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Leonardo Pinho

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 52-57)

Vice-presidente da Abrasme, Associação Brasileira de Saúde Mental e Presidente da Unisol

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Bom dia. Eu quero primeiro agradecer à pro- fessora Maria Aparecida Moysés e a toda or- ganização do encontro Despatologiza e cum- primentar as outras pessoas da mesa. É uma honra participar desse importante seminário. Sinto também, mas compreendo, a ausência do vereador Pedro Tourinho, nosso companheiro histórico nos Cebes, Centro Brasileiro de Estu- dos de Saúde, entidade criada por um pernam- bucano tornado paulista, Davi Capistrano, e um paulista tornado carioca, Sérgio Arouca. Quero agradecer também estar aqui, na verdade, eu sou presidente de honra da Abrasme, entidade que o Léo também é vice-presidente. Este é um título dado para quem já está velho nessa luta. O povo coloca o nome de sala de aula, Caps, eu só peço, como dizem da Nise da Silveira, que não coloque o meu nome num hospício, como fizeram com o nome dela num hospício no Rio de Janeiro. instituto Nise da Silveira é um hospí- cio; ainda esperaram a Nise morrer para botar o nome dela num hospício, uma histórica lutadora, importante lutadora antimanicomial.

Lá, na Abrasme, realizamos evento impor- tante, com quase 12 mil pessoas participando e teve uma mesa sobre a questão da patolo- gização e medicalização. E eu, nessa mesa, pude, com a Cida, frisar esse aspecto que eu acho o que Despatologiza traz de Campinas, porque durante muito tempo, o termo chave, a palavra chave, a palavra de honra desse movi- mento, foi o desmedicalização e medicalização. E esse termo, por uma série de aspectos, induz a dois problemas, duas limitações. Um proble- ma é medicamento, muitas pessoas associam medicalização ao uso de medicamento, e não

a toda apropriação médica e científica que se faz da vida, e que o termo patologização vem trazer. A questão nossa maior, o nome é des- medicar, só, e nem desmedicalizar no sentido da medicina, né? Eu, inclusive, como médico, sempre chamando a atenção disso, acho que a medicina também com todos os outros que se baseiam na ideia da patologia, corre o risco da patologização. Eu acho muito importante a coragem desse movimento aqui em Campinas, Despatolologiza, de enfrentar um desafio que é um certo paradoxo, nós somos profissionais da saúde que, paradoxalmente, vivemos da do- ença, nós vivemos da clínica. Quando a gente fala em patologização e medicalização, não fa- lamos só da indústria farmacêutica, da indústria de equipamentos, da indústria de diagnósticos, nós falamos também de nossos consultórios, falamos da nossa clínica particular e, muitas ve- zes, nós entramos no mesmo processo de pa- tologização. Vê-se muito isso com a questão da depressão, né? Muitas pessoas para quem nós poderíamos indicar a busca de outras formas de vida, de organização e de cuidado, acabam sendo aceitas e incorporadas como pacientes depressivos, aumentando as estatísticas e au- mentando, portanto, também a busca por tra- tamentos e por mercado. Eu acho que uma das grandes importâncias do Despatologiza é que ele abre uma perspectiva. inclusive esse livro da Abrasme, que a Cida tem capítulo, a Biancha também, eu sou o autor, sou o organizador, ele coloca como primeiro termo esse, despatolo- gização, medicalização da vida, epistemologia política. Além dos aspectos que são enfrenta- dos no conceitual, epistemológico, de rebater a esse processo universalizante e totalizante de

Paulo Amarante

Presidente do Grupo de Trabalho de Saúde Mental, na Abrasco

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tologização e medicalização das vidas: reconheciment

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patologização da vida, existe também toda a luta que isso representa de direitos humanos, de resistência à redução da vida à patologia, ao que se torna um mercado e tudo mais. Então, queria extrair essa importância do deslocamen- to do termo principal para despatologização, que ele pode nos abrir perspectiva e que acho que esse encontro é para fazer.

Não podia deixar de aproveitar para falar duas coisas, uma do José Rubens de Alcântara Bonfim, Presidente da Sobravime, fundador da Sobravime, Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos, que foi o primeiro presidente do Cebes. Ele nos chamou a atenção para uma coisa muito importante, que nós temos o hábito de fa- lar das três bancadas do B, da Bala, da Bíblia e do Boi. E o José Rubens chamou a atenção: agora, nós temos uma importante bancada que a gente não reconhece, que é a do quarto B, é a da Bula, a indústria de medicamentos e que tem um dos maiores lobbys dentro do Congresso Nacional. Visto agora, recentemente, a liberação das an- fetaminas para a obesidade, com retardador de

apetite, que no mundo inteiro está sendo proibi- do, e uma série de outras regulamentações.

E a outra coisa é convidá-los e convidá-las para o segundo seminário sobre epidemia das drogas psiquiátricas, que estamos organizando na Fiocruz. No ano passado foi um sucesso, nós tivemos mais de 3 mil acessos online. Vários de nós aqui, Sandro, Biancha, Cecília participaram; nós vamos fazer esse ano de 29 a 31 de outu- bro, embora num auditório desse tamanho, um pouquinho menor. Então não cabe todo mundo, a transmissão será ao vivo em um padrão de quali- dade muito importante, muito bom e a gente está sugerindo que, como aconteceu no ano passado, pessoas, professores, reúnam alunos, grupos de estudo, de debate para assistir e interagir, na medida que há facilidade de interação com os participantes da mesa. Já há vários brasileiros convidados e confirmados, como a Biancha, o Rogério, a Cida e outras pessoas, o João Vitti e a Laura Delano já confirmados, então importantes referências aí também da luta contra a medicali- zação da vida. Muito obrigado.

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Bom dia a todos e todas, aos colegas da mesa, à professora que nos brinda com mais um even- to de encontro Despatologiza, fundamental para pensarmos.

Eu vou falar do local da Faculdade de Educa- ção, as relações escolares. Nós celebramos esse evento e entendemos a riqueza desse encontro de pessoas de distintas áreas pensando numa mes- ma direção de desconstruir essa ideia patologi- zante, como bem disseram já vários aqui na mesa, da vida, não só da escola. Mas do lugar da escola, nós nos preocupamos bastante com um número crescente de laudos que temos tido de crianças que são encaminhadas para salas de acompa-

nhamento especial. Em especial, eu vivi isso essa semana com uma pessoa muito próxima e nós entendemos a importância dos cursos de forma- ção de professores nesse movimento. Então, ele é um movimento que discursivamente nós podemos construir novas referências, na tentativa de rom- per e deixar de produzir novas situações nas quais os sujeitos são colocados como responsáveis por questões que são amplas e sociais, e não individu- ais e singulares. Cada vez mais defendemos uma escola pública, laica, de boa qualidade para todos, não patologizante. Parabéns pelo evento, espero que tenhamos dois dias profícuos de trabalho e que tenhamos aí novas construções discursivas que nos levem pra outros caminhos. Parabéns.

Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto

Pedagoga pela Universidade Metodista de Piracicaba, mestrado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE/UNIMEP e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professora na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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Bom dia a todos e todas, e aos colegas de mesa, novamente nos encontramos. É bom falar por último, porque a gente não precisa mais fa- zer discussão conceitual, já foi falado. Então, eu vou falar um pouquinho do processo de resis- tência e de enfrentamento. O Conselho de Psi- cologia, tanto de São Paulo, quanto a subsede de Campinas, dá o total apoio a essa luta e ao movimento Despatologiza, já com oito edições do evento. Estamos juntos desde o primeiro en- contro e, especialmente em São Paulo, a gente está vivendo um ano de campanha que se en- cerra agora em novembro, que é a campanha de enfrentamento à medicalização e a patologiza-

ção da vida - Resistir Para Reexistir. Lá na fren- te temos o banner, trouxemos os folhetos que providenciamos pelo conselho. E o que o Rogé- rio fala é muito importante. Embora a discussão da patologização da vida seja para todos os profissionais que cuidam de si e das pessoas, em especial, estamos mandando um recado para nossa categoria que precisamos olhar com muito cuidado: que prática que a gente tem? Porque somos praticantes da patologização e da despatologização. É sempre uma questão de escolha, de olhar o mundo. Então, esse é o convite. Agradeço, então, de novo e espero que possamos continuar na luta lado a lado.

Rosangela Villar

Psicóloga com experiência em saúde pública e clínica.

Colaboradora do CRP SP nas áreas de Educação e Medicalização e militante do Despatologiza - Movimento pela Despatologização.

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