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2.4 Estimativa de Capacidade da Hidrovia

A capacidade de transporte da hidrovia Tietê-Paraná ainda é uma questão discutível. Não se pretende abordar este tópico a fundo, e sim chegar a certas conclusões com base em estudos disponíveis. No trabalho em questão o dimensionamento do terminal depende da quantidade de soja movimentada. A quantidade arbitrada deve ser compatível com a capacidade efetiva da hidrovia, considerando não só seu valor máximo mas, também restrições impostas por períodos de estiagem e execução de obras.

A capacidade de tráfego máxima teórica (CMT) de uma via navegável pode ser definida, segundo Almeida (1968), como a quantidade máxima de carga que poderia ser movimentada por ano ao longo da via, nas condições ideais de fluxo contínuo nos dois sentidos, com as embarcações ideais para a via (embarcações tipo) trafegando totalmente carregadas. A CMT depende fundamentalmente das características das obras de transposição de desnível e só, em uma segunda aproximação, das condições de tráfego.

Contudo, como salientado por Almeida & Brighetti (1970), em uma hidrovia, não se consegue atingir a CMT. Por isso, como definido por estes mesmos autores, tem-se uma capacidade efetiva de tráfego (CET), que é designada como sendo aquela que, nas condições reais, pode ser atingida dentro de um regime operacional normal e de uma utilização econômica para a hidrovia.

Nas vias canalizadas, quase sempre são as eclusas que limitam o fluxo de embarcações e que portanto, impõem a capacidade de tráfego. As deficiências das instalações de transbordo podem também restringir o tráfego nas hidrovias. Porém, este aspecto normalmente não é considerado nos estudos de vias navegáveis.

A relação entre a CET e a CMT é designada pelos mesmos autores como sendo o “coeficiente de utilização” ou “coeficiente global de eficiência”. Seu valor será sempre menor que a unidade e dependerá fundamentalmente das condições

Capítulo 2 – Estudos Preliminares para Estimativa da Capacidade do Terminal

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locais de operação e exploração da via fluvial, levando sempre em consideração os seguintes fatores:

-tempo real de operação da eclusa durante o período do ano; -tempo de transposição das diferentes embarcações;

-número de embarcações efetivamente operadas em cada eclusagem; -tonelagem de carga efetivamente transportada por embarcações.

Com relação a estudos sobre a capacidade da hidrovia Tietê-Paraná, alguns trabalhos podem ser citados. A Cesp apresenta um estudo de capacidade nominal de escoamento de cargas pela Hidrovia Tietê-Paraná, em que foi adotado o critério de utilização otimizada do sistema de eclusas. Admitiu-se a não ocorrência de filas de espera para eclusagem, e a chegada de embarcações, para seguir em sentido contrário ao das que estão eclusando, sincronizadamente quando estas estiverem saindo. Dessa maneira, a eclusa não fica parada, nem as embarcações ficam à espera de liberação para eclusagem. Foi admitido um tempo médio para transposição de uma barragem de 55 min, distribuídos nas seguintes operações: 10 min para aproximação e entrada do comboio na câmara da eclusa; 5 min para efetuar as amarrações nos cabeços flutuantes e fechamento das comportas; 25 min para enchimento/esvaziamento da câmara; 5 min para desamarração e abertura das comportas; 10 min para saída da câmara e afastamento do comboio para permitir a aproximação do próximo comboio e eclusar em sentido contrário, aproveitando a condição da câmara estar cheia ou vazia. Considerando esse tempo médio de utilização e como período de funcionamento do sistema 11 meses durante o ano, reservando-se um mês para manutenção, é possível efetuar anualmente 8.640 eclusagens, 4.320 em cada sentido.

Nas eclusas padrão Tietê, cujo gabarito permite embarcações de até 137m de comprimento, 11m de largura e 2,5 m de calado, os comboios com um empurrador e duas chatas totalmente carregadas podem transportar até 2.200 toneladas. Portanto, é possível transportar anualmente, no trecho Tietê, em cada sentido 9,5 milhões de toneladas.

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Santana (2002), utilizou metodologia elaborada por Almeida e Brighetti para o cálculo da capacidade das eclusas, nos quais admitiu-se que toda movimentação seria realizada por comboios tipo Tietê (com aproximadamente 1.200 ton/chata) com as devidas eclusas perfeitamente adequadas a estas embarcações (acessos livres à montante e à jusante, muros guias, garagens, etc.). Admitiu-se os tempos médios de enchimento e esgotamento das câmaras indicados nos projetos das obras. Utilizou-se também, para todas as eclusas, valores médios para as atividades de transposição da barragem, conforme dados CESP.

A partir do ciclo de eclusagem (tabela 2.11), e considerando ainda que esse sistema tenha possibilidade de funcionar 24 horas por dia, 365 dias no ano e admitindo, para calculo, comboio simples padrão Tietê (duas chatas de 1.100 ton cada), determinou-se a capacidade máxima teórica de tráfego de cada eclusa para ambos os sentidos de fluxo, conforme mostrado na tabela 2.11.

É importante ressaltar que os valores obtidos para as eclusas de Nova Avanhandava e Três Irmãos se baseiam na hipótese de não haver restrição de tráfego no canal intermediário.

Deste modo, no estudo de Santana, chegou-se a conclusão que a capacidade máxima de tráfego teórica na hidrovia é da ordem de 34.500.000 ton / ano, que é a capacidade de tráfego da eclusa de menor capacidade.

Tabela 2.11 - Capacidade máxima de tráfego das eclusas da hidrovia Tietê- Paraná Eclusa Ciclo de Eclusagem (min) Capacidade de Tráfego (t/ano) Barra Bonita 59 39.200.000 Bariri 53 43.600.000 Ibitinga 57 40.500.000 Promissão 67 34.500.000

Nova Avanhandava (Sup) Nova Avanhandava (Inf)

57 53 40.500.000 43.600.000 Três Irmãos (Sup) Três Irmãos (Inf) 59 57 39.200.000 40.500.000 Jupiá 67 103.500.000 Porto Primavera 67 103.500.000

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Os dados dos estudos acima serão utilizados, com os devidos ajustes, para se determinar à capacidade da hidrovia. Em relação aos resultados da Tabela 2.11, deve-se assinalar que admitiu-se eficiência máxima do sistema, o que na prática não ocorre. Por outro lado, como explicado por Almeida e Brighetti a capacidade da hidrovia não depende apenas da capacidade da eclusa, mas também de outros fatores como tempo de passagem entre pilares de pontes, períodos de seca e períodos de pico de movimentação. Assim, utilizando o conceito elaborado por estes autores segundo o qual a relação entre capacidade máxima teórica e a capacidade efetiva varia de 0,3 a 0,4 e tomando como referência o valor da eclusa mais crítica (a eclusa de Promissão, com capacidade máxima. de 34.500.000 toneladas) a capacidade da hidrovia estaria entre 10.350.000 e 13.800.000 toneladas por ano.