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Mapa 4-Mapa de Cabo Verde

2.1 A pragmática linguística

2.1.2 Estratégias de Polidez

2.1.2.1 Estratégias de polidez Bald on record

A estratégia bald on record busca expressar sinceridade, concisão, relevância e clareza. Essa estratégia é construída com base nas orientações das quatro máximas de Grice ([1975]1982): (01) qualidade: não seja falso; (02) quantidade: não diga nem menos nem mais do que é requerido; (03) Relevância: seja relevante; (04) Modo: seja claro, evite ambiguidades. O indivíduo que opta por utilizar uma estratégia bald on record, geralmente, quer demonstrar que age com clareza, sinceridade e que deve receber credibilidade do ouvinte.

Segundo Brown e Levinson (1987), às máximas subjazem qualquer interação, todavia não significa que todas essas condições sejam satisfeitas nas trocas conversacionais. Uma das razões que contribui para a manutenção do uso das máximas é a preocupação com a preservação da face. E a polidez é uma forma de exercer o respeito à face, evitando conflitos. Os autores ressaltam que, mesmo que se rompa com as máximas, elas permanecem em operação em um nível mais profundo que orienta o endereçado a fazer inferência para chegar ao ponto de partida (seja polida ou não).

A estratégia bald on record é preferida quando o falante não está preocupado somente com a sua face ou a do ouvinte, mas na maior eficiência da comunicação. No entanto, há vários tipos de usos da bald on record e, dependendo do motivo do falante, Brown e Levinson (1987) apresentam duas classes: (a) aquelas em que a ameaça à face não é minimizada; (b) aquelas em que o falante minimiza as ameaças de face pelas implicaturas. As

formas do verbo no imperativo são exemplos claros de uso bald on record, que serão apresentados em seguida.

(a) Casos em que a ameaça à face não é minimizada

Há casos em que o mais patente objetivo é a eficiência da informação e, para isso exige-se o máximo de clareza e rapidez. Nesses casos, geralmente constituídos por situações desesperadoras e emergenciais, o falante e o ouvinte abrem mão da preservação de face, assim como do uso de estratégias de polidez, como ocorre em pedido de ajuda desesperador “Socorro!”, que se comparado a uma situação de estabilidade seria bastante diferente de “Por favor, ajude-me!”/ “Você poderia fazer a gentileza de me ajudar”. Contudo, os envolvidos na interação não se sentiriam ameaçados por um pedido de socorro, ou por expressões como “Escute, eu tenho uma ideia”, “Olhe, o ponto é ...”, devido à necessidade de máxima eficiência ser mais importante no ato da interação, sendo que o uso de um equalizador poderia diminuir a urgência comunicada.

Brown e Levinson (1987) ressaltam que a urgência metafórica talvez explique porque as ordens e as súplicas ocorrem em muitas línguas com uma sintaxe superficial representada pelo imperativo. Exemplificam que a Índia possui formas como as equivalentes no português: “Me dê dinheiro”; no uso de expressões formulaicas, como “Perdoe-me”, “Aceite meus agradecimentos”. Outra formulação que dispensa equalização é encontrada onde há dificuldades de comunicação, motivada por razões físicas, como ruídos: “Venha pra casa agora!”, “Fala mais alto!”. Quando o foco está na atividade é comum não se considerar a ameaça à face, como em “Tá errado: o buraco deve ser maior.” /“Adicione três xícaras de farinha e mexa.” Outra ação em que o falante não se preocupa (ou pouco se preocupa) com a face do ouvinte está relacionada ao poder exercido pelo falante sobre o ouvinte, fazendo com que aquele não se importe em sofrer algum tipo de retaliação ou, pode-se dar pela falta de cooperação do ouvinte: “Traga-me mais vinho.” Nesse mesmo sentido o falante, também, pode não se importar com sua face por querer ser grosseiro ou por considerar como uma brincadeira: “Pode chorar à vontade!” (para crianças).

Outro conjunto de fatos que não minimizam a ameaça à face ocorre quando o interesse está no ouvinte, ou seja, o falante leva em conta que está agindo em favor do ouvinte, buscando beneficiá-lo de alguma forma. Isso ocorre com o conselho como em “Cuidado! Esse homem é perigoso!”, em casos de alerta a algum amigo ou conhecido/ ou outros como “Não fique triste”, em situação de perda ou insatisfação do ouvinte; com a

permissão para o próprio ouvinte “Sim, pode ir.”; com despedidas de viagens “Boa viagem, divirta-se!”/ “Cuide-se!”.

(b) Casos em que o falante minimiza as ameaças de face pelas implicaturas

Outro uso de bald on record realmente orientado para a face, diz respeito à cooperação mútua entre os interagentes, de modo que cada participante tenta se prevenir. Em certos casos, o falante consegue perceber que o ouvinte está preocupado com a ocorrência de uma possível ameaça e busca tranquilizá-lo, como em “Fique à vontade!”, por exemplo. Segundo Brown e Levinson (1987, p.99), há três áreas em que se poderia esperar a ocorrência dessas ações, como:

(i) boas vindas ou despedidas – o falante insiste que o ouvinte possa se impor sobre sua face negativa, ou seja, que o falante possa „invadir‟ seu território pessoal.11

(ii) despedidas – o falante insiste que o ouvinte pode transgredir sua face positiva, tendo sua licença ou autorização.12

(iii) ofertas – o falante insiste que o ouvinte se imponha sobre sua face positiva (do falante).13

Nessas três áreas, os convites são potencialmente ameaçadores da face, pois há um risco de o ouvinte não aceitar o convite. Onde esse risco é grande, deve-se esperar o uso de outra estratégia, não a bald on record. Assim, o falante não diz “Sente-se” para uma pessoa perceptivelmente mais importante que ele. Mas se consegue prever que há um risco pequeno, usa-se a bald on record, é assim praticamente em todas as línguas. Exemplos clássicos desse tipo de manifestação geralmente ocorrem com o verbo no imperativo, como em inglês “Come in”, ou no português “Entre”, “Coma mais”.