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2.2 O TURISMO COLABORATIVO

2.2.1 O Novo Turista e o Turismo Colaborativo

Por muitas décadas, o que influenciou as pessoas a planejar uma viagem foi o desejo de visitar novos lugares, relaxar e fugir do trabalho e da rotina diária. Tais necessidades eram satisfeitas plenamente pelo turismo de massa, que oferece aos turistas a oportunidade de desfrutar novas experiências como expectadores (FORNO; GARIBALDI, 2015).

A evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação deu aos viajantes o poder de acessar informações confiáveis e precisas, buscar, comparar e realizar reservas facilmente, além de prover seus usuários de ferramentas linguísticas. A partir dessa nova experiência, mais informada e focada, começou a surgir no mundo todo um turista mais sofisticado e exigente, que viaja mais porque economiza mais e busca opções coerentes com seu padrão financeiro; um viajante que possui maiores habilidades linguísticas ou, no mínimo, tecnológicas o suficiente para, mesmo sem conhecimento formal, viajar para países de língua diferente da sua (BUHALIS; LAW, 2008).

Esse novo turista é mais experiente, procura maior valor agregado, está menos interessado em seguir multidões em pacotes turísticos e muito mais disposto a acompanhar suas próprias preferências e horários (BUHALIS; LAW, 2008). Ele busca, principalmente,

experiências novas, significativas e memoráveis, passando de consumidor e expectador a um ator ativo e criativo (FORNO; GARIBALDI, 2015). Também possui maior interesse na conservação do meio ambiente e sustentabilidade (DREDGE; GYIMÓTHY, 2015), na preservação do patrimônio cultural local e esforça-se para entrar em contato direto com esse, valorizando o que é autêntico e original, em detrimento da artificialidade do turismo de massa (FORNO; GARIBALDI, 2015).

Dessa forma, a chave do sucesso no setor passou a residir na rápida identificação das necessidades dos consumidores e no alcance dos potenciais clientes através de serviços e produtos personalizados e atuais, satisfazendo assim os desejos de um público exigente e heterogêneo em suas demandas (BUHALIS; LAW, 2008). Esse movimento, em termos econômicos, é baseado na ideia de bens relacionais, ou seja, aqueles que não podem ser apreciados de forma isolada (RUISI, 2004; ZAMAGNI, 2007 apud FORNO; GARIBALDI, 2015).

Assim, o contexto socioeconômico atual exige um foco nas relações interpessoais e isso contribuiu para o desenvolvimento de novas formas de turismo como alternativa ao tradicional. O Turismo Colaborativo surge, então, como uma resposta a essa demanda, por ser fundamentado nos princípios de reciprocidade e colaboração mútua. Através da flexibilidade da Economia Colaborativa, o TC oferece aos viajantes uma redescoberta das belezas e singularidades do patrimônio histórico, arte, folclore, alimentos e bebidas locais; sobretudo, uma redescoberta da humanidade (FORNO; GARIBALDI, 2015).

Dredge e Gyimóthy (2015) complementam os fatores que originaram o Turismo Colaborativo. Segundo esses autores, o TC surge como uma resolução de cinco problemas característicos do turismo de massa, apresentados a seguir:

a) O turismo tradicional não se aproveita da expertise local e gera ativos ociosos. Assim, a EC apodera-se dessas características para, por exemplo, monetizar tal expertise e conhecimento. Por meio dela, um indivíduo natural da região a ser visitada pode alugar o acesso a seu sofá, quarto, apartamento, carro ou bicicleta através de uma plataforma de Turismo Colaborativo. Além disso, ele também se torna capaz de oferecer uma refeição regional para os turistas ou até passeios guiados, fazendo uso de seu conhecimento de morador da região. Como esses serviços não são padronizados, o turista conta com uma maior variedade de opções para escolha e usufrui de uma experiência com melhor imersão na cultura e costumes locais. Já os fornecedores regionais, antes excluídos do mercado de turismo, têm a oportunidade de gerar benefícios econômicos e pessoais.

b) A falta de transparência e altos custos dos negócios tradicionais em turismo podem inibir os visitantes de viajar ou consumir. Por exemplo, um turista poderia ter receio de se hospedar em um hotel caro que nunca ouviu falar. O Turismo Colaborativo, através de seus sistemas de feedback bilateral de fornecedores e consumidores, permite que os envolvidos conheçam a reputação do outro através das experiências de terceiros, muitas vezes desconhecidos, e assim façam melhores escolhas, construam confiança mútua e alcancem maior proximidade na relação hóspede-anfitrião, facilitando o acolhimento autêntico e não só profissional, como acontece no sistema tradicional. Através dessa conexão direta entre os agentes, permite-se também que os custos sejam reduzidos.

c) A regulação do setor, da forma que é realizada, restringe a inovação, possibilita que fornecedores se utilizem dela para proveito próprio e dificulta a entrada de novas ideias e empreendedores (KOOPMAN; MITCHELL; THIERER, 2014). As alternativas de TC permitem uma maior flexibilidade de atuação e facilidade de entrada no mercado.

d) O mercado tradicional não atende as necessidades do turista pós-moderno. Dredge e Gyimóthy (2015) concordam com Forno e Garibaldi (2015), ao afirmarem que o turista atual tende a não mais se contentar com as experiências, serviços e produtos impessoais providos pelo turismo de massa. Para esses autores, as viagens estão intimamente ligadas à construção de identidade mediante a vivência de novas culturas e troca de experiências. O turista procura experiências novas, não só visualizar paisagens que ele já vira anteriormente no computador e repetir experiências já vividas por seus colegas. Ele busca, consequentemente, algo diferente dos pacotes pré- moldados do turismo tradicional. As plataformas de acomodação do Turismo Colaborativo oferecem experiências diversas e autênticas, a exemplo do Airbnb que possui na sua lista de hospedagem opções atípicas como iglus, castelos e casas na árvore (VAN RIJMENAM, 2016).

e) As empresas tradicionais de turismo podem ter dificuldade em conseguir investimento financeiro para construir novos hotéis, por exemplo. Já as plataformas de TC não precisam construir seu próprio inventário, apenas prover acesso a ativos já existentes. Graças a isso, o Airbnb, maior plataforma de acomodação do turismo colaborativo, possui mais quartos para locação do que a maior cadeia de hotéis do mundo (MEOLA, 2016), mesmo sem possuir nenhum deles.

Através das dificuldades tradicionais e formas encontradas pelo Turismo Colaborativo para enfrenta-las, pode-se também visualizar as características e vantagens dessa nova forma de viajar. Yannopoulou (2013) resume esses benefícios em melhores preços, possibilidade de comparação entre diversos fornecedores, transparência, foco no usuário, facilidade de uso, comunicação interativa, maior disponibilidade de produtos especializados e alternativos e o retorno das verdadeiras trocas culturais. Juul (2015) aponta outros ganhos, em complemento a essa lista: flexibilidade, personalização e autenticidade. Já os jornalistas geralmente citam como benefícios principais do TC a economia financeira e a melhor resposta a picos de demanda (JUUL, 2015), como aconteceu nas Olimpíadas do Rio de Janeiro do ano de 2016, onde o Airbnb complementou a oferta deficiente de hotéis na cidade para um evento de tão grande porte (ESTADÃO, 2015).