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6 EVASÃO E O PROGRAMA PERMANÊNCIA E ÊXITO

6.1.1. Evasão no Ensino Superior

A evasão, sobre um ponto de vista bastante genérico, constitui-se como o abandono do ambiente escolar. Tal abandono pode ser temporário quando o aluno após determinado período retorna à instituição de ensino ou definitivo quando jamais é reintegrado ao ambiente escolar. As razões pelas quais o aluno abandona e a estrita definição de evasão tem suas especificidades ligadas ao nível de ensino do qual este faz parte. Sendo assim, para alinhar-se com a proposta da presente pesquisa centrar-se a atenção na evasão no âmbito do ensino superior, a qual pode ser denominada de evasão acadêmica ou evasão universitária. Neste contexto a evasão ganha uma amplidão conceitual relativa aquela do cenário da educação

básica, visto que dentro da educação superior pode-se observar a evasão relativa a um curso, relativa a uma instituição ou relativa ao sistema de ensino. Sendo assim o Ministério da Educação, através da Comissão Especial de Estudos sobre Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras, adota como evasão “a saída definitiva do aluno do seu curso de origem, sem concluí-lo” (BRASIL, 1996, p. 15). De uma forma complementar a definição adotada pelo MEC, Miranda sugere que a evasão também contemple o afastamento temporário do aluno, e destaca em seu estudo que a evasão pode ser definida como “a saída do discente da instituição de ensino ou de um dos seus cursos, definitiva ou temporariamente, por quaisquer motivos que não a diplomação” (MIRANDA, 2006, p.26). Na definição de Miranda os alunos que realizam trancamentos de matrícula também são contabilizados na quantificação da evasão.

Para uma definição ainda mais completa da evasão pode-se somar às duas definições anteriores aquela que Favero incluiu em seus estudos sobre a ocorrência deste fenômeno em um curso oferecido na modalidade EaD para professores da Educação Profissional das Escolas Técnicas do Rio Grande do Sul. Para ela, também devem-se considerar evadidos aqueles indivíduos que realizaram a matrícula mas que nunca se apresentaram ou se manifestaram no ambiente do curso (FAVERO, 2006).

Neste momento, torna-se interessante salientar que a partir de qualquer uma das definições acima a evasão deve ser conceitualmente distanciada da ideia simples de abandono de um determinado nível de ensino, pois como destaca Ristoff (1999, p. 125):

Parcela significativa do que chamamos evasão, no entanto, não é exclusão, mas mobilidade, não é fuga, mas busca, não é desperdício, mas investimento, não é fracasso - nem do aluno nem do professor, nem do curso ou da instituição - mas tentativa de buscar o sucesso ou a felicidade, aproveitando as revelações que o processo natural do crescimento dos indivíduos faz sobre suas reais potencialidades.

Em suas palavras Ristoff salienta que em alguns casos a evasão pode estar associada a um ponto positivo na vida do indivíduo e como exemplo pode-se citar aqueles alunos que ingressam em um curso que não era a sua primeira opção para nos períodos seguintes buscar a sua verdadeira aspiração acadêmica, ou pode ser referente aos que a descobrem através do amadurecimento intelectual desenvolvido

naturalmente ao longo de sua permanência em um curso superior. Porém, avançando nesta discussão o próprio autor reconhece que a evasão sempre causa prejuízo a instituição, quer ela seja privada ou pública (RISTOFF, 1999). No caso das instituições privadas ocorre uma perda de receita devido a ocupação temporária de uma vaga que poderia ter sido melhor aproveitada por outro indivíduo que integralizaria seus estudos junto a instituição. Já no caso do sistema público de ensino tem-se um desperdício social e econômico devido ao investimento de recursos públicos sem o devido retorno à sociedade (SILVA FILHO et al, 2007).

Seguindo a busca pela caracterização do fenômeno da evasão no ensino superior é necessário em um primeiro momento categorizá-la para que futuramente seja possível realizar comparações quantitativas com resultados advindos de diferentes estudos. Neste sentido diferencia-se cada uma das possíveis evasões: a de curso, a de instituição e a de sistema (BRASIL, 1996).

Nesta categorização a evasão é vista pela parte do sistema e não do aluno, ou seja, quando se fala em evasão de curso está se referindo ao aluno inicialmente atrelado a uma matrícula do curso que se desvincula do mesmo por uma série de possíveis motivos (transferência interna para outro curso, transferência para outra instituição, desistência ou exclusão pela instituição). Nesta categoria de evasão o curso perdeu um aluno e apresenta uma vaga ociosa, por mais que este aluno esteja ligado a um novo curso da mesma instituição.

No caso da evasão de instituição o aluno desvincula-se da instituição a qual estava ligado podendo ser encontrado em outra instituição de ensino superior ou não, sendo muito comum quando alunos do sistema privado de ensino passam a frequentar cursos oferecidos pelo sistema público.

Já a evasão de sistema constitui-se do desligamento do indivíduo do sistema de ensino superior. Neste caso, após determinado período, ele passa a não possuir mais vínculo algum com qualquer instituição de ensino superior sem ter ocorrido a sua diplomação. Esta categoria de evasão apresenta-se como a mais dramática das três, visto que em um contexto em que a obtenção do título acadêmico é percebida pela população como uma possibilidade de melhora nas suas condições de vida, esta melhora ou se retarda ou acaba sendo frustrada completamente.

Desta forma a quantificação da evasão pode ser realizada no âmbito de um curso ou de uma instituição, através de estudos específicos, ou de sistema através de uma análise mais geral e simples. Para a análise da evasão no sistema de ensino

superior do Brasil pode-se fazer uso da expressão matemática proposta por Silva Filho et. al que possibilita que a taxa de evasão anual de cada um dos sistemas de ensino seja calculada através dos dados disponibilizados anualmente pelo Inep nas Sinopses Estatísticas do Ensino Superior, permitindo desta forma avaliar o comportamento desta taxa ano após ano. Segundo os autores (SILVA FILHO et. al, 2007) a taxa anual de evasão é encontrada através da expressão:

(1)

onde E(n), M(n) e I(n) representam respectivamente o índice de evasão anual, o número de matrículas e o número de ingressantes de um ano “n” e M(n‐1) e C(n‐1) os números de matrículas e de concluintes do ano anterior a “n”.

Com os dados extraídos das sinopses estatísticas (INEP, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017) é possível obter o gráfico 1, que mostra o comportamento anual da taxa de evasão média segundo a metodologia de Silva et. al para o sistema de ensino superior brasileiro (todos os cursos superiores oferecidos por instituições públicas e privadas).

Gráfico 1 - Taxa de Evasão Anual do Ensino Superior Brasileiro.

Fonte: Sinopses Estatísticas do Ensino Superior dos anos de 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, Inep. Adaptado pela autora.

médio de evasão do ensino superior brasileiro, obtido através da média aritmética simples dos índices anuais, é de 25,08%. Isso significa que de modo geral um quarto dos alunos que ingressa anualmente no sistema de ensino superior brasileiro não conclui seus estudos.

Seguindo a mesma metodologia que gerou os dados anteriores, pode-se observar que a realidade dos cursos de licenciatura não é nada diferente dos cursos em geral. Através dos dados do Inep publicados nas Sinopses Estatísticas do Ensino Superior pode-se, juntamente com a utilização da expressão matemática 1, obter-se o gráfico 2.

Gráfico 2 - Taxa de Evasão Anual das Licenciaturas no Brasil

Fonte: Sinopses Estatísticas do Ensino Superior dos anos de 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, Inep. Adaptado pela autora.

Com o foco ainda mais restrito e mais alinhado com o tema de estudo do presente trabalho, pode-se analisar os dados referentes aos cursos de licenciatura dos Institutos Federais. Os dados divulgados nas Sinopses Estatísticas permitem, juntamente com a expressão matemática 1, gerar o gráfico 3.

Analisando o gráfico 3 é possível observar que a realidade nos Institutos Federais, no que se refere as taxas de evasão nos cursos de formação de professores, é um pouco mais grave que aquela demonstrada pelos índices obtidos através das análises gerais da situação da evasão no Brasil. Observa-se, no gráfico 3, que em todos os anos analisados, com exceção do ano de 2016, os índices de evasão anuais nos Institutos Federais são ligeiramente superiores aos mesmos

índices quando consideradas todas as instituições de ensino superior brasileiras. Gráfico 3 - Taxa de Evasão Anual das Licenciaturas nos Institutos Federais.

Fonte: Sinopses Estatísticas do Ensino Superior dos anos de 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, Inep. Adaptado pela autora.

Pelos índices mostrados nos gráficos acima pode-se perceber que o problema da evasão discente nos cursos superiores não é um problema isolado dos cursos de licenciatura ofertados pelos Institutos Federais. Particularmente, nos Institutos Federais tem-se uma evasão média anual próxima de 23,74%, o que equivaleria a aproximadamente um quarto dos sujeitos que ingressam nestes cursos. Com estes índices em mãos podem ser feitas comparações entre a realidade nacional e aquela apresentada pelos cursos de licenciatura de um Instituto Federal específico. Esta comparação, para o caso do lócus escolhido na pesquisa, é demonstrado mais a frente.