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Estratégias espaciais dos bancos na Campinas desigual: as redes de fixos na trama do

PARTE II – AS ARTICULAÇÕES ENTRE ESTRUTURA, PROCESSO, FUNÇÃO E FORMA.

6. Estratégias espaciais dos bancos na Campinas desigual: as redes de fixos na trama do

O processo de modernização capitalista está na base do movimento de transformação do espaço geográfico, de modo que a modernização contemporânea se acelera ao conectar os lugares a velocidade da economia globalizada, espaços estes que passam a ser produtores da aceleração contemporânea sob o ritmo dos aconteceres hierárquicos (SILVA, 2001).

Neste contexto de modernização desigual e seletiva os espaços metropolitanos são privilegiados e a cidade de Campinas, em sua trajetória de estruturação e reestruturação urbana (BELTRÃO SPOSITO, 2007), consolida-se como um espaço luminoso no território brasileiro, cuja densidade técnica autoriza a realização das dinâmicas mais modernas, incluindo aquelas próprias à atividade bancária.

Assim, Campinas representa um caso emblemático para a investigação das transformações nas estratégias espaciais dos bancos no período recente, sobretudo considerando o contexto do atual paradigma técnico bancário que torna as estratégias dos bancos cada vez mais exigentes das densidades técnicas dos lugares. Portanto, esta cidade sintoniza-se ao ritmo dos aconteceres hierárquicos que são comandados pelos interesses dos agentes hegemônicos da economia, trata-se, portanto, de um “[...]tempo coorporativo, globalizado, sustentado pelas ideologias da produtividade e da competitividade e, por conseguinte, racionalizado milimetricamente (...) acentuando a seletividade dos investimentos e a maximização dos lucros” (SILVA, 2001, p.57).

Destes agentes hegemônicos que impõem os ritmos do tempo coorporativo, cada vez mais determinante das dinâmicas metropolitanas, o sistema financeiro torna-se destacado no período atual colocando “[...] novas indagações sobre as atuais relações entretecidas entre a pobreza, o consumo e as finanças nas cidades” (MONTENEGRO; CONTEL, 2017, p.116). Portanto, discutir temas como a expansão da bancarização e a penetração do crédito torna-se fundamental para compreender as transformações nas dinâmicas urbanas atuais, dado que estas variáveis resultam “[...]numa racionalidade vertical, eminentemente financeira, que estaria impondo mais uma solidariedade organizacional que uma solidariedade orgânica ao sistema de ações do espaço brasileiro” (DIAS, 2017, p.385).

Nos referimos, portanto, ao que Santos (2002) e Silveira (2017) denominam de “quinta dimensão do espaço banal”, ou seja, referem-se a uma transformação na relação constitutiva entre cotidiano e espaço banal em função do peso crescente da informação, da

comunicação e das finanças que promovem uma racionalização do espaço banal fazendo com que o cotidiano ganhe nova espessura “Por isso, podemos dizer que o cotidiano compreende ambas as realidades, a material e a imaterial” (Santos, 2002), isto é, um tecido de objetos e ações de significativa complexidade nos dias de hoje” (SILVEIRA, 2017, p.371).

Como analisamos, no entanto, as modernizações não se difundem de maneira homogênea pelo espaço geográfico, senão, estabelecem diferenciações no território criando, contraditoriamente, espaços luminosos e opacos segundo as diferentes densidades do meio técnico-científico-informacional que, por sua vez, fundamenta a adequada penetração das variáveis hegemônicas da modernização contemporânea.

Portanto, lidamos sempre com uma constituição desigual do espaço urbano marcada pelas diferenciações entre espaços luminosos e opacos, de modo que os processos de estruturação e reestruturação da cidade de Campinas também são marcados por esta produção desigual do espaço expressa, grosso modo, pelas diferenciações entre os setores norte e sul da cidade, cujas características exprimem as contradições crescentes entre riqueza e pobreza urbanas.

Como vimos anteriormente a cidade de Campinas tornou-se uma das frações mais dinâmicas do território, contudo, essa inserção nos circuitos da econômica capitalista, sobretudo a nível nacional, ao mesmo tempo em que garantiram a estruturação de arranjos espaciais favoráveis a consolidação da metrópole coorporativa, com novas imposições mercadológicas que lhe garantem posição hegemônica como importante centro de fluxos de pessoas, mercadorias, capitais e informação; também se reproduz uma produção do espaço extremamente desigual e excludente, dado que “Os objetos técnicos informacionais orientam seletivamente as ações mais modernas e favorecem determinados pedaços da cidade, que são potencialmente ritmáveis ao tempo da globalização hegemônica.” (MESTRE, 2009, p.2). Assim,

A busca incessante pela fluidez, preparada pelo estado buscando atrair cada vez mais os interesses hegemônicos para o país, juntamente com a construção de redes de informação e comunicação cada vez mais sofisticadas, torna o território refém da economia, mudando seu caráter na medida em que novos contextos mundiais e econômicos se transformam. (BISNETO, 2009, p.9).

Neste sentido, a paulatina consolidação de Campinas como sede de uma metrópole coorporativa acentua fortemente o processo de especulação imobiliária, assim como orienta as diretrizes do planejamento urbano para a estruturação da “cidade empreendedora” (BISNETO, 2009). Quanto a isto o autor destaca que o período de 1930 a 1980,

[...]é marcado pelos grandes planos urbanísticos da cidade na década de 1930 e 1970 em que houve o maior “boom” imobiliário de sua história com a abertura de muitas ruas, avenidas e estradas bem como a massiva criação de loteamentos em determinadas áreas da cidade. (BISNETO, 2009, p.68).

Como argumenta Mestre (2009) as práticas de planejamento no município de Campinas passam a ser fortemente orientadas por uma gestão empresarial fundada na competitividade com vistas à arranjos espaciais que lhes garantissem uma posição de destaque na rede urbana brasileira. Contudo, a produção do espaço em Campinas, sob esta orientação ideológica, gerou um aprofundamento das desigualdades, de forma que

A intensa dinâmica de crescimento urbano e econômico apresentada pelo município se atrela a uma mancha urbana desconexa e permeada por vazios urbanos, sujeita a ocupações urbanas (...) A ocupação urbana em Campinas se deu fora da malha urbana consolidada e de forma segregada. (MESTRE, 2009, p.15)

A partir de 1930 são criados os primeiros loteamentos de massa, por intermédio da iniciativa privada com aval do poder público local, que deram origem aos bairros Cambuí, Guanabara e Chapadão que atualmente configuram-se como bairros de médio e alto padrão, residência de uma população de maior poder aquisitivo (Mapa 1) (BISNETO, 2009), pontos luminosos no espaço da cidade. Neste mesmo período há uma conjuntura expansiva do componente especulativo nos negócios imobiliários, sobretudo em função da consolidação de uma sociedade urbano-industrial com a instalação de numerosas indústrias na região e no município de Campinas (BRANDÃO; CANO, 2002).

No curso destas transformações a periferização surge “[...] como resultado indireto de um processo de racionalização do espaço que é funcional, pactuado junto ao Estado em favor de sua mercantilização” (MESTRE, 2009, p.1), portanto, a autora interpreta que a produção de um espaço desigual em Campinas faz parte do que Santos (1996) denomina como “pobreza planejada”, revelando a face lesiva do processo de modernização capitalista que materializa-se na contradição fundante entre a cidade coorporativa e a cidade vivida (MESTRE, 2009), fazendo expandir, paralelamente, pontos de luminosidade e opacidade. Assim,

Gran parte de esta población de bajos ingresos sigue perjudicada por la trayectoria privilegiada de los recursos públicos a la satisfacción de las demandas de actores hegemónicos, por la valorización diferencial del tejido urbano y por la dotación desigual de la infraestructura, características que confieren y renuevan el carácter de metrópoli corporativa y fragmentada[…]” (MONTENEGRO, 2016, p.359)

Bisneto (2009), por sua vez, destaca que um forte processo de favelização ocorreu no transcurso da década de 1970, resultado da dinâmica de intensa urbanização ocorrida entre

as décadas de 40 e 60. Assim, 28 loteamentos criados, entre 1945 e 1954, estavam fora dos limites da malha urbana e, entre os anos de 1962 e 1968, o capital loteador acrescentou mais 93% de terrenos para moradias ao mercado imobiliário da cidade.

O foco desses investimentos, com forte componente especulativo, se deu sobretudo na área sudoeste da cidade, onde localiza-se o Aeroporto Internacional de Viracopos e importantes rodovias como a Santos Dumont, Anhanguera e Bandeirantes (BISNETO, 2009). A presença dessas infraestruturas fomentou a instalação de grandes empresas e indústrias fomentando, em função do afastamento do centro urbanizado tradicional e por conta da disponibilidade de terra barata, o surgimento de inúmeros bairros operários (MESTRE, 2009).

Em 1970, os contornos da malha urbana já ultrapassavam a Via Anhanguera no vetor Sul, formando bairros longínquos, como Vila Pompéia, Mimosa e Campos Elíseos. Ao norte e ao leste, formaram-se grandes vazios ao longo da Rodovia D. Pedro I. A população de baixa renda de Campinas experimenta um agudo fenômeno de periferização (...) A partir daí, a população favelada só cresce em ritmo acelerado: passou de 36.155 pessoas, em 1980, para 67.474 em 1991. (MESTRE, 2009, p.23)

Na década de 1990 o movimento de crescimento e espraiamento da malha urbana segue em ascensão alcançando seu auge sendo aprovados, nesta década, de uma só vez 60 novos loteamentos, sobretudo na zona sul da cidade, sendo esta a área que mais cresceu em número de habitantes no período (MESTRE, 2009), seguindo, até o período atual, como uma das áreas mais populosas do município (Mapa 2).

Em síntese, podemos afirmar que o desenvolvimento marcadamente desigual de Campinas reflete a coexistência de duas cidades:

De um lado, uma periferia afastada do centro, com uma população pobre cada vez mais numerosa e vivendo em precárias condições de vida (...) De outro lado uma cidade racional, que se moderniza a cada instante e que orquestra a riqueza proveniente dos tempos áureos do café e da sua indústria que aos poucos passou a dar lugar a atividades cada vez mais ligadas à ciência, à tecnologia e à informação. (BISNETO, 2009, p.36)

Portanto, como assevera o autor, ao longo de toda trajetória de estruturação urbana a cidade de Campinas mostrou-se dividida social, econômica e espacialmente, dinâmica característica do que Santos (1996) denomina de “involução metropolitana” “[…] en la medida en que se profundiza el contraste entre el avance de la modernización y el aumento de la pobreza en la ciudad” (MONTENEGRO, 2016, p.358).

Apesar do contexto de importante crescimento econômico do Brasil durante o século XXI, sobretudo entre 2004 e 2014, as desigualdades socioespaciais persistiram na cidade de Campinas com a continuidade da expansão paralela dos pontos luminosos e opacos

no espaço da cidade. Vale destacar que, neste período mais recente, novas variáveis passam a transformar as relações entre os pontos de luminosidade e opacidade na metrópole, gerando novos conteúdos que impulsionam uma reestruturação do espaço da cidade.

Dentre as variáveis pujantes que transformam as relações entre os espaços luminosos e opacos em uma cidade como Campinas, assim como redefinem os conteúdos da riqueza e da pobreza nas cidades, destacamos o papel das finanças, sobretudo do crédito, que contribuí à amplificação de certas práticas de consumo. Deste modo

No Brasil, o aumento exponencial das práticas de consumo assume atualmente dimensões cada vez mais abrangentes, envolvendo todas as classes de renda. Esta expansão recente do consumo está, por sua vez, diretamente relacionada ao avanço da creditização do território e da sociedade (Santos e Silveira, 2001), sobretudo da parcela de baixa renda da população urbana cujo acesso ao crédito encontra-se em franca expansão (MONTENEGRO, 2012, p.30)

Assim a penetração dessas variáveis modernas nas áreas opacas da cidade expandem e complexificam as relações riqueza e pobreza urbanas em função das novas variáveis financeiras que instrumentalizam um consumo crescente, como nunca antes visto nas camadas de renda mais baixas da população, ampliando o controle e a dependência desses espaços aos agentes hegemônicos que orientam os cursos da modernização no território.

Os bancos, por sua vez, desempenham papel importante na disseminação dessas variáveis pelo espaço urbano e, sobretudo ao longo das últimas décadas, têm se aproximado crescentemente das centralidades periféricas por meio de um processo de bancarização que se expande sobre as camadas mais pobres da população, neste sentido, como destacado por Klink (2018), os entrelaçamentos entre espaço, tempo e dinheiro tendem a transformar continuamente a condição urbana, sendo os bancos um dos agentes centrais neste processo.

Um dos mecanismos utilizados pelos bancos para ampliar o acesso da população de baixa renda ao crédito passou, como vimos, por um processo de desburocratização da abertura de contas, assim como da aquisição de cartões de crédito e empréstimos que romperam, assim, a barreira da rigidez no acesso a estes recursos financeiros (MONTENEGRO, 2012; SILVEIRA, 2009). Essa ampliação do acesso à recursos financeiros resultou, dentre outras manifestações, na maior penetração dos fixos bancários nos espaços antes excluídos de suas redes de serviços, como poderemos observar adiante para o caso da cidade de Campinas.

No curso destas transformações as relações entre o centro e a periferia são continuamente redefinidas em função da mudança de conteúdo destes espaços nas cidades, ou seja, as variáveis mais modernas presentes nas áreas centrais são paulatinamente

retransmitidas, de maneira difusa e desigual, ao resto da cidade sob o impulso crescente das modernizações – sob a égide da informação e das finanças –, sendo que

Bancos, instituições financeiras, consultoras, sedes das grandes firmas comerciais, financeiras e industriais, grandes agências de publicidade, firmas de alta tecnologia, fundos de investimento, grandes shopping centers são os agentes hegemônicos que exercem a ação política e boa parte da ação técnica que produz a financeirização, embora isto se dê de forma mais ou menos incompleta nas nossas formações socioespaciais (SILVEIRA, 2017, p.377)

Para que estas variáveis sejam retransmitidas dos centros para outras áreas é necessário o adensamento do meio técnico-científico-informacional, de modo que as redes técnicas de suporte a estas atividades modernas estejam presentes em diferentes pontos constituindo uma unicidade que autoriza a aceleração das transformações das práticas e das dinâmicas urbanas no período atual, destacadamente nas centralidades periféricas.

Além disso, segundo Montenegro (2012), a divisibilidade da técnica contemporânea somada à difusão acelerada do crédito permitiu um relativo barateamento desses produtos financeiros que passam a ser acessíveis, cada vez mais, a uma parcela maior da população e das atividades realizadas nas cidades, sendo que a economia pobre recria suas atividades em função da assimilação da dinâmica das finanças e dos novos objetos técnicos a ela ligados.

Neste contexto de expansão das variáveis técnicas e financeiras pela cidade, em um processo de verdadeira financeirização do cotidiano (SILVEIRA, 2017), multiplicam-se os pontos de drenagem dos bancos nos espaços da cidade que alcançam, como nunca antes, os espaços periféricos, ampliando sua capilaridade em busca da drenagem da renda produzida, também, pelas populações de menor renda.

Daí a crescente presença de agências bancárias, instituições financeiras de crédito pessoal, shopping centers, hipermercados, supermercados e filiais de grandes redes de varejo e serviços não apenas em centralidades populares, mas também em bairros periféricos considerados até então mercados “pouco dinâmicos” (MONTENEGRO; CONTEL, 2017, p.125)

Notamos, portanto, a existência de uma complexa teia de relações entre a atividade bancária e as variáveis que constituem a modernização atual, destacadamente as finanças e as novas tecnologias da informação, que passam a se difundir pelo espaço redefinindo as dinâmicas nas cidades, com destaque às novas relações espaços luminosos e opacos. Assim é a partir da análise das estratégias espaciais dos bancos na cidade de Campinas que buscaremos aprofundar as discussões sobre a redefinição dos conteúdos e dinâmicas urbanas em função das novas determinações da modernização contemporânea,

comanda pela hegemonia da informação e das finanças, que, por sua vez, autoriza a emergência de um novo paradigma técnico bancário.

Os bancos, historicamente, exerceram papel central na dinamização da economia campineira, como discutimos anteriormente, fazendo com que a cidade consolidasse, ao longo de diferentes ciclos de expansão, uma forte centralidade bancária equiparada a importantes capitais regionais do país. Contudo, no decorrer do processo de estruturação da cidade a topologia bancária foi marcada por uma expansão desigual da rede de atendimento, expressando o processo de produção desigual do espaço urbano, de modo que, por tratar-se de um ramo de atividade altamente regulado por princípios eminentemente capitalistas, os pontos de prestação de serviços bancários são mais rarefeitos nas áreas mais pobres da cidade (OLIVEIRA, 2016:2017).

Para analisar o contexto mais recente de evolução das estratégias espaciais dos bancos na cidade de Campinas, com vistas ao atual paradigma técnico bancário, destacamos dois períodos: 2000 a 2009 e 2010 a 2017, contextos em que a topologia bancária sofreu alterações relevantes em função, como vimos, da conjuntura de crescimento da economia brasileira, incremento das taxas de bancarização, ampliação do mercado de consumo, inovações técnicas e normativas, assim como em razão do processo particular de estruturação do espaço em Campinas. Admitimos, portanto, a relação dialética entre as lógicas e estratégias dos agentes econômicos e a produção do espaço urbano, dado que

Especialmente em relação ao espaço, consideramos que ele não é apenas resultado das demais dimensões da vida social (econômica, política, cultural etc.), mas também plano de suas determinações (e não determinismos), pois estamos falando de um período da história do capitalismo em que o consumo, do ponto de vista dos circuitos econômicos, conduz e orienta a produção do espaço, sendo esta produção um dos meios importantes para a reprodução do sistema (BELTRÃO SPOSITO; SPOSITO, 2017, p.467)

Em relação as estratégias espaciais dos bancos em Campinas, primeiramente destacamos que nos dois períodos há uma forte concentração espacial de fixos no centro tradicional da cidade, sobretudo de agências bancárias, sendo que esta condição de privilégio da localização na área central deve-se ao fato de que os centros das cidades inspiram confiança como lugar das atividades centrais, do exercício de poder e da gestão; além de conformarem a área de maior acessibilidade da cidade, sendo ponto de convergência de grandes fluxos de pessoas. Por este motivo, há uma monopolização dessas áreas tradicionais pelos segmentos econômicos de comercio e serviços que possuem maior capitalização (WHITACKER, 1997), notavelmente as redes bancárias (OLIVEIRA, 2016).

Sicsú e Crooco (2003) e Garrocho-Rangel e Campos-Alanís (2002) destacam outras variáveis fundamentais que orientam as lógicas espaciais dos bancos, dentre elas, nível de renda da população, densidade demográfica, densidade técnica dos lugares, fatores aglomerativos, características funcionais dos eixos, etc29. Contudo, como já destacamos, estas lógicas espaciais bancárias materializam-se nas cidades de maneira particular adaptando-se às dinâmicas próprias destes centros urbanos, dimensão esta que revela as estratégias espaciais destes agentes.

Na década de 2000 houve uma importante expansão da rede de atendimento bancário com continuidade na trajetória de abertura de agências e PAEs na cidade, seguindo tendência anterior, ainda que em patamares abaixo dos apresentados na década de 1990. Os estabelecimentos que tiveram atividade iniciada neste período concentraram-se, principalmente, no centro tradicional da cidade e suas imediações, com destaque aos bairros Cambuí, Taquaral, Chapadão, Botafogo, dentre outros localizados no setor norte da cidade, bairros onde vive uma população de maior poder aquisitivo.

Por outro lado, mesmo que em menor número, houve instalação de alguns estabelecimentos bancários no setor sul da cidade, com destaque para os principais eixos de circulação destas áreas, capilarizando-se nas subcentralidades periféricas caracterizadas, inicialmente, por atividades de comércio e serviços ligadas ao circuito inferior da economia urbana (SANTOS, 2001). Deste modo, a expansão da rede bancária deste período, além de reforçar a concentração espacial de fixos nas regiões centrais, também expandiu-se por algumas das áreas periféricas da cidade em um movimento de verdadeira “vontade colonizadora” (LABASSE, 1974) dos bancos em direção às áreas de consumo e residência de uma população de menor poder aquisitivo em busca da ampliação dos canais de drenagem de recursos (MONTENEGRO; CONTEL, 2017). Neste sentido,

As atuais estratégias dos conglomerados para ampliar seu mercado consumidor às camadas de menor renda não se restringem, contudo, à expansão da oferta de crédito. Para além da creditização, as maiores empresas têm adotado também a diversificação de suas topologias nas grandes cidades brasileiras (MONTENEGRO; CONTEL, 2017, p.124).

29

Para um maior aprofundamento na discussão sobre as determinantes das lógicas espaciais do setor bancário consulte: OLIVEIRA, J. S.. As lógicas espaciais do setor bancário nas cidades de São José do Rio Preto e Presidente Prudente: da estrutura espacial concentrada à multicentralidade seletiva. 2015.139 f. Monografia (Bacharelado em Geografia) – FCT/UNESP, Presidente Prudente. 2015.

O segundo período, 2010 a 2016, por outro lado, apresentou um número menor de estabelecimentos abertos na cidade, sendo que os fixos inaugurados seguiram a tendência do período anterior concentrando-se majoritariamente no setor norte da cidade e com presença muito mais rarefeita nos bairros do setor sul.

Quando analisamos os dois períodos conjuntamente constatamos que o número de estabelecimentos com atividade encerrada foi, relativamente às décadas anteriores (1970,