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O Ensino Clínico na formação em Enfermagem: Importância da supervisão 88

Capítulo II – Ser Estudante de Enfermagem: Desafios e Exigências 72

3. O Ensino Clínico na formação em Enfermagem: Importância para a aprendizagem e

3.1. O Ensino Clínico na formação em Enfermagem: Importância da supervisão 88

No complexo e multifacetado processo de formação importa referir não só o papel do estudante, mas também o de outros actores dessa formação, nomeadamente os docentes e os profissionais de saúde, mais concretamente aqueles que integram as equipas de saúde das instituições/serviços prestadores de cuidados que constituem os Campos de Estágio. A articulação entre estes dois contextos privilegiados de formação (escola e campos de estágio) deve ser uma constante, sendo que a cada um são acometidas responsabilidades e papéis específicos (Silva & Silva, 2004). Não descurando esta articulação, são as escolas que lideram todo o processo ensino- aprendizagem dos ensinos clínicos. É aos docentes que cabe a definição e selecção dos locais de estágio mais adequados à aprendizagem dos estudantes.

O ECE é uma experiência em que professores e enfermeiros dos serviços são co- responsáveis pela facilitação da aprendizagem, formação e desenvolvimento holístico

contextualizado. Escola e contextos de saúde devem favorecer a aquisição do saber- saber, do saber-fazer, do saber-estar e do saber-ser.

A formação clínica em Enfermagem preconiza um acompanhamento do estudante o mais individualizado possível. Este acompanhamento, do professor ou do orientador/tutor, irá diminuindo progressivamente no decorrer do desenvolvimento das aprendizagens, conhecimentos e competências dos estudantes, tendo em conta, também, a especificidade de cada Ensino Clínico.

O ECE sem uma supervisão adequada não cria as condições necessárias para o desenvolvimento profissional do estudante, uma vez que, o sucesso da aprendizagem depende muito da acção do orientador (Sprinthall & Sprinthall, 1994).

O acompanhamento dos estudantes em ECE (que se pretende sistemático e competente) era, no passado, realizado pelos docentes. Contudo, a integração do ensino de Enfermagem no Ensino Superior teve como implicação a dispersão dos docentes por diversas actividades, de ordem académica e administrativa, tais como a participação nos órgãos da Escola, a construção e adequação de planos de estudo, que não apenas a docência das aulas e acompanhamento dos alunos em ECE (Almeida, 2006).

Estes factores conduzem à impossibilidade da presença física do docente junto dos estudantes durante o ECE, com implicações diversas na prática, quer para os enfermeiros das instituições de saúde, quer para os estudantes.

O tempo disponível para o estudante é cada vez menor, sendo igualmente mais restrita a disponibilidade dos docentes para os ensinos clínicos. São, assim, os enfermeiros que no desenvolvimento da sua actividade clínica, estão numa condição para acompanhar a aprendizagem dos estudantes.

A orientação em ECE é, geralmente, efectuada por um docente da escola a tempo inteiro (principalmente, nos primeiros anos do curso), ou em parceria com os enfermeiros do serviço, sendo a responsabilidade deste processo partilhada pelo docente e por um enfermeiro co-responsável (tutor, orientador) que conduz o processo na prática clínica. O orientador na instituição é a pessoa mais próxima e a que acompanha mais de perto o trabalho dos estudantes.

Nesta orientação em parceria, o enfermeiro assume a responsabilidade pelo acompanhamento e orientação do estudante nos domínios cognitivo, relacional, técnico e comportamental. Para além da coordenação de toda a experiência, ao docente cabe a integração e avaliação de aspectos de natureza académica e comportamental,

processo desenvolvido no decurso do ECE (Ramos, 2003). Esta colaboração promove uma co-responsabilização de docentes e enfermeiros na ajuda e apoio à formação dos estudantes, através de uma complementaridade de papéis, de uma partilha de saberes e recursos e de uma relação interpessoal efectiva, capaz de proporcionar a aprendizagem e o desenvolvimento de cada um e de todos intervenientes no processo (Simões et al., 2006; Seco et al., 2007).

Todavia, importa ressaltar que as instituições estão empenhadas em minorar os aspectos menos positivos que esta situação pode implicar através de protocolos estabelecidos entre as escolas superiores de saúde e as instituições de saúde. Estes protocolos enfatizam e têm subjacente uma atitude (co)responsabilizadora e (co)participante de ambos os contextos na formação dos futuros profissionais de enfermagem.

A importância da orientação em parceria, na formação dos futuros profissionais de enfermagem, reside no facto de cada um dos orientadores clínicos contribuir com os seus saberes e competências fazendo com que a formação dos estudantes seja mais completa, coerente e consistente (Carvalhal, 2003).

O orientador da prática clínica é o profissional das instituições de saúde e outras que acompanha um grupo de estudantes na prática clínica. Ao mesmo compete: a) Facilitar a aprendizagem e servir de referência profissional; b) Favorecer a integração do estudante no local de estágio; c) Estabelecer uma relação de inter-ajuda; d) Promover o desenvolvimento de competências do estudante de forma a identificar necessidades, estabelecer prioridades, planear, executar e avaliar intervenções; e) Facilitar e ajudar a integração de conhecimentos; f) Promover a sistematização da informação escrita e oral; g) Demonstrar e justificar os procedimentos que realizam; h) Ajudar a desenvolver capacidades através da reflexão sobre as práticas, conhecimentos e tomadas de decisão; i) Socializar o estudante para uma filosofia de unidade e de integração numa equipa multiprofissional; j) Incentivar o estudante para a autoformação; k) Avaliar o processo de aprendizagem do estudante, informando-o do seu percurso individual; l) Participar, em conjunto com os docentes na avaliação do estudante, para a atribuição da nota final (Artigo 6.º Regulamento n.º 517/2008).

Se o ECE é considerado o cerne da formação em Enfermagem, o orientador da aprendizagem clínica é, igualmente, uma entidade de importância reconhecida (Carvalhal, 2003).

Uma colaboração partilhada de saberes e experiências complementa e melhora significativamente a orientação, tanto do ponto de vista pedagógico como da prática de cuidados, traduzindo-se numa mais-valia para a formação de enfermeiros e, consequentemente, para a Enfermagem (Longarito, 2002).

As escolas e os locais onde decorrem os ECE, enquanto espaços de formação, deverão aproveitar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes para desenvolver os diferentes saberes, organizando-se a fim de proporcionar uma construção reflexiva de um projecto profissional (Carvalhal, 2003). Aprender e ensinar ou ajudar a aprender implica uma autêntica co-construção de conhecimentos e de experiências em que professores, estudantes, orientadores e outros agentes educativos se deverão envolver de forma esclarecida, responsável, entusiasta, criativa e colaborativa (Tavares, 2005).

A formação e a orientação clínica dos estudantes de Enfermagem terão de deixar de ser vistas como um projecto da escola para passarem a ser conceptualizadas como um projecto conjunto da Escola/Organizações de Saúde (Carvalhal, 2003), pautado pelo respeito pelos diferentes saberes e pela abertura à diversidade de concepções. Tal implica, consequentemente, uma relação sistemática entre os diversos intervenientes no processo, a qual se deve desenvolver num clima relacional positivo (Garrido & Simões, 2007).

O orientador desempenha um papel crucial no desenvolvimento das competências, conhecimentos e atitudes do estudante devendo constituir-se como um modelo de referência, na construção da identidade e do saber profissional, tanto pelo papel que desempenha, como pelos conhecimentos pedagógicos que possui. Para além de exercer este papel de mestria, desempenha também o papel de tutor, conselheiro, avaliador, constituindo-se simultaneamente, como uma das principais figuras de apoio emocional do estudante (Alarcão, 1996; Paulino, 2007).

As situações de orientação/supervisão devem ser caracterizadas por uma relação interpessoal dinâmica, encorajante que seja facilitadora de um processo de desenvolvimento profissional e de aprendizagem consciente e comprometido (Alarcão & Tavares, 2007).

No âmbito deste trabalho, importa referir que os termos orientação e supervisão são utilizados no mesmo sentido referindo-se ao acompanhamento do processo de ensino/aprendizagem dos estudantes em contexto de ensino clínico (Franco, 2000).

no seu desenvolvimento humano educacional e profissional, numa actuação de monitorização sistemática da prática, sobretudo através do acompanhamento contínuo e de procedimentos de reflexão e experimentação (Franco, 2000).

A supervisão clínica em contextos formativos na área da saúde é um processo que assenta no relacionamento pessoal e profissional entre um profissional que exerce práticas clínicas de saúde e um estudante em formação (Garrido & Simões, 2007). Este acompanhamento profissional possibilita ao estudante o desenvolvimento de uma compreensão mais aprofundada do que é ser enfermeiro, da responsabilidade inerente ao mesmo e da realidade das práticas clínicas. Os supervisores clínicos devem ser profissionais experientes, que após terem participado em programas específicos de formação têm a responsabilidade de supervisionar futuros profissionais.

A supervisão é entendida como um processo mediador nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento do estudante e do supervisor, podendo ser facilitado ou inibido de acordo com a natureza da interacção criada. Para que este processo apoie e estimule cada um a progredir e a criar o seu estilo pessoal de intervenção é fundamental que as interacções se desenvolvam num ambiente de confiança e de entreajuda afectiva e cognitivamente estimulante (Seco et al., 2007; Simões et al., 2008). Deste modo, cabe ao supervisor atender às necessidades, motivações, conhecimentos e competências do estudante, de modo a adequar a sua intervenção ao mesmo.

O acompanhamento dos estudantes pelos orientadores em diversos momentos, esclarecendo dúvidas, chamando a atenção, fornecendo feedback construtivo e reforços positivos constitui um aspecto favorecedor da aprendizagem. Este processo permite ao estudante, mobilizar os seus conhecimentos e aplicá-los na prática, promovendo igualmente a reflexão sobre o significado das situações com as quais se confronta (Ramos, 2003).

O papel dos orientadores é de extrema importância para a promoção de uma prática com o máximo de qualidade, sendo que a eficácia e a qualidade do processo de orientação, do processo supervisivo, factores importantes do sucesso da mesma (Garrido, 2005). Para tal, importa o desenvolvimento de contextos e de relações de ensino-aprendizagem entre professor e estudante que sejam apoiantes e de confiança (Smedley, 2007). É também importante encorajar os estudantes a avaliarem o seu próprio desempenho e identificarem os seus pontos positivos e menos positivos, usarem a reflexão como uma ferramenta de aprendizagem, quer nas situações pessoais, quer profissionais e encorajar o registo das experiências de aprendizagem (Smedley, 2007).

O papel do orientador clínico deve ter para além duma função científica e didáctica, uma função psico-pedagógica e uma função de modelo para a socialização do estudante de enfermagem no papel de enfermeiro (Carvalhal, 2003).

O ECE enquanto processo formativo complexo, exige aos orientadores competências pedagógicas, competências de enfermagem e competências pessoais e relacionais que permitam ao estudante a progressão na sua aprendizagem (Carvalhal, 2003).

Importa desenvolver reflexões entre os enfermeiros e os docentes sobre todo o processo referente ao ECE, devendo os enfermeiros participar na elaboração do planeamento do ECE e em outras actividades que possam facilitar a integração da teoria na prática (Garrido & Simões, 2007).

A orientação dos estudantes deve ser concebida numa perspectiva triangular professor/enfermeiro/estudante, todos eles actores em interacção constante no decurso do ECE (Silva & Silva, 2004). Neste processo, o estudante aprende a aprender beneficiando da ajuda e da orientação proporcionada pelos supervisores, desenvolvendo o espírito crítico e reflexivo, a autonomia e a sua integração na profissão. Concomitantemente, vai construindo a sua identidade profissional, contribuindo futuramente para a qualidade dos cuidados de enfermagem, para a identidade profissional e para os ganhos em saúde da população e da comunidade (Fonseca, 2006).

A autenticidade, a congruência, a honestidade e o clima de confiança entre orientadores e estudantes são características fundamentais da aprendizagem e da orientação. Por sua vez, a relação professor/estudante é muito valorizada na mobilização dos recursos do estudante e no desenvolvimento do seu potencial. Ao centrar a sua atenção e a disponibilidade no estudante o professor cuida desse mesmo estudante, ajudando-o a trabalhar processos mentais que o habilitam a desenvolver um conjunto de competências (Ramos, 2003). Os estudantes devem ser co-participantes na sua própria formação e desenvolvimento.

Um dos factores que poderá anular a existência de uma relação de confiança entre orientador e estudante e invalidar todo um trabalho pedagógico coerente com uma atitude facilitadora da aprendizagem é um processo de avaliação percepcionado como inadequado ou injusto (Carvalhal, 2003).

É fundamental que todos os intervenientes no ECE orientem a formação dos seus estudantes na aquisição e construção do conhecimento profissional, contribuindo desta

forma para a formação de futuros profissionais de enfermagem competentes aos mais diversos níveis.

Assumindo-se a aprendizagem em contexto real como essencial e imprescindível na construção de saberes em Enfermagem, torna-se por demais evidente a necessidade de saber como os estudantes vivenciam a experiência de ECE (Almeida, 2006), de modo a organizar os espaços e os tempos e os modos de trabalhar de uma forma mais eficaz.

Importa assim conhecer as características do complexo contexto de aprendizagem clínica, nomeadamente no que concerne às situações que são percebidas pelos estudantes como potencialmente indutoras de stress.