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3.2 - Euzébio Vanério rumo a Sergipe

Consta em documentos da Biblioteca Nacional (BR BN, RIO, DRE: Caixa: 0583, 016); que Euzébio Vanério, quando professor de Letras e Línguas, guarda livros da Alfândega da Bahia, escrivão da Junta da Fazenda e Oficial Maior da Secretaria do Governador Militar em Sergipe, encaminhou requerimento ao Ministério do Império, solicitando que a Junta do Comércio esclarecesse sobre a utilidade e vantagem da elaboração de mapas gerais de expor-tação e imporexpor-tação na Bahia; solicitou, ainda, a honraria de Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro, a cadeira de professor de Inglês, Francês, Português na Bahia, e um emprego para o ofício (cargo) de escrivão da Câmara dos Órfãos e Almotaçaria da Vila de Maragogipe; e, ainda, a remuneração pelo trabalho na redação e organização dos mapas de importação e exportação

na Bahia. Sem dúvida era capaz, preparado e intrépido esse professor nascido no Funchal, mas adaptado ao Brasil, país a que se dedicou.

Ao pedido formulado por Euzébio Vanério respondeu, em Sergipe, no dia 20 de no-vembro de 1823, o Ilmo. Exmo. Snr. João Vieira de Carvalho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, afirmando que, por observância ao Aviso Imperial de 29 de agosto, expedido pela Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra, que informava sobre a preten-são de Euzébio Vanério, ao mesmo tempo em que solicitava a confirmação de sua nomeação como Major adido à Primeira Ordem da Corte, cumprindo dizer em abono da verdade que, atendendo ao patriotismo do requerente, mediante a verdadeira adesão pela causa do Brasil, e a perícia que nele transluzia por todos os ramos da Administração Pública, o havia nome-ado Escrivão da Junta de Fazenda, interinamente criada sob aprovação e auspícios de Sua Majestade Imperial informou ainda que, segundo as leis para as Províncias de 2ª Ordem, veio a competir a Vanério o lugar de vedor (fiscal) da Gente de Guerra, cujo emprego vinha

preenchendo com toda a exação (BR BN, RIO, DRE: Caixa: 0583, 016); não só assistindo

mensalmente as mostras, como dando as devidas participações; arranjando as matrículas dos corpos, e zelando em tudo pelos interesses nacionais, como era do seu dever. Acrescentou o despachante que foi Euzébio, que atendendo à lei, mandou abolir as vedorias (fiscalizações, inspeções) e substituir com pagadorias militares e que, para melhor clareza e arranjo da con-tabilidade, organizou o plano de uma pagadoria nesta Província em Sergipe, considerada regular e econômica, motivo pelo qual Euzébio teria sido autorizado a prosseguir até que o mesmo e Augusto Senhor, a quem já se achava afeito (BR BN, RIO, DRE: Caixa: 0583, 016), não mandasse o contrário, e desde o dia primeiro de outubro, complementou o informante, confirmando que Euzébio vinha apresentando as contas regulares de toda a despesa. Em con-formidade do mesmo plano, e segundo o método das pagadorias nas Províncias de Primeira Ordem, Euzébio pleiteava a segunda vedoria e a graduação temporária de Tenente Coronel. Atendendo aos relevantes serviços prestados, e considerando a eficácia e assiduidade com que o pleiteante se dedicava ao serviço Nacional do Exército e Fazenda, foi julgado merecedor da contemplação da Nação, e de Sua Majestade Imperial.

Na seara da Instrução Pública, Euzébio atuou no município sergipano de São Cristó-vão, capital da recém-dependente província de Sergipe (1820), ensinou as disciplinas Inglês e Escrituração Mercantil, além do que, “mantinha um curso auxiliado pela esposa e a neta”. Portanto, em 1848 quando o Presidente da Província Zacarias de Góis e Vasconcelos, que governou de 26/4/1848 a 7/2/1849, resolveu criar a cadeira de Geografia e História, que foi entregue ao Dr. Antonio Nobre de Almeida Castro, e a de Inglês, a Luís Alves dos Santos. No ano de 1849, na mesma cidade de São Cristóvão, as senhoras Angélica e Olímpia Vanério de Argolo Castro, coadjuvadas respectivamente pelo seu avô Euzébio Vanério e esposa, abriam um curso particular de “Comércio, não apresentando matrículas, fora extinto em 1852, sob o pretexto do falecimento do Professor Euzébio”. (NUNES, 1984, p. 73).

Este estudo não buscou identificar os motivos que geraram o fechamento do curso, mas, sabe-se, o Brasil se encontrava sob a influência do mercado marítimo com países eu-ropeus e o esperado seria que o interesse recaísse sobre estudos que preparassem os jovens

para o ambiente comercial. Por outro lado, em São Cristóvão, capital da Província de Sergipe, vivia-se um período de dificuldades financeiras que atingiram o sistema de ensino, gerando reprovação estudantil e a consequente evasão escolar.

Quanto, porém, aos serviços que o professor Euzébio Vanério prestou à Naçãodurante a sua estada na Bahia, e à causa da Independência, até o momento de marchar em serviço para esta Província de Sergipe, com sua numerosa família, mandado pelo ex-General Labatut, foi comprovado por documentos ajuntados ao parecer, asseverando-se que tudo isto fosse levado ao conhecimento de Sua Majestade Imperial, incluindo que o suplicante mostrava-se de irrepreensível conduta, brasileiro por costumes, pois de nacionalidade portuguesa, público e declarado amante da felicidade do Império; e que espontaneamente se ofereceu para agente gratuito e geral em toda a Província sergipana. No tocante à subscrição a favor da Marinha, foi dito que igualmente Euzébio se ofereceu para redigir uma memória dos feitos realizados pela Província da Bahia em favor da Independência política do Império, e do Exército auxiliar da Bahia, e que a ele, se poderia dizer, se deviam todas as medidas de reforma político-econômica ali empreendida, e que, além do mais, sempre se mostrava incansável e pronto de dia, e noite. O parecer ainda enalteceu a capacidade, honra e zelo com que Euzébio vinha ser-vindo até aquele momento, tendo por isto mesmo sido julgado digno da confirmação do posto requerido, até mesmo em caráter inamovível, isto desde que a Alta Magnificência de Sua Majestade Imperial assim o levasse a bem. O documento foi também assinado por José Matheus da Graça Leite Sampaio, Presidente; Serafim Álvares da Roxa, Secretário; Dionísio Rodrigues Dantas e Domingos Dias Coelho Mello. (BR BN, RIO, DRE: Caixa: 0583, 016). Ao Ilmo. e Exmo. Senhor Ministro e Secretário de Estado dos Negócios de Guerra, Euzébio Vanério se pronunciou dizendo que em vinte anos vivendo e trabalhando na Bahia, e desses vinte anos, havia ocupado quatorze anos no exercício do Ensino Público de Primeiras Letras, e Aritmética, Comércio, e Línguas Vivas, como Diretor da Casa de Educação Desejo da Ciên-cia, mais de três anos, como oficial Intérprete de Línguas da Secretaria do Governo. Exerceu ainda a função de encarregado pela Junta da Fazenda da Bahia da organização e fatura dos mapas anuais de Importação e Exportação, cuja obra lhe havia granjeado a estima e crédito público daquela Praça, dela se retirando em 23 de junho de 1822, motivado pelas comoções ali ocorridas em oposição à Independência Constitucional do Brasil. Na oportunidade, Euzébio se recolhera ao recôncavo baiano para ser profícuo, quanto nele coubesse a tão justa causa, e ressurgir, “ou morrer por ela”.

Quando Euzébio Vanério chegou a Pirajá em Salvador, na hipótese de seguir ao Con-selho Interino de Governo na Cachoeira, como oficial civil, não lhe foi concedido seguir, por estar ali mesmo ocupado na escrituração daquele ponto, e auxiliando ao atual Comandante, o Capitão Pedro Ribeiro, e como o seu principal objeto era colocá-lo no Serviço Nacional do Brasil, não hesitou e ali persistiu até o dia doze de outubro de1822, quando foi nomeado pelo Comandante em Chefe da Divisão de Pirajá e Torre, Joaquim Pires de Carvalho e Albu-querque, Governador Militar do Ceará, para seu secretário. Euzébio passou-se para a Villa de Abrantes, organizou ali uma secretaria, pôs a escrituração em dia e fez dar aos negócios da-quela divisão uma ordem digna da aprovação geral. O ex-General Labatut solicitou, então, ao

Governador Militar de Sergipe, o Tenente Coronel José Eloy Pessoa da Silva, que nomeasse Euzébio o seu secretário, por confiar que desempenharia a incumbência. Nessa oportunidade, Euzébio apresentou o grande inconveniente de marchar oitenta léguas com uma família de quinze pessoas: a mulher, a mãe já idosa e doente, a filha, e mais pessoas de casa. Euzébio não foi atendido, prevalecendo a necessidade que tinham de seus préstimos. Assim dirigiu-se com a família, pagando todas as despesas e ainda bem não tinha pisado o terreno de Sergipe, quando foi caluniosamente preso aquele governador, ficando Euzébio no mesmo exercício, de novo organizando Secretaria, trabalhando sem descanso noite dia. Recebeu elogios daquele General, até que, reassumindo a Comarca, “nova categoria” sucedem-se conflitos de jurisdição entre o Comandante das Armas, e a Junta Provisória de Governo. (BR BN, RIO, DRE: Cai-xa: 0583, 016). Tomou parte nesses acontecimentos o mesmo ex-General, e sequenciaram-se “mil indisposições”, conforme lemos nos documentos consultados.

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