• Nenhum resultado encontrado

Optimismo-Pessimismo: Implicações na saúde e no bem-estar

Capítulo I: Stress e Coping 14

3. Stress: Factores Protectores 28 

3.3. Auto-Estima e Optimismo-Pessimismo 55

3.3.3. Optimismo-Pessimismo: Implicações na saúde e no bem-estar

O optimismo prediz a adaptação presente e futura a situações de stress (Karademas et al., 2007) sendo considerado como um factor de protecção que contribui para a resiliência no confronto com o stress. O optimismo tem estado associado a uma série de benefícios para a saúde, quer em indivíduos saudáveis, quer em pacientes reforçando o bem-estar (Scheier & Carver, 1985; Wimberly et al., 2008), diminuindo o

stress, a ansiedade e a depressão (Carver, Pozokaderman, Harris, Noriega, Scheier,

Robinson, Ketcham, Moffat & Clark, 1994) e os pensamentos suicidas em estudantes universitários (Hirsch, Conner & Duberstein, 2007).

O optimismo tem estado associado ao sucesso académico, atlético, ocupacional, militar e político (Peterson, 2000).

O optimismo desempenha, deste modo, um papel motivador influenciando, por um lado, o estabelecimento de objectivos e, por outro, o envolvimento do sujeito na concretização dos mesmos. Quanto mais optimista for o indivíduo mais ele estará motivado na prossecução dos seus objectivos e mais capaz de planear a realização dos mesmos (Huan, Yeo, Ang & Chong, 2006).

A investigação tem revelado, igualmente, que o optimismo desempenha um efeito moderador na forma como as pessoas encaram situações novas ou difíceis. Quando confrontadas com situações difíceis, os optimistas apresentam mais probabilidades de terem reacções emocionais e expectativas positivas. Esperam ter resultados positivos mesmo quando as coisas são difíceis, tendendo a manter uma atitude de confiança e de persistência. Os optimistas tendem igualmente a assumir que há formas de gerir a adversidade estando mais propensos a aplicar estratégias de coping activas e centradas no problema (Scheier & Carver, 1985; Chemers, Hu & Garcia, 2001).

Quer seja conceptualizado como uma disposição geral (Scheier, Carver & Bridges, 1994) ou como referência a crenças acerca de resultados específicos (Armor & Taylor, 1998) existe uma evidência substancial de que o optimismo está associado a uma grande variedade de resultados positivos em termos de melhoria do estado de humor, bem-estar e motivação (Scheier & Carver, 1992; Peterson, 2000). O optimismo parece reduzir o risco de problemas de saúde e estar associado a uma recuperação mais rápida

ajustamento a doenças crónicas (Kivimaki, Vahtera, Elovainio, Helenius, Singh-Manoux & Pentti, 2005).

Os estudantes que são confiantes e optimistas adaptam-se melhor à forma como perspectivam o ambiente que os rodeia (Chemers et al., 2001).

O optimismo tem surgido também associado a uma auto-estima mais elevada e mais positiva (Scheier et al., 1994), a maior satisfação com a vida e a menos stress e sintomas psicológicos (Chang, 2002; Grote & Bledsoe, 2007; Grote, Bledsoe, Larkin, Lemay & Brown, 2007).

Manter expectativas positivas face aos resultados na vida parece ter, também, efeitos benéficos no bem-estar psicológico em mulheres que, simultaneamente, desempenhavam múltiplos papéis (Atienza, Stephens & Townsend, 2002). Tal poderá estar relacionado com o uso de estratégias de coping mais adaptativas e eficazes ou com alterações no significado ou na avaliação dos acontecimentos stressantes ou problemáticos.

Num estudo realizado com mulheres idosas Smith, Young e Lee (2004) constataram que o optimismo estava associado a uma melhor saúde em geral, saúde mental, funcionamento físico, vitalidade, melhor desempenho emocional e físico e menos

stress. Daukantaite e Bergman (2005) constataram que, aos 13 anos, o optimismo era o

único factor que estava consistentemente relacionado com o bem-estar subjectivo das mulheres com 43 anos.

Numa meta-análise tendo em conta os resultados de 83 estudos, Rasmussen, Scheier e Greenhouse (2009) concluíram que o optimismo é um importante preditor de resultados positivos na saúde física. De um modo geral, a análise dos resultados, contribuiu para documentar o papel positivo que o optimismo desempenha no bem-estar físico (Brydon, Walker, Wawrzyniak, Chart & Steptoe, 2009).

A tendência para manter expectativas positivas face aos resultados ou o optimismo disposicional tem estado associado a uma melhor saúde física, sendo que os indivíduos mais optimistas tendem a referir menos sintomas e queixas e a avaliar a sua saúde de uma forma mais positiva, quando comparados com os pessimistas (Chang & Sanna, 2003; Kubzansky, Kubzansky & Maselko, 2004).

O optimismo surge igualmente correlacionado negativamente com o stress percebido. Os indivíduos optimistas referem menos sintomas físicos de stress (Armata & Baldwin, 2008), o que nos leva a afirmar que o optimismo se constitui como uma

O optimismo tem estado associado a uma maior satisfação com a vida, a uma melhor adaptação às situações de stress, bem como a um maior bem-estar psicológico e físico (Aspinwall & Taylor, 1992; Southwick et al., 2005). O efeito benéfico do optimismo e da auto-estima no ajustamento/bem-estar foi mediado pelo não uso de coping evitante e pelo maior uso de coping activo e maior procura de suporte social (Aspinwall & Taylor, 1992).

Os estudos revelam que os pessimistas experienciam mais stress após as adversidades do que os optimistas. Carver e Scheier (2005), constataram que níveis elevados de optimismo aquando da entrada no ensino superior predizem níveis mais baixos de stress no final do semestre.

Estes dados reforçam a ideia de que o optimismo funciona como um factor protector do stress, promovendo o bem-estar e a adaptação resiliente (Grote & Bledsoe, 2007; Scheier & Carver, 1992).

Quando um acontecimento é perspectivado com menos pessimismo, o seu impacto psicológico e fisiológico é reduzido. Com efeito, a investigação tem revelado que as pessoas que são mais resistentes a doenças físicas e mentais avaliavam as situações com menos pessimismo (Dossey, 2006a).

Os optimistas adoecem menos frequentemente e têm uma esperança de vida maior do que os pessimistas. O sistema imunitário parece ser mais forte nos optimistas e o seu sistema cardiovascular mais estável. Os optimistas são persistentes, bem sucedidos e líderes reconhecidos pelos outros. De um modo geral, são amáveis, animam os outros e as pessoas gostam mais da sua companhia do que da dos pessimistas (Dossey, 2006a).

De acordo com Seligman (1998), a influência positiva do optimismo na saúde e bem-estar dos indivíduos, contribuindo para uma vida mais longa e saudável, processa- se segundo quatro modos. Primeiro, o cérebro regista a experiência do optimismo e estende-se via química e nervosa afectando o funcionamento celular através do corpo, incluindo entre outros, o sistema imunitário e cardíaco. Segundo, devido ao facto do optimismo estar correlacionado com a motivação e o envolvimento em acções, as pessoas optimistas são mais prováveis de querem ser mais saudáveis e de acreditarem que o podem, efectivamente, ser. Tal aumenta a probabilidade das mesmas seguirem regimes/dietas mais saudáveis e conselhos médicos. Terceiro, os optimistas experienciam menos acontecimentos nocivos nas suas vidas, incluindo menos ameaças

diferença naquilo que acontece. Pelo contrário, os pessimistas parecem, frequentemente, estar envolvidos num ciclo pautado pelo caos, convencidos de que o que quer que façam não vai fazer qualquer diferença. Por último, os optimistas possuem um suporte social mais elevado que os pessimistas, sendo que a investigação sugere que a interacção social mesmo que moderada tem um efeito amortecedor na doença.

Indivíduos que são optimistas e que apresentam estratégias de coping adaptativas parecem beneficiar das experiências de stress (Schneiderman, Ironson & Siegel, 2005). Sob condições contínuas geradoras de stress as pessoas conscientemente procuram acontecimentos com significados positivos para aumentar o seu estado afectivo positivo o que, por sua vez, permite diminuir o stress, reforçando a capacidade de lidar com situações futuras (Folkman & Moskowitz, 2004).

Uma disposição mais optimista surge associada a menos stress, a um menor uso de estratégias de coping de evitamento e reavaliação positiva, a um maior uso de estratégias de coping centradas no problema e procura de suporte social (Dougall, Hyman, Hayward, McFeeley & Baum, 2001).

Pessimismo ou afecto negativo tem surgido associado a expectativas desfavoráveis, um foco excessivo no stress e coping de evitamento (Chang, 1998a).

Brydon e colaboradores (2009) constataram que o optimismo pode ser protector para a saúde física e mental, neutralizando/contrariando o aumento do stress. Além disso, o optimismo surgiu inversamente correlacionado com características negativas da personalidade tais como neuroticismo, ansiedade e depressão, que por sua vez se encontravam relacionadas com uma saúde física e mental mais débil.

No que respeita a estudos realizados com estudantes, o optimismo tem sido considerado como contribuindo para o bem-estar dos adolescentes, atenuando o efeito do stress e promovendo um coping saudável e envolvimento em comportamentos positivos. Ben-Zur (2003) verificou que a percepção de stress dos estudantes é influenciada pelo seu nível de optimismo. O optimismo está relacionado negativamente com os níveis de stress percebidos. Os estudantes que obtinham resultados mais elevados nas medidas de optimismo referiam significativamente menos stress percebido do que os pessimistas. Estudantes optimistas eram mais capazes de lidar com situações escolares indutoras de stress quando comparados com estudantes pessimistas. De um modo, geral, os estudantes optimistas revelaram níveis mais baixos de stress e solidão e níveis mais elevados de bem-estar psicológico (Huan, Yeo, Ang & Chong, 2006).

Brissette e colaboradores (2002) constataram que os estudantes mais optimistas tendem a interpretar as situações indutoras de stress de uma forma mais positiva e menos ameaçadora do que os estudantes mais pessimistas estando, desta forma, melhor protegidos do stress. No que concerne às estratégias de coping, os autores constataram que face às situações de stress relacionadas com a transição para a universidade, os optimistas usaram estratégias de coping mais construtivas, tais como o coping activo, planificação, procura de suporte social e reinterpretação, as quais promoveram um melhor ajustamento psicológico. Por sua vez, os pessimistas centraram-se mais em abordagens inadequadas, tais como a negação, descontrolo emocional e desprendimento mental e comportamental face aos objectivos, tornando-se mais vulneráveis ao stress.

Relativamente ao efeito do sexo no optimismo, a investigação não tem encontrado diferenças estatisticamente significativas no nível de optimismo entre rapazes e raparigas, quer do ensino secundário, quer do superior (Peterson & Seligman, 2004; Huan, Yeo, Ang & Chong, 2006).

Em síntese, definido como a expectativa generalizada, relativamente estável, de que resultados positivos ocorrerão em domínios da vida importantes, o optimismo disposicional, tem estado associado a um melhor bem-estar físico e psicológico, durante períodos de stress intenso (Scheier & Carver, 1992; Moos & Schaefer, 1993; Carver & Bridges, 1994; Mehrabian & Ljunggren, 1997; Smith, Young & Lee, 2004).

O optimismo influencia a forma como os indivíduos lidam com as transições e crises de vida. Acarreta benefícios ao que as pessoas fazem e ao que são capazes de alcançar em momentos de adversidade (Scheier & Carver, 1987), assumindo-se como uma qualidade pessoal determinante da sustentação de esforços para lidar com os problemas (Ben-Zur, 2008).

As diferenças individuais que se verificam na variável de personalidade optimismo-pessimismo parecem desempenhar um papel importante na resposta aos acontecimentos de vida percebidos como stressantes (Scheier, Carver & Bridges, 2001; Crosno et al., 2009). Neste sentido, importa promover uma atitude optimista que possibilite aos indivíduos lidarem com as situações de stress de uma forma mais eficaz e positiva. O optimismo é considerado um traço da personalidade, tendo uma base hereditária, porém o mesmo deve também ser perspectivado como um atributo maleável e passível de ser treinado (Wrosch, Scheier, Miller, Schulz & Carver, 2003).

O optimismo pode ser alvo de modificação quer em virtude dos acontecimentos de vida, quer na sequência do desenvolvimento de intervenções deliberadas (Peterson & Seligman, 2004).

O treino cognitivo pode ser uma técnica eficaz para a promoção do optimismo, potenciando a modificação de pensamentos automáticos negativos em processos de pensamentos positivos (Crosno et al., 2009).

Seligman (1998), um pioneiro do pensamento optimista, também acredita e defende que o optimismo disposicional pode ser ensinado, apresentando evidência empírica nesse sentido. A sua pesquisa com crianças, recorrendo a métodos de reestruturação cognitiva, tem demonstrado que a modificação da forma como estas pensam conduzirá a uma mudança nas suas emoções e, eventualmente, nos seus comportamentos.

No seu livro “Learned optimism” Seligman (1998) propõe o modelo ABC, enquanto estratégia de promoção do optimismo. Quando nos deparamos com a Adversidade (Adversity), começamos a pensar acerca dela. Ao longo do tempo, esses pensamentos consolidam-se em crenças (Beliefs), as quais se podem tornar tão habituais que são inconscientes. Essas crenças acerca das situações adversas têm consequências (Consequences) levando-nos a responder ou de forma optimista ou pessimista. Este modo de intervenção procura ensinar as pessoas a tornarem-se conscientes dos seus pensamentos e comportamentos habituais e automáticos e a substituí-los por respostas mais adaptativas e optimistas (Dossey, 2006a).

A investigação no âmbito do desenvolvimento humano demonstra que os indivíduos podem ser estimulados a serem mais optimistas (Luthans & Jensen, 2002). O optimismo pode ser promovido através da terapia cognitivo-emocional onde se pretende modificar o comportamento alterando a forma como o indivíduo pensa.

Importa todavia ressaltar que se o optimismo é passível de ser aprendido, o pessimismo também o é. Para ensinar as pessoas a serem optimistas não basta organizar conferências, seminários, cursos ou livros, devendo, antes de tudo e, fundamentalmente, serem criadas, nos diversos sistemas em que participam, as condições para que o optimismo se desenvolva (Dossey, 2006a). Tal pressupõe o desenvolvimento de processos que promovam a saúde e o bem-estar em vez de apenas se reagir à adversidade. A promoção do optimismo parece ser uma via possível desse mesmo processo (Carver & Scheier, 2005), quer através de intervenções e estruturas

sociais que promovam o sentido do optimismo, quer através de estratégias informais que reforcem o mesmo (Smith et al., 2004).

Sistematizando, apesar de nos referirmos aos optimistas e aos pessimistas como se tratassem de categorias distintas trata-se apenas de uma questão de conveniência descritiva. Com efeito, e tal como referem Carver e Scheier (2005) as pessoas oscilam entre o muito optimista e o muito pessimista, com a maioria dos indivíduos a incluírem-se no meio-termo.

O optimismo e o pessimismo são qualidades da personalidade. Tais características influenciam as experiências subjectivas das pessoas quando confrontadas com os acontecimentos de vida, e influenciam as acções que as pessoas empreendem para lidarem com os mesmos. Os optimistas e os pessimistas diferem entre si, não só nos sentimentos de bem-estar versus mal-estar, mas também no modo como lidam com a adversidade (Scheier & Carver, 1992; Armata & Baldwin, 2008).

Ser optimista não é apenas ser positivo durante os bons momentos, mas também ser capaz de manter pensamentos positivos acerca de nós próprios mesmo durante os contratempos que surgem na nossa vida (Seligman, 1998) e isso é que constitui o verdadeiro desafio.