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Evolução técnica e normativa e as transformações nas lógicas espaciais dos bancos

PARTE II – AS ARTICULAÇÕES ENTRE ESTRUTURA, PROCESSO, FUNÇÃO E FORMA.

4.2 Evolução técnica e normativa e as transformações nas lógicas espaciais dos bancos

Com base nos fundamentos e definições apresentados anteriormente, neste item abordaremos as múltiplas dimensões do desenvolvimento técnico e normativo recente dos bancos brasileiros buscando, a partir de diferentes abordagens teóricas e metodológicas, estabelecer os nexos entre a emergência de processos inovativos e as transformações nas lógicas espaciais dessas instituições no território.

Consideramos que o desenvolvimento técnico e normativo bancário não se dá de forma autônoma, mas sim, articulado e inserido em um quadro de evolução técnica, normativa e política movida à nível global (OLIVEIRA, 2017). Portanto, nossa intensão é compreender os principais fatores inovativos protagonizados pelos bancos, sobretudo a partir da década de 1960, de maneira articulada ao processo de tecnificação do território, já que por meio da maior fluidez do território o circuito financeiro almeja ganho de mobilidade de seus capitais reorganizando seus métodos de gestão fundados na automação e, mais recentemente, na informatização bancária.

Este ganho de mobilidade se intensifica a partir da unificação de uma nova família de técnicas informacionais (SANTOS, 2000b:2008), iniciada na década de 1970, orientada pela necessidade de racionalização máxima da produção e ampliação da circulação dos capitais compondo, assim, um sistema técnico hegemônico que articula os lugares eleitos à acumulação dos capitais (SILVA, 2001).

Portanto, há uma nexo claro, sobretudo no período atual, entre finanças e o espaço geográfico, dado que “[...] as movimentações bancárias são bastante dependentes das infra-estruturas técnicas, que servem de base para a ação dos intermediadores das finanças” (CONTEL, 2011, p.12). Assim é na articulação entre tecnificação do território e processos inovativos que os bancos brasileiros passam por diferentes fases de desenvolvimento técnico e normativo, sendo que cada uma delas é marcada por processos políticos e econômicos que se desenrolam a nível nacional e internacional, como já pontuamos.

Do ponto de vista da literatura sobre o tema há uma variedade de periodizações que buscam compreender as diferentes fases de inovação que constituem o desenvolvimento técnico e normativo bancário no Brasil (CERNEV, et. al., 2009; CONTEL, 2007; DINIZ, 2004; ACCORSE, 1992; PIRES, 1994), de modo que a partir das dimensões do tempo, da técnica e da norma elaboraremos um quadro analítico dos processos de inovação que constituem uma trajetória técnica bancária e que servirão de suporte às análises sobre sua dinâmica espacial recente.

Desenvolveremos a dimensão do tempo adotando diferentes periodizações como princípio de método que incorpora a dimensão temporal na análise do espaço o que [...] nos permite identificar com mais facilidade a dialética do “novo” e do “velho” das “mudanças” e das “permanências” em cada parcela do espaço geográfico” (CONTEL, 2009, p.8). Cada período delimitado do desenvolvimento bancário apresentará uma combinação específica de normas, técnicas e organização do espaço geográfico.

Em princípio destacamos que as normas, enquanto modo de regulamentação, são fontes de poder e instrumentos fundamentais para a generalização de um novo modelo de funcionamento das dinâmicas econômicas, políticas e sociais, portanto

[...]uma materialização do regime de acumulação, que toma a forma de normas, hábitos, leis, redes de regulamentação etc. que garantam a unidade do processo, isto é, consistência apropriada entre comportamentos individuais e o esquema de reprodução. (HARVEY, 1992 apud LIPIETZ, 1986, p.19).

A relevância da dimensão da técnica em nossas análises exige a consideração da modernização capitalista enquanto estrutura que orienta e é composta pelas trajetórias de inovação em diversos ramos de atividade, inclusive o bancário, consubstanciando famílias de técnicas que unificadas delineiam as bases materiais e imateriais das dinâmicas econômicas, sociais e políticas a nível global.

Por outro lado, quando nos referimos à organização do espaço geográfico fazemos referência as lógicas e estratégias espaciais que são estabelecidas pelas instituições bancárias em diferentes momentos de seu desenvolvimento técnico e normativo, ou seja, admitimos que as combinações entre normas e técnicas estabelecem novas diretrizes para a tomada de decisão destes atores em relação à sua organização espacial em diferentes escalas geográficas.

Do ponto de vista da norma destacamos dois eventos centrais que transformaram a atividade bancária no período recente. O primeiro refere-se à “Reforma bancária”, consubstanciada entre os anos de 1964 e 1965, que instituiu autoridade monetária ao país, centralizando os comandos sobre a organização financeira do território com a intensão de

constituir uma maior integração econômica e financeira nacional. Essas normas visavam a composição de poderosos conglomerados financeiros tendo à dianteira os bancos comerciais (CORRÊA, 1995; CONTEL, 2007), dando um impulso inicial aos processos de concentração e centralização11 bancária que resultaram no quase desaparecimento dos bancos locais e regionais com a ascensão das primeiras instituições de alcance nacional (CORRÊA, 1995; CONTEL, 2007).

Além disso no ano de 1988, por meio da Resolução nº. 1.52412, o Banco Central do Brasil normatizou a criação dos bancos múltiplos13, o que intensificou os processos de fusões e aquisições entre instituições bancárias de diferentes naturezas jurídicas elevando, ainda mais, o grau de concentração econômica.

Lidamos, portanto, com duas dimensões dos processos de concentração e centralização, a primeira diz respeito à dimensão econômica que materializou-se por meio das fusões e aquisições entre bancos, fazendo incrementar extraordinariamente os volumes de capital de algumas instituições bancárias assim como seu poder de decisão e controle no mercado nacional. Por outro lado, lidamos com o processo de concentração e centralização espacial, o primeiro refere-se à desidade dos fixos em certas áreas do território, o segundo diz respeito a conformação dos centros de comando e instalação das sedes bancárias, notavelmente a cidade de São Paulo. Estas duas dimensões dos processos de concentração e centralização articulam-se a medida em que transformações nas dinâmicas econômicas dos bancos promovem alterações em suas lógicas e estratégias espaciais, como veremos adiante.

Este processo inicial de concentração econômica bancária, movido sobretudo pela dimensão da norma, possibilitou um aumento significativo dos volumes de capital pelas

11 “[...]compreendida como a capacidade que as empresas têm de ampliar seus capitais, face às possibilidades de sua reprodução capitalista; em outras palavras, é crescente o aumento do capital nas mãos de algumas empresas, gerando maior presença delas, relativamente às pequenas, se tomamos como referência o que ocorreu nos últimos trinta anos no Brasil” (Sposito, 2017, p.469); “A segunda lógica notória é a da centralização econômica, compreendida com resultado da aquisição de uma empresa por outra e/ou da diminuição do número de empresas que operam num dado ramo ou setor, revelando centralização na decisão e tendência à oligopolização” (Sposito, 2017, p. 469)

12 “[...] facultou aos bancos comerciais, aos bancos de investimento, aos bancos de desenvolvimento, às

sociedades de crédito imobiliário e às sociedades de crédito, financiamento e investimento, a organização de uma única instituição financeira com personalidade jurídica própria[...]” (DIAS, 2017, p.386)

13

“Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima. As instituições com carteira comercial podem captar depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a expressão "Banco" (Resolução CMN 2.099, de 1994)” (Banco Central do Brasil, 2018).

maiores instituições bancárias do país que, com vistas a seu aperfeiçoamento técnico e aumento da produtividade e eficiência, direcionaram grandes montantes de investimentos para as telecomunicações com vistas à expansão de suas redes, desencadeando uma série de inovações técnicas no ramo de atividade bancária.

Do ponto de vista espacial a década de 1980 é marcada pela forte expansão de agências, sobretudo de instituições públicas, constituindo novas lógicas espaciais caracterizadas “[...] pela retração de agências bancárias no interior de todas as macrorregiões e, simultaneamente, expansão nas maiores regiões metropolitanas do país, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro” (DIAS; LENZI, 2009). Além disso, como destaca Corrêa (1993), os processos de concentração econômica bancária também condicionaram uma

[...] redução do número de centros de gestão, à emergência de um nítido centro metropolitano nacional, à criação de redes de âmbito nacional e à ampliação do papel do Estado. Verificou-se, em realidade, a transformação do espaço brasileiro, passando-se do espaço molecular para um espaço monopolista, conforme refere-se Ruy Moreira (CORRÊA, 1993, p.168)

Portanto, o período marcado pela concentração econômica da atividade bancária promove uma nova topologia caracterizada pela redução e centralização espacial de suas sedes e respectiva difusão seletiva de suas agências no interior do território nacional (OLIVEIRA, 2016). Por outro lado, um dos fatores que contribuí à constituição de um “espaço monopolista” (CORRÊA, 1993) é a expansão das redes de telecomunicações no país, sendo que o Estado de São Paulo destaca-se como a porção mais dinâmica do território nacional ao acolher todas as variáveis da modernização desde o século XIX caracterizando-se como a área onde o meio técnico científico-informacional é mais contíguo (SILVA, 2001), condição que a privilegia como centro de gestão do território (CORRÊA, 1993).

Esta contiguidade, por sua vez, é constituída por eixos de desenvolvimento, sendo o eixo São Paulo – Campinas um dos mais dinâmicos do ponto de vista industrial e das redes técnicas, sobretudo considerando o processo de desconcentração econômica e espacial da indústria que privilegiou esta região para investimentos (CANO, 1998:1988), ou seja, algumas empresas “[...] acabaram por escolher aqueles lugares onde as divisões do trabalho pretéritas levaram à criação de mão-de-obra especializada, melhor infraestrutura, desenvolvimento científico e tecnológico, entre outros fatores” (SILVA, 2001, p.76).

Assim, por meio da expansão das infraestruturas técnicas e da desconcentração industrial no estado, Campinas insere-se na dinâmica de modernização contemporânea tornando-se espaço propício para a disseminação das redes bancárias, como veremos adiante.

Apesar da importância da reforma bancária e das transformações dos anos de 1964 e 1965 é na década de 1990, com a ascensão dos ideários neoliberais, que as mais marcantes transformações normativas e técnicas são levadas a cabo para reestruturar a atividade bancária no país. Este segundo evento marcante na evolução normativa dos bancos é fundado por uma série de regulamentações, instituídas pelo BCB, que progressivamente buscavam adaptar o sistema financeiro à “opinião” internacional estimulando a participação de capital estrangeiro no sistema financeiro brasileiro (DIAS, 2009), resultado da aceleração do processo de mundialização dos capitais (CHESNAIS, 1996).

[...] nesse contexto que em agosto de 1995 a Exposição de Motivos n°311 do Ministro da Fazenda, aprovada pelo Presidente da República, expressa a posição do governo brasileiro, que passa a considerar do interesse do país maior participação do capital estrangeiro no sistema financeiro nacional. Em menos de três anos – outubro de 1995 a abril de 1998 – 14 bancos comerciais e múltiplos são autorizados a instalar-se no país, mediante aquisição do controle acionário de bancos nacionais – privados e públicos (...) (DIAS, 2009, p.7)

Pires (1994) destaca ainda que, esta fase

[...]correspondeu a execução de iniciativas incentivadas pelo Banco Mundial (DIEESE, mar.1988:06), pelo BC e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de reestruturação do sistema financeiro, para a redução dos conglomerados e ampliação da participação de grandes instituições financeiras do exterior, incentivando o processo seletivo de reorganização nacional e fechamento, entre os anos de 1995 e 1997, de importantes GCFs de varejo (Banco Nacional, Banco Econômico, Banorte, Bamerindus. (PIRES, 1994, p.10)

A reforma financeira ocorrida, sobretudo, a partir da década de 1990 com a abertura da economia para entrada de capitais estrangeiros, que levou a múltiplos processos de aquisições de bancos nacionais, promoveu intensa concentração econômica bancária e modernizou as redes técnicas criando “[...]as condições para que os bancos se tornassem instrumento privilegiado do Estado no processo de internacionalização da economia brasileira e no processo de integração do mercado nacional.” (DIAS, 2007, p.164).

Algumas destas normativas atuaram no sentido de um “saneamento” do ramo de atividade bancária no país, ao promover liquidações, intervenções e regimes de administrações especiais. Essas ações, por sua vez, intensificaram processos de fusões e incorporações que levaram a importantes movimentos de transferências de controle de instituições. De acordo com o BCB,

[...] a entrada do capital estrangeiro no sistema financeiro doméstico ocorreu, principalmente, pelo segmento dos bancos que enfrentavam problemas patrimoniais, mas houve também a venda de grandes instituições varejistas domésticas – Banco Real ao ABN-Amro Bank em 1998.16 Nesse processo, houve um aumento da participação das instituições estrangeiras e uma redução das instituições públicas, especialmente das estaduais (ARAÚJO; CINTRA, 2011, p.15)

Como podemos observar no gráfico a seguir, entre os anos de 1994 e 2008 há uma importante queda na participação dos bancos públicos nos ativos bancários, passando de 51,4% a 28,3%, com destaque para as instituições Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Já os bancos privados, nacionais e internacionais, aumentam muito sua participação nestes ativos, passando de 48,4% a 70,4%. Vale destacar que, no âmbito dos bancos privados, as instituições privadas nacionais possuem maior peso de participação nos ativos bancários, apesar do crescimento importante das instituições estrangeiras no país, sobretudo durante a década de 1990.

Gráfico 3 – Brasil. Participação das instituições nos ativos da área bancária (em %), 1994 – 2008.

Fonte: BCB, 2010. Elaborado por: Oliveira, J. S., 2017.

Assim, as instituições financeiras estrangeiras ampliaram sua participação nos ativos bancários em função da redução da participação dos bancos públicos estaduais, que passaram por processos de privatização e/ou extinção, de modo que “A flexibilização da legislação veio ao encontro da estratégia dos bancos internacionais, que procuravam fortalecer suas posições globais, para diversificar suas fontes de receitas” (ARAÚJO; CINTRA, 2011, p. 18), o que reforçou práticas oligopolísticas entre os maiores bancos atuantes no país.

Este forte processo de concentração e centralização econômica bancária promoveu, por outro lado, novas capacidades de modernização das redes técnicas criando “[...]as condições para que os bancos se tornassem instrumento privilegiado do Estado no processo de internacionalização da economia brasileira e no processo de integração do

51,4 52,2 50,9 50,1 45,8 43 36,6 32 34,7 37,2 34,4 32,5 36,5 27,9 28,3 48,4 47,6 48,8 49,6 53,7 56,3 62,6 67,1 64,3 61,5 64,1 66 61,6 70,6 70,4 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Caixa Econômica Federal Banco do Brasil

Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros Bancos públicos Bancos privados

mercado nacional.” (DIAS, 2007, p.164). Percebemos que o circuito financeiro teve e tem papel central nos processos de internacionalização da economia e integração nacional, sendo que estas dinâmicas se articulam com o adensamento das redes técnicas no país e à conformação dos centros de comando no território, como é o caso da RMSP.

A primazia paulistana, contudo, veio sendo elaborada progressivamente, no bojo do processo de concentração-dispersão de bancos, processo que se traduziu na construção de um espaço integrado nacionalmente sob a égide da metrópole paulistana (CORRÊA, 1993, p.164)

Do ponto de vista espacial, portanto, a organização da atividade bancária reforçou a tendência à centralização espacial dos comandos, ou seja, as sedes e os centros de decisão e gestão concentraram-se em um ponto específico do território, destacadamente na metrópole paulista (REGIC, 2010; CORRÊA, 1993), o que torna estes espaços privilegiados do ponto de vista da maior rapidez na obtenção e troca de dados possibilitada pela maior fluidez informacional do espaço e do sistema bancário recém-modernizados.

Partindo desta perspectiva mais geral dos marcos normativos da atividade bancária e suas repercussões, passamos a uma análise mais detalhada do desenvolvimento técnico, normativo e espacial dos bancos, para tanto, nos fundamentaremos nas periodizações propostas por alguns autores que se debruçaram sobre este tema.

Ressaltamos que no que se refere aos processos inovativos protagonizados pelos bancos tomamos como princípio método o fato de que a atividade bancária, a partir de processos de inovação possibilitados pelo uso intensivo da informação e articulados às sucessões técnicas a nível global, transformou a moeda cada vez mais em pedaços de informações transferidas através de redes de telecomunicações, assim, passaram a demandar de forma acentuada o uso e a expansão dessas redes, fundamentais para o funcionamento da atividade bancária.

Isto posto, apresentamos a periodização proposta por Contel (2007) para analisar o processo de evolução dos sistemas técnicos bancários, dividindo-o em quatro fases:

 1º fase [1965-1970]: Gênese da automação bancária, caracterizada pela difusão dos CPD’s (Centros de processamento de dados), uso de máquinas contábeis em substituição às técnicas manuais e transmissão de dados via Telex;

 2º fase [1970-1976]: Introdução de computadores aos sistemas de ação bancários revolucionando a forma de armazenamento, processamento e transmissão de dados de forma ainda centralizada;

 3º fase [1979-1980]: Descentralização espacial do processamento de informações bancárias, fruto das inovações das telecomunicações e caracterizada pela digitalização remota e transmissão de dados digitados, possibilitando um processamento descentralizado das informações que demarca um período de dispersão e reestruturação espacial das redes bancárias;

 4º fase [a partir de 1990]: Processamento instantâneo das informações bancárias, gerando uma aceleração dos ritmos econômicos por meio do processamento e transmissão de dados em tempo real, possibilitando a consolidação da tendência de centralização espacial dos comandos e dispersão sem precedentes de seus fixos pelo território (OLIVEIRA, 2017).

A primeira fase elencada pelo autor articula-se ao primeiro evento normativo importante para este ramo de atividade, a reforma bancária de 1964, que proporcionou um aumento do volume de capital dos grandes bancos que puderam redirecionar investimentos tanto para o desenvolvimento técnico de seus processos quanto para a ampliação e modernização das redes de telecomunicações – com destaque ao Telex – lançando as bases para um desenvolvimento mais acelerado nas décadas seguintes e delineando a passagem do fazer mecânico para o fazer automático ao instituir a gênese da automação bancária no país (IAMONTE, 2016).

Ademais, a intensificação da industrialização, que gera um aumento dos capitais fixos, e da urbanização, que diversifica as atividades econômicas e do consumo,

[...] obriga os agentes produtivos a buscarem recursos no sistema bancário para o desenvolvimento de suas atividades. Daí a finança, no seu sentido mais amplo, ter sido gradualmente erigida como uma das variáveis-chave do período que se inicia em 1964. (CONTEL, 2007, p.147)

O período, portanto, é caracterizado por um alargamento dos contextos (Santos, 2000b) marcado pela aceleração da modernização do território, ainda que de maneira bastante seletiva e pouco integrada, inaugurando um novo período de possibilidades para o desenvolvimento dos processos inovativos bancários.

A segunda e terceira fases (1970 – 1976; 1979 – 1980), por sua vez, decorrem de um contexto de maior integração técnica e financeira do território brasileiro. Contel (2007) destaca algumas características deste período

1- São expandidas e diversificadas as necessidades de consumo; 2- São elevados os níveis de renda da população, em comparação ao que ocorria no meio rural; 3 – São criados e difundidos nestes centros urbanos novos meios e infraestruturas de transporte; 4 – Ocorre uma divisão do trabalho mais acentuada, com aumento da produtividade dos processos econômicos, e maior excedente de riqueza gerado. (IDEM, 2007, p.87)

Deste modo, o forte investimento estatal em atividades estratégicas, como na produção e distribuição de energia, infraestrutura de transportes e, sobremaneira, na renovação das bases técnicas das telecomunicações no país, proporciona as condições fundamentais para a difusão de novas formas organizacionais e novas técnicas incorporadas às redes bancárias pelo território. Essas novas bases técnicas estabeleceram-se concomitantemente à instalação das primeiras indústrias ligadas a produção de equipamentos para automação bancária, por meio de fortes investimentos do Governo Federal em empresas nacionais (IAMONTE, 2016), o que gerou novos fatores inovativos que dinamizaram a atividade bancária, bem como proporcionaram uma transformação qualitativa nas funções desempenhadas por seus fixos (CONTEL, 2007:2009).

Essas transformações nas dinâmicas do território e da atividade bancária possibilitaram um novo uso do espaço fazendo aumentar a exigência pela aceleração dos fluxos de capital por meio de inovações técnicas que autorizem uma ação eficiente dos bancos no território, revelando a dialética entre tecnificação do território e trajetórias de inovação da atividade bancária.

A grande inovação do período é a disseminação do uso dos primeiros computadores que revolucionam a forma de armazenamento, processamento e transmissão de dados (CARVALHO; VEIGA, 2015) que, a partir da terceira fase, passam a ser digitalizados e transmitidos de forma remota (DINIZ, 2004). A introdução deste objeto técnico viabiliza a descentralização espacial da estrutura de processamento das informações produzindo uma reestruturação espacial da atividade bancária marcada por forte concentração econômica e