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Depois de acompanhar a evolução das Instituições de Ensino Superior no país e seus principais dilemas gerenciais, vale discutir sobre a evolução dos cursos de turismo no Brasil. Enquanto atividade econômica o turismo tem importância ímpar para o desenvolvimento do país, uma vez que possibilita a entrada de divisas estrangeiras. (BENI, 2004).

Assim como qualquer atividade econômica, o turismo também segmenta seu mercado em diversas opções para atender às necessidades de seus clientes. A atividade turística é divida em turismo de aventura, cultural, ecoturismo, da terceira idade, dentre outros. Vê-se, assim, que se parte para uma segmentação a fim de conquistar mercados de interesses específicos e que isso não é uma tendência apenas para o turismo e sim das diversas atividades econômicas que buscam acompanhar o cenário dos negócios da atualidade. De acordo com Ansarah (2001, p. 27):

Segmentar o mercado é identificar clientes com comportamentos homogêneos quanto a seus gostos e preferências. A segmentação possibilita o conhecimento dos principais destinos geográficos, dos tipos de transportes, da composição demográfica dos turistas e da sua situação social e estilo de vida, entre outros elementos.

Sendo assim, estudar o turismo é importante para que seja possível planejar a atividade e possibilitar uma gestão profissional dos recursos naturais, culturais e dos equipamentos de suporte à atividade. A matéria-prima do turismo são recursos coletivos, é a natureza, a cultura de uma região e, por conseguinte, a responsabilidade de transformar estes recursos em produtos é muito grande, pois, se mal administrado, pode comprometer um bem de toda a sociedade. (RODRIGUES, 2001)

É comum, no turismo, encontrar profissionais que não planejam o seu trabalho e causam impactos irreversíveis ao meio ambiente natural e cultural, justamente por não haver profissionalização do setor e por utilizar recursos, sejam naturais ou culturais, de forma desmedida, comprometendo a sobrevivência de um ambiente natural ou de uma manifestação cultural de uma determinada localidade. (BENI, 2004)

Para que o país cresça, também a partir da atividade turística, é fundamental que haja profissionais preparados e conscientes da responsabilidade de trabalhar com a gestão do turismo. É fundamental que as instituições de ensino preparem seus alunos com uma formação ampla, diversificada, ou seja, multidisciplinar, para que sejam formados profissionais aptos e cientes da responsabilidade que têm em mãos. Para Ansarah (2001, p. 13):

Infelizmente não existe hoje a preocupação voltada para a consciência crítica dos alunos, tampouco para o desenvolvimento do pensamento crítico, mas sim do imediatismo profissional, da sua experiência prática, tão requisitada pelo mercado de trabalho. Na elaboração de planos de estudo, muitas vezes se esquece que a educação turística também é educação e, por conseguinte, deve desenvolver no indivíduo um espírito, para que ele seja criativamente funcional ao enfrentar sem traumas as novas situações que se apresentam continuamente neste setor, tão mutante e dinâmico.

O primeiro curso de turismo no país começou no ano de 1971 e teve um pequeno crescimento durante anos, até 1995, quando houve uma grande expansão do ensino superior no país. A partir daí houve uma multiplicação de cursos de turismo em todo o Brasil e uma concorrência acirrada nos vestibulares para ingressar nesta nova área, pois ainda era uma novidade para a grande maioria das pessoas. (RAMOS et al, 2010)

No entanto, não havia nas instituições de ensino, ainda na década de 90, profissionais formados em turismo em número suficiente para dar conta da demanda de professores necessários para ocupar as vagas criadas nestas novas instituições. A saída foi contar com profissionais de outras áreas, com o objetivo de suprir a necessidade de bacharéis formados e pós-graduados em turismo. Conflitos foram inevitáveis neste processo natural de crescimento desta nova área, porém o maior dilema seguiu depois. Uma grande quantidade de profissionais estava se formando e o mercado não tinha a cultura de absorver esta mão de obra agora qualificada em nível superior. Consequência: diversos novos graduados começaram a procurar uma carreira paralela para ingressar no mercado. Outros seguiram para o meio acadêmico, que naquele momento absorvia estes novos formados. Para Ramos et al (2011, p.784):

[...] no período em que ocorreu crescimento da atividade turística no Brasil, aumentando o fluxo turístico e uma diversificação dos empreendimentos e serviços turísticos, tornando necessário capacitar recursos humanos para dar conta desta demanda verificou-se uma explosão de cursos superiores em Turismo, provocando um efeito socialmente perverso na formação acadêmica nesta área, através do ensino pago.

Esse processo acarretou uma diminuição da demanda para os cursos de turismo. Em Pernambuco, na Universidade Federal, por exemplo, verificou-se uma concorrência de 20 candidatos por vaga no ano de 2001, com base em notícia publicada no site da Covest. Agora, em 2011, este número caiu para 5 candidatos por vaga, de acordo com nota publicada pelo JC Online no mesmo ano. Sendo assim, as instituições particulares de turismo começaram a ver que as turmas que antes eram abertas com concorrência, já não mais abriam, e que o índice de evasão era muito alto. Atualmente, algumas faculdades já tradicionais no turismo optaram por fechar o curso a fim de evitar prejuízos. Em contrapartida, hoje se vê que a gestão do turismo está cada vez mais nas mãos de profissionais formados na área e que poderá haver um equilíbrio maior entre a demanda por profissionais da área e a oferta de pessoas formadas e preparadas para assumir funções ligadas ao turismo. Na realidade, o profissional do turismo sempre teve uma profissão incompreendida. A maioria da população não entende o trabalho do profissional formado em turismo. Existe um senso comum de que é uma área fácil, sem grandes responsabilidades e que não exige um profissional tão qualificado. Esse entendimento perdurou por décadas e ainda hoje existe, porém com menos intensidade.

Enfim, sabe-se que a formação do turismólogo precisa ser multidisciplinar e envolve o desenvolvimento, nos alunos, de competências técnicas, gerenciais e comportamentais muito amplas. A formação desse aluno exige que os professores desenvolvam suas aulas com objetivos claros, atendendo a todas as competências necessárias para uma boa formação desse profissional. Sendo assim, é preciso conhecer os processos que envolvem a preparação das aulas com foco num aprendizado amplo e sistêmico. Também se faz essencial entender como esse processo de aprendizagem acontece em instituições de ensino superior e quais são as barreiras encontradas pelos professores ao escolher trabalhar com educação no Brasil.