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Evolução da configuração urbana de Natal no alvo do turismo e

1 DA CIDADE NOVA AO CITY MARKETING

4.5 OS MARCOS ARQUITETÔNICOS E A DINÂMICA IMOBILIÁRIA EM

4.5.1 Evolução da configuração urbana de Natal no alvo do turismo e

Furtado (2008) apresenta o turismo como principal indutor das mudanças ocorridas na configuração urbana de Natal, notadamente a partir dos anos 1960. Suas pesquisas apresentam a “onda intencional do turismo” como uma configuração espacial que acompanha os principais eixos de expansão da cidade “[...] em seu processo histórico até a fase mais recente”. (FURTADO, 2008, p.106). A espacialização proposta considera os eixos viários de Natal, tidos como animadores da dinâmica econômica da cidade e vistos como vetores de fundamental importância para a configuração do espaço urbano.

De acordo com a autora, a onda proposta é uma construção “imagética” que auxilia o desenho do objeto investigado, e mostra como Natal se “fragmentou” e se “produziu” no passado recente. “A onda é também uma figura apropriada, já que indica uma configuração sempre em movimento de fluxo e refluxo”. (FURTADO, 2008, p.106). A configuração proposta, fruto da dinâmica social e econômica e da mistura entre bairros residenciais e espaços de consumo, é baseada em três eixos fundamentais de circulação da cidade e seus vetores irrigantes:

[...] o primeiro, que se inicia na Via Costeira e se estende ao Bairro de Ponta Negra e à Rota do Sol, é um eixo fortemente concentrador das atividades turísticas da cidade, ou seja, seu espaço turistificado, um espaço de consumo e de apropriação pelo visitante e pela elite local. É, portanto, um espaço que não se volta exclusivamente para o turismo, mas nele encontra um forte interveniente. O segundo eixo, que surge na BR-101 e adentra a cidade pelas avenidas Salgado Filho/Hermes da Fonseca, é uma área caracterizada pela expansão comercial e instalação de serviços diversos. [...] O terceiro eixo é composto pela avenida Prudente de Morais e seu prolongamento, a avenida Nilo Peçanha (que se interliga com a avenida beira-mar, atual avenida Café Filho, através da avenida Getúlio Vargas), com destaque para o setor financeiro e médico-hospitalar. (FURTADO, 2008, p.107)

Compõem, também, a construção “imagética” da “onda”: a espacialização do turismo, configurada pelos três grandes eixos viários da Zona Sul de Natal; a “área turistificada”, da qual fazem parte a Via Costeira e o bairro de Ponta Negra; e os bairros de status, que são aqueles que concentram moradores de mais alta renda e os serviços mais complexos ofertados na cidade (ver Figura 05).

Figura 05 – A “onda de intencionalidade do turismo”

Fonte: Furtado (2008, p.110)

A metáfora proposta explica o espraiamento da malha urbana de Natal em direção ao sul do ponto de vista das transformações econômicas resultantes do fenômeno do turismo, segundo uma original construção intelectual. Essas mudanças

levaram a uma reconfiguração urbana com forte impacto na segmentação sócio espacial da cidade, e consubstancia a lógica que indica que a percepção das construções marcantes concentra-se na área banhada pela onda.

Medeiros (2011, p.76), em sua Tese de Doutoramento, define o Eixo de Investimentos e Valorização Imobiliária em Natal (EIVI) como “[...] uma área na qual a atuação do poder público, com infra-estrutura, e do mercado imobiliário, com a presença de muitos empreendimentos, se faz mais efetiva”.

De acordo com a autora, este eixo compreende uma mancha urbana que abrange diversos bairros de Natal no sentido Zona Leste-Zona Sul: começa na Ponte Newton Navarro, em Santos Reis, e termina no Morro do Careca, em Ponta Negra. Ainda segundo a autora, o EIVI é uma área de forte dinâmica imobiliária com forte valorização, que tornou-se um “campo gravitacional” da cidade atraindo tipos diversificados de público, gerando processos de acumulação do capital para o setor imobiliário e tem gerado “[...] benefícios/vantagens àqueles que ajudam a reproduzi- la”. (MEDEIROS, 2011, p.76). A autora estabelece correlações entre o EIVI e a atividade turística em Natal devido a questões de localização e investimentos públicos voltados para essa atividade, principalmente nas áreas próximas ao cordão de dunas que margeia a orla e compõe a paisagem do estuário do rio Potengi (ver Figura 06).

Os diversos bairros que integram o EIVI têm características diversas. Cabe aqui destacar: o bairro de Ponta Negra, que tem forte influência da atividade turística e da migração de brasileiros de todos os estados e de estrangeiros de vários países, com fortes repercussões na especulação imobiliária; o bairro de Candelária, que teve sua origem num conjunto habitacional e que teve importante mudança de uso que o transformou de bairro apenas residencial num dos bairros de maior dinâmica e crescimento nos setores do comércio e de serviços; os bairros do Tirol e Petrópolis, que se destacam como bairros de elite, com origens no primeiro grande plano de urbanização e expansão de Natal, o Plano da Cidade Nova, do início do século XX. Caracterizam-se por ter produção de moradias para uma “elite doméstica”, pela oferta de serviços especializados nas áreas da saúde e gastronomia, por exemplo, e por uma forte verticalização a partir do início do século XXI; e o bairro das Rocas, um dos mais antigos de Natal, que tem como vizinhos os bairros da Ribeira, Praia do Meio e Petrópolis. Caracteriza-se por ter infraestrutura deficitária, moradores de média e baixa rendas e pela proximidade com os bairros históricos da cidade, já citados. (MEDEIROS, 2011, p.79-101)

Figura 06 – Eixo de Investimento e Valorização imobiliária (EIVI)

Fonte: Medeiros (2011, p.78)

Percebe-se a coincidência entre os mapas produzidos pela “onda do turismo” e pelo EIVI. Ambos os fenômenos configuram uma mesma mancha urbana que começa ao norte, na Zona Leste da cidade de Natal, e se espraia pelos bairros até a Zona Sul da cidade, assim como o mapa das construções marcantes, numa sobreposição de impressionante similaridade, confirmando uma lógica de expansão da cidade no sentido dos seus principais eixos viários e dos bairros às suas franjas.