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Instigando a vontade de aprender e a intervenção 2003, 7ª série

As ações de intervenção surgem, no ambiente da escola, após os alunos terem olhado, estudado e assumido responsabilidades por ela.

No ano de 200312, os alunos na 7ª (sétima) série continuaram suas pesquisas sobre os mesmos temas do ano anterior e a partir dos resultados, criaram ações de transformação, visando um ambiente de paz e realização, envolvendo os demais alunos do ensino fundamental em suas atividades (esses alunos, na quinta série pesquisaram sobre o tema Água).

Concluíram seus estudos sobre os temas: “Paz na escola”, “Transportes na cidade de Campinas”, “Água”, “Violência na Cidade de Campinas” e “Drogas” e discutiram seus resultados com os alunos da própria classe e com as demais turmas do ensino fundamental.

Os temas escolhidos pelos alunos marcavam o aspecto político13, pois tomaram como base a realidade emergencial e contribuíram para a busca de soluções aos aspectos problematizados dessa realidade.

O tema “Paz na Escola” representava uma situação almejada no ambiente. O grupo foi constituído por 6 (seis) alunos. Vejam as razões para esse estudo nas palavras dos próprios alunos:

[...] as escolas estão cada vez mais violentas, por isso resolvemos criar esse projeto, que é um importante caminho para ajudar os adolescentes a ficarem atentos a respeito dos problemas que a violência e drogas podem causar em nossas vidas e trazer de volta a paz no ambiente escolar (alunos, Caroline, Flávia, Bruno, Thamyris, Aline e Lidya, 2002).

A atenção desse grupo, como mostra essa fala, está voltada para situação vivida por eles na escola e diz respeito ao comportamento dos adolescentes.

O tema “Transporte coletivo” foi estudado por 2 (duas) alunas, que realizaram suas pesquisas junto à população discente da escola, tendo como objetivo a:

12 Neste ano trabalhamos em 5 professoras: Francisca M. de Barros (História), Lucila Rispoli Cruz

(Ciências), Miriam Brochado Pires (Inglês), Vera Lúcia Araújo (Educação Física) e eu (Matemática).

Conscientização dos principais problemas vividos por aqueles que dependem deste meio de transporte, o qual não deve ser encarado apenas como simples serviço de utilidade pública, mas sim como um direito constitucional, o direito de ir e vir (alunas, Adriana e Daniely, 2003).

Os estudos desse grupo visavam a discussão de questões relativas ao transporte coletivo na cidade de Campinas.

O tema “Água”, como já vimos anteriormente foi estudado na quinta série por todos os alunos da sala. Na 6ª (sexta) este grupo constituído por sete alunos continuou estudando o mesmo assunto até o final da sétima e nos explica porque:

A escolha pelo tema água se deu em função de ser uma substância essencial para a vida na Terra, mas ela está cada vez mais rara. O Brasil tem aproximadamente 8% da água utilizável do mundo, mas a situação não é das melhores, pois 80% das águas nacionais estão na Amazônia, onde tem só 5% dos brasileiros. Os outros 20% tem que abastecer 95% da população, por isso que temos que usá-la racionalmente.

Só 7% dos esgotos são tratados de forma correta e os outros 93% restantes não são. Os rios Urbanos se tornaram depósito de lixo (alunos, Rita,Tales, Renam, Rafaela, Danilo, Stefany e Fábio, 2003).

Esse grupo em seus estudos priorizou a qualidade da água consumida na escola. O tema “Violência na cidade de Campinas” foi estudado por um grupo formado por quatro alunas com o objetivo de:

Estudar a violência na cidade de Campinas. Este projeto de pesquisa é uma forma de criar situações para os jovens desta escola pensarem sobre o alto índice de violência em nossa cidade e tentar modifica-la As pessoas querem melhorar a cidade e o mundo, mas não sabem como fazê-lo.

Pesquisamos alguns casos em jornais e revistas sobre vários lugares como em escolas que alunos carregam armas e matam seus colegas, professores e funcionários e também nas ruas de muitos bairros. (alunas, Fernanda, Graziela, Regiane e Adília, 2003).

Essas alunas expressam sua insatisfação com a situação de violência enfrentada na cidade de Campinas e acreditam que podem colaborar na busca de soluções para essa problemática, criando situações para os jovens pensarem sobre essa questão.

Podemos observar que todos os grupos pretendiam estudar os temas escolhidos e contribuir para a solução de problemas vivenciados em seu cotidiano. Assim, foram oferecidas possibilidades de realização, onde puderam repensar a escola e recuperar a auto- estima, pois:

É imprescindível que as escolas ofereçam ações educativas, preventivas e de promoção da paz, que ajudem a melhorar a auto-estima dos alunos e a aumentar o envolvimento dos professores e da comunidade. Crianças e jovens precisam voltar a enxergar a escola como um lugar agradável de aprendizado e de troca de experiências que os leve ao sucesso na vida adulta. Os pais e as comunidades deveriam ter de novo o sentimento de pertencimento e de identidade com a escola. Assim, o espaço escolar voltaria a ser visto como um “porto seguro” a ser preservado, constituindo-se em fonte de esperança dos jovens por um futuro melhor (Jorge Werthein, Folha de São Paulo, 16/09/2004).

“O sentimento de pertencimento” à escola como coloca Werthein, evoca no estudante o cuidado de si, ao outro e à escola, desenvolvendo ações, que visem o coletivo. Observamos isso no objetivo dos alunos, que ao estudarem “A Paz na Escola”, o “Transporte Coletivo”, a “Água” e a “Violência na cidade de Campinas”, fazem-no com a intenção de amenizar os problemas enfrentados no dia a dia da escola.

Esse sentimento de pertencimento à escola, também era visível nos outros alunos, que não se juntaram a nenhum grupo:

O grupo de Nômades... Assim chamado, um grupo de 4 (quatro) alunas, que mudou diversas vezes de tema, estudou muitas coisas, escreveu muito material, pesquisou e aprendeu sobre muitos assuntos. Nós, professoras, tentamos convencê-las a elaborar um texto final que registrasse o que fizeram.

Além dessas meninas, existia um outro grupo de quatro alunos, que começou a estudar sobre dengue. Visitou o Instituto de Microbiologia da Unicamp14, encantou-se com a universidade, porém não concluiu suas pesquisas. Havia também pesquisas individuais. Doze alunos, que não pertenciam a nenhum grupo, preferiram trabalhar nos outros, aprendendo sobre os assuntos de todos. Esses alunos, que estavam ora num grupo, ora em outro, ajudavam em determinadas etapas, articulando as coisas, negociando com a direção, outros professores e eles mesmos.

Houve interação entre todos os alunos da sala e os grupos, que participavam das atividades, davam sugestões e discutiam os resultados encontrados nas pesquisas. Com alguns dados do tema “Paz na Escola” foram elaborados modelos matemáticos em conjunto com a sala toda.