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População jovem que já não frequenta o sistema de ensino

Importa analisar o segmento populacional que deu como terminada a sua formação escolar. Num primeiro momento observa-se que a lógica de ordenação se alterou (Gráfico n.º 17). Com efeito, se em 1991 a grande maioria dos jovens que terminava os seus estudos fazia-o no ensino básico do 1º ciclo (31,1%) ou do 2º ciclo (33,1%), em 2001 a saída escolar ocorre na sua maioria num grau de escolaridade mais avançado, isto é, no ensino secundário.

Não deixa, no entanto, de ser preocupante que do total dos jovens que abandonam o ensino, 11,8% o fazem apenas com o 1º ciclo do ensino básico, 22,8% com o 2º ciclo do ensino básico e 19,8% com o 3º ciclo do ensino básico. Assim em 2001, do total de jovens que já não frequentavam o ensino, cerca de 35% abandonaram-no precocemente, sem completarem a escolaridade mínima obrigatória. Este abandono escolar desqualificado vem sublinhar mais uma vez a importância do ensino secundário enquanto marco distintivo dos percursos escolares dos jovens

0 5 10 15 20 25 30 35

Até ens básico 1º ciclo

Ens básico 2º Ciclo

Ens básico 3º Ciclo

Ens Secundário Ens Médio Ens Superior 1991 2001

Gráfico n.º 17 – População jovem que não frequenta o sistema de ensino por nível de instrução Fonte: Instituto Nacional de Estatística – Portugal.

Síntese conclusiva

Os dados aqui avançados permitem traçar algumas pistas relativamente ao panorama educativo português dos últimos anos.

Os efeitos da quebra na taxa de natalidade fizeram-se sentir com especial incidência no ensino básico, manifestada no decréscimo jovens matriculados que os frequentam.

Apesar desta quebra numérica, realce-se como aspecto positivo o crescente envolvimento e escolarização da população jovem portuguesa nos últimos anos. As gerações mais jovens, sobretudo as mulheres, que descrevem percursos na escola cada vez mais longos, apresentam-se como os principais agentes impulsionadores do progresso da escolarização a nível nacional. A crescente feminização do ensino português, passa sobretudo pela maior presença das mulheres nos ciclos de ensino mais avançados – sobretudo no ensino superior. No entanto, apesar da feminização encontrada, denota-se um progressivo aumento generalizado da apetência pelos graus de ensino mais avançados por parte dos jovens portugueses.

Note-se contudo que estas melhorias significativas sobressaem em parte porque enquadradas num pano de fundo de escolarização nacional com antigas carências e debilidades estruturais. Apesar de não se constituir como o móbil central deste trabalho, ficou claro, pelo contraste, o baixo nível de instrução/formação da população portuguesa em geral, e sobretudo a mais envelhecida, num agravamento do fosso geracional. Para além destes contrastes intergeracionais verifica-se um forte contraste intrageracional, coexistindo jovens dotados de longos percursos de

escolarização com um considerável número jovens que abandonam a escola precocemente – sem formação básica.

Não se poderá desprezar ainda que estas melhorias significativas de escolarização aqui registadas vão perdendo gradualmente a sua força nos níveis de ensino mais avançados. De forma similar, o abandono e o insucesso escolar parecem demonstrar um comportamento cumulativo, isto é, vão-se dilatando à medida que se avança no nível de ensino e na idade. O ensino secundário (não obrigatório) edifica-se como um marco diferenciador das práticas, trajectórias e estratégias dos jovens. Por um lado, como momento de saída da instituição escolar para muitos e, por outro, do lado dos que prosseguem os estudos, pelo incremento exponencial do insucesso escolar.

IV – Emprego e desemprego

Jorge Vieira*

Introdução

Traçaremos de seguida as principais tendências realçadas pela compilação de dados relativos à temática do emprego e desemprego juvenil em Portugal. Dimensão analítica revestida de enorme importância e de fulcral pertinência para a caracterização dos jovens portugueses na viragem do milénio. De facto a inserção profissional constitui-se como importante momento nos percursos juvenis, num tempo marcado pela instabilidade e a precariedade laboral e em que o desemprego constitui um dos problemas que mais aflige os jovens41.

Na contemporaneidade estas trajectórias descrevem comportamentos intermitentes, fragmentados, incertos, não lineares e reversíveis – a juventude dos percursos yo-yo42. Numa progressiva diversificação43 e destandardização, marcadas

por períodos de semidependência familiar44 aliados ao figurino do trabalhador-

estudante, do jovem desempregado ou do biscateiro.

Muitas vezes esta complexidade crescente não se deixa rastrear fielmente pelas estatísticas, pelo que importa problematizar a fiabilidade da leitura da realidade social somente através do olhar macro dos dados oficiais. Não obstante esta óptica, constitui um contributo que fornece pistas e enriquece o conhecimento sobre a problemática do emprego e desemprego juvenil nacional.

Como subsistem economicamente os jovens no(s) trânsito(s) entre a juventude e a idade adulta? Que qualificações detêm os jovens empregados? Qual o peso dos jovens desempregados?

*

Sociólogo licenciado pelo ISCTE. Bolseiro de Gestão de Ciência e Tecnologia CIES/ISCTE no OberCom. Mestrando em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação no ISCTE.

41

Pais, José Machado (coordenador) (1998) Gerações e Valores na Sociedade Portuguesa, Lisboa, IPJ.

42

Pais, José Machado (2001), Ganchos, Tachos e Biscates – Jovens, Trabalho e Futuro, Porto, Âmbar.

43

Nilsen, Ann, Maria das Dores Guerreiro e Julia Brannem (2002) “Most choices involve Money. Different pathways to adulthood” em Brannem, Julia, Suzan Lewis, Ann Nilsen e Janet Smithson (editores), Young europeans, work and

family. Futures in transition, Londres, Routledge.

44

Biggart, Andy e Walther Andreas, “Copin with Yo-Yo transitions. Young Adults’ Struggle for support between family and state in comparative perspective.” em Leccardi, Carmen e Elisabetta Ruspini (2006) A New Youth? Young People,

A estruturação do presente capítulo pauta-se por um primeiro momento dedicado à identificação dos principais meios de vida dos jovens em Portugal e das suas condições perante o mercado de trabalho. De seguida a atenção será dada aos jovens inactivos. O último espaço é reservado à caracterização da população jovem activa, desdobrada nos jovens empregados e desempregados.

Refira-se desde já que alguns dos dados da série que se inicia em 1998 do Inquérito ao Emprego aqui em análise, não são divulgados pela fonte45 por conterem

um valor com erro de amostragem superior a 20% quando ventilados por faixas etárias. Tal condicionou alguns cruzamentos de variáveis pretendidos e, por conseguinte, o exercício descritivo e analítico46. A fechar a introdução acrescente-se

que a totalidade dos dados aqui explanados provém da mesma fonte, o Instituto Nacional de Estatística e abarcam, na sua maioria, os anos de 1990 a 2005