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Capítulo I: Stress e Coping 14

3. Stress: Factores Protectores 28 

3.3. Auto-Estima e Optimismo-Pessimismo 55

3.3.2. Optimismo-Pessimismo: Conceptualização 58 

O campo da Psicologia Positiva tem vindo a assumir-se como um domínio de investigação crescente (Seligman, 2002; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Marujo, Neto e Perloiro, 2003).

No âmbito da valorização da experiência subjectiva, a Psicologia Positiva, está relacionado com o bem-estar, contentamento e satisfação (com o passado), esperança, confiança e optimismo (em relação ao futuro) e alegria e felicidade (no presente) (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000).

A Psicologia Positiva visa catalisar a mudança no foco da Psicologia descentrando a sua preocupação dos aspectos negativos da vida para enfatizar a importância de construir qualidades positivas (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Seligman, 2005). Desta forma, não se limita ao estudo da doença, fragilidade e danos, mas constitui

menos bem, mas aposta na construção do que está certo (Duckworth, Steen & Seligman, 2005; Seligman, 2005).

A Psicologia Positiva refere-se assim ao estudo científico de experiências positivas e traços individuais positivos estando intimamente relacionada com o bem-estar e satisfação, constituindo-se como um contributo fundamental para ultrapassar com qualidade as situações com as quais o indivíduo se confronta (Duckworth et al., 2005; Seco, 2005). Pretende-se assim promover o estudo científico da força humana, da resiliência e do funcionamento humano óptimo.

As características positivas da personalidade podem ser vantajosas para enfrentar os problemas do quotidiano e do stress com implicações claras ao nível da saúde (Martins & Paúl, 2006). Maior felicidade e contentamento conduzem a maior sucesso na vida, a uma melhor saúde e relacionamentos mais gratificantes (Frisch, 2006).

O pensamento positivo tem sido considerado como um recurso interno que contribui para ultrapassar as dificuldades e adversidades com que as pessoas se deparam nas suas vidas, protegendo-as do stress (Folkman & Moskowitz, 2000a; Ah et

al., 2007). Esperar resultados positivos na sua própria vida parece ser um aspecto

importante da natureza humana, com efeitos na saúde física e mental (Fischer & Chalmers, 2008).

Seligman (2002; 2005) é um dos autores que tem salientado a importância da Psicologia Positiva no desenvolvimento de programas de prevenção do stress. A sua perspectiva inclui estratégias cognitivas que possibilitem ao indivíduo o desprendimento de crenças negativas acerca do seu passado, o desenvolvimento de crenças realistas acerca do presente e a implementação de forças para lidar com os desafios do futuro.

As forças humanas positivas, tais como a coragem, abertura de espírito face ao futuro, optimismo, aptidões interpessoais, confiança, esperança, honestidade, perseverança, entre outras, actuam como amortecedoras das doenças mentais. De acordo com Seligman (2005) ao se identificar, amplificar e concentrar a atenção nestas forças junto de pessoas em risco estar-se-á a fazer uma prevenção eficaz das principais perturbações emocionais.

A orientação ou perspectiva de vida positiva tem sido considerada como promotora e sustentadora do bem-estar, facilitando a convicção de que os obstáculos podem ser confrontados e ultrapassados com sucesso (Fontaine, Manstead & Wagner, 1993). Para ajudar a reconhecer esta possibilidade, Carver e Scheier (1981 citados por

do comportamento, segundo a qual as expectativas de resultados bem sucedidos levam as pessoas a renovarem e a manterem os seus esforços mesmo face a obstáculos ou contrariedades. Pelo contrário, se as expectativas pessoais forem desfavoráveis, os indivíduos tendem a reduzir os seus esforços e a desprenderem-se da prossecução dos seus objectivos, especialmente aquando do confronto com impedimentos.

Considerando que a maioria das questões e actividades humanas são complexas e multideterminadas Scheier e Carver (1985) julgam ser mais útil medir as expectativas mais gerais ou globais. Com esta finalidade, apresentam o termo optimismo disposicional e desenvolveram o Life Orientation Test (LOT), com o objectivo de avaliarem a expectativa generalizada acerca de resultados/consequências futuras, traduzindo-se numa expectativa geral de que o futuro irá ser positivo.

Scheier e Carver (1985) começaram a investigar a possibilidade do optimismo, perspectivado enquanto uma característica estável da personalidade, ter implicações no modo como as pessoas regulam as suas acções. O optimismo disposicional, conceptualizado como um constructo pessoal, traduz as expectativas de resultados positivos, com importantes implicações para a saúde.

O optimismo-pessimismo tem sido avaliado por Scheier e Carver, (1985) como apresentando pólos opostos de um continuum unidimensional. Elevado optimismo/baixo pessimismo parece manter as pessoas envolvidas em esforços para atingir os objectivos desejados e promover estratégias de coping adaptativas (Scheier & Carver, 1985). Para além disso, o optimismo é referido como desempenhando um papel protector aquando do confronto com dificuldades na vida, tais como as situações de doença.

O optimismo-pessimismo refere-se a uma predisposição emocional e cognitiva generalizada para pensar e reagir emocionalmente aos outros, acontecimentos e situações de uma maneira positiva e favorável e, de uma forma geral, esperar resultados positivos e benéficos em detrimento de resultados negativos, maus e nefastos (Mehrabian, 1998). Desta forma, os optimistas têm mais probabilidades de acreditarem que coisas boas, ao invés de coisas más, estão frequentemente a acontecer-lhes e irão continuar a acontecer. Pelo contrário, os pessimistas estão mais propensos a perspectivar e a experienciar os acontecimentos presentes e futuros de modo negativo, ou seja, para sentir e pensar que os maus momentos e situações superam os bons e que os resultados futuros são prováveis de serem negativos e maus (Mehrabian, 1998).

O optimismo disposicional, tipicamente classificado como um traço estável de personalidade, traduz-se num humor ou atitude geral positiva e numa tendência a

antecipar um desfecho favorável das situações de vida (Scheier & Carver, 1992; (Andersson, 1996; Burke, Joyner, Czech & Wilson, 2000). Trata-se de uma expectativa positiva e generalizada de que o indivíduo vai experienciar resultados positivos no futuro. É a tendência para acreditar e ter esperança que as situações se irão resolver de forma positiva (Dossey, 2006a).

Outros estudos consideram o optimismo-pessimismo não como um constructo unidimensional, mas enquanto duas dimensões parcialmente independentes. Por exemplo, aquando de uma situação de diagnóstico de cancro, Pinquart, Fröhlich e Silbereisen (2007) constataram que era mais importante ser menos pessimista do que ser optimista. Nesta perspectiva, o optimismo e pessimismo constituem dois factores distintos, ainda que interligados. Por conseguinte, o indivíduo pode não ser pessimista mas tal não implica, necessariamente, que seja optimista e vice-versa.

Importa proceder à distinção entre optimismo funcional e defensivo. O optimismo funcional é expresso pelas firmes crenças na própria capacidade para lidar com os desafios e com as adversidades. O optimismo defensivo traduz a percepção de risco enviesada, referente à crença de que as situações menos boas só acontecem aos outros, que o risco de acontecer ao próprio é menor do que de acontecer aos outros (Schwarzer, 1998). No âmbito deste trabalho quando nos estamos a reportar ao optimismo, estamos a fazer referência ao optimismo funcional.

O optimismo é uma qualidade da personalidade sendo influenciada geneticamente, mas também pelas circunstâncias e experiências, nomeadamente aquelas que ocorrem nos primeiros anos de vida (Carver & Scheier, 1999; Grote et al., 2007).

Peterson (2000) considera o optimismo como envolvendo componentes cognitivas, emocionais e motivacionais. O optimismo surge como um aspecto inerente à natureza humana, estando associado a características psicológicas benéficas, tais como humor positivo, perseverança, realização e a melhor saúde física (Peterson, 2000).

A essência do optimismo é esperar que acontecimentos bons aconteçam no futuro e trabalhar no sentido da sua concretização (Peterson & Seligman, 2004).

O optimismo influencia o modo como as pessoas interpretam os acontecimentos nas suas vidas o que, por sua vez, afecta as suas experiências subjectivas aquando do confronto com os problemas. Influencia igualmente as acções que os indivíduos empreendem para lidarem com as adversidades. Quando as pessoas se confrontam com

emoções, variando da excitação e entusiasmo à raiva, ansiedade e depressão. O equilíbrio entre estes sentimentos parece estar relacionado com o grau de optimismo ou pessimismo das pessoas (Carver & Scheier, 1999; 2005; Scheier & Carver, 1992; 2003).

Os optimistas e os pessimistas diferem assim na forma como encaram os problemas e os desafios e no modo como lidam com a adversidade (Chang, 2001; Carver & Scheier, 2002; 2005).

Os optimistas acreditam que os objectivos desejados são atingíveis e, nesse sentido, irão ultrapassar as dificuldades de modo a concretizá-los, de uma forma bem sucedida, esperando um resultado positivo dos seus esforços. Quando se deparam com um desafio de qualquer ordem, os optimistas tendem a adoptar uma postura de confiança e persistência, mesmo se o progresso ou a evolução se afigura difícil ou morosa.

Os pessimistas são pessoas que tendem a manter expectativas mais negativas perspectivando os objectivos desejados como inatingíveis, antecipando um desfecho desfavorável. Neste sentido, quando confrontados com as dificuldades deixam de empreender esforços no sentido da sua concretização (Carver & Scheier, 1999; Carver & Scheier, 2002; Carver & Scheier, 2005). Os pessimistas tendem a ter mais dúvidas e a serem mais hesitantes (Szalma, Hancock, Dember & Warm, 2006).

Com uma disposição optimista, Ben-Zur (2003) verificou que o indivíduo tende a ter expectativas positivas face à realização de objectivos o que, por sua vez, afecta a sua motivação e a quantidade de esforço que dispende para concretizar as mesmas. As pessoas que perspectivam os resultados desejados como alcançáveis continuam a esforçar-se para alcançar esses objectivos, mesmo que isso se afigure difícil. O optimismo traduz a manutenção da probabilidade subjectiva de que um resultado desejado ocorrerá.

Em diferentes níveis de situações de stress, os indivíduos optimistas tendem a referir níveis mais baixos de stress (Nes & Segerstrom, 2006), sugerindo que os optimistas diferem no processo de avaliação primária. Chang (1998b) constatou que os optimistas e os pessimistas também diferiam na avaliação secundária dos stressores, sendo que os optimistas tinham mais probabilidades de avaliar os seus recursos ou opções para lidar eficazmente com os stressores.

Os optimistas experienciam menos stress que os pessimistas quando confrontados com dificuldades na sua vida. Tal poderá estar relacionado com as estratégias às quais os optimistas e pessimistas recorrem e ao significado que atribuem às mesmas (Carver & Scheier, 1999). Além disso, a investigação sugere que o coping

pode ser uma das formas pelas quais as diferenças individuais no optimismo levam à produção de resultados adaptativos. Isto é, evidências provenientes de diversas fontes revelam que os optimistas e pessimistas podem ser diferenciados em termos das estratégias de coping a que recorrem, quando confrontados com situações de stress (Scheier et al., 1986; Scheier, Magovern, Abbott, Matthews, Owens, Lefebvre & Carver, 1989).

Assim, os optimistas usam estratégias de coping construtivas incluindo coping activo, planificação e procura de suporte instrumental, especialmente quando as situações stressantes são percepcionadas como sendo passíveis de controlo. Quando a situação de stress é percepcionada como estando fora de controlo, os optimistas tendem a recorrer ao uso da estratégia de visualização e reenquadramento positivo, ao humor e tendem a aceitar a realidade da situação stressante (Aspinwall & Taylor, 1992; Scheier et

al., 1994; Chang, 1998b; Brissette et al., 2002; Mosher et al., 2006; Nes & Segerstrom,

2006).

Os optimistas tendem a enfatizar os aspectos positivos e favoráveis da situação de stress e a estarem menos centrados nos aspectos negativos da sua experiência, emoções negativas e sintomas físicos (Aspinwall & Taylor, 1992; Brissette et al., 2002; Mosher et al., 2006).. Tendem também a implementar estratégias centradas nas emoções mais adaptativas, quando as situações são consideradas incontroláveis. Apesar de aceitarem a realidade dos acontecimentos de stress, os optimistas referem também que tentam ver o que de melhor existe nas situações más e retirar uma aprendizagem das mesmas (Aspinwall & Taylor, 1992; Carver & Scheier, 2002).

Por sua vez, os pessimistas tendem a lidar com o stress recorrendo a estratégias menos adequadas, tais como a negação, descarga emocional e desprendimento mental e comportamental dos objectivos com os quais a situação de stress interfere (Scheier & Carver, 1992). O pessimismo está associado a um maior uso de estratégias de coping centradas nas emoções, as quais traduzem uma tentativa de reduzir as manifestações emocionais causadas pelos stressores. Assim, tendem a negar as situações e consumir substâncias, estratégias que diminuem a sua consciência do problema. Um uso crónico de respostas de evitamento é típico dos pessimistas, que tendem a centrar a sua atenção directamente nos aspectos negativos da sua experiência e nas emoções negativas.

Carver e Scheier (2002) referem que, quando comparados com os pessimistas, os optimistas evidenciam níveis mais elevados de persistência nas tarefas em que se

envolvem. Em situações difíceis, mesmo que alguns dos resultados sejam frustrantes, mostram uma resistência maior perante a adversidade.

Sistematizando, de um modo geral, os optimistas tendem a ser activos no processo de coping, enquanto que os pessimistas tendem a ser mais evitantes (Carver, Scheier & Weintraub, 1989; Fontaine et al., 1993; Mosher et al., 2006).

A investigação tem revelado que o optimismo se associa de forma positiva ao uso de coping activo (coping focado no problema e reinterpretação positiva) e negativamente a esforços de coping evitantes (negação, fuga e distanciamento da situação) (Fontaine et

al., 1993; Scheier et al., 1994; Aspinwall & Taylor, 1997; Brissette et al., 2002).

Este padrão de associação sugere que o optimismo pode ser um determinante das estratégias que as pessoas usam para lidarem com o stress. É igualmente plausível que certas formas de coping influenciem ou mesmo determinem o nível individual de optimismo ou controlo percebido (Fontaine et al., 1993).

Os optimistas não só usam estratégias de coping focadas nos problemas, mas também recorrem a uma variedade de estratégias focadas nas emoções, incluindo esforços para aceitar a realidade da dificuldade da situação e interpretar a mesma da melhor forma possível. Os optimistas podem beneficiar ainda de vantagens em termos de

coping, comparativamente com os pessimistas, mesmo face a situações que não podem

ser alteradas.

Os optimistas referem ter mais suporte social durante as situações de stress do que os pessimistas, sendo também melhor aceites pelos outros (Brissette et al., 2002; Wimberly et al., 2008), as suas relações tendem a ser mais duradouras (Geers, Reilley & Dember, 1998), pelo que o optimismo surge também associado de forma positiva à percepção da disponibilidade do suporte social (Wimberly et al., 2008). Uma atitude optimista promove relacionamentos mais fortes, resultando assim numa rede de suporte social mais robusta. Uma perspectiva optimista será mais atractiva a potenciais parceiros relacionais e ajudará o desenvolvimento de relações que promovam o bem-estar psicológico (Brissette et al., 2002).

Uma orientação optimista da vida desempenha um papel importante na percepção do suporte social disponível (Wimberly et al., 2008) e a relação satisfação com o suporte social/optimismo parece desempenhar um papel importante moderando o impacto do

stress nas respostas imunitárias (Ah et al., 2007).

recursos e capacidades disponíveis para lidarem ou eliminarem os stressores (Crosno, Rinaldo, Black & Kelley, 2009).