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Estruturas Formais de Organização do Trabalho que Contribuem para a

8. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

8.3. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA FUNÇÃO DE SUPERVISOR

8.3.3. Estruturas Formais de Organização do Trabalho que Contribuem para a

Para Boud e Garrick (1999), a aprendizagem no trabalho é parte importante da educação geral do cidadão e do fortalecimento de seu papel na sociedade civil. Reforçam que a aprendizagem deve deixar de ser vista somente como desenvolvida por meio de programas de treinamento no formato tradicional de “instituições educacionais” (op.cit, p. 5) dentro das empresas para ser enxergada como intimamente conectada às operações das empresas contemporâneas, com a responsabilidade de alimentar o papel de cidadão.

Por isso, outra questão que merece destaque no conteúdo das entrevistas é que as experiências propiciadas em função de estrutura de organização do trabalho no canteiro de obras facilitam a aprendizagem dos profissionais. Destas, destacam-se:

• Organização em célula de trabalho: a organização das equipes operacionais em células de trabalho facilita a aprendizagem para a atuação do supervisor e a identificação de trabalhadores que estão comprometidos com a produtividade da célula de trabalho: “Aqui na empresa, a célula de trabalho ajudou muito na formação de supervisor. [Ela] incentiva o reconhecimento do trabalho. O diploma que a equipe ganha como reconhecimento muitas vezes é mais importante do que dinheiro.” (S2).

Observou-se, na pesquisa de campo, que este tipo de organização do trabalho exige a preparação dos operários para atuarem conscientes das responsabilidades de cada um na equipe. O treinamento inicial envolve atividades lúdicas que buscam transmitir o conceito de célula e a apresentação dos instrumentos de monitoramento da produtividade. Os resultados revelam que os trabalhadores que participam das células de trabalho compreendem mais seu papel e responsabilidades para o alcance dos objetivos. No entanto, parece que, em função do tempo de construção de cada empreendimento, nem todos possuem este tipo de organização.

O diretor entrevistado considera que a célula de trabalho ajuda a dar sentido a ele, promovendo a aprendizagem. Nela, o profissional tem a noção do que está fazendo e porque está fazendo determinadas atividades, além de como está se saindo:

Mas eu acredito, realmente acredito na célula, e faço questão que tenha. [...] Porque uma das coisas que eu sempre senti deles é que eles queriam saber como estavam fazendo, se eles estavam bem ou não. É você trabalhar sem saber o que você está produzindo, se está bom ou se está ruim... [...] Ela dá significado ao trabalho, ‘Olha, você está indo bem. A produtividade está boa’. A pessoa passa a fazer parte de um processo... (Diretor)

O significado do trabalho ressaltado pelo diretor remete à abordagem interpretativista de Sandberg, na qual a competência é constituída pelo significado do trabalho tomado pelo trabalhador em sua experiência. Portanto, pode-se entender que a célula de trabalho pode contribuir para a aquisição de competências.

• Encontros diários com as equipes de trabalho: Diálogos Diários de Segurança (DDS) ou de Excelência (DDE): diariamente, no início do dia de trabalho, todos os encarregados reúnem suas equipes aproximadamente por 10 minutos para falar de algum tema que eles escolhem ou sinalizado pela própria empresa, como o uso de equipamentos de segurança. A maioria deles realiza uma prece ou oração para proteção de todos, desejando um bom dia de trabalho. Os encontros ajudam muito o encarregado a desenvolver competências de relacionamento e comunicação que são necessárias para a posição de supervisor: “É o que eu sempre gosto de fazer no bate- papo, no DDE com o meu pessoal: é elogiar. O ajudante, que seja, ele se sente motivado para poder corre atrás e querer o melhor.” (S1). Outro supervisor relata: “De vez em quando, a gente tem um DDS coletivo, aí junta a parte gerencial da obra, junta a supervisão. Aí é todo mundo junto, vai no refeitório e faz um DDS coletivo” (S6).

Estes encontros, por serem diários, poderiam afetar a motivação das equipes e tornarem-se uma rotina sem significado. Porém, percebeu-se que os operários respeitam o momento de diálogo e a hierarquia, típica do setor, o que aparenta ajudar a criar um nível de disciplina adequado à comunicação. Percebeu-se nos entrevistados a preocupação acerca da qualidade da interação com o grupo, não encarando a ação como de caráter obrigatório.

As reuniões também contribuem para divulgar outras mensagens consideradas importantes para a vida pessoal dos trabalhadores e para criar maior integração entre os grupos, como exemplifica um gestor:

Então isso é uma coisa importantíssima (que são os DDEs e os DDSs). [...] Por exemplo, na semana que antecedeu o Carnaval, eu estava às 07h00 da manhã com todos eles no refeitório. [...] A enfermeira deu a palavra dela sobre as doenças sexuais transmissíveis no Carnaval e, [...] para que todos pudessem ter esta consciência, junto com o ‘manualzinho’ e com os panfletos, veio um preservativo.

Porque era um momento que a gente ia parar e voltava na quarta. O pessoal se põe em risco de álcool, falou-se de beber muito também. Foi muito legal. (G1).

Enfim, os encontros parecem contribuir para construir continuamente o significado do trabalho para os profissionais.

• Reuniões semanais e mensais de Instrumento de Acompanhamento da Obra – IAO: acontecem também com toda a equipe técnica para analisar vários assuntos que impactam na evolução do projeto. Os supervisores consideram que estes encontros contribuem para definir papéis e responsabilidades diante de imprevistos (eventos) nas obras, contribuindo no gerenciamento das equipes.

Quanto aos recursos e condições para que ações voltadas ao desenvolvimento dos profissionais ocorram, isso é tratado dentro de cada empreendimento e, muitas vezes, o profissional tem a facilidade de estar trabalhando num empreendimento que propicia maiores condições de acesso a essas ações. Novamente, observa-se a ausência de uma política corporativa de desenvolvimento.

Hoje, a Empresa [a obra] abriu o campo e [...] dá oportunidade para todos, para todo mundo. Se tem uma pessoa na obra que está fazendo faculdade, mesmo que ela trabalhe à noite, ela vai para a faculdade e depois da faculdade tem o transporte que traz ela para a obra. (S8).