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Estrutura das Representações Sociais (Teoria do Núcleo Central)

Capítulo 4. A Teoria das Representações Sociais

4.4. Estrutura das Representações Sociais (Teoria do Núcleo Central)

A Teoria do Núcleo Central proposta por Abric (1976), não se configura como uma nova teoria além da Teoria das Representações Sociais, ela é uma complementação. A questão fundamental desta Teoria é analisar como se dá a relação entre o pensamento científico ou o que se sabe sobre determinado objeto, e o pensamento natural ou com que efeito o que se sabe conduz as ações de um grupo.

Moscovici (2010) descreve o campo das representações sociais e seus elementos constitutivos, ao apresentar a Teoria do Núcleo Central, Abric se propõe a investigar quais destes elementos orientam as condutas do sujeito, é como perceber a Teoria de Moscovici na prática. Cabe ressaltar que Abric é um teórico da Psicologia Social experimental e, portanto, ele busca – e isso é refletido em sua Teoria – encontrar métodos para a verificação da Representação Social.

A estrutura de uma representação social é constituída, segundo Abric (1998), pelo

núcleo central e seus sistemas periféricos, estes são vistos como subconjuntos desta

representação social. O núcleo central são os elementos mais estáveis, apontados como mais importantes e mais frequentes pelos sujeitos e que dificilmente mudam, pois estão arraigados no ser e em sua cultura, e é responsável por produzir sentidos àquelas representações.

Os elementos do núcleo central expõem o que é inegociável numa representação, mesmo que mude a localização do grupo de sujeitos, aqueles elementos não vão mudar, sob pena de perder o sentido da representação e modificá-la.

O sistema periférico fica no entorno do núcleo central, está ligado ao contexto social que os sujeitos estão inseridos e às suas características individuais. Possui elementos passíveis de mudanças, são menos estáveis e compõem a parte funcional e dinâmica da representação, portanto pelos elementos periféricos é possível se ter uma compreensão melhor da representação.

Machado e Lima (2010) ao pesquisarem sobre o núcleo central da representação social de “bom aluno” por professoras discorrem que,

Uma representação social, como definida pela Teoria do Núcleo Central é um conjunto organizado e estruturado de informações, crenças, opiniões e atitudes, composta de dois subsistemas: central e periférico. O central constitui as crenças, valores e atitudes historicamente associados ao objeto. O periférico está mais associado às características individuais e ao contexto imediato e contingente (MACHADO; LIMA, 2010, p. 3).

Segundo Sá (1996), “o núcleo central é um subconjunto da representação composto de um ou alguns elementos cuja ausência desestruturaria a representação ou lhe daria uma significação completamente diferente” (SÁ, 1996, p. 67). Portanto, ao retirarmos palavras que pertencem ao núcleo central de uma frase, ela perde completamente o sentido.

O sistema periférico permite que o sujeito não pare a cada ação e reação para analisar uma situação e fazer uma representação dela, porém a cada situação nova ele pode fazer adaptações. De acordo com Sá (2003), “o sistema periférico abre espaço para a integração das histórias e experiências individuais, englobando ainda conhecimentos de veiculação e aquisição mais recentes” (SÁ, 2003, p. 33-34).

Conforme explica Cruz (2006), “É graças ao sistema periférico que a representação se ancora na realidade sócio-histórica do momento, fazendo a adaptação do objeto ao contexto e protegendo o núcleo central de transformações” (CRUZ, 2006, p. 125).

O núcleo central exerce as funções de gerar, organizar e estabilizar as representações sociais. Está ligado ao contexto social e histórico do grupo de sujeitos. O sistema periférico tem a função de concretizar e regular as representações e defender o núcleo central. Está ligado às características individuais e ao contexto situacional do sujeito.

Por esta estrutura percebemos que a mudança de uma representação social é demorada, mas possível. De acordo com Abric (1998), as transformações nas RS podem ocorrer: de modo periférico, quando o núcleo central não é atingido (transformação resistente); de modo complementar e substitutivo no núcleo central, quando novas representações são incorporadas a ele paulatinamente (transformação progressiva); e de modo abrupto, quando há a inserção de novos sentidos no núcleo central que substituem imediatamente os anteriores (transformação brutal).

Além das funções e possíveis transformações, o núcleo central possui duas dimensões: A dimensão funcional que corresponde às necessidades dos pesquisados para desempenhar a

sua função; de acordo com Sá (2002) representa os elementos mais importantes de uma atividade. E a dimensão normativa que corresponde aos princípios sociais, morais, afetivos e ideológicos de um grupo.

Abric (1994), define as dimensões da seguinte forma: “Na dimensão funcional serão privilegiados na representação e na constituição do núcleo central, elementos mais importantes para a realização de uma tarefa; na dimensão normativa serão privilegiadas na representação todas as situações onde intervêm dimensões sócio-afetivas, sociais ou ideológicas.” (ABRIC, 1994, p. 23).

De acordo com Abric e Tafani (1995 apud MENIN 2007), a dimensão funcional representa a prática ou tarefa do sujeito quando ele se depara com o objeto, e como está estruturado aquele objeto. A dimensão normativa representa seus julgamentos, sua avaliação e sua relação afetiva sobre o objeto. A autora refere-se a estas dimensões como:

a) Normativos – ligados à história coletiva e ao sistema de valores e normas do grupo social. Elementos esses que determinam os julgamentos e os posicionamentos relativos ao objeto da representação e constituem o ponto

de referência a partir do qual o objeto é socialmente avaliado; b) Funcionais – ligados à inscrição do objeto em práticas sociais ou

operatórias. Esses elementos determinam e organizam as condutas relativas aos objetos e definem as práticas que são legítimas de serem desempenhadas quando indivíduos ou grupos são confrontados com o objeto da representação. (ABRIC; TAFANI, 1995 apud MENIN, 2007, p. 126-127).

Estes sistemas de crenças de um grupo e a influência do contexto social em que eles estão inseridos nos permitirão alcançar o nosso objeto de pesquisa que são as representações sociais de escola por professores das escolas que atendem e que não atendem a infratores ou apenados.