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As propriedades da Economia Colaborativa e seu funcionamento solidificam-se no framework de Puschmann e Alt (2016). Por meio dele, os autores tentam englobar os diversos negócios da EC e suas formas híbridas de troca de valor econômico. Assim, eles mapearam as diferentes abordagens praticadas e elaboraram um modelo que reúne estratégias, processos e sistemas em três camadas, como disposto na Figura 3 a seguir.

Fonte: Adaptado de Puschmann e Alt (2016).

Na camada Estratégia, pode-se perceber que a Economia Colaborativa conecta de forma direta consumidores e fornecedores de serviço, ou provê esse acesso através de um intermediário. As posições de provedor e cliente aqui são voláteis, tendo em vista que qualquer consumidor pode se tornar também um fornecedor de serviço ao compartilhar um recurso ocioso (PUSCHMANN; ALT, 2016). Já o intermediário corresponde à plataforma,

um mercado digital para conectar os pares (fornecedor-cliente) e facilitar as transações (SUNDARARAJAN, 2014). As empresas tradicionais também podem se posicionar na EC como provedores (PUSCHMANN; ALT, 2016), assim como consumidores comuns podem atuar como fornecedores em mercados antes restritos a tais empresas. Um exemplo é a concessão de empréstimos, uma área antes restrita a bancos, mas que atualmente possui alternativas C2C em plataformas como a Prosper.com, um mercado on-line de empréstimos par a par, o intermediário da transação (PROSPER, 2016).

Na camada de Processos, os consumidores, fornecedores e intermediários são conectados por suas diferentes categorias de processo. Aqui pode-se visualizar os papeis desempenhados por cada um dos três componentes através de seus procedimentos executados. Quando a transação envolve dois consumidores, o indivíduo que “compartilha” comporta-se como um fornecedor, encapsulando o ciclo de vida de processos do serviço (PUSCHMANN; ALT, 2016). Assim, no caso de alguém que oferece sua casa localizada na praia no Airbnb, ele mesmo ficará responsável por identificar a oportunidade de aluguel, analisar os requisitos das transações, etc. Já o intermediário, o Airbnb no exemplo citado, ficará responsável pela listagem dos bens disponíveis, contratação, faturamento e concretização da transação, além do registro e controle das avaliações dos hóspedes. Os processos relacionados ao intermediário podem sofrer adaptação com base no negócio, como as plataformas de carsharing que podem precisar adicionar procedimentos como a limpeza dos veículos. Os consumidores, por sua vez, geralmente informam ao intermediário sua necessidade, acessam as ofertas disponibilizadas, realizam o pagamento pela oferta escolhida, fazem uso do bem/serviço e avaliam o provedor da oferta. A terceira camada, por outro lado, de Sistema, detalha os sistemas de TIC utilizados para suportar esses processos (PUSCHMANN; ALT, 2016).

Quanto à diversidade de negócios da EC, Botsman e Rogers (2011) classificaram as empresas em três sistemas diferentes, com base nas formas de consumo: sistemas de serviços de produtos (SSP), mercados de redistribuição e estilos de vida colaborativos. Os SSP têm como base o acesso em detrimento da propriedade. Nele, as pessoas pagam pelo benefício do produto sem ter que o possuir definitivamente. Assim, ele permite que produtos de uma empresa sejam compartilhados com consumidores ou que produtos de propriedade privada sejam compartilhados entre pares. Os mercados de redistribuição, por sua vez, compreendem a redistribuição de produtos que já não são mais necessários por seus atuais proprietários. Esses podem ser trocados por outros produtos, por pontos ou até vendidos. A última categoria engloba o compartilhamento de ativos menos tangíveis como tempo, espaço, habilidades e dinheiro. O Quadro 3 resume e exemplifica essa classificação.

Quadro 3 - Taxonomia dos Sistemas de EC de Rachel e Botsman (2011) Sistema de Consumo

Colaborativo

Tipos de Compartilhamento Exemplos

Sistemas de Serviços de Produtos

Produtos de propriedade de uma empresa Uber (atua também no Brasil) e Zipcar. Produtos de propriedade privada RelayRides, PegCar (Brasil).

Mercados de Redistribuição

Trocas livres Freecycle e Bookshare (Brasil).

Venda em troca de pontos Barterquest.

Venda em troca de dinheiro Ebay, OLX e Repassa (Brasil).

Mercados híbridos Craiglist.

Estilos de Vida Colaborativos

Espaços de trabalho Citizen Space e Impact Hub (Brasil). Troca de bens entre vizinhos Neighborrow.

Tarefas, tempo e recados Davezillion e Biliive (Brasil).

Jardins Urban Gardenshare, Landshare.

Habilidades Brooklin Skillshare e TimeRepublic (atua

também no Brasil).

Alimentos Meal Sharing e Dinneer (Brasil).

Vagas de estacionamento JustPark.

Empréstimo financeiro Prosper.

Viagens Airbnb, Couchsurfing e Alugue

Temporada (os três atuam no Brasil). Fonte: Elaborado pela autora, com base em Rachel e Botsman (2011).

Owyang, Samuel e Grenville (2014), propuseram outra organização para essas empresas, fazendo uso de uma estrutura de ecossistema. A taxonomia desses autores dispõe os negócios de EC em cinco famílias: bens, serviços, espaço, transporte e dinheiro. Distribuídas nessas famílias estão onze classes, que representam os tipos de empresa em cada mercado. Logo após, encontram-se as empresas individuais, chamadas de espécies, que no Quadro 4 são representadas por alguns exemplos:

Quadro 4 - Taxonomia da Economia Colaborativa - Owyang, Samuel e Grenville (2014) Famílias Classes Exemplos de Espécies

Bens Produtos usados Ebay, OLX e Craiglist (os dois primeiros atuam no Brasil). Produtos para

empréstimo/aluguel

Rent the Runaway, Rent for All (brasileira) e Tem Açúcar? (brasileira).

Produtos personalizados Etsy e Elo7 (brasileira).

Serviços Serviços Profissionais Desk.com e Bougue (brasileira).

Serviços Personalizados TaskRabbit e Rede Colabore (brasileira). Transporte Serviços de Transporte Uber (atua no Brasil) e Lift.

Empréstimo de Veículos Car2go e Zipcar.

Espaço Espaço para trabalhar LiquidSpace e ShareDesk.

Lugar para ficar Airbnb, Alugue Temporada e Couchsurfing (atuam no Brasil). Dinheiro Empréstimo Financeiro Lending Club e Prosper.

Crowdfunding Kickstarter e Benfeitoria (brasileira). Fonte: Adaptado de Owyang, Samuel e Grenville (2014).

Essa taxonomia foi sendo atualizada conforme a Economia Colaborativa foi crescendo e alcançando novos mercados. Atualmente, em sua terceira versão, a classificação conta com dezesseis famílias - amparo ao trabalhador, aprendizado, bem estar e beleza, serviços para o

cidadão, dinheiro, bens, saúde, espaço, alimentos, utilidades, serviços de mobilidade, serviços, logística, compartilhamento de veículos, corporações e organizações e análise e reputação - e quarenta e uma classes diferentes, representadas em uma distribuição de favo de mel, em alusão ao acesso, compartilhamento e desenvolvimento dos recursos de forma conjunta (OWYANG, 2016), conforme pode ser visualizado no Anexo A.