• Nenhum resultado encontrado

Mapa 4-Mapa de Cabo Verde

3.3 Procedimentos de análise

Quanto aos aspectos procedimentais da pesquisa, estabeleceram-se alguns passos: Primeiramente foi feita a coleta dos dados, por meio de gravação de voz65, em segundo lugar a Transcrição grafemática dos fragmentos das entrevistas que compõem o corpus de pesquisa seguindo modelo proposto por Marcuschi (2002) para o registro de textos orais. Conforme quadro abaixo.

Quadro 9-Normas de Transcrições.

Ocorrências Sinais Exemplos

Falas simultâneas:

quando dois falantes iniciam ao mesmo tempo um turno

[[ B: mas eu não tive nenhum remorso né‟ A: mas o que foi que houve” J: Meu irmão também fez uma dessas‟

Sobreposição de vozes: quando a concomitância das falas não se dá desde o início do turno

[ E: o desequilíbrio ecológico pode a QUALQUER

MOMENTO: (+) acabar com a civilização natural mas pode ser

T: o mundo tá se preocupando com isso (+)

Sobreposição

localizada [ ] M: A é o seguinte im

M: eh: dizer que ficou pronta a cópia ah sim

várias universidades brasileiras se uniram. Criou-se, então, um Comitê Nacional, constituído de nove membros, representando oito universidades brasileiras: Suzana Cardoso (UFBA) – Diretora-Presidente, Jacyra Mota (UFBA) – Diretora-Executiva, e os Diretores Abdelhak Razky (UFPA), Aparecida N. Isquerdo (UFMS), Cléo Vilson Altenhofen (UFRGS), Maria do Socorro Aragão (UFC), Mário Roberto Lobuglio Zágari (UFJF), Vanderci Aguilera (UEL) e Walter Koch (UFRGS). Esse comitê foi ampliado em 2009 com mais dois diretores científicos, Ana Paula A. Rocha (UFOP) e Felício W. Margortti (UFSC). O objetivo central desses pesquisadores é documentar a língua portuguesa no Brasil, segundo os usos nas diferentes regiões do país.

63 São ditos quatro porque os dois últimos (que estão na letra f) não são considerados sub-questionário. 64 O Questionário Fonético- Fonológico (QFF), utilizado na realização desta pesquisa, segue o modelo do

primeiro questionário do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (AliB).

Pausas: pausas e

silêncios, em pausas pequenas + para cada 0.5segundos; para as pausas além de 1.5 segundos, indica-se o tempo (1.8), (2.5)

(+) ou (2.5) T: o mundo tá se preocupando com isso (+)

Dúvidas ou

suposições: é comum

não se compreender parte da fala. Neste local coloca-se um parêntese, tendo-se duas opções; a) colocar a expressão incompreensível entre parênteses ou b) escrever o que se supõe ouvir.

( ) A: /.../ por exemplo (+) a gente tava falando em desajuste, (+) EU particularmente acho tudo na vida relativo, (1.8) TUDO TUDO TUDO (++) tem um que sã::o (+)/ tem pessoas problemáticas porque tiverem muito amor (é o caso do) (incompreensível)

Truncamentos bruscos: quando um

falante corta uma unidade, pode-se marcar o fato com uma barra. Isto também pode ocorrer quando alguém é bruscamente cortado pelo parceiro.

/ L: vai tê que investi né”

C: é/ (+) agora tem uma possibilidade boa que é quando ela sentiu que ia morá lá (+) e:le o dono / ((rápido)) ela teve conversan comi/ agora

Ênfase ou acento forte:

Quando uma sílaba ou

uma palavra é

pronunciada com

ênfase ou recebe acento mais forte que o habitual.

MAIÚSCULA Ver exemplos acima

Alongamento de vogal: quando ocorre

um alongamento de vogal coloca-se os dois pontos. Os dois pontos podem ser repetidos a depender da duração.

:: A: co::mo” (+) e::: u”

Comentários do

analista

Silabação: quando uma palavra é pronunciada silabicamente, usam- se hifens indicando a ocorrência. --- Sinais de entonação:

Usam-se aspas duplas – para uma subida rápida (corresponde mais ou menos ao

ponto de

interrogação)

Usam-se aspas

simples para uma subida leve (algo como uma vírgula ou um ponto-e-vírgula) Aspa simples abaixo da linha - para descida leve ou brusca,

” ‟ , Ver exemplos acima

Repetições: duplicação de letra ou sílaba – para repetições, reduplica- se a parte repetida e e e ele; ca cada um Pausa preenchida, hesitação ou sinais de atenção: basicamente usam-se reproduções de sons cuja grafia é muito discutida, mas alguns estão mais ou menos claros

eh, ah, oh, Il, ahã Indicação de transcrição parcial ou de eliminação: o uso de reticências no inicio e no final de uma transcrição

indica que se está transcrevendo apenas um trecho. Reticências entre barras indicam um corte na produção de alguém.

... ou /.../ Ver exemplos acima.

Em seguida, fez-se a conceituação e caracterização do gênero entrevista quanto a sua forma de organização e sua especificação no desenvolvimento desta pesquisa haja vista tratar-se de entrevista aparentemente fechada. Na primeira parte selecionada (fonético- fonológico), esperava-se que o entrevistado respondesse apenas com uma palavra, mas talvez motivado pelo desejo de preservação de face, possibilita uma interação, em busca da resposta aceita pelos entrevistadores.

Posteriormente, realizou-se o exame das características das interações verbais nas entrevistas que compõem o corpus, depreensão dos trechos que se utilizam de marcadores conversacionais que de alguma forma interferem na estrutura de participação e na postura adotada nas entrevistas com cabo-verdianos e timorenses tendo em vista a compreensão das estratégias de polidez. Nesta fase, observamos:

(1) Que marcadores eram utilizados e o que eles expressavam;

(2) Se a diferenciação de gênero/sexo, se homem, ou se mulher, implicava maior ou menor preocupação em preservar a face;

(3) Que posição era ocupada pelos marcadores e se a mudança de posição deles implicava mudança de função.

(4) A maior ou menor incidência de estratégias de polidez, considerando o tempo de permanência no Brasil. E, que estratégias foram utilizadas;

(5) A influência da procedência na seleção dos marcadores que denotam polidez.

(6) Se havia mudança de papéis assumidos pelos documentadores em relação aos informantes;

(7) De que forma os interagentes se ajustavam diante um do outro e como protegiam sua face;

(8) Se os marcadores ou a ausência deles estavam de alguma forma relacionados à mudança de papeis dos envolvidos;

(9) Analisou-se a construção da imagem social dos inter locutores envolvidos na interação face a face, com enfoque no entrevistado, levando em conta as normas de conduta impostas pela sociedade, pois é o seu ajustamento/alinhamento na estrutura de participação da entrevista que está sendo analisado;

(10) Observou-se, por meio de análise do corpus, como os universitários africanos e asiáticos da UFC e da UNILAB radicados no Brasil alinham-se a um contexto interacional específico de entrevista-questionário e que estratégias de polidez utilizam para se enquadrarem na estrutura de participação;

(11) Análise do movimento de preservação e ameaça às faces dos envolvidos na interação, da observação das estratégias de polidez utilizadas ou não pelos interagentes da conversação. (BROWN; LEVINSON, 1987).

A princípio nossa pretensão era fazer uma pesquisa somente de caráter qualitativo, mas observamos que a partir dos objetivos que tínhamos traçado, o corpus se tornaria mais operacionlizável se trabalhássemos numa pespectiva quantitativa, então resolvemos contabilizar as ocorrências dos marcadores conversacionais para que tivéssemos um parâmetro para nos subsidiar nas tomadas de decisões diante do fenômeno estudado. Nossa contagem foi manual, não utilizamos nenhum programa computacional para fins de quantificações, percentuais e ou pesos relativos, trabalhamos, portanto, com a ideia de frequência/ocorrência.

Após a triagem dos trechos que continham os marcadores conversacionais selecionados: atenuação, aprovação/concordância, argumentação, busca de aprovação, discordância e identidade de grupo (considerados linguísticos) e, Marcador não linguístico – o „silêncio‟ (ausência de resposta) e Marcador não linguístico – o „riso‟; começamos a contagem de cada um deles dividindo em dois grupos, os enunciados pelos homens e os enunciados pelas mulheres para que pudéssemos estabelecer as diferenças entre os dois. Em seguida, contamos novamente cada um dos 8 tipos de marcadores estudados, considerando a posição ocupada por eles no turno: inicial, medial e final. Prosseguimos a contagem, a partir da mesma forma, levando em conta o tempo de permanência no Brasil (mais de seis meses) e (menos de seis meses); contando novamente cada um dos marcadores em estudo, consideramos a procedência.

Os marcadores não linguísticos contados conjuntamente com os linguísticos, por serem elementos suprassegmentais, contamos a partir de duas formas: o „silêncio‟ foi considerado como marcador, apenas em posição inicial, depois da passagem de turno do documentador para o entrevistado. O „riso‟ fomos registrando no decorrer das nossas transcrições e passamos a contar a partir desses registros.

Concluída a contagem dos marcadores, sistematizamos em tabelas, quadros e gráficos para facilitar a exposição e compreensão das informações discutidas. Considerando os dados obtidos, relacionamos o uso dos marcadores com as estratégias de polidez.

Depois da contagem dos marcadores, retornamos ao corpus para a verificação das estruturas de participação e categorização em cinco tipos:

(i) tipo 01 (documentador 01, documentador 02 e entrevistado); (ii) tipo 02 (documentador 01, entrevistado e „intromedito‟);

(iii) tipo 03 (documentador 01, documentador 02, entrevistado, ouvinte não- ratificado ou circunstante);

(iv) tipo 04 (documentador 01 e entrevistado e circunstante). (v) tipo 05 (doc.1 + entrevistado).

A partir dos cinco tipos de estruturas que encontramos, começamos a identificar que os documentadores, por vezes, reproduziam as perguntas ou questões escritas pelo guia do QFF, mas quando os entrevistados não respondiam com a palavra esperada, dadas as exigências de caracterização fonético-fonológica, os documentadores assumiam papeis diferentes. No primeiro caso animavam, davam vida ao discurso institucional/científico e no segundo caso, pareciam ser autores refazendo ou reformulando o discurso, fugindo do padrão do QFF. Com base nessas formas de interação, consideramos o primeiro como animador e o segundo como autor. Além desses papéis, verificamos também os diferentes enquadres que ocorreram no decorrer das entrevistas, dentro de cada nacionalidade, exemplificando e discutindo a funcionalidade do marcador como uma estratégia de polidez.

Este capítulo tem um triplo objetivo: caracterizar o corpus constituído de entrevistas de estudantes dos dois países: cabo verde e Timor Leste; apresentar detalhadamente a metodologia utilizada para a coleta de dados, o seu tratamento e os procedimentos de análises, orientam para uma melhor compreensão do capítulo seguinte, o da análise propriamente dita.

4 AS MANIFESTAÇÕES DE POLIDEZ E A ESTRUTURA DE PARTICIPAÇÃO NAS ENTREVISTAS

Propusemo-nos a analisar os modos de organização das interações verbais entre pesquisadores e estudantes universitários de Cabo verde e do Timor Leste, destacando as estratégias de polidez utilizadas por esses estudantes durante a aplicação do QFF do PROFALA. Inicialmente, apresentamos os marcadores conversacionais em estudo e fizemos sua correlação com as estratégias de polidez. Em seguida, sem perder de vista a polidez, verificamos em que medida o sexo/gênero, a posição dos marcadores, o tempo de permanência no Brasil, a procedência e a estrutura de participação interferiram na seleção dessas estratégias.