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POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA Enquanto não são observadas grandes mudanças na política de formação de

4 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: TENDÊNCIAS E DESAFIOS

4.1 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA Enquanto não são observadas grandes mudanças na política de formação de

professores a nível nacional para a educação básica alguns programas do governo têm tentado, de forma bastante abrangente, mas sem grandes reestruturações, mudar o cenário atual da falta de profissionais devidamente qualificados para este nível de educação.

O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) foi regulamentado pelo Decreto n° 6.069/07 e não se caracterizou como um programa diretamente voltado a expansão dos cursos de formação de professores. Porém, uma vez que este programa buscou a interiorização e democratização da educação superior através da abertura de universidades fora dos grandes centros e da ampliação das vagas das universidades já existentes, inevitavelmente ocorreu um aumento no número de vagas nos cursos de licenciatura no sistema público de ensino superior.

Seria utopia pensar que somente o aumento no número de vagas presenciais nas universidades federais seria capaz de alterar significativamente o cenário da formação de professores para educação básica. Consoante com esta ideia o primeiro passo na elaboração de uma política mais efetiva que o REUNI, no que se refere a formação de professores, foi justamente o de conceder novo ordenamento legal a Educação a Distância (EaD) através do Decreto n° 5.622/05, fazendo com que os cursos ofertados nesta modalidade de ensino fossem completamente equivalentes aos ofertados na modalidade presencial. A partir desta regulamentação é criada em 2006 a Universidade Aberta do Brasil (UAB) que tem como objetivo promover formação inicial e continuada de professores através da metodologia da educação à distância. A UAB consiste de uma parceria entre o governo federal,

instituições de ensino superior públicas, estados e municípios, que visa prioritariamente a formação dos professores que já atuam na educação básica sem a devida habilitação legal através, principalmente, das ações do programa Pró- Licenciatura (GATTI, BARRETO, ANDRÉ, 2011).

Porém, segundo aponta Barreto (2015), o Decreto n° 5.622/05 desencadeia um aumento significativo no número de vagas e cursos, oferecidos prioritariamente na modalidade EaD, pelas instituições privadas de ensino superior. Para se ter uma ideia deste cenário a autora, através da análise das Sinopses Estatísticas da Educação Superior de 2011, indica que das 767.660 matrículas que a rede privada de ensino superior possuía para a formação de professores, já se tinha 324.424 (42,3%) sendo ofertadas na modalidade a distância. Com referência a estes dados a autora salienta duas preocupações. A primeira se refere a transformação destas instituições em grandes empresas movidas por interesses puramente econômicos. A segunda é mais específica à formação dos alunos ligados a esta modalidade de ensino que são expostos, muitas vezes, a uma improvisação do projeto político- pedagógico dos cursos (originalmente ofertados na modalidade presencial) e da infraestrutura oferecida pela instituição (BARRETO, 2015). Esta precarização é também destacada por Scheibe ao salientar que o crescimento da oferta de cursos na modalidade EaD tem trazido preocupação tanto aos estudiosos da área da educação como a toda a comunidade vinculada à educação básica. Nas palavras da autora,

Há uma compreensão de que a formação indiscriminada desenvolvida a distância na qualificação dos profissionais para o magistério traz privações vinculadas à vivência universitária, comunitária e institucional que compõem um processo formativo. Grupos organizados, vinculados a programas de EaD, tentam minimizar os obstáculos à realização de programas de formação em nível de graduação, mas a maioria dos participantes da CONAE7 votou pela sua excepcionalidade, de modo a ser utilizada na

formação inicial de professores apenas em situações em que a modalidade presencial não atinge a população que precisa ser formada (SCHEIBE, 2010, p. 992).

Alheio a estas preocupações o governo desenvolveu em 2005 o Programa Universidade para Todos (ProUni) que tem por objetivo oferecer bolsas de estudos, parciais e integrais, em cursos superiores destas instituições para alunos de baixa renda oriundos do ensino médio ou para professores da educação básica

que não possuam formação em curso superior, através da ocupação de vagas ociosas do sistema privado. Do total de bolsas ofertadas pelo governo 37% destinavam-se aos cursos de licenciatura (GATTI, BARRETO, ANDRÉ, 2011). Esta política, que pode ser vista como uma saída emergencial para o contorno da falta de vagas em instituições de ensino superior, tem mostrado, segundo Chaves (2015), um caráter de mercantilização da educação superior no Brasil, visto que, sob o ponto de vista do autor, o quantitativo de vagas do sistema público de ensino superior foi expandido sob a ótica da contenção de gastos enquanto que uma série de benefícios foram concedidos ao sistema privado.

Buscando um alinhamento mais estreito com o compromisso estabelecido no Fórum Mundial da Educação (FME) de 2000, o qual delegou aos governos a obrigação de assegurar que os objetivos e metas da Educação para Todos sejam atingidos e mantidos (UNESCO, 2001), é publicado em 2007 o Decreto n° 6.094/07 que, de forma alinhada com as orientações do FME, estabelece Planos de Ações Articuladas (PAR) que visam promover a qualidade da educação básica brasileira através da assistência técnica e financeira da União aos estados e municípios. As ações específicas à formação e qualificação docente são destacadas do PAR através da institucionalização, em 2009, do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) dentro do contexto da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica que visa promover uma articulação entre as secretarias dos estados e municípios e as instituições públicas de ensino superior (SOUZA, 2014). No caso deste programa tem-se um entrelaçamento de ações entre os estados e municípios com as universidades federais e a UAB, tendo como foco a oferta de cursos de primeira licenciatura, cursos de segunda licenciatura para os docentes que atuam em uma área diferente de sua formação e cursos de formação pedagógica para os graduados em cursos superiores de bacharelado (GATTI, BARRETO, ANDRÉ, 2011). Porém, o PARFOR será substituído, já em outubro de 2017, por um modelo mais atualizado de programa que é denominado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como Programa de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica (PROFIC). Neste novo programa ocorrerão duas mudanças significativas em relação ao atual PARFOR. Primeiramente os recursos começarão a ser repassados diretamente às instituições, buscando otimizar a eficiência da gestão. O segundo ponto é mais ligado a estrutura didático-pedagógica

do programa, sendo previstas mudanças nos currículos dos cursos buscando uma valorização das experiências vivenciadas em sala de aula pelos professores que estão participando do processo de formação.

Já o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), criado em 2010, é um programa que procura atuar na qualidade e valorização dos professores que estão sendo formados nos cursos de licenciatura. No caso deste programa o público-alvo não são os professores que já atuam em sala de aula, mas a formação inicial daqueles que irão atuar como professores futuramente. Neste programa é proporcionado uma aproximação, já nos momentos iniciais dos cursos de licenciatura, do aluno com o ambiente escolar da educação básica. Estes alunos desenvolvem projetos didático-pedagógicos sob orientação de um docente da instituição de ensino superior e de um professor da escola de educação básica, destacando novamente a articulação entre as instituições de ensino superior e as escolas de educação básica (BARRETO, 2015). Aos três sujeitos envolvidos nestes processos são concedidas bolsas que variam de R$ 400,00 no caso do aluno à R$1.400,00 no caso do professor da licenciatura.

Mais recentemente outro programa foi incluído na Política Nacional de Formação de Professores, a Residência Pedagógica. Este programa busca induzir o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado dos graduandos em cursos de licenciatura através da sua inserção no ambiente escolar de escolas de educação básica a partir da segunda metade do curso. Segundo a CAPES,

Essa imersão deve contemplar, entre outras atividades, regência de sala de aula e intervenção pedagógica, acompanhadas por um professor da escola com experiência na área de ensino do licenciando e orientada por um docente da sua Instituição Formadora (BRASIL, 2018).

Embora vislumbre-se uma importante ferramenta de aproximação entre o licenciando e a escola, contando com o auxílio de bolsas para todos os sujeitos envolvidos (aluno, professor coordenador na instituição formadora e professor da escola) existe uma forte resistência a aceitação deste programa principalmente devido ao último objetivo destacado pela CAPES, “Promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação básica às orientações da Base Nacional Comum Curricular” (BRASIL, 2018). Este alinhamento com a nova base curricular gera conflitos uma vez que a mesma fundamenta-se na adequação dos currículos aos sistemas de avaliação em

larga escala, representando assim um alinhamento da política nacional da educação aos princípios de uma política neoliberal.

Pode-se somar a estes seis programas/políticas também o Programa de Consolidação das Licenciaturas (PRODOCÊNCIA) que é voltado para a implementação e fomento de inovações na organização curricular dos cursos de formação de professores das instituições públicas de ensino superior. Porém, como destaca Souza (2014), todos estes programas atuam de forma praticamente desconectada entre si e se devidamente articulados complementar-se-iam oferecendo a possibilidade de potencializar as ações individuais desenvolvidas por cada um destes programas/políticas.

4.2 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO