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“Estou chamando de subversão aqui tudo aquilo que introduz

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 93-95)

subjetividade, lugar do sujeito,

tudo aquilo que introduz história,

aquilo que introduz relação de

desejo”

C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C A D E R N O S T E M ÁT iC O S C R P S P P a

tologização e medicalização das vidas: reconheciment

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uma certa maneira, a chance de ter conseguido alguns atravessamentos, vamos dizer assim. Não tenho nenhuma garantia disso, mas, na maioria das vezes, consigo algum atravessamento naquela objetividade que é solicitada pelos pais. É isso que cria condições para que eu consiga um processo de avaliação que os pais saibam que eu não estou avaliando ali um diagnóstico. Eu anuncio isso; às vezes, eu dou essa palestra para os pais, porque é preciso que eles possam escolher, o que acho que é importante de sustentar. Às vezes, os pais não querem essa avaliação, eles querem um diagnós- tico e eles podem consegui-lo em outro lugar, mas eu uso o máximo de recurso possível para susten- tar a possibilidade de uma outra forma de fazer avaliação que não seja uma avaliação diagnóstica, pura e exclusivamente, embora o diagnóstico pos- sa até ser uma consequência dessa avaliação.

Depois disso eu faço uma avaliação com a criança. Não é difícil procurar os signos que estão lá no DSM, essa observação é possível de ser feita. isso é uma coisa fácil de fazer. Ele é feito para que qualquer um faça. isso não é uma coisa complicada de fazer. O complicado é você poder sustentar que não é isso que você tá fazendo ali. Pura e simples- mente. Então o processo de avaliação com a crian- ça é tanto no sentido de construir uma possibilida- de de ela poder relatar, de ela poder se situar, de ela poder dizer algo sobre aquilo que está sendo solicitado para ela, seja com uma dificuldade que ela tem em casa, seja com a dificuldade que ela tem na escola, e isso progredir para uma aposta, para um acompanhamento.

Se fosse produzir um diagnóstico e fazer um laudo, eu conseguiria dar em uma palavra, conse- guiria dar um nome que explicaria toda a questão, porque ele é feito para isso. Mas eu estaria jogan- do esse trabalho todo no lixo, seria catastrófico no processo de subjetivação.

Por que que eu digo isso? Porque quando os pais buscam uma ajuda, a criança busca uma ajuda, existe uma angústia muito grande e a maior angústia é não saber o que está acontecendo. Muitas vezes, é maior essa angústia do que o próprio sofrimento que a criança está apresen- tando. Às vezes, você vê pessoas que foram para uma consulta, conseguiram um diagnóstico e elas voltam aliviadas, mesmo que a criança continue exatamente do mesmo jeito. Quer dizer, a angús- tia melhorou, agora eles têm uma explicação, todo mundo está mais tranquilo, mas a criança está no mesmo sofrimento. O efeito da própria constitui-

ção de diagnóstico traz esse alívio para os pais. Esse alívio, às vezes, é até para a própria criança, porque, como já foi colocado aqui, quando você diz que a criança tem TDH, ela mesma pode dizer isso na escola. Então, ela já não precisa se culpar mais por isso, ela já tem algo que explique o que que acontece com ela e os outros é que vão se virar para resolver esse problema.

Assim, o momento de produzir o diagnóstico, de ter de fazer um relatório, ter de fazer um laudo é dramático no acompanhamento com uma crian- ça quando você sustenta uma leitura da subjetivi- dade, não é? Por um outro lado, como médico, eu tenho a obrigação, eu tenho o direito até de fazer laudo. Então eu não posso também recusar esse laudo; a família tem direito de me solicitar um laudo e eu não posso escapar a isso eticamente, certo? Um psicanalista não faz laudo, mas um psiquiatra faz laudo. E nós não podemos ignorar que, da ma- neira como a coisa está constituída hoje, o laudo é um instrumento muitas vezes importante para criança, pois ele abre portas. Por exemplo: as es- colas para poder conseguir recurso, conseguir au- xílio, conseguir um professor a mais, um professor na sala de aula, têm de apresentar um laudo para determinado órgão do Ministério da Educação.

O diagnóstico é importante para abrir portas para o atendimento. Através do diagnóstico, você faz encaminhamentos dentro do plano de saúde, com o diagnóstico você consegue encaminhar para um ambulatório de especialidade dentro do serviço de saúde do município. Então, o diagnósti- co, o laudo não é uma coisa que podemos simples- mente nos furtar a fazer, né?

Vou tentar discutir um pouco como é que eu me viro com essa função do psiquiatra que é laudar, fazer um relatório, e que é tão catastrófi- co pra mim, porque se a criança se vê concernida num diagnóstico, isso é um risco de interromper o processo de trabalho com a divisão do sujeito, com sua subjetividade, com seus desejos. Ela pode ficar identificada com esse diagnóstico e não ter mais de lidar com as questões que esse sofrimen- to produz para ela. Esse sofrimento passa a ser identificado com diagnóstico e ele é exteriorizado, quer dizer, o remédio vai resolver, a escola vai re- solver, o professor auxiliar vai resolver e a criança fica desimplicada disso. E isso que eu acho que é um risco muito grande do do lado da criança.

Do lado da família a mesma coisa: a família não tem de se perguntar onde ela entra nessa his- tória, o que ela tem a ver com aquele sintoma; o

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