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Estratégias de coping: Preferência dos estudantes 38

Capítulo I: Stress e Coping 14

3. Stress: Factores Protectores 28 

3.1. Estratégias de Coping: Conceptualização 29 

3.1.2. Estratégias de coping: Preferência dos estudantes 38

Relativamente a estudos realizados com estudantes do Ensino Superior, Supe (1998) constatou que o stress era mais frequente em estudantes de Medicina que adoptavam como estratégias de coping a reavaliação positiva, a aceitação da responsabilidade e a resolução planeada de problemas. Os estudantes que recorriam a estratégias de fuga e distanciamento da situação evidenciavam menos stress.

Num estudo realizado com estudantes de enfermagem Kirkland (1998) constatou que as estratégias de coping mais frequentemente utilizadas pelos mesmos para lidarem com situações de stress se encontravam associadas ao coping activo e procura de suporte social de natureza instrumental e emocional, tendendo os estudantes a recorrerem com mais frequência a estratégias centradas nos problemas.

Num outro estudo com estudantes de Enfermagem em ensino clínico, Mahat (1998) constatou que estes recorriam mais a duas estratégias focalizadas no problema: resolução do problema e procura de suporte social do que a duas estratégias centradas nas emoções: redução da tensão e fuga-evitamento. Ou seja, os estudantes recorriam mais a estratégias de coping focadas nos problemas do que focadas nas emoções (Mahat, 1998).

Num estudo sobre stress e coping em estudantes de Enfermagem, Moreira (2000) verificou que a satisfação com o suporte social, referente à confiança e avaliação positiva das relações existentes, parece condicionar um menor uso de formas desadaptativas de

coping (coping passivo, coping evitante e raiva).

As estratégias de coping referidas como utilizadas com mais frequência pelos estudantes de Enfermagem foram, por ordem decrescente: o suporte social, o método da resolução de problemas e a aceitação de responsabilidades (Wongchai, 2000).

No que concerne às estratégias de coping utilizadas pelos estudantes dos três anos do curso de Enfermagem, Lo (2002) constatou que os mesmos referiram o recurso a estratégias de resolução de problemas, actividades recreativas e desportivas, suporte social e estratégias de redução da tensão.

Shipton (2002) verificou que as estratégias de coping utilizadas pelos estudantes de Enfermagem da sua amostra para lidarem com situações de stress compreendiam o relaxamento, distanciamento, fuga, procura de suporte social e confrontação com vista à resolução da situação.

Os estudos ao nível das estratégias de coping utilizadas pelos estudantes de Enfermagem durante o ECE têm sublinhado que as estratégias de coping focadas no problema são usadas mais frequentemente que as centradas na emoção (Sheu et al., 2002).

Ao nível dos comportamentos de coping utilizados para lidar com as situações de

stress em ECE, Sheu e colaboradores (2002) identificaram 4 categorias: comportamentos

de evitamento que compreendem os esforços de evitar as situações de stress; comportamentos de resolução do problema que se traduzem em esforços para lidar ou modificar a situação de stress; comportamentos optimistas de coping que consistem em tentativas para manter uma atitude positiva face às consequências da situação de stress e comportamentos de transferência, ou seja, esforços para mudar a atenção do indivíduo de uma situação de stress para outras questões. Os autores encontraram resultados mais elevados no comportamento optimista, indicando um uso mais frequente deste tipo de comportamento de coping por parte dos estudantes em ECE.

No seu estudo Tully (2004) constatou que os alunos de Enfermagem que expressavam níveis mais elevados de stress recorriam a estratégias de coping relacionadas com o desejo de que as circunstâncias fossem diferentes, a ingestão excessiva de alimentos e de bebidas alcoólicas, o tabagismo ou ingestão de medicamentos, a projecção da responsabilidade nos outros e/ou tentativas para esquecer a situação. Por outro lado, os estudantes que referiam níveis mais baixos de stress tendiam a utilizar mecanismos de coping centrados na resolução dos problemas, tais como conversar com outras pessoas, procurar ajuda, ou um conselho e segui-lo, promover alterações nas circunstâncias de modo a que a situação pudesse ser melhorada e resolver as questões paulatinamente.

Com base numa amostra de 401 estudantes do ES do 2.º ano de cursos das áreas das Ciências Sociais e Humanas, Economia e Gestão, Educação, Engenharia e Ciências do Ambiente e Nutrição e Enfermagem, Costa e Leal (2006) verificaram que os estudantes utilizam com mais frequência as estratégias de controlo (que implicam o auto- controlo da situação, a coordenação dos comportamentos ou actividades e a contenção das emoções) e de suporte social (abrange o pedido, desejo ou necessidade de ajuda em termos cooperativos, cognitivos e afectivos) comparativamente com as estratégias de retraimento (implica uma tendência para se isolar do mundo exterior, um esforço para não pensar no problema ou ter dificuldades em descrever as suas emoções e sentimentos), distracção e recusa (significa agir como se o problema não existisse,

aditividade (engloba a mudança, a nível dos comportamentos (em função do problema) ou das posições cognitivas (que permitem aceitar a situação ou aprender a viver com ela), a centralização na forma de resolver os problemas, após a sua análise e ainda a adopção de comportamentos de compensação (drogas, medicamentos, tabaco).

Num estudo com estudantes de Enfermagem, Seyedfatemi e colaboradores (2007) constataram que as estratégias de coping menos utilizadas para lidarem com o

stress incluíam o fumar, consumir bebidas alcoólicas e medicamentos, procurar ajuda

profissional e jogar jogos de vídeo, sendo as mais frequentes as estratégias centradas nos problemas.

Recorrendo a uma metodologia de registos diários Aldridge e Roesch (2008) verificaram que os adolescentes recorriam com mais frequência à estratégia de coping resolução planeada da situação e com menos frequência ao humor. As estratégias de

coping de aproximação foram usadas pelos adolescentes com mais frequência, sendo as

estratégias de coping centradas no evitamento usadas menos frequentemente.

Os autores constataram que os adolescentes que afirmaram usar com mais frequência estratégias directas de resolução dos problemas, pensamento positivo, aceitação e humor, referiram mais afecto positivo. Os adolescentes que afirmaram usar mais frequentemente o coping religioso, o distanciamento e a aceitação, referiram mais afecto negativo.

Os autores registaram, ainda, uma heterogeneidade no uso das estratégias de

coping; ou seja, os estudantes tendem a utilizar uma diversidade de estratégias para

lidarem com as situações de stress com as quais se deparam diariamente (Aldridge & Roesch, 2008).

Aldridge e Roesch (2008) não encontraram diferenças associadas ao sexo nas estratégias de coping.

A idade e o sexo têm sido referidos como variáveis que podem influenciar o recurso a determinadas estratégias de coping.

Os estudantes do ensino superior mais novos que relatavam maior stress académico recorriam com mais frequência a estratégias centradas nas emoções (Heiman & Kariv, 2004). Piko (2001) constatou a existência de uma tendência relacionada com a idade, ou seja, à medida que a idade avança assiste-se à diminuição da procura de suporte social, o que poderá traduzir a necessidade de autonomia.

teórica e prática. De facto, estudos diversos têm revelado que as mulheres tendem a utilizar mais as estratégias de coping centrado nas emoções (Washburn-Ormachea & Hillman, 2000).

As estudantes estagiárias tendem a recorrer predominantemente a estratégias de

coping auto-centradas, enquanto que os seus colegas rapazes parecem utilizar mais

estratégias de coping focadas nos outros (Francisco, 2009).

As diferenças associadas ao sexo no uso da estratégia de coping relativo ao suporte social estão bem documentadas na literatura, sendo que as raparigas tendem a recorrer mais à procura de suporte social do que os rapazes (Piko, 2001; Tamres, Janicki & Helgeson, 2002; Amirkhan & Auyeung, 2007).

No que respeita ao efeito do sexo nas estratégias de coping, Costa e Leal (2006) verificaram diferenças significativas ao nível do suporte social (com média superior para as raparigas), da distracção/recusa e da conversão/aditividade (com médias mais elevadas para os rapazes). Para lidar com as situações indutoras de stress, parece que as jovens optam por manter relações fortes, quer com a família, quer com os pares, procurando apoio e partilhando os sentimentos, enquanto os rapazes optam por agir como se o problema não existisse, desenvolvendo actividades para se distraírem e mudando os seus comportamentos e até as suas posições cognitivas de modo a melhor aceitarem a situação, além de adoptarem comportamentos de compensação (álcool, drogas e tabaco).

O estilo de coping pode representar uma das várias variáveis pessoais que condiciona diferenciadamente os homens e as mulheres, enquanto resultado de processos culturais (Blalock & Joiner, 2000).

A hipótese de socialização tem sido colocada por alguns investigadores como uma explicação possível para as diferenças observadas no coping em função do sexo (Ptacek, Smith & Zanas, 1992). Tal hipótese prediz que, de um modo geral, os homens têm tendência para se envolver em coping mais orientado para a resolução do problema, enquanto que as mulheres parecem recorrer com mais frequência ao coping orientado para o controlo dos estados emocionais relacionados com a situação de stress (Swickert & Hittner, 2009).

Associando-se consistentemente aos estereótipos, expectativas e valores atribuídos aos papéis sexuais, as raparigas são encorajadas a estabelecer relações de proximidade, cuidado e expressividade emocional e a procurar ajuda e suporte dos

sexuais masculinos, que sublinham a independência e a inexpressividade emocional afastam os homens das actividades de suporte social. Quando solicitam ajuda, os papéis sexuais contribuem para que as mulheres se sintam confortáveis e os homens fracos e dependentes, o que poderá contribuir para inibir os indivíduos do sexo masculino na manifestação de comportamentos de ajuda (van Well & Kolk, 2007). Ao invés, são encorajados a envolverem-se em métodos mais instrumentais, independentes, racionais e directos para fazerem face a situações indutoras de stress.

De acordo com as definições tradicionais de masculinidade e feminilidade, os homens parecem recorrer mais a estratégias de coping focadas nos problemas, tentando controlar as suas emoções e a situação, procurando focar-se em aspectos positivos da situação e envolvendo-se em esforços individualizados de resolução do problema (Byrne, 2000). As raparigas tendem a utilizar mais estratégias centradas nas emoções, através das quais expressam as suas emoções, focando-se nos aspectos negativos da situação e procurando suporte social (Byrne, 2000; Kort-Butler, 2009).

O tipo de estratégias de coping utilizado pelos indivíduos é determinado em larga medida pelo seu nível de optimismo (Scheier & Carver, 1985; Nes & Segerstrom, 2006), dado que o mesmo influencia a avaliação dos stressores (Chang, 1998b) e o desenvolvimento das estruturas sociais (Brissette et al., 2002), dois factores que, por sua vez, auxiliam no processo de coping com os stressores.

Folkman e Moskowitz (2000b) consideram que as abordagens contextuais do

coping são unânimes ao considerarem que o coping: a) tem múltiplas funções incluindo,

mas não só, a regulação do stress e gestão dos problemas que causam stress; b) é influenciado pela avaliação das características do contexto de stress incluindo a sua controlabilidade; c) é influenciado pelas características de personalidade, incluindo o optimismo, o neuroticismo e a extroversão e; d) é influenciado pelos recursos sociais.

Nem todos os indivíduos reagem às situações de stress da mesma forma. Determinados aspectos têm sido identificados como exercendo um efeito de diminuição ou intensificação da influência do stress na saúde, tais como o suporte social (Button, 2008). As teorias do suporte social estão interligadas com os conceitos de stress e de

coping. A avaliação cognitiva do stress depende, em parte, da disponibilidade percebida

dos recursos sociais. Para além disso, a mobilização do suporte social pode ser compreendida como uma estratégia de coping (Schwarzer & Rieckmann, 2002).

Dada a importância do suporte social na gestão do stress, este factor que irá ser abordado no ponto seguinte.