• Nenhum resultado encontrado

Suporte Social: Implicações na saúde e bem-estar 50 

Capítulo I: Stress e Coping 14

3. Stress: Factores Protectores 28 

3.2. Suporte social: Conceptualização 43 

3.2.2. Suporte Social: Implicações na saúde e bem-estar 50 

O suporte social é reconhecido como um dos principais determinantes da saúde física e mental (Badoux, 2000; Schwarzer & Rieckmann, 2002; Bancila, 2006).

A disponibilidade dos outros constitui um processo chave na mediação da relação entre stress e saúde (Button, 2008). Com efeito, a percepção da disponibilidade do suporte social tem estado consistentemente associada a uma melhor adaptação fisiológica e psicológica (Wimberly, Carver & Antoni, 2008).

Em geral, associações entre suporte social e saúde podem ser devidas a efeitos directos ou indirectos do suporte social e estes, por sua vez, podem ser benéficos ou prejudiciais. Também tem sido postulado que o suporte social parece revelar os seus efeitos benéficos na saúde apenas em momentos de stress na medida em que serve de amortecedor/protector do impacto negativo das situações stressantes com as quais as pessoas se confrontam (Schwarzer & Rieckmann, 2002).

Os indivíduos que estão bem integrados e recebem suporte social têm uma maior longevidade e são mais saudáveis (Schwarzer & Rieckmann, 2002). Tal estará relacionado com a capacidade das redes sociais apoiarem as pessoas durante as situações de stress.

As pessoas socialmente integradas parecem estar menos predispostas a desenvolverem problemas de saúde, uma vez que possuem um leque de recursos sociais mais vasto ao qual podem recorrer em caso de necessidade, ajudando-as a lidarem com as situações que vão surgindo, tornando-as assim menos vulneráveis (Östberg & Lennartsson, 2007).

Apesar da diversidade de definições, parece haver consenso no que se refere à importância do suporte social na diminuição dos efeitos nefastos do stress, bem como na promoção do bem-estar e qualidade de vida do indivíduo (Pais-Ribeiro, 1999).

A percepção do suporte social é um constructo psicológico importante que tem repercussões ao nível do desenvolvimento humano e da adaptação (Pinheiro & Ferreira, 2001).

Esta dimensão subjectiva da percepção do suporte social condiciona o nível de satisfação dos indivíduos relativamente à sua vida social, variável que melhor explica os resultados de saúde, bem-estar e qualidade de vida (Pais-Ribeiro, 1999; Lo, 2002).

O suporte social percebido emerge, de um modo geral, como mais importante do que o suporte recebido em termos de ajustamento a acontecimentos de vida stressantes (Wethington & Kessler, 1986).

Santos, Pais-Ribeiro e Lopes (2003) constataram que a satisfação com o suporte social se correlaciona com o processo de adaptação à doença oncológica e aos resultados de saúde, mais concretamente ao nível da qualidade de vida.

É possível que as pessoas que se percebem a elas próprias como tendo facilmente acesso a suporte sejam mais prováveis que outras a solicitar comportamentos de apoio quando uma situação de crise ocorre nas suas vidas ou quando se deparam com situações indutoras de stress.

Singer e Lord (1984 citados por Pais-Ribeiro, 1999) identificaram quatro grandes categorias na relação entre suporte social e saúde: (1) o suporte social protege contra as perturbações induzidas pelo stress, tratando-se de uma variável concebida como mediadora ou moderadora do stress; (2) a não existência de suporte social é ela própria geradora de stress; (3) a perda de suporte social é uma condição indutora de stress; (4) o suporte social é benéfico constituindo-se como um recurso aquando do confronto com as diversas situações de vida.

Os estudos em torno do suporte social têm contribuído para a compreensão do papel fundamental da percepção do suporte social como um factor fortemente preditivo da saúde, funcionando como mediador do impacto das situações perturbadoras ou adversas no bem-estar físico e emocional (Cohen & Wills, 1985; Sarason et al., 1990).

O impacto de situações adversas vivenciadas pelos indivíduos será atenuado sempre que este processo relacional é activado. A satisfação com o suporte social pode, desta forma, influenciar as respostas ao stress (Ah, Kang & Carpenter, 2007).

Sarason e colaboradores (1990) sublinharam a possibilidade da percepção de suporte social constituir uma fonte protectora em relação a determinadas situações de

stress. Os mesmos autores defendem que a qualidade das relações interpessoais parece

exercer uma influência significativa a níveis tão diversos como o fisiológico, o psicológico e o social.

amigos e intimidade) tem um papel importante na resistência psicológica ao stress, manifestada através da percepção subjectiva de bem-estar.

Um suporte social elevado surge como tendo um papel protector e amortecedor na doença física e mental. Em contrapartida, um suporte social baixo tem estado fortemente associado a níveis elevados de stress, ansiedade, depressão, perturbações de stress pós-traumático e morbilidade e mortalidade médica (Southwick et al., 2005). Neste sentido, importa o desenvolvimento de intervenções destinadas a enriquecer as redes de suporte social.

As diferentes maneiras de operacionalizar e medir o conceito de suporte social reflectem, fundamentalmente, dois modelos explicativos quanto à relação entre o suporte social e a saúde.

Para explicar o efeito benéfico do suporte social no bem-estar, Cohen e Wills (1985) propuseram dois modelos de suporte social: o de efeito directo (main or direct-

effect model) e o de efeito amortecedor/protector do stress (buffering model).

O modelo do efeito principal ou directo considera que o suporte social tem efeitos

benéficos independentemente do facto da pessoa estar ou não sob stress ou a vivenciar uma situação adversa. Ou seja, a associação positiva entre o suporte social e o bem- estar é atribuído a um efeito benéfico geral do suporte social. Neste caso, o simples facto das pessoas participarem numa rede de relações sociais, produz efeitos positivos ao nível do bem-estar físico e emocional (Cohen & Wills, 1985).

De acordo com este modelo, o apoio social é uma variável antecedente ou simultânea e o seu efeito é positivo, independentemente da presença de stress. Nesta perspectiva, o suporte social tem como efeitos aumentar o bem-estar emocional e físico dos indivíduos, ou diminuir a probabilidade de efeitos negativos neste domínio. Defende- se que o apoio social tem efeitos em alguns processos fisico-psicológicos e que facilita a adesão a comportamentos de promoção da saúde. Ao mesmo tempo considera-se que a integração social providencia identidade e recursos para uma auto-avaliação positiva, o que, por sua vez, proporcionará um aumento da percepção de controlo e de eficácia, reduzindo a experiência de ansiedade. A redução da ansiedade, do desamparo e do desespero pode resultar em comportamentos promotores de saúde.

O modelo amortecedor do stress postula que o suporte social enquanto recurso externo, refere-se ao modo através do qual as relações sociais protegem o indivíduo dos efeitos nefastos do stress (Pais-Ribeiro, 1999; Gillespie et al., 2001; Southwick et al., 2005). Ou seja, este modelo postula que sob stress, a presença de laços sociais protege

os indivíduos do impacto de uma situação stressante, amortecendo as respostas potencialmente prejudiciais. Neste caso, a associação positiva entre o suporte social e o bem-estar é atribuído a um processo de suporte que protege os indivíduos dos efeitos potencialmente adversos das situações indutoras de stress.

De acordo com o modelo do efeito amortecedor ou protector, o suporte social intervém como variável mediadora na relação entre o stress e a doença, podendo reduzir ou eliminar os efeitos negativos do stress (Pais-Ribeiro, 1999). São propostas duas explicações quanto à maneira como este efeito protector pode ocorrer.

Numa primeira explicação, o apoio social permite aos indivíduos redefinir a situação indutora de stress e enfrentá-la mediante estratégias não stressantes, ou então inibindo os processos psicopatológicos que poderiam desencadear-se na ausência de suporte social.

A segunda perspectiva, incide sobre os processos avaliativos primários, evitando que os indivíduos avaliem uma dada situação como sendo stressante. O facto de um indivíduo ter a certeza de que dispõe de muitos recursos materiais ou emocionais pode evitar que essa pessoa defina uma situação como sendo stressante, apesar de esta poder ser assim definida por outros. Esta não-definição evita que se gerem respostas psicofisiológicas que, por sua vez, se reflectem na saúde.

Segundo Kaplan (1993), neste modelo os componentes essenciais para que a doença surja são o stress elevado e o baixo suporte social. Nas situações em que há elevado stress e suporte social, o impacto do stress será absorvido ou amortizado.

A investigação conclui pela existência de evidência consistente com ambos os modelos. Evidência para o modelo do efeito principal é encontrada quando a medida do suporte avalia o grau de integração da pessoa numa larga rede social (Cohen & Wills, 1985). Evidência para o modelo protector é encontrada quando as medidas de suporte social avaliam a percepção da disponibilidade dos recursos interpessoais, responsivos às necessidades decorrentes das situações stressantes.

O suporte social de boa qualidade tem um efeito atenuante em relação ao stress e protege a pessoa na sua saúde e bem-estar (Vaz-Serra, 1999). O suporte social reduz ou amortece o impacto psicológico adverso da exposição a situações de vida stressantes e das exigências contínuas da vida (Cohen & Wills, 1985; Lo, 2002).

O suporte social não é apenas importante após o indivíduo estar sob stress, sendo igualmente importante na prevenção das situações de stress (Pais-Ribeiro, 2007).

que tinham uma percepção elevada de suporte social por parte da família referiram níveis também mais elevados de ajustamento à vida universitária

Na tentativa de gerir o stress com o qual se confrontam, os estudantes recorrem a uma variedade de fontes e tipos de suporte (Darling et al., 2007).

Pessoas com redes de suporte social mais fortes têm menos probabilidades de serem afectadas negativamente pelo stress elevado e consequentes implicações na saúde física e psicológica, quando comparadas com aquelas que têm um suporte inadequado (Lazarus, 1999).

Estudos mostram que as pessoas que se consideram como recebendo mais suporte social (família, amigos, vizinhos, colegas, etc.) têm maior capacidade para lidar com o stress. Esse apoio tem influência na maneira como a pessoa encara os acontecimentos stressores e como aprende a lidar com eles e, por conseguinte, leva ao aumento da confiança em si própria. Neste caso, são as mulheres as mais beneficiadas, pois em geral parecem receber mais suporte social do que os homens.

A percepção de suporte social, em que a pessoa crê de que pode dispor de apoio, se necessário, tem mostrado de forma consistente uma relação positiva com a sensação de bem-estar do indivíduo (Cutrona, 1996). Por seu lado, o isolamento social e níveis de apoio social baixos têm surgido associados a níveis de stress mais elevados e a algumas doenças tais como a hipertensão, a diabetes e os comportamentos aditivos. O isolamento também surge associado a um decréscimo na saúde mental, vitalidade, funcionamento emocional e desempenho de papéis sociais (Coelho & Pais-Ribeiro, 2000; Santos et al., 2003).

O suporte social percebido como disponível por outros significativos surge consistentemente associado ao bem-estar (relação positiva) e a sintomas de doença física ou psíquica (relação negativa) (Cohen & Wills, 1985).

O suporte social tende a aumentar a auto-estima, a promover o humor positivo, o optimismo e a diminuir o stress, os sentimentos de solidão e de fracasso (Pinheiro & Ferreira, 2002), contribuindo para o bem-estar do indivíduo (Canavarro, 1999).

O suporte social pode melhorar o coping e moderar o impacto de stressores sendo que níveis elevados de suporte social estão associados a níveis mais baixos de

stress (Brissette et al., 2002; Wimberly et al., 2008).

O suporte social é referenciado como um factor protector não só da doença coronária como também da morbilidade e mortalidade nos resultados de saúde em geral,

(Gonçalves, Paiva, Leal & Gomes, 2004). A existência de relacionamentos satisfatórios e compensadores tem sido referida como um dos principais factores que exercem influência na saúde física, bem-estar emocional e desempenho profissional.

A percepção de suporte social tende a surgir correlacionada de forma positiva com a resiliência e de forma negativa com a depressão (Bruwer, Emsley, Kidd, Lochner & Seedat, 2008).

As pessoas que referem receber suporte instrumental e emocional dos outros quando precisam experienciam níveis de stress e de sintomas depressivos mais baixos do que aqueles que não recebem (Cohen & Wills, 1985; Mosher, Prelow, Chen & Yackel, 2006).

Sistematizando, o suporte social tem sido um dos processos psicossociais amplamente estudado na relação com a saúde e a doença. É um dos factores mais citados como protector do stress, quer modificando os efeitos potencialmente negativos do mesmo, quer reduzindo o stress em si ou facilitando os esforços do indivíduo para lidar com o mesmo (Magaya et al., 2005; Quick et al., 2006).

Não obstante a diversidade de definições em torno do conceito de suporte social, o mesmo tem sido referido como tendo efeitos positivos em diversos domínios, incluindo a saúde física, o bem-estar psicológico e as funções sociais.

Um número de factores que ajuda a lidar e a compensar as dificuldades na adaptação psicossocial às situações de stress têm sido salientados. Assim, para além do

coping e da rede de suporte social, a investigação tem também centrado a sua atenção

nas características pessoais na exposição e na reacção a situações de stress (Hammen, 2005), nomeadamente na orientação de vida positiva e optimista (Scheier & Carver, 1985; Scheier, Weintraub & Carver, 1986; Thoits, 1995). No próximo ponto incidiremos a análise na auto-estima e no optimismo.