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Parece não haver grandes transformações quanto ao volume absoluto e relativo (sobre o total geral) de vítimas jovens na última década (1990-2004), que se apresenta consideravelmente estacionário em termos proporcionais, por volta dos 15% no conjunto das vítimas de todas as idades (Gráfico nº 24). Como acontece no caso dos identificados, arguidos, condenados e reclusos, neste contexto reconhece-se também que com o avançar de escalões etários, existe a tendência para o crescimento do número de contabilizados. Posto isto, e enquanto elementos de particular interesse aqui a realçar, apresentam-se algumas questões relacionadas com o tipo de crime que de forma mais frequente (em termos relativos) provoca a situação de vitimização.

Os crimes contra as pessoas são predominantes em todos os escalões etários e em ambos os sexos, numa tendência reforçada por um elevado crescimento na última década. Constituindo nas mulheres quase 80% (sobre o total de jovens) e nos homens quase 70%, em 2004, assumem-se como o grupo de infracções que mais contribui para a vitimização de jovens em Portugal (Gráfico nº 25). Este crescimento é visível também em termos absolutos e contrasta com o decréscimo da importância dos crimes contra o património, que têm vindo a perder relevância progressivamente. De qualquer forma, em 2004 constituem ainda 30% (no caso dos homens entre os 16 e os 29 anos) e 20% (no das mulheres jovens) dos crimes que vitimaram jovens em Portugal, num contexto em que os crimes contra a vida em sociedade assumem uma posição completamente residual.

Não é estranho o facto de os crimes contra as pessoas serem predominantes quando analisamos os dados pelo lado das vítimas, mesmo que não o sejam na criminalidade registada, nos arguidos e condenados, isto porque correspondem a infracções que correspondem, até como a denominação indica, a um atentado contra alguém em concreto, o que pode não acontecer nos outros conjuntos de crimes. Por outras palavras, são crimes que exigem uma vítima reconhecida e, como tal, acrescem de importância nesta dimensão.

0 10 20 30 40 50 60 70 1990 1991 1992 1993 199 4 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 200 3 2004 Ano (% s o b re o t o ta l do g rup o et ár io ) Homens Mulheres

Gráfico nº 24 – Vítimas (16-29 anos) de crimes contra o património, segundo sexo: 1990-2004 (%) Fonte: Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Ministério da Justiça, dados disponibilizados

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Ano

(% sobre o total do grupo etário)

Homens Mulheres

Gráfico nº 25 – Vítimas (16-29 anos) de crimes contra as pessoas, segundo sexo: 1990-2004 (%) Fonte: Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Ministério da Justiça, dados disponibilizados

Num domínio mais restrito, as ofensas corporais constituem cerca de metade das situações que vitimam tanto homens como mulheres jovens, dentro da categoria

proporcionalmente mais importante, seguido dos atentados à honra (cerca de 20%) e da ameaça e coação (10% aproximadamente), no último ano tratado. Nos crimes contra o património, onde tampouco se podem encontrar grandes diferenças entre grupos etários ou de género, as infracções específicas mais frequentes em termos relativos no ano de 2004, são os furtos simples e qualificados (cerca de 40% quando agregados), os roubos e o dano (que juntos compõe igualmente cerca de 40%) e finalmente a emissão de cheques sem cobertura (aproximadamente 10%).

Posto isto, há que referir que, para além de não poder ser assinalado nenhum crime que de forma específica esteja associado às vítimas jovens, neste contexto, a particularidade que diferencia estas dinâmicas por relação às dimensões anteriores, e que nos parece de interesse reforçado, é a aproximação que entre os sexos se constitui em termos proporcionais (Gráfico nº 26). Por outras palavras, se no caso dos identificados, arguidos e condenados se revelava uma discrepância muitíssimo expressiva entre o número de mulheres e homens envolvidos no sistema judicial, quando falamos de vítimas os valores aproximam-se.

59% 41%

Homens Mulheres

Gráfico nº 26 – Vítimas (16-29 anos) segundo sexo: 2004 (% sobre o total do grupo etário) Fonte: Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Ministério da Justiça, dados disponibilizados

Síntese Conclusiva

Posto isto, vemos que no domínio da criminalidade, risco e vitimização juvenil, apenas raramente se desenham tendências exclusivamente juvenis e que as regularidades encontradas são tendencialmente transversais ao total da população analisada. As diferenças são ténues, salvo algumas raras excepções, o que torna erróneo afirmar que se desenha claramente uma criminalidade juvenil em termos genéricos, em Portugal na última década.

Mesmo assim, sublinha-se a importância que o crescimento dos registos de crimes contra a propriedade com suspeitos jovens teve na última década, que constitui sem dúvida o factor mais expressivo a assinalar. O peso relativo que os jovens arguidos por crimes ligados à viação rodoviária assumem é também digno de nota, bem como o facto deste tipo de infracção sustentar, no domínio das condenações, uma ainda mais significativa proporção de jovens. A influência que a população jovem suspeita de crimes ligados a estupefacientes, tem no desenhar das dinâmicas da criminalidade registada relacionada com droga, pode ser igualmente indicada como característica a reter na síntese desta análise.

Reforça-se a importância do facto de que quando falamos de circunstâncias criminais a população masculina constituir uma maioria esmagadora e que as distâncias entre géneros se esbatem na vitimização de menores e maiores de 16 anos, em que o peso relativo das mulheres aparece como muito aproximado ao dos homens.

Por outro lado, verifica-se que com o aumentar da idade, dentro da população jovem, tende a crescer também o número de indivíduos associados à criminalidade, acontecendo o mesmo quando falamos de vítimas.

Por fim, interessa sublinhar uma particularidade interessante que se prende com o facto de não haver consonância no tipo de crimes mais recorrentes nas diferentes situações jurídicas analisadas. No caso dos suspeitos identificados são os crimes contra o património os mais recorrentes, nos arguidos e condenados jovens, os crimes contra a vida em sociedade e, finalmente, com as vítimas, os crimes contra as pessoas. Como explicamos, sucede esta dinâmica das particularidades de cada conjunto de crimes, pois se uns são de denúncia mais recorrente, podem ser menos fáceis de provar e passíveis de deixar cair a queixa, outros não necessitam de dano concretizado, facilitam a averiguação de culpa e assumem condição de crime contra o corpo social, o que garante continuidade do processo e finalmente os outros implicam uma vítima concreta. É, a partir daqui, interessante pensar no alcance da influência

que as estruturas e condicionalismos jurídicos têm na configuração destas dinâmicas estatísticas, num plano macro, e por consequência na vida dos jovens que entram no sistema judicial, numa esfera mais concreta e personalizada.

No entanto, se acontece esta divergência nas categorias de crimes em sentido lato, quando incidimos na análise das infracções que dentro destes conjuntos têm maior frequência, existem, de facto, sintonias e regularidades. Isto acontece na medida em que proporcionalmente, dentro das categorias mais genéricas, apenas um número muito restrito de crimes específicos assume alguma expressão, sendo estes transversalmente comuns, a este nível de análise, para suspeitos identificados, arguidos, condenados e vítimas. Desataca-se os roubos na via pública, danos e a emissão de cheques sem cobertura, no caso dos crimes contra a propriedade mais comuns nos suspeitos identificados jovens; os crimes rodoviários e ligados a estupefacientes no caso dos crimes contra a vida em sociedade, em que os de viação assumem grande importância principalmente entre arguidos e condenados da população jovem; e as ofensas corporais que dos crimes contra as pessoas é a infracção mais recorrente e consequentemente mais relevante entre as vítimas (da população jovem e não só).

Importa reforçar novamente que apenas nos casos específicos destacados, se encontram dinâmicas particulares para a população jovem, já que transversalmente esta acompanha as tendências de toda a população e apenas representa, no seu seio, uma proporção relativa, que deve ser analisada cuidadosamente em cada dimensão, não sustentando no geral a aparente preocupação mediática que rodeia as questões da criminalidade e delinquência juvenil nos nossos dias.