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1 DA CIDADE NOVA AO CITY MARKETING

1.1 TURISMO E IMOBILIÁRIO: GRANDES TRANSFORMAÇÕES EM

Entende-se que as primeiras ações com vistas ao incremento do turismo em Natal ocorreram nos anos 1960, com as incipientes iniciativas de transformar Natal em destino turístico. Percebe-se que essas iniciativas intensificaram-se a partir dos anos 1980 quando houve forte incremento na movimentação turística na cidade e no litoral oriental do RN, o que caracterizou uma “onda” turística que impactou Natal fortemente (FURTADO, 2008). Conforme Clementino, Silva e Pereira (2009, p.31), foi a partir desta época – os anos 1980 – que a atividade turística passou a conferir uma nova dinâmica aos municípios da RMN com a implantação do projeto Parque das Dunas-Via Costeira2, dentro da agenda dos Planos Nacionais de Desenvolvimento. Relatam ainda os autores que, na década de 1990, através do Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste (PRODETUR I)3, foram implementados investimentos em infraestrutura para o turismo com ênfase em Natal, o que resultou no surgimento de “[...] novas tipologias de turismo e lazer: pousadas, hotéis, resorts, condomínios fechados, flats, casas de veraneio [...]”. (CLEMENTINO, SILVA E PEREIRA, 2009, p.33)

A década de 1980 foi, assim, um divisor de águas e período de grandes transformações na economia mundial, consolidando o que se convencionou chamar de globalização. Gomes (2009, p.53) aponta essa década como de enorme integração dos mercados financeiros internacionais com o respectivo crescimento do comércio entre as nações, além de ser uma década de grandes transformações em Natal, que passou por mudanças significativas atreladas à elevação das receitas geradas e ao número de pessoas ocupadas. Tudo isso foi fruto de políticas do Estado brasileiro que

[...] passou a delinear novas políticas territoriais voltadas, principalmente, para a consolidação de economias que respondessem a essa nova realidade econômica mundial, podendo ser mencionadas, dentre elas, aquelas voltadas para as áreas urbanas das maiores cidades, em especial as capitais estaduais. (GOMES, 2009, p.53)

2 O Projeto Parque das Dunas-Via Costeira foi a primeira grande iniciativa do poder público com vistas

ao incremento do turismo em Natal. Resultou na construção de uma avenida de 8,5 Km ligando os bairros de Ponta Negra e Areia Preta, cortando as dunas litorâneas. Hoje, é ocupada por hotéis e pelo Centro de Convenções de Natal.

3 A primeira fase do PRODETUR I encerrou-se no início do século XXI. Posteriormente, o chamado

PRODETUR II buscou diversificar os investimentos enfocando na “... capacitação de mão-de-obra, dos empresários e dos gestores públicos que atuam no segmento turístico”. Parte do pressuposto, portanto, que a qualificação profissional é fundamental para a inserção competitiva do Nordeste brasileiro no mercado global. (FERREIRA, SILVA e FONSECA, 2009, p.123-124)

É importante entender que somente a partir desse momento o turismo passou a fazer parte das políticas de desenvolvimento econômico para a Região Nordeste como um todo, numa transição para uma região com vocação turística contemporânea. Dantas, E. (2010, p.29) apresenta uma interessante abordagem que permite compreender essa transição:

Desse modo, a compreensão da passagem supracitada explicar-se-á ao recorrer à interpretação do imaginário social nordestino no tempo, enfatizando sua redefinição nos últimos anos, graças à indicação do semiárido como virtualidade e em contraposição à imagem associada à seca, sinônimo de miséria, fome... Essa transformação de caráter simbólico potencializará quadro político (reforma constitucional) e econômico (nos termos do “city marketing”) que dará margem ao processo de turistificação do Nordeste.

Na década de 1990, essas transformações sofreram um aprofundamento com o incremento das atividades turísticas na RMN, notadamente no litoral oriental do RN, levando a uma expansão do mercado de trabalho, ao aumento significativo dos investimentos estrangeiros, a mudanças territoriais de grande impacto e à produção de edificações voltadas principalmente para o ramo hoteleiro e de segunda residência para os turistas europeus. Transformações, portanto, de base “despudoradamente” turísticas, cabendo aqui termo utilizado por Hall (1988) nas suas análises sobre as transformações urbanísticas ocorridas em Baltimore, a partir dos anos 1970.

Para que se tenha uma ideia dessas transformações, de acordo com Silva, A. (2010, p.179), no início dos anos 2000, as casas de veraneio, sítios, fazendas, dentre outros tipos de imóveis, tradicionalmente pertencentes e usufruídos pelos veranistas e proprietários de Natal e de outras cidades, localizados no litoral do RN, passaram a ser negociados no mercado imobiliário local e internacional dentro de uma nova lógica de produção imobiliária. Ainda segundo o autor, no início, num período estimado entre os anos de 2001 e 2007, as residências de verão foram vendidas aos turistas “genéricos” e, num segundo momento, as fazendas, sítios, chácaras, foram vendidos no mercado com vistas à formação de grandes glebas “[...] como estoque de terras, para transformação em condomínios fechados, condhoteis, resorts e loteamentos”. (SILVA, A., 2010, p.179). Some-se a esses fatos a concentração de investimentos públicos em obras como a reurbanização da praia de Ponta Negra, por exemplo, que revelam uma “primazia das políticas públicas” para essa região, de acordo com Felipe

(2002, p.233-234), que cita ainda as construções da Rota do Sol, de hotéis e pousadas como indutoras da “ascensão da atividade de turismo” na RMN (ver Figura 03).

Figura 03 – Os municípios da Região Metropolitana de Natal (RMN)

Fonte: Anuário Natal (2013, p.359)

Percebe-se que as mudanças no mercado imobiliário são resultado de uma estratégia de captação dos turistas, alicerçada em fontes de financiamento externo e nos incentivos ao turismo, que têm se mantido e até aumentado, com base nas belezas naturais, na gastronomia local e nos eventos, o que transformou a atividade turística numa das principais fontes de divisas para o município de Natal e sua Região Metropolitana, fato corroborado pelos indicadores auferidos pela Prefeitura Municipal de Natal e pelo Governo do RN.

De acordo com o Anuário Natal 2013 (2013, p.331-332), baseado em dados da Secretaria de Turismo do RN, o fluxo turístico na RMN teve um incremento de mais de 50% do ano de 2001 para o ano de 2011. Em 2001, afluíram 1.089.110 pessoas a Natal e, em 2011, vieram à cidade 1.674.853 pessoas oriundas de todo o Brasil e do exterior. No ano de 2011, a receita turística de Natal foi de, aproximadamente, R$ 1.659.400.000,00.

Para se ter uma ideia melhor do que representa o turismo para a economia da RMN, no ano de 2011, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), o Produto Interno Bruto (PIB) da Cidade de Natal foi da ordem de R$ 12.266.519.000,00, o que significa que as receitas com o turismo representaram, naquele ano, o equivalente a cerca de 13,5% do PIB de Natal. Para que se perceba de forma mais abrangente a importância do turismo para a capital do RN e para não ficar na fria estatística governamental, verificou-se que, em pesquisa realizada em junho de 2013 pela empresa Consult Pesquisa, sediada em Natal, foram obtidos os seguintes resultados quanto à opinião dos natalenses sobre o grau de importância da atividade turística para o RN: 50,5% consideram muito importante e 33,88% consideram importante. (CONSULTPESQUISA, 2014)

São números que deixam clara a relevância da atividade turística para a cidade e que, em certa medida, esclarecem as iniciativas que transformaram a paisagem urbana de Natal e tiveram impactos na produção imobiliária. O turismo é para Natal, portanto, sua maior vocação econômica na atualidade e seu maior potencial de desenvolvimento econômico e social, de forma que a especialização e o alcance dessa vocação a tornam um polo de atração de visitantes de destaque nacional.

A atividade turística é característica de uma sociedade móvel que se deixa seduzir pela produção do lugar – aqui entendido como locus privilegiado das experiências e da soma das experiências das pessoas com o ambiente construído, ambiente esse mediador das relações do indivíduo com a coletividade através das suas edificações (ROSSI, 1995) – que se transforma numa mercadoria como outra qualquer, porém uma mercadoria sofisticada. Nesse espectro, as localidades passam a ser consumidas em suas diversas nuances culturais, inclusive no que diz respeito às suas construções novas ou históricas, o que torna a atividade turística uma das mais promissoras atividades econômicas do século XXI, mesmo nas localidades pobres, desde que ofereçam atributos que despertem o desejo e as emoções nos visitantes.

Desta forma, as cidades passam a constituir redes de consumo onde, contraditoriamente, ocorre uma fragmentação das localidades que são vistas não como um todo homogêneo, mas como partes constituídas de prédios, praias, vales vinícolas, montanhas etc. Isso tudo gera uma necessidade de produção do espaço não mais espontânea, mas propiciada por intervenções estatais e privadas com vistas à fabricação de um cenário constituído de infraestruturas e atrativos com as consequentes repercussões na questão fundiária e na produção de mais valias, quer pela proximidade, quer pela localização. Dentro desta perspectiva, Natal insere-se como um ponto, ou nó, da rede turística tanto nacional, como internacional. A cidade inaugura o século XXI absorvendo e reproduzindo o fetiche pela construção que pretende ser bela, que quer seduzir o olhar hoje não mais tão despreparado e ingênuo do turista, que exige peculiaridades que identifiquem o lugar, mas, simultaneamente, querem uma pasteurização, uma homogeneização, que lhes permita uma forma de comparação entre os lugares, que lhes permita um sentimento de conforto, de estar num lugar já conhecido, mas diferente. Procuram uma marca de exclusividade, através das construções e belezas naturais, mas buscam também infraestruturas, segurança e serviços de primeira linha. Em Natal, a necessidade de atender essas exigências tem provocado importantes mudanças na paisagem urbana bem como nos costumes e hábitos da população, nos últimos anos. Dentre algumas importantes iniciativas destacam-se: as intervenções urbanísticas nas praias urbanas com a implantação de calçadões e infraestrutura para o comércio à beira-mar, em 1999, quando a cidade completou 400 anos de fundação; e a construção de diversos hotéis de 4 e 5 estrelas na orla, inclusive com a instalação de redes nacionais e internacionais; entre outras.

1.2 ÍCONES URBANOS E A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE PARA NATAL