• Nenhum resultado encontrado

3.3. Organização e gestão do tempo e da actividade educativa

3.3.1.2. Estrutura do dia e da semana

O dia destas crianças, na escola, começava com sua a recepção pela professora, pelas estagiárias e pelas auxiliares de educação. No decorrer deste momento, os alunos permaneciam no recreio até ao sinal do toque da campainha, às 13 horas e 15 minutos. A aula iniciava-se com as rotinas imbuídas na sala. A criança responsável pela distribuição dos livros e cadernos cumpria a sua tarefa e o mesmo sucedia com o registo da data. De seguida, cumpríamos a rotina do número do dia, com a colaboração e participação activa de todos os alunos, sob a regra de levantar o dedo para pedir palavra e registar, no quadro, as suas sugestões. Após todos os alunos registarem nos seus cadernos o nome, a data e o número do dia, os dois meninos inscritos no Ler, Mostrar e Contar, partilhavam algo que considerassem significativo. Seguidamente, a criança com a responsabilização de avaliar o plano do dia anterior fazia-o oralmente, com a ajuda dos colegas. De seguida, todos registavam a avaliação no caderno, que ocorria sob o critério das bolas com três diferentes cores, pré-estabelecido pelos alunos. Posteriormente, outro menino escrevia o plano do dia no quadro, cumprindo igualmente a sua tarefa semanal. Paralelamente todas as crianças registavam individualmente no caderno.

Terminado este primeiro momento, procedia-se ao desenvolvimento das actividades planeadas e os alunos iam executando as tarefas que lhes eram concedidas em Conselho de Turma.

A pausa ocorria às 15:30, um momento de rotina em que o grupo ia lanchar e brincar, juntamente com os adultos. O intervalo geralmente era executado no recinto externo, à excepção da ocorrência de chuva. Os responsáveis pelas crianças, neste momento,

110

tinham como função animar, apoiar, ajudar, sugerir actividades, participar activamente nos jogos e nas brincadeiras das crianças, apaziguando os conflitos e evitando confusão. Ao som da campainha, às 16:00 as crianças continuavam o desenvolvimento das actividades até às 18:00.

É de salientar que esta organização diária era relativamente cumprida, porém não era rígida. Faziam-se as alterações convenientes, adaptando os tempos da rotina diária ao horário de funcionamento da escola e ao grupo de crianças com o qual se trabalhava. “É assim que, no âmbito da rotina diária, o adulto tem de construir uma acção educativa sistemática (o desenvolvimento da criança é lento e exige variadas e prolongadas experiências) que permite à criança construir a competência social” (Formosinho, 1996: 67).

O desenvolvimento das actividades variava consoante os dias da semana, de acordo com a rotina semanal estruturada numa Agenda Semanal66 que não era inflexível. Funcionava como um plano orientador e organizador do trabalho semanal, para se poder diversificar e valorizar todas as actividades. Dentro destas existia, também, o desenvolvimento de projectos, como é o caso do Percurso de Pesquisa sobre as plantas. A sequência dos momentos e do tempo aconselhado para cada momento, prescrito no plano do dia e da semana, podia ser alterado de acordo com as circunstâncias, mas era necessário ser-se rigoroso nessas alterações, visto que as crianças se adaptavam às rotinas. Ao determinar a rotina diária e semanal com o grupo, com uma estrutura coerente, cujos tempos se repetiam sistematicamente, era importante atingir-se alguns objectivos, tais como a facultação à criança de oportunidade para expor intenções, tomar decisões e as concretizar, bem como a oportunidade de trabalhar em diversos ambientes e modalidades. A construção destas estruturas semanais e diárias, baseada no modelo adoptado (MEM) permitia o desenvolvimento da actividade educativa com o grupo de crianças, incluindo várias rotinas de organização e manutenção, as quais passarei a enunciar e descrever.

66

111 Rotinas de organização

O Conselho de Turma prolongava-se, normalmente, algumas horas à sexta-feira durante a tarde e tinha como finalidade o planeamento, a gestão, a regulação e a avaliação do trabalho escolar. Era uma das rotinas mais importantes para discutir o quotidiano da vida da turma.

A Avaliação das Tarefas ocorria num momento específico no Conselho de Turma, onde se ouvia a auto-avaliação dos alunos responsáveis por cada tarefa, seguida da hetero- avaliação e sugestões dos colegas, da professora e das estagiárias.

A Distribuição das Tarefas sucedia imediatamente a seguir à rotina anterior. Cantava-se uma lengalenga e sorteava-se o elemento responsável por cada tarefa afixada, de modo a variar as responsabilidades pelos alunos. Este registo encontrava-se afixado na sala. O Plano Semanal era uma rotina elaborada pela turma normalmente no início da semana. Este plano constituía uma tabela dividida pela coluna Língua Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio e E ainda. Nesta última coluna constavam actividades suplementares a serem desenvolvidas durante a semana, como por exemplo, a resposta aos correspondestes. Era uma rotina orientada pela professora ou pelas estagiárias devido à faixa etária e a maturidade intelectual dos alunos. Porém estes começavam, gradualmente, a participar de forma activa na elaboração do plano.

A Avaliação do Plano Semanal precedia à elaboração do novo plano da semana, pela turma na sua totalidade. Neste momento, um aluno lia o plano semanal e a turma discutia e decidia a avaliação, seguindo um código de cores estabelecido pelos alunos, que constava numa pinta verde para o que já foi desenvolvido, uma pinta amarela para o que estava em desenvolvimento e uma pinta verde para o que já tinha sido desenvolvido.

O Plano do Dia ocorria diariamente sob a responsabilização de um aluno que tinha como tarefa o registo no quadro preto desta planificação, com a ajuda dos colegas. Este plano contemplava todas as actividades a realizar diariamente nas diversas áreas. Paralelamente, todos os alunos escreviam o plano nos seus cadernos.

112

A Avaliação do Plano do Dia constituía uma tarefa semanal na qual o aluno responsável lia o plano e avaliava-o de acordo com o mesmo código das cores da avaliação do plano semanal. Esta avaliação tinha de ser acordada pela maioria da turma, para ser executada. A professora cooperante e as estagiárias procuravam consensos e questionavam o grupo acerca das actividades desenvolvidas.

A Data era registada por um aluno diariamente no quadro pequeno, cumprindo assim a sua tarefa semanal. Todos os alunos escreviam, igualmente, nos seus cadernos.

A Avaliação do Plano Individual de Trabalho sucedia em Conselho, a partir das contagens dos trabalhos desenvolvidos por cada aluno em trabalho autónomo, que tomava consciência daquilo que conseguia ou não realizar num determinado período de tempo. Inicialmente, na avaliação do PIT podia-se avistar um número muito elevado de realizações previstas discrepante com o número de produções realizadas.

O Plano Individual de Trabalho acontecia posteriormente à avaliação do PIT anterior. No desenvolvimento do novo PIT, o aluno colocava as actividades que pretendia trabalhar naquele tempo estipulado no plano, no nosso caso uma semana, nas diversas áreas do saber. Era um instrumento de relevante importância para que o aluno iniciar o seu trabalho autonomamente.

O Gráfico do Tempo Mensal era elaborado pelos alunos colectivamente e colado no armário. O aluno responsável por esta tarefa semanal preenchia o gráfico, colocando uma cruz onde o dia do mês se cruzava com o estado de tempo respectivo.

O Calendário era igualmente explorado pela turma colectivamente, sob orientação da professora e estagiárias, para que a sua análise fosse abrangente e gratificante, sob o ponto de vista das aprendizagens para os alunos. Era preenchido ao longo da sua exploração e cada aluno registava as descobertas, num calendário individual. No final de completar a legenda procedia-se à ilustração. O calendário era colado no armário, visível a toda a turma.

Ler, Mostrar e Contar era uma grelha onde os alunos se inscreviam para ler, mostrar ou contar algo que considerassem significativo. Os alunos inscreviam-se quando

113

desejassem e diariamente dois alunos, por ordem de inscrição, tinham o seu momento de partilha. Sucedia imediatamente antes do registo do Plano do Dia.

O Mapa das Presenças era da responsabilidade semanal de um aluno que colocava na tabela de dupla entrada a pinta correspondente ao código pré-estabelecido pela turma. Esta tarefa era cumprida logo à chegada à sala de aula para se poder constatar quem estava presente ou atrasado. Um pouco mais tarde registava-se a falta.

Rotinas de manutenção

A Distribuição dos Materiais, Livros e Cadernos sucedia aquando da sua pertinência, ou seja, dependia da situação na sala de aula. Constituía, igualmente, uma tarefa semanal de três alunos que, pelo elevado número de material, por vezes precisavam de colaboração.

A Arrumação dos Materiais, Livros e Cadernos também constava nas tarefas semanais e surgia ao longo da actividade educativa.

A Permanência na Casa de Banho era uma rotina de extrema importância para a autonomia dos alunos, relativamente à deslocação para a casa de banho. Sempre que um aluno ia à casa de banho colocava um boneco com o sinal ocupado para a frente e quando regressava coloca o sinal de livre visível. Este boneco situava-se atrás da porta para que a criança, ao sair da sala, não se esquecesse de cumprir a rotina. Porém, nós reforçávamos esta rotina quando a mesma era esquecida.

O Número do Dia representava uma rotina introduzida pela professora cooperante no nosso período de observação. Ordenadamente cada aluno expressava no quadro diferentes formas de escrever o número correspondente ao presente dia. Esta rotina tinha uma potencialidade enorme uma vez que possibilitava introduzir e consolidar inúmeros conteúdos, principalmente relacionados com a Matemática. A título de exemplo, foi a partir do Número do Dia que abordamos a numeração romana. Paralelamente, todos os alunos registavam as ideias no caderno.

As Nossas Regras constituía um instrumento de bastante relevo para relembrar aos alunos as regras por eles estabelecidas ao longo do ano, já que contemplava as

114

responsabilidades e os elementos. Era importante para regular os comportamentos dos alunos e gerar um bom ambiente na sala de aula.

Outra rotina habitual era a Leitura de uma história, um capítulo ou algo significativo por convidados exteriores à sala de aula, como pais, auxiliares e alunos da outra sala.

No que diz respeito às rotinas de organização e manutenção, os objectivos visavam a conservação, a gestão, a regulação e a avaliação do trabalho desenvolvido na sala de aula. Estas rotinas eram propostas por todo o grupo, conforme a necessidade do mesmo e permitiam a compreensão, por parte da criança, de que existiam rotinas a ser cumpridas, alvo de uma apreciação pelos colegas e pelas professoras.

Por sua vez, as rotinas de aprendizagem eram actividades de aplicação dos conhecimentos, tais como a cópia, o ditado, a leitura individual, a realização de fichas de trabalho, a marcação e correcção dos trabalhos de casa.

Já as rotinas de pilotagem e avaliação estavam presentes, frequentemente, na sala de aula. Pode-se exemplificar a Avaliação do Plano Individual de Trabalho.

Para findar é importante referir que “uma rotina educacional é muito mais que um conjunto nomeado de tempos. Para ser verdadeiramente uma rotina educacional, as actividades específicas de cada tempo têm de ser proporcionadoras de aprendizagens significativas para cada criança” (Formosinho, 1996: 60). Para tal, é essencial, também as relações interpessoais que se estabelecem na sala de aula, ponto a desenvolver seguidamente.