A estrutura de análise para investigação do contexto empírico desta pesquisa foi baseada na literatura, em especial no referencial teórico apresentado nesta pesquisa. A estrutura é composta por cinco “camadas” (do inglês layered), termo utilizado por Heisig (2009), que representam os elementos pelos quais a gestão do conhecimento pode ser analisada em uma instituição de ensino, conforme sintetizado na Figura 14.
Figura 14 – Estrutura de análise da gestão do conhecimento em uma instituição de ensino
Fonte: adaptado de Heisig (2009), Oliveira et al. (2011).
A primeira camada, Alma do Negócio – representa o foco das instituições de ensino e seus processos-chave, ou seja, sua atividade-fim, em especial, o ensino, a pesquisa e a extensão, conforme consta na Visão do IFSC, Portaria do(a) Reitor(a) Nº 8, de 2 de janeiro de 2018 (site: http://www.ifsc.edu.br). Assim, conforme assevera Heisig (2009, p. 15), a
gestão do conhecimento tem que demonstrar seus benefícios para os processos-chave de uma organização, não apenas da perspectiva do gerenciamento, mas também da perspectiva dos “trabalhadores do conhecimento” que realizam essas tarefas diariamente.
A segunda camada – Processos de GC – designa um conjunto de atividades que devem ser executadas ao longo do ciclo de vida do conhecimento (ASMA e ABDELLATIF, 2016) alinhadas à alma do negócio. Os processos de GC são determinantes da eficácia na implementação da GC (HSIEH et al., 2009). Enquanto o termo processos é utilizado na maioria dos estudos (ASMA e ABDELLATIF, 2016; De FREITAS e OLTRA, 2015; BATISTA, 2012, TAN e NOOR, 2013; RIVERA e RIVERA, 2016, LEITE e COSTA, 2007), termos como atividades centrais (HEISIG, 2009), práticas (DEVI RAMACHANDRAN et al., 2013) e fases (BRITO e BOLSON, 2014) também são encontrados para designar os processos de GC.
Ao analisar 160 estruturas de GC advindas da ciência, prática, associações e organismos de padronização em todo o mundo, no período de 1995 a 2003, Heisig (2009) detectou um consenso subjacente para descrever as atividades (processos) de GC. Com base nesse estudo, o autor identificou os termos mais utilizados em uma estrutura de GC: criar, armazenar, compartilhar, aplicar e adquirir conhecimento. Esses processos, integrantes da estrutura de análise da presente pesquisa são apresentados no Quadro 16.
Quadro 16 – Processos base da GC nas instituições de ensino
Processos Descrição
Criar
Geração consciente e intencional de conhecimento, englobando atividades que visam originar novas ideias e soluções úteis para a organização (ZAIM H, TATOGLU e ZAIM S, 2007).
Armazenar
Organização e codificação do conhecimento, de forma que permita ser acessado e utilizado por meio da criação de uma memória organizacional, a qual possibilita o reuso e a recriação do conhecimento (DAVENPORT e PRUSAK, 1998; ZAIM H, TATOGLU e ZAIM S, 2007).
Compartilhar Transmissão e absorção do conhecimento entre os indivíduos na organização (DAVENPORT e PRUSAK, 1998; HSIEH et al., 2009).
Aplicar
Uso do conhecimento visando a condução de mudanças de comportamento, mudanças nas práticas e políticas e no desenvolvimento de novas ideias e processos (ZAIM H, TATOGLU e ZAIM S, 2007).
Adquirir
Aquisição de conhecimentos internamente e externamente à organização com foco em pesquisa e aprendizagem organizacional (WEN, 2009; LIN, 2007; CHEN e FONG, 2012).
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
A terceira camada – facilitadores da GC – refere-se a um conjunto de aspectos existentes na organização que apoiam os processos de GC (RIVERA e RIVERA , 2016). Além de “facilitadores” (TAN e NOOR, 2013; RIVERA e RIVERA,
2016; HEISIG, 2009), outros termos são encontrados em estudos sobre GC para representar esse entendimento, como por exemplo: viabilizadores (BATISTA, 2012), áreas de preocupação (MACHADO, 2016), dimensões (TEODOROSKI et al., 2013;
DEVI RAMACHANDRAN et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2014; CRUZ, 2014), objetos de gerenciamento (HSIEH et al., 2009). O Quadro 17 apresenta a síntese dos facilitadores da GC utilizados na presente pesquisa, bem como autores que os referenciam.
Quadro 17 – Facilitadores da GC nas instituições de ensino
Facilitadores Descrição Autores
Tecnologia da Informação (TI)
Recursos tecnológicos e computacionais que fornecem suporte aos processos de GC.
Pee e Kankanhalli (2009); Oztemel e Arslankaya (2012); Oliva (2014); Cegarra-Navarro e Cepeda- Carrión (2010); Khatibian et al. (2010); Zaim et al. (2007); Lin (2007); Lee e Kim (2001); de Gooijer (2000); Chen e Fong (2012); Hsieh et al. (2009); García-Fernández (2015); Lee et al. (2005); Fan et al. (2009); Tseng (2008). Cultura Organizacional e Pessoas Conjunto de valores e práticas voltados à GC. Motivação e atitude das pessoas em relação à GC.
Fan et al (2009); Robinson et al. (2006); Zaim et al. (2007); Chen e Fong (2012); Khatibian et al. (2010); Chawla e Joshi (2010); Oztemel e
Arslankaya (2012); Hsieh et al. (2009); de Gooijer (2000); Tseng (2008); Oliva (2014); Pee e
Kankanhalli (2009); Lee e Kim (2001); Lin (2007); Cegarra-Navarro e Cepeda-Carrión (2010); Oliva (2014); Wen (2009). Políticas e Estratégias da GC Intencionalidade, estruturação e planejamento da GC.
Robinson et al. (2006); Pee e Kankanhalli (2009); Lee e Kim (2001); Khatibian et al. (2010); Chen e Fong (2012); Oztemel e Arslankaya (2012); Hsieh et al (2009); Tseng (2008); Lin (2007); Fan et al. (2009). Estrutura e Liderança Organizacional Desenvolvimento e sustentação de uma estrutura organizacional propícia à GC. Estilo de liderança, suporte e comprometimento com a GC.
Khatibian et al. (2010); Zaim et al (2007); Lee e Kim (2001); Cegarra-Navarro e Cepeda-Carrión (2010); Tseng (2008); Oliva (2014).
de Gooijer (2000); Lin (2007); Chawla e Joshi (2010); Hsieh et al. (2009); García-Fernández (2015).
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
A quarta camada – variáveis da GC – representa elementos relacionados aos facilitadores e considerados na sua análise. O Quadro 18 apresenta as variáveis da GC nas instituições de ensino que foram utilizadas na presente pesquisa, bem como os autores de referência.
Quadro 18 – Variáveis da GC nas instituições de ensino
Facilitadores Variáveis Descrição Autores
Tecnologia da informação Memória organizacional Apoio da TI ao mapeamento, à sistematização e à adequada
disseminação do conhecimento visando reduzir o retrabalho e a perda de
conhecimentos inerentes às habilidades e às experiências dos servidores.
Souza (2009); Coelho (2014)
Compartilhamento e colaboração
Apoio da TI ao compartilhamento do conhecimento e à colaboração dos servidores intracampus e intercampi.
Machado (2016) Cultura Organizacional e Pessoas Educação corporativa
Práticas educacionais visando a
atualização técnica e cultural do servidor e seu desenvolvimento na instituição.
Souza (2009); Meister (1999)
Estímulos ao compartilhamento do conhecimento
Valores e práticas voltados ao
compartilhamento. Souza (2009)
Estímulos à criatividade e inovação
Valores e práticas voltados à criatividade
e inovação. Souza (2009)
Envolvimento e comprometimento com a GC
Motivação dos servidores para a GC e participação em atividades e processos da GC. Machado (2016) Políticas e Estratégias da GC Planejamento da GC Estabelecimento de princípios/visão, políticas, objetivos e estratégias de GC, bem como a formalização de processos de GC.
Machado (2016)
Papel da GC na estratégia da organização
Alinhamento entre estratégias de GC e estratégias da instituição, alocação de recursos e definição de papéis de GC.
Machado (2016) Estrutura e Liderança Organizacional Estrutura organizacional
Estruturas formais de relações e
interação existentes entre os servidores, normas, regulamentos e níveis de autoridade e responsabilidade
Souza (2009) Machado (2016)
Liderança Papel e envolvimento dos líderes (gestores) na GC.
Machado (2016), APO (2009) Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
A quinta camada – indicadores da GC – envolve índices de monitoramento para avaliar e gerenciar ações na GC (GONÇALO et al., 2010; STEWART, 1997; SVEIBY, 1998). Hsieh et al. (2013) observam que o número desses indicadores é difícil de determinar e que os mesmos apresentam relações entre si. Os indicadores para avaliação da GC, quando aplicados em uma IES, buscam monitorar as ações empregadas nos vários níveis da gestão acadêmica (estratégico, pedagógico e
administrativo, permitindo o gerenciamento contínuo (COLAUTO e BEUREN, 2006).
Os referidos autores asseveram que os indicadores auxiliam no monitoramento de vários níveis da gestão acadêmica. Para Hsieh et al. (2009) os indicadores permitem uma avaliação holística das atividades de GC e, assim, com os dados obtidos permitem analisar a posição atual da GC, permitindo desta forma que os gestores façam ajustes caso necessário.
Com base em indicadores identificados em estudos de GC, os Quadros 17, 18, 19 e 20 apresentam aqueles utilizados nesta pesquisa relacionados às variáveis e respectivos facilitadores. Um conjunto de 34 indicadores da GC foi utilizado para identificar a percepção dos servidores (professores, técnico-administrativos e gestores) sobre a gestão do conhecimento na instituição. Cada indicador está relacionado com um ou mais processos da GC: criar, armazenar, compartilhar, aplicar e adquirir conhecimento.
A presente pesquisa, ao obter a percepção dos indicadores na perspectiva dos professores, técnico-administrativos e gestores do IFSC, pretende apresentar a situação holística atual da GC na instituição, para que os gestores possam formular ações de ajustes, caso necessário.
No Quadro 19, estão relacionados 14 indicadores para o facilitador Cultura Organizacional e Pessoas, sendo 2 indicadores para a variável “Educação corporativa”, 5 indicadores para a variável “Apoio ao compartilhamento do conhecimento”, 4 indicadores para a variável “Estímulos à criatividade e inovação” e 3 indicadores para a variável “Envolvimento e comprometimento com a GC”.
Quadro 19 – Indicadores da GC – Facilitador Cultura Organizacional e Pessoas
Variáveis Indicadores/Número do item do questionário Processos da GC
Educação corporativa
1. A instituição propicia a capacitação e participação em eventos para que os servidores ampliem as suas
habilidades e conhecimentos para desempenhar as suas atividades.
Adquirir Aplicar 2. A instituição oferece capacitação formal aos servidores
relacionada à gestão do conhecimento. Adquirir
Apoio ao
compartilhamento do conhecimento
3. A instituição, de alguma forma, estimula o
compartilhamento do conhecimento entre os servidores do seu campus, criando uma cultura de equipe.
Compartilhar 4. A instituição, de alguma forma, facilita e estimula o
diferentes campi do estado.
5. Há algum sistema de recompensa atrativo (financeiro e/ou não financeiro) para encorajar o compartilhamento de conhecimento entre os servidores.
Compartilhar 6. As relações estabelecidas pela instituição com agentes
externos (universidades, centros tecnológicos, empresas, entre outros) contribuem para o compartilhamento de conhecimentos.
Compartilhar
7. A instituição assegura que o conhecimento localizado em todos os setores de trabalho seja acessível a todos os servidores. Armazenar Compartilhar Estímulos à criatividade e inovação
8. As parcerias estabelecidas pela instituição com agentes externos (outras instituições de ensino, centros
tecnológicos, empresas, entre outros) propiciam a geração de novos conhecimentos e inovação.
Criar
9. A instituição, de alguma forma, desenvolve uma cultura
favorável para a geração de novas ideias pelos servidores. Criar 10. A instituição possui procedimentos para coleta de
propostas (novas ferramentas e métodos) de servidores que são incorporadas como conhecimento ou adotadas pela instituição.
Armazenar Compartilhar Aplicar 11. A instituição recompensa (financeiramente e/ou não
financeiramente) os servidores que realizam inovações ou buscam novos métodos para desenvolver atividades na instituição. Criar Aplicar Envolvimento e comprometimento com a GC
12. Os servidores conhecem as atividades relacionadas à gestão do conhecimento desenvolvidas na instituição.
Compartilhar Armazenar Criar Adquirir Aplicar 13. Servidores sentem-se pessoalmente envolvidos e
comprometidos na implementação da gestão do conhecimento na instituição. Aplicar Armazenar Criar Adquirir Compartilhar 14. Servidores estão dispostos a compartilhar
conhecimento quando solicitados por outros servidores da instituição.
Compartilhar
Fonte: adaptado de Souza (2009), APO (2009), Batista (2012), Teodoroski et al. (2013), Cuffa et al. (2014), Machado (2016).
No Quadro 20, estão relacionados cinco indicadores para o facilitador Políticas e Estratégias, sendo dois indicadores para a variável Planejamento da GC e três indicadores para a variável Papel da GC na estratégia da organização.
Quadro 20 – Indicadores da GC – Facilitador Políticas e Estratégias
Variáveis Indicadores/Número do item do questionário Processos da GC
Planejamento da GC
15. Há políticas e estratégias de gestão do conhecimento claramente definidas pela instituição.
Aplicar Armazenar Criar Adquirir Compartilhar 16. São utilizados indicadores para avaliar e medir o
impacto das contribuições e das iniciativas da GC da instituição. Aplicar Armazenar Criar Adquirir Compartilhar Papel da GC na estratégia da organização
17. A gestão do conhecimento está claramente
incorporada no planejamento estratégico da instituição.
Aplicar Armazenar Criar Adquirir Compartilhar
18. A instituição investe recursos financeiros suficientes para o apoio às iniciativas da GC.
Criar, Armazenar, Compartilhar, Adquirir, Aplicar 19. Há um departamento, área ou grupo efetivo, dedicado
e responsável pelas práticas da gestão do conhecimento na instituição.
Aplicar
Fonte: adaptado de Souza (2009), APO (2009), Batista (2012), Teodoroski et al. (2013), Cuffa et al. (2014), Machado (2016).
No Quadro 21, estão relacionados sete indicadores para o facilitador Estrutura e Liderança Organizacional, sendo quatro indicadores para a variável Estrutura organizacional e três indicadores para a variável Liderança.
Quadro 21 – Indicadores da GC – Facilitador Estrutura e Liderança Organizacional
Variáveis Número do item do questionário/Indicadores Processos da GC
Estrutura organizacional
20. Equipes interfuncionais (com integrantes de diferentes funções) e interdepartamentais (com
integrantes de diferentes departamentos) são formadas para desenvolver atividades e resolver problemas no local de trabalho.
Compartilhar e Aplicar conhecimento 21. A estrutura hierárquica (organograma) da instituição
facilita a troca de informações e conhecimentos entre os colaboradores dos diversos níveis.
Compartilhar 22. O nível de descentralização de autoridade é
adequado para participação dos servidores nas decisões institucionais.
23. As pessoas sentem que recebem autonomia dos seus superiores hierárquicos e que suas ideias e contribuições são valorizadas pela instituição.
Aplicar conhecimento
Liderança
24. Nas suas atividades de trabalho fica evidente que a liderança existente incentiva o compartilhamento do conhecimento.
Compartilhar 25. Nas suas atividades de trabalho fica evidente que a
liderança existente incentiva a criação do conhecimento e a inovação.
Criar 26. A alta administração e as chefias intermediárias
servem de modelo ao colocar em prática os valores de compartilhamento do conhecimento e de trabalho colaborativo.
Compartilhar e Aplicar conhecimento
Fonte: adaptado de Souza (2009), APO (2009), Batista (2012), Teodoroski et al. (2013), Cuffa et al. (2014), Machado (2016).
No Quadro 22, estão relacionados 8 indicadores para o facilitador Tecnologia da Informação, sendo 4 indicadores para a variável Memória organizacional e 4 indicadores para a variável Compartilhamento, colaboração e criação.
Quadro 22 – Indicadores da GC – Facilitador Tecnologia da Informação
Variáveis Número do item do questionário/Indicadores Processos da GC
Memória organizacional
27. O registro do conhecimento na instituição permite reduzir o retrabalho e a perda de conhecimentos quando da saída e/ou afastamento dos servidores.
Armazenar Compartilhar 28. O conhecimento adquirido após a execução de
tarefas e a conclusão de projetos, ou seja, as lições aprendidas, é registrado e compartilhado.
Armazenar Compartilhar 29. O conhecimento indispensável para a realização das
atividades institucionais (processos e serviços) e para dirimir dúvidas está devidamente documentado e acessível.
Armazenar Compartilhar 30. A instituição conta com banco de competências
atualizado dos seus servidores públicos que permite identificar facilmente seus conhecimentos, experiências e habilidades. Armazenar Compartilhar Compartilhamento, colaboração e criação
31. As ferramentas de tecnologia da informação
(computadores, softwares, redes, etc.) disponibilizadas pela instituição são efetivas para os servidores
colaborarem e compartilharem conhecimento com outras pessoas dentro do seu campus.
Compartilhar
32. As ferramentas de tecnologia da informação (computadores, softwares, redes etc.) disponibilizadas pela instituição são efetivas para os servidores
colaborarem e compartilharem conhecimento com outras pessoas de diferentes campi.
33. As ferramentas de tecnologia da informação
(computadores, softwares, redes, etc.) são efetivas para a obtenção de conhecimentos externos à instituição.
Adquirir 34. As ferramentas de tecnologia da informação
(computadores, softwares, redes, etc.) disponibilizadas pela instituição são efetivas para registrar sugestões dos servidores.
Armazenar Compartilhar Criar
Fonte: adaptado de Souza (2009), APO (2009), Batista (2012), Teodoroski et al. (2013), Cuffa et al. (2014), Machado (2016).
A estrutura de análise de GC (Figura 14, Quadros 16 a 22) subsidiou a coleta de dados na instituição pesquisada. A elaboração desta estrutura remete ao cumprimento do primeiro objetivo específico da pesquisa: “Identificar indicadores teóricos para avaliação da gestão do conhecimento em uma instituição de ensino.”