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GESTÃO EDUCACIONAL, GESTÃO ESCOLAR E GESTÃO DEMOCRÁTICA Embora a gestão educacional e a gestão escolar atuem em diferentes

5 POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A GESTÃO NOS IF’S

5.1 GESTÃO EDUCACIONAL, GESTÃO ESCOLAR E GESTÃO DEMOCRÁTICA Embora a gestão educacional e a gestão escolar atuem em diferentes

dimensões do sistema de ensino, a primeira em uma dimensão macro, considerando o sistema educacional como um todo, e a segunda em uma dimensão micro, centrada na organização da instituição de ensino, estas duas se complementam na busca do objetivo final da educação. Nas palavras de Lück,

[…] a gestão educacional, em caráter amplo e abrangente do sistema de ensino, e a gestão escolar, referente a escola, constituem-se em área estrutural de ação na determinação da dinâmica e da qualidade de ensino. Isso porque é pela gestão que se estabelece a unidade, direcionamento, ímpeto, consistência e coerência à ação educacional, a partir do paradigma,

ideário e estratégias adotadas para tanto (LÜCK, 2006, p. 17).

Mais especificamente, a gestão educacional adota a visão de conjunto para a educação, tratando da organização e da atribuição das responsabilidades do sistema educacional, em que os entes federativos assumem papéis e responsabilidades diferentes no cenário educacional brasileiro através de um regime de colaboração. Segundo Viera:

[...] a gestão da educação nacional se expressa através da organização dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal; das incumbências da União, dos Estados e dos Municípios; das diferentes formas de articulação entre as instâncias normativas, deliberativas e executivas do setor educacional; e da oferta de educação escolar pelo setor público e privado (VIERA, 2007, p. 60)

No contexto da gestão educacional o sistema de ensino brasileiro se alicerça sobre um regime de cooperação entre os diferentes entes federativos de acordo com a Constituição Federal de 1988. Cabe à União organizar o sistema federal de ensino e dos Territórios, financiando as instituições de ensino públicas federais, exercendo função redistributiva e supletiva, de forma a garantir um padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e Municípios. Os Estados e o Distrito Federal atuam, prioritariamente, na oferta e manutenção do ensino médio, articulando-se com os Municípios em relação ao ensino fundamental. Já os Municípios devem atuar, prioritariamente, no ensino fundamental e ensino infantil através da educação ofertada em creches e pré- escolas (BRASIL, 2016b).

Porém, como destacam Costa e Almeida, a gestão educacional é mais ampla do que apenas a delegação de obrigações e responsabilidades,

[...] a gestão educacional do país perpassa pela dimensão ampla a nível federal, estadual, municipal, escola e seu entorno, como também toda a sociedade ainda que de forma mais distante e indireta em um primeiro momento, mas que com o passar do tempo vivenciará os resultados, positivos ou negativos, do processo educacional (COSTA; ALMEIDA, 2016, p. 84).

Já a gestão escolar é a gestão aplicada ao último segmento da rede articulada pela gestão educacional: a própria instituição de ensino. Desta forma, a gestão escolar traduz-se no conjunto de ações que são realizadas pelos envolvidos para que a instituição de ensino atinja o seu objetivo principal de promover o processo de ensino-aprendizagem de seus sujeitos, buscando o seu pleno desenvolvimento físico, cognitivo e social e preparando-os para assumirem seus papeis como cidadãos atuantes na sociedade. De uma forma mais clara, a gestão escolar é responsável pelo dia-a-dia da instituição, pela rotina educacional que objetiva garantir as condições necessárias para que a instituição cumpra seu papel como promotora da formação de cidadãos com competências e habilidades para sua vida pessoal e profissional através de uma educação de qualidade (LÜCK, 2006). Nesta mesma linha Costa e Almeida expõem que:

A gestão escolar é responsável pelos encaminhamentos no interior dos estabelecimentos de ensino, respeitando as normativas comuns oriundas dos sistemas educacionais superiores, de acordo com cada rede mantenedora. Cada Unidade Escolar tem o dever de elaborar e executar sua proposta pedagógica, administrar os recursos humanos, materiais e financeiros, zelar pelo processo de ensino aprendizagem oferecido a comunidade e buscar articulação com as famílias e com a própria comunidade, num processo de integração que facilite o desempenho escolar numa perspectiva de qualidade da educação (COSTA; ALMEIDA, 2016, p. 89).

É justamente nesta integração que destacam Costa e Almeida que se sustenta a gestão democrática. Esta forma de gestão parte do ponto que todos os envolvidos diretamente (professores, funcionários e estudantes) e indiretamente (pais e comunidade) devem ser participantes na organização e execução do projeto educacional da instituição de ensino. Esta participação está assegurada na forma de lei tanto na Constituição Federal de 1988 como na Lei de Diretrizes e Bases de 1996 que determinam que a educação brasileira tenha como um dos seus princípios a

gestão democrática.

A gestão democrática, sob o ponto de vista de Lück, vem justamente no sentido contrário de um ponto de vista positivista no qual a escola é vista como é uma entidade governamental com a qual o governo tem o dever de promover a educação, que neste cenário seria concebida como um processo paralelo e sem interseção com a sociedade. Na verdade, a gestão democrática chama a sociedade para dentro das instituições de ensino e passa a perceber a educação como um processo completamente conectado a ela, tendo esta sociedade a responsabilidade conjunta com o Estado de zelar por ela e promover o processo educacional. A gestão educacional passa a ser vista de forma descentralizada com as instituições de ensino sendo autônomas e geridas através de um ideal no qual todos os integrantes do processo educacional têm voz, sendo esta forma de gestão necessária devido a uma série de peculiaridades inerentes a este processo.

Muitas destas peculiaridades nas instituições de ensino estão relacionadas às características particulares que não permitem que previsões de recursos decididos centralmente atendam suas demandas na forma e no tempo em que são requeridas. Muitas destas particularidades se referem ao fato de que estas instituições são organizações sociais e que o processo educacional que promovem é altamente dinâmico, não podendo ser previsto, acompanhado ou gerido de forma externa. Para que este processo consiga promover a maturidade social dos seus indivíduos é necessário que ele esteja assentado em ideais democráticos que só podem ser alcançados quando seus indivíduos compartilham de um ambiente participativo com as decisões sendo tomadas de forma igualmente democrática (LÜCK, 2006).

Porém segundo destaca Libâneo, o estabelecimento da gestão democrática não ocorreu de forma integral sequer no contexto da gestão escolar. Segundo o autor,

[...] a gestão democrática aparece como constrição legal e, ao mesmo tempo, resume-se como “participação”, entendida mais como forma de representação da comunidade, gestão de recursos financeiros, e menos como dispositivos gerenciais e técnicos de funcionamento da escola, reduzindo a especificidade dos processos efetivos de gestão, ou seja, o conjunto dos meios e condições de caráter intelectual, material, gerencial, financeiro de assegurar o processo de ensino e aprendizagem. Na verdade, os efeitos mais imediatos desse dispositivo legal foram: a instituição do projeto pedagógico e a participação de professores e pais na gestão da escola, está representada, na prática, pela constituição burocrática de conselhos escolares (LIBÂNEO, 2007, p. 13)

Ou seja, a participação da comunidade no planejamento da educação se restringe muito mais a ações de caráter burocrático e estritamente local do que na proposta e discussão de planos, metas e ações gerais para a educação nacional. Neste sentido, a gestão democrática ganha ares de simples diminuição de responsabilidades do Estado, o qual, através deste discurso, repassa suas obrigações aos entes federados, instituições e sujeitos da educação.

5.2 GESTÃO E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO INSTITUTO FEDERAL