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Por mais que simples demonstrações matemáticas indicando a probabilidade de ganhar e perder indiquem que o apostador, num jogo de azar, vai perder dinheiro se jogar durante um tempo mais prolongado, as mesas de apostas continuam, a cada dia, mais cheias de pessoas em busca de emoção e com a ilusão de possuírem tal sorte, que vencerão o cassino mesmo com as chances completamente contra.

Na bolsa, e mais especificamente no mercado de opções, existe a possibilidade de fazermos apostas direcionais, e aí o mercado pode virar uma mesa de cassino. Porém, quem encara tais aplicações como um jogo de azar e aposta no “preto ou vermelho” como um jogador de roleta, por mais que tenha garantido as maiores das emoções, certamente entregará o fruto do seu trabalho para a banca.

Operar com opções pode virar um jogo e, assim como todos os outros, viciar. Em mais de uma década de experiência, nós, os autores, temos visto os mais diferentes casos patológicos de jogadores viciados na emoção de estar comprado ou vendido em opções, e a emoção é grande mesmo e causa prazer.

Não raro, uma opção fora do dinheiro valendo uns poucos centavos, virando pó, no vocabulário de bolsa, tem o seu preço aumentado em muitas vezes, chegando a valer alguns reais, porque o ativo objeto do qual ela deriva teve sua cotação muito valorizada. A alegria e a emoção de acertar um ganho desse é inesquecível, sendo compreensível que gente se vicie nisso e queira voltar a qualquer custo a sentir essa emoção.

Casos de apostadores patológicos são conhecidos de todos os corretores, pessoas que já perderam quase tudo que possuíam e saem de casa com uma mochila embaixo do braço, prometendo à família que estão indo ao clube e indo, na verdade, a uma corretora, todos os dias, achando que, agora, sim, a sorte vai ajudar.

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São, muitas vezes, executivos, profissionais liberais e aposentados, quase sempre competentes e vencedores em suas carreiras, e que utilizam a renda obtida em horas seguidas de atividades, trabalho duro, para pagar as perdas seguidas e sistemáticas, dinheiro que, se bem gasto ou poupado, garantiria um futuro tranqüilo e promissor para toda a família.

Alguns desses jogadores em opções são herdeiros de famílias abastadas, que dilapidam grandes somas dos recursos ganhos e poupados por seus antepassados, poupanças que levaram anos para serem formadas.

Certamente, existem culpados pelas fortunas perdidas em bolsa, mas é pouco provável que a culpa seja do mercado ou dos derivativos, bem como não é da falta de sorte. Na essência, como visto no início, as opções são contratos muito úteis para quem quer se proteger de alguma variação de preço – ou até de acidentes.

Usando os exemplos do início do livro: quando compramos um seguro de carro, é porque queremos nos proteger de um infortúnio, algum sinistro que nos deixe sem o bem e que nos cause prejuízos acima dos que estamos dispostos a assumir. Assim, com um valor que é uma pequena fração do bem, estamos garantindo que, numa situação extrema (acidente, roubo ou algo assim), teremos de novo nosso veículo nas condições que estava antes. Não gostamos de desembolsar o valor da apólice quando da renovação, mas o fazemos e nos sentimos seguros.

Da mesma maneira, o indivíduo do exemplo da compra do apartamento citado no começo do livro, quando se dispõe a pagar 1% do valor do imóvel como sinal para que ele fique reservado e, assim, não seja oferecido nem vendido a mais ninguém, sabe os riscos que está correndo. Provavelmente, sua tomada de decisão é baseada em algum tipo de análise minimamente racional. Esse tempo para decidir será benéfico para que ele consiga juntar o dinheiro necessário para a aquisição. Aguarde para ver se uma promoção tão esperada aconteça ou decida se o casamento sai mesmo ou não. Enfim, algo que, em sua avaliação, mereça o desembolso do sinal, que justifique o risco de perder esse valor.

Ao pensarmos com a mesma lógica desse exemplo e observarmos os especuladores que compram e vendem grandes quantidades de opções com o objetivo de obter ganho apenas com a variação do preço desse prêmio, percebemos o quanto essa atividade é arriscada e tende à irracionalidade. Podemos, de maneira comparativa, considerar que o agente das especulações compra direitos de compra de apartamentos. Não de um único apartamento, mas de muitos, não raro de dezenas ou até centenas deles. Compra tais direitos não por querer o apartamento para seu uso, morando nele ou como investimento de longo prazo, tendo-o como fonte de renda de aluguéis. Esse especulador, que compra grandes quantidades de opções, tem apenas o interesse de obter rápidos lucros com a oscilação positiva no preço dos apartamentos e, por conseqüência, no preço de seus direitos.

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Muitos bancos ou empresas de gestão de fundos estão preparados para fazê-lo, pois têm recursos financeiros, estrutura operacional, conhecimento e informações sobre a teoria dos preços dos apartamentos e sobre a tendência do mercado de apartamentos. Esses grandes players também estão preparados para assumir os eventuais prejuízos no caso de

os apartamentos caírem ou, ao menos, não subirem.

Continuando nessa comparação entre operações com opções de compra sobre ações e sinais sobre apartamentos, podemos considerar, então, os bancos e gestores, chamados de clientes institucionais, como sendo as construtoras, incorporadoras ou imobiliárias do mercado financeiro.

Ao mesmo tempo, o operador de bolsa ou cliente pessoa física pode ser considerado o pequeno investidor em imóveis; porém, no mercado imobiliário, esse especulador de opções jamais poderia comprar ou vender direitos sobre dezenas ou centenas de apartamentos por falta de recursos ou liquidez de mercado. Pior ainda seria se conseguisse fazê-lo e, como parâmetro para sua tomada de decisão, ele utilizasse apenas o palpite e, como segurança, contasse só com a sorte.

Essa é a situação do jogador que compra e vende opções no mercado de capitais. Ele é quase o miliciano jogando pedras no tanque do exército inimigo, exército representado pelas instituições financeiras armadas com tanques de guerra inatingíveis – ao menos por pedras. Para ele, não haverá futuro se não rever suas práticas, objetivos e conhecimentos.

O objetivo deste livro é apresentar uma maneira mais racional e segura de fazer operações em bolsa utilizando opções, mas não para especular, comprando ou vendendo direitos de maneira esquizofrênica – mas, sim, voltando à metáfora do apartamento, comprando o apartamento quando achar que é um bom negócio e vendendo um direito sobre ele, recebendo um valor por tal venda que deixa a compra do apartamento mais barata e faz com que vendê-lo, até mesmo pelo preço que foi pago, seja um grande negócio – operação que, como será visto, tem uma probabilidade altíssima de ser ganhadora. Quem irá comprar tais opções? Os jogadores viciados em opções? Então, nesse caso, estamos fazendo o papel da banca do cassino? Pode ser.

Para tanto, deve-se, ao entrar no mercado de capitais e, mais especificamente, ao pensar em executar tais operações, saber exatamente qual seu objetivo ao fazê-lo. Por que você está comprando o apartamento e vendendo um direito sobre ele? Está claro que é para ganhar dinheiro.

Você é um investidor, que compra o apartamento para ficar com ele, usá-lo de moradia ou alugá-lo pensando em, quem sabe, vendê-lo após alguns anos, mas por um valor bem maior que o de compra?

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É um especulador, que acredita numa alta iminente do apartamento, algo próximo, e, assim, pensa em comprá-lo para, num curto período de tempo, revendê-lo por um preço maior que o de compra? Como complemento de sua compra do apartamento, você quer vender direitos sobre ele e, com essa receita, diminuir seu preço de compra para melhorar o resultado e diminuir o risco?

Em alguns momentos, pode-se atuar como investidor; em outros, como especulador, e a mesma pessoa poderá usar opções de compra para proteger parcialmente seu patrimônio. Porém, antes de entrar em cada operação, deve-se ter claro seu papel naquele momento, sabendo exatamente os motivos pelos quais se está entrado numa posição.

Deve-se saber se a compra do apartamento é para morar ou para revender em pouco tempo, pois, se a compra for para morar, uma oscilação no preço do imóvel não irá prejudicar o objetivo do proprietário. Se, daqui a um mês, o preço do apartamento tiver caído 20%, isso não será relevante para o investidor de longo prazo. Porém, para o especulador, que compra um apartamento objetivando sua venda daqui a pouco, a queda de 20% pode ser quase uma tragédia.

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As vantagens da liquidez e a percepção da riqueza quando