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Mapa 4-Mapa de Cabo Verde

4.1 A manifestação da polidez linguística nas entrevistas do PROFALA/UFC

4.1.2 Marcadores de aprovação, concordância

Verificamos, no corpus estudado, a utilização de marcadores que sugerem concordância ou aprovação. Na fala dos documentadores, os mais comuns foram: certo, tá, tá certo, então tá, okey, muito bem, pronto, uhn, isso, sim, tranquilo, exatamente, isso muito bom. Já na fala dos entrevistados, os mais recorrentes foram: tá, certo, unh, é, isso, sei. Esses marcadores são usados pelo falante geralmente para fazer anuência a algo anteriormente enunciado pelo interlocutor, como podemos verificar nos fragmentos 6 e 7.

Fragmento 6

DOC1: tá dando pra ouvir direitinho daí” → (autor) 78H+CVQFF: tá

Fragmento 7

Doc.1: [porque o pai tem uma significação diferente

112H+TLQFF: sim sim

Doc.1: bom‟ vamos continuar então a entrevista

112H+TLQFF: tá certo

Os fragmentos acima exemplificam os marcadores de concordância cujo uso associamos à estratégia Busque concordar, considerada por Brown e Levinson (1987) como uma estratégia de polidez positiva, pois leva em conta o desejo do ouvinte de ser aceito, reflete a simpatia, a cooperação e a cordialidade. No fragmento 6, o entrevistado 78H+CVQFF, estudante cabo-verdiano, responde assertivamente a pergunta do documentador, evitando ser indelicado, elevando sua face positiva de estudante educado, cooperativo. No fragmento 7, o entrevistado 112H+TLQFF, estudante timorense, por meio dos marcadores de concordância expressa o desejo de ser visto como alguém disposto a cooperar, faz do desejo do ouvinte o seu próprio desejo, mesmo que o enunciado do ouvinte (“vamos continuar então a entrevista”) possa ser um pouco ameaçador da face negativa, por parecer uma imposição. A tabela 7, abaixo, mostra uma síntese das ocorrências de marcadores de aprovação ou concordância, todos em posição inicial de turno.

Tabela 7-Ocorrências de Marcadores de Aprovação/concordância nas entrevistas com Cabo- verdianos e Timor Leste.

MARCADORES DE APROVAÇÃO E

CONCORDÂNCIA – CV e TL POSIÇÃO DO MARCADOR/NÚMERO DE OCORRÊNCIAS

INICIAL INICIAL TOTAL

P/GÊNERO

CV TL

01 Homens + de 6 meses de permanência no Brasil 37 62 99 02 Homens - de 6 meses de permanência no Brasil 03 03 06 03 Mulheres + de 6 meses de permanência no Brasil 46 14 60 04 Mulheres - de 6 meses de permanência no Brasil 29 20 49

SOMA 115 62 177

Fonte: Elaboração própria.

Esperávamos, pela hipótese inicial, que os entrevistados usassem mais os marcadores de concordância, devido à sua posição de desvantagem na hierarquia interacional prevista pelas características do gênero entrevista e que os documentadores os utilizassem com menor frequência, contudo essa hipótese não se confirmou uma vez que a maior incidência de concordância se deu por parte dos documentadores. Tal fato deve estar ligado aos interesses dos documentadores de manter a interação tão necessária para seus estudos, além de que geralmente as entrevistas alcançavam muito tempo de duração e uma insatisfação por parte do entrevistado poderia prejudicar o andamento das entrevistas. Por outro lado, a ação desenvolvida pelos documentadores apresentava uma necessidade de incentivar o entrevistado a falar por isso buscavam concordar mesmo quando a resposta não parecia satisfatória, outro aspecto a considerar seria o volume de fala dos documentadores que é muito maior que dos entrevistados, fator a ser considerado com cautela já que não trabalhamos com pesos relativos.

4.1.3 Marcadores de argumentação (ou argumentadores)

Esses marcadores caracterizam-se por iniciarem argumentação contrária ao discurso precedente. No corpus estudado, verificamos que na tentativa de fugir da discordância, os interagentes optavam por usar marcadores que minimizassem a ameaça a face do outro. Os entrevistados preferiam formas como sim mas, pra mim, sei mas e os documentadores/autores, as formas: certo mas, isso mas, isso mas, sim mas.

No fragmento 8 verificamos dois casos em que esses marcadores são utilizados: “eu sei mas eu não tô sabendo pronunciar (++) braguilha né”” e “(++) pra mim é energético”. A primeira aplicação (“eu sei mas eu”) argumenta o fato de o entrevistado não estar conseguindo lembrar da resposta da pergunta que lhe é destinada, pois afirma saber embora

falte-lhe a palavra que designa o referente. Com essa argumentação, valoriza sua face, não querendo assumir um desconhecimento do termo usa uma estratégia de polidez “assegure ou pressuponha o conhecimento e a consideração do falante sobre o desejo do ouvinte” , o falante-entrevistado demonstra a pretensão de conhecer os interesses do ouvinte.

Ao proferir a segunda forma (“(++) pra mim é energético”) em relação ao tipo de ferro usado para passar roupas parece proteger a face utilizando uma estratégia de polidez que recomenda que devemos nos restringir em determinadas situações para nos resguardarmos de nossas verdades. Podemos observar que o documentador busca preservar a „verdade‟ do entrevistado utilizando um marcador de aprovação ou concordância, com tal atitude não invade o território pessoal que o entrevistado quer ver preservado, evita a imposição.

Fragmento 8

Doc.1: mas aquela aberturazinha o zíper tá ali‟ o conjunto todo → ((autor))

19H+CVQFF: ++

Doc.1: Como é o nome” →((autor))

19H+CVQFF: fecho/zíper

Doc.1: tem outro nome” →((autor))

19H+CVQFF: aa: bra/braguilha” né braguilha” é porque eu quero braguilha não”

Doc.1: Como” ((com um certo espanto)) é exatamente

19H+CVQFF: eu sei mas eu não tô sabendo pronunciar ++ braguilha né”

Doc1: ISSO:/o que é que se usa aqui no dedo

DOC1: é um ferro é ligado a energia (+)então como é que se diz‟‟ é um fer::ro 78H+CVQFF: (++) pra mim é energético né agora se tem outro no

DOC1: certo/e aquilo que se abre quando se quer lavar as mãos na pia”

Marcuschi (1989) considerou o marcador pra mim como um argumentador. Vendo-o a partir da perspectiva da polidez, podemos analisá-lo como uma estratégia de polidez negativa, restrinja-se em que ao mesmo tempo que serve como um argumentador, resguarda uma verdade, que o entrevistado parece não querer compartilhar, como algo que é do seu território pessoal. Embora nosso foco não seja o documentador, percebemos que seu papel na interação é muito importante para a verificação e/ou entendimento da polidez dos entrevistados, no final desse fragmento o marcador de concordância constitui um „presente‟ para o interlocutor, uma estratégia de polidez positiva usada para evitar uma potencial ameaça, enfatizar a cooperação, o doc.1 sabe que não é esse termo, mas aprova para não ameaçar a face de seu interlocutor.

4.1.4 Marcadores de busca de aprovação

Os marcadores conversacionais exercem um papel muito importante nas nossas interações verbais. Por meio deles podemos obter uma melhor organização do texto, utilizando os marcadores ideacionais ou podemos nos orientar no compartilhamento dos turnos, melhorar nossas percepções quanto ao andamento da conversação, usando os marcadores interpessoais. Os marcadores de busca de aprovação pertencem ao grupo dos marcadores interpessoais ou pragmáticos, segundo Castilho (2003) servem para cobrar a colaboração dos outros, são muito comuns nas interações diárias. São exemplos desses marcadores (entre outros): não é? né?sabe?certo? entendeu?tá?

Os fragmentos abaixo exemplificam a ocorrência dos marcadores de busca de aprovação. Em relação à polidez parecem contribuir para proteger a face do entrevistado que busca o apoio do seu interlocutor.

Fragmento 9

Doc.1: de um canto pro outro‟ como é que se chama essa caminhada”

19H+CVQFF: é é procissão né”/

Doc.1: [COMO”

19H+CVQFF: PROCISSÃO não é

Fragmento 10 Doc.1: dentro de quê”

99H+TLQFF: como/ como guARda roupa assim

Doc.1: isso/

99H+TLQFF: um guarda roupa né” como assim um armário” Doc.1: [sapatos

--

73H+CVQFF: eu moro numa CA-SA ++ certo”

Doc.1: certo

73H+CVQFF: CERTO” num segun/ primeiro andar com dois quartos

Doc.1: certo/ e o que é que precisa para construir uma casa”

Os marcadores de busca de aprovação né”, não é” certo” compõem no nosso corpus um dos grupos mais numerosos, entre os marcadores linguísticos. Ressalta a estratégia de polidez busque concordar que dá mais segurança ao falante se ele tiver anuência do ouvinte.