nas palavras deles: “Sobre a violência dentro da escola chegamos a algumas conclusões, como: a de que pessoas têm opiniões muito diferentes sobre o que é violência e que muitas não se importam com ela” (ibidem).
O grupo de alunas que estudou o tema “Transporte Coletivo”, problematizou a utilização e a forma com que os alunos da EE Professor Aníbal de Freitas usavam o transporte coletivo. Mostraremos os resultados de dois questionamentos: um sobre a freqüência com que os alunos da escola utilizavam o ônibus e o outro a forma de pagamento das passagens.
Freqüência de utilização
55%
5% 3%
37% Diária
Uma vez por semana Três vezes por semana De vez em quando Forma de pagamento 39 52 9 D inheiro P as s e N ão pagam Gráfico 17 - Freqüência de utilização Gráfico 18 - Formas de pagamento
De acordo com os dados encontrados sobre a freqüência de utilização no modelo gráfico de nº 17; 55% dos alunos entrevistados utilizavam ônibus diariamente, desses alunos no gráfico nº 18, apenas 52% usavam o passe escolar e 39% pagavam suas passagens com dinheiro, o que segundo as pesquisadoras não deveria acontecer por ser o passe escolar mais econômico e porque: “se o uso de passes fosse maior, o dinheiro que fica rodando dentro do ônibus (com o cobrador) seria menor, diminuindo assim a atração de algum assaltante” (alunas, Adriana e Daniely, 2003).
Argumentos utilizados por essas alunas:
Mesmo havendo a implantação da bilhetagem eletrônica, 39% dos alunos ainda pagam a passagem em forma de dinheiro e 55% utilizam o passe. Dos entrevistados que utilizam ônibus, 8% declaram ter sido assaltado ou pelo menos terem presenciado algum assalto dentro do ônibus. Por ser a tarifa muito cara, os passageiros preferem passe por terem desconto.
Na pesquisa foi detectada que muitos alunos chegam a demorar mais de 40 minutos para chegar em seu ponto final. A demora não só é devido à viagem, mas também devido à espera no ponto de ônibus ou nos terminais (ibidem).
Este grupo de alunas preocupou-se com a forma de pagamento, a segurança e tentava mostrar aos demais alunos que é mais interessante pagar com passe por causa do custo menor e dificultar a ação dos assaltantes.
Os alunos que estudaram o tema “Água” problematizaram a qualidade da água consumida na escola com o questionamento: O que os alunos acham da qualidade da água consumida nas torneiras desta escola?
Vejamos o resultado encontrado:
Entrevistamos uma população de 180 alunos do ensino fundamental matriculados nas sextas e sétimas séries (alunos, Rita,Tales, Renam, Rafaela, Danilo, Stefany e Fábio, 2003).
A água consumida na escola é de sabor ruim, em Função da tubulação ou dos filtros que estão velhos.
Gostaríamos de saber de quanto em quanto tempo é feita a limpeza das Caixas d'água (ibidem)
49% - ruim e 51% - boa
O resultado desse questionamento evidencia a insatisfação com o forte gosto de ferro da água de quase metade dos alunos da escola, apesar da análise química mostrar que a qualidade da água era ótima17.
O grupo de meninas que estudou o tema “Violência na cidade de Campinas” problematizou a forma como os alunos da escola lidavam com a violência. Para coletar os dados as alunas dizem:
Iniciamos os trabalhos elaborando um questionário com perguntas semi-abertas, que foram respondidas por 44 pessoas, sendo 36 alunos, distribuídos entre as primeiras, segundas e terceiras séries do ensino médio e oito alunos da quinta série do ensino fundamental da EE Professor Aníbal de Freitas (alunas, Fernanda, Graziela, Regiane e Adília, 2003).
Vejamos o resultado18 de dois questionamentos investigados: O primeiro: Você tem medo da violência?
Gráfico 19. Você tem medo da violência? O segundo: Em seu bairro há muita violência?
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% Sim Não
Em seu bairro há muita violência?
Ensino Fundamental Ensino Médio
Gráfico 20. Em seu bairro há muita violência?
17 No dia 27 de Maio de 2003 fez-se um teste com a água da Escola e o resultado deu qualidade ótima. 18 Na elaboração dos gráficos este grupo contou com a colaboração do aluno Humberto da Unicamp, que não
estava matriculado na disciplina AM, mas trabalhou um semestre inteiro junto com um amigo. A maioria dos alunos entrevistados do ensino médio, 80% convive com a violência em seus bairros, enquanto no ensino fundamental (5ª série), apenas 37,5% (Fernanda, Graziela, Regiane e Adília, 2003).
Os alunos do ensino fundamental (quinta série) 5% responderam que sentem medo da violência e 88% no ensino médio.
No fundamental 95% responderam que não sente medo e 12% no ensino médio. (Fernanda, Graziela, Regiane e Adília: 2003). 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% Sim Não
Você tem medo da violência?
Comparando o gráfico de nº 19 com o de nº 20:
A porcentagem dos alunos entrevistados do ensino fundamental que convive com a violência em seus bairros (modelo/gráfico nº 20), é de 37,5%, bem menor que a do ensino médio 80%.
A porcentagem dos que não sentem medo da violência no ensino fundamental (modelo/gráfico nº 19) é de 95%, portanto, bem maior que no ensino médio de apenas 12%.
Observamos que a maioria dos alunos do ensino médio convive com a violência em seus bairros e sente medo. Essa diferença pode ser em decorrência do número reduzido de pessoas entrevistadas na 5ª (quinta) série (que pode ter comprometido o resultado) ou porque as crianças da quinta série ainda não tenham a noção da situação de violência. Entretanto, em um outro questionamento 100% dos alunos entrevistados, os mesmos que responderam às outras duas perguntas, consideram a cidade de Campinas muito violenta.
Na conclusão de suas pesquisas este grupo de alunas escreveu:
As respostas dos alunos sobre a violência em Campinas foram quase as mesmas, dizendo que há muita e que as pessoas querem melhorá-la, mas não sabem como fazer e as autoridades no assunto, afirmam:
Combate ao crime exige união, e especialistas em segurança dizem que só ação conjunta entre sociedade e poder Público podem surgir efeito contra a violência. “Policia nas ruas é essencial, desde que seja uma policia que veja as coisas e tome atitude”.
Pichar é crime e são os pequenos crimes que formam o alicerce da grande violência que toma conta das cidades (ibidem).
A fala: “Pichar é crime e são os pequenos crimes que formam o alicerce da grande violência que toma conta das cidades”, evidencia que a violência, em grande parte, acontece dentro das escolas, pois nesse ambiente encontramos muitos alunos pichadores.
Diante dessa evidência podemos afirmar que essas atividades propiciaram a reflexão para nós, alunos e professores, sobre questões do ambiente da escola, contribuindo para se pensar a problemática da violência na cidade de Campinas, indo ao encontro do desejo da comunidade escolar em torná-la um lugar mais seguro e em acordo com Almeida & Pinheiro (2003), os desafios para a superação da violência urbana encontram-se “no plano da ação cidadã de cada um de nós e na intervenção ágil e eficiente dos governos” (ibidem, p. 80).
No resultado dessas atividades de campo dos quatro grupos vemos o fruto de uma ação resultante, de uma inquietação que os levou a desenvolver pesquisas, nascidas do cotidiano, na tentativa de produzir um conhecimento, a partir de algo que queriam saber, portanto, estranho e desafiador, que em acordo com Neto (1994, p. 64): “O que atrai na produção do conhecimento é a existência do desconhecido, é o sentido da novidade e o confronto com o que nos é estranho”.
A produção de conhecimentos por meio de pesquisa requer sucessivas aproximações do que se quer conhecer, de onde surgem sucessivamente novas perguntas.