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76 muitas vezes, não era o que a professora queria,

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 77-79)

não é? Mas aí você fala, tem ganhos secundá- rios disso, eu diria que são estratégias para lidar com situações que estão estagnadas, que es- tão impossíveis de se mexer do ponto de vista de um indivíduo. Então, ela volta e pede outro afastamento, ela volta e potencializa, avalia na perícia o que ela está vivendo como estratégia para não adoecer de fato quando ela voltar para escola, porque ela vai voltar para mesma escola, mesmo jeito, com as mesmas questões. Estou só dando um exemplo da escola, aí vocês usam analogias com relação aos contextos de vocês. Então, queria marcar isso, o quanto a gente lidar com pessoas que adoecem nos seus processos de trabalho, só como pessoas que adoecem sem pensar qual é o nosso plano de intervenção nos últimos contextos adoecedores, aí volta para questão que eu trouxe na avaliação. Se a gen- te avalia a pessoa no contexto, ou se a gente avalia o processo de intervenção que a pessoa pode produzir lendo o contexto em que se insere a partir de sua condição. É a história que eu fa- lei aqui do plano de intervenção. Se a avaliação não produz este plano, ela vai lidar sempre com a produção do cenário que é estanque, em que muitas vezes a pessoa sai de lá sabendo quem ela é ou o contexto que a produziu, mas ela não sabe o que fazer com isso. Então, tem uma per- gunta que é: “posto isso que você entendeu sobre

a tua história, que que você vai fazer com isso?”,

para que esse processo de avaliação seja uma avaliação prospectiva e não só a posteriori.

Claudia: Mas eu queria dar só uma dica de referência bibliográfica, talvez pensando no que você traz, pensando nesse sujeito e qual a pos- sibilidade desse sujeito estar. Não com a pos- sibilidade de eu dar voz a ele, mas garantir sua voz, que é diferente, não sou eu que dou, mas eu garanto. Tem um instrumento chamado GAM (Guia de Gestão Autonoma de Medicação), que tem uma pesquisadora muito importante, a pro- fessora Ana Lis Palomeni, que é uma parceira, colega de residência e de vida, que vem traba- lhando com pesquisa e aí tu vai achar pelo nome dela, textos, o próprio GAM, tá disponível online. Há vários outros pesquisadores que trabalham com esse material que é pensar sobre, desde crianças, pensar sobre a sua medicação, eu me lembro de uma cena de uma parceira de traba- lho, que trabalha no Caps, que ela fala da cesta de medicação que o menino tomava, e aí ela me mandou uma foto, que era uma cesta concre-

ta, era um cesta de remédios, e se eu quiser sair hoje aqui e for a cinco consultórios, eu vou conseguir cinco indicações de medicamento e vou encher cestas e ninguém sabe o que que eu faço com aquilo. Mas a ideia da gestão autô- noma, coloca esse sujeito na primeira pessoa. Tem outros pesquisadores, para além da Ana Lis, a professora Carima também tem um traba- lho muito interessante, tem um artigo também pensando na relação com o Caps, ela é do Espí- rito Santo, então eu acho que é um instrumento, embora o nome seja estranho, eles discutem também sobre isso, guia, mas eu acho que ele é muito precioso para pensar essa questão. Ges- tão Autônoma de Medicamento.

Rosangela: Gente, pra quem tiver interes- sado, aqui na Unicamp, na Faculdade de Ciên- cias Médicas, a gente tem o GAM sendo utiliza- do, então é só entrar no site da Unicamp, vocês vão achar o material. Ele, inclusive, foi adaptado à população brasileira. Vem também do Canadá, então quem tiver interesse em conhecer o ma- terial, ele tá disponível, se vocês tiverem algu- ma dificuldade, eu tenho o material.

Cecília: Mais alguém? Então, eu gostaria de falar bem pouquinho, mas eu fui movida pela fala da Claudia, pelo seguinte: durante muitos anos, a gente discutiu, falou em várias pales- tras, escreveu muitos textos, eu e Maria Apare- cida Moysés, a respeito dessa questão da me- dicalização e principalmente da medicalização da educação. E eu acho que a nossa primeira etapa foi vencida, não no sentido de derrota- da, mas nós completamos essa fase, que foi exatamente a fase de estar apontando o que estava acontecendo, desmistificando aqueles absurdos diagnósticos que a gente tinha, de uma quantidade absurda de crianças dentro da escola, como se nós estivéssemos acabando com a normalidade entre as crianças brasileiras, né? Então, a gente teve esse desafio de des- vendar isso e estamos agora, através de outras colegas, e hoje a Claudia mostrou isso muito claramente. Quer dizer, o que fazemos? Então, nós já sabemos disso e dentro da área pedagó- gica o que é que nós temos de fazer para rever- ter essa situação? Então, eu acho que somos poucos ainda, mas nós vamos chegar lá, que é exatamente o de estar trabalhando pedagogi- camente e fazendo avaliações sucessivas para encontrar a melhora dos nossos alunos e não avaliando para simplesmente rotulá-los e deixá- los de lado. Então, eu fiquei muito feliz de ouvir

C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C a d e r n o s T e m áT iC o s C r P s P Psicologia em emerg ências e desastres C A D E R N O S T E M ÁT iC O S C R P S P P a

tologização e medicalização das vidas: reconheciment

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a fala da Claudia, porque é um alento para os educadores, e acho que é um alento para todas as outras profissões, porque, como a Biancha fez com o exemplo da professora para todas as outras profissões, eu acho que a Claudia mos- tra para todos os outros como a gente pode através do trabalho sério, científico, com bases teóricas potentes, poder trabalhar na prática e reverter essas situações que foram artificial- mente criadas. Porque nós, quase todos aqui, fomos alfabetizados pelo Caminho Suave e não aconteceu nada, somos todos capazes de ler, não é? Então, eu acho que é importante a gente pensar na simplicidade. Então, muito obrigada, eu acho que foi maravilhoso.

Biancha: Agradeço, agradeço a companhia da Claudia, do Rossano, da Cecília, agradeço a interlocução dessa manhã.

Rossano: Gente, também foi um prazer estar aqui com vocês. Só vou fazer um comen- tário, essa história que o Paulo falou e que vá- rios de vocês já falaram, as crianças já estão chegando à clínica pública e privada com os professores fazendo diagnóstico, não é? Então, acho que isso mostra duas coisas, como vocês já falaram na mesa de apresentação, o quanto a medicalização não precisa de médico obriga- toriamente, o quanto isso pode estar entreme- ado, a capilarização do biopoder que o Foucault falava, mas isso está na casa da gente, está no Jornal Nacional, está no dia a dia. A segunda coisa é como isso é consequência, entre outras coisas, daquilo que eu comentei, ou seja, a par- tir do DSM3 de checklist de fazer diagnóstico, ficou parecendo que é uma coisa relativamente simples, qualquer um com o mínimo de instrução olha e “é assim que faz diagnóstico? Então, as- sim eu sei fazer, é só ler para ver se tem tantos critérios, marcar x eu sei fazer, né? E pronto, o diagnóstico então se é assim, eu já faço na sala de aula, adianto o processo lá para o médico só botar o carimbo”, infelizmente muitas vezes é assim mesmo que as coisas têm acontecido.

Claudia: Eu só quero agradecer imensa- mente poder estar aqui nesse movimento. Diria assim, o que a escola pode fazer, o que a gente pode fazer para melhorar essa situação da es- cola? Eu diria multiplicar muitos Despatologiza, todo dia em cada cidade desse país, isso pode- ria nos dar alguma ajuda nesse processo. Estou muito feliz e contente de estar por aqui, isso é uma alegria pra mim. Obrigada.

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