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Evolução dos Conceitos Relacionados à Responsabilidade Social das Empresas

3 O TERCEIRO SETOR

O RGANIZAÇÕES R ELIGIOSAS 29,473 13.4%

3.2 DA DOAÇÃO DESCOMPROMISSADA À RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Adotando iniciativas de responsabilidade social, a

3.2.1 Evolução dos Conceitos Relacionados à Responsabilidade Social das Empresas

A consolidação desta tendência ocorre paralelamente à disseminação no meio privado de conceitos como “cidadania empresarial” e “responsabilidade social corporativa”. Patrícia Ashley et al (2000), realizaram pesquisa comparativa a respeito da evolução destes termos, em especial nos meios acadêmico e empresarial. A seguir é apresentado um resumo do trabalho das autoras.

A doutrina da “responsabilidade social corporativa” era ponto pacífico nos EUA e Europa até o século XIX, uma vez que a condução de negócios não cabia à esfera

58 Fonte: Instituto Ethos. Disponível em <http://www.ethos.org.br/pri/open/associese/index.asp>. Acesso em 14 fev. 2001.

privada, sendo assunto de competência da Monarquia ou do Estado (Hood apud Ashley et al, 2000).

Esta realidade começa a mudar a partir do final do século XIX e início do século XX quando a condução dos negócios voltados a interesses privados foi autorizada pela legislação americana. Muda, dessa forma, a finalidade última dos empreendimentos negociais que passou a focar exclusivamente o interesse dos acionistas, ou seja, a maximização do lucro. “A filantropia corporativa e o investimento na imagem da corporação para atrair consumidores poderiam ser realizados, na medida em que favorecessem os lucros dos acionistas” (Ashley et al, 2000:2).

Entre os anos 30 e 50, vários litígios propostos por grupos de acionistas insatisfeitos são julgados pela justiça norte-americana de forma favorável à atuação de empresas em assuntos de natureza social. Destaca-se o caso da A.P. Smith Manufacturing Company versus Barlow (Campbell apud Ashley et al, 2000:2), quando a Suprema Corte reconheceu a responsabilidade das corporações em, também, buscar o desenvolvimento social.

No meio acadêmico, apesar de mencionarem a existência de estudos a respeito desde 193259, as autoras dedicam especial atenção à recente evolução do termo. Na

análise realizada, são apresentados posicionamentos de pesquisadores que são favoráveis ou contrários à adesão do empresariado em iniciativas do gênero.

As visões contrárias se baseiam, basicamente, no direito de propriedade e no objetivo de maximização do lucro, característicos da iniciativa privada:

“[...] argumenta-se que a direção corporativa, como agente dos acionistas, não tem o direito de fazer nada que não atenda ao objetivo de maximização dos lucros, mantidos os limites da lei. Agir diferente é uma violação das obrigações morais, legais e institucionais da direção da corporação. Por outro lado, o ponto central do argumento da perspectiva pela função institucional está em que outras instituições, tais como governo, igrejas, sindicatos e organizações sem fins lucrativos, existem para atuar sobre as funções necessárias ao cumprimento da responsabilidade social corporativa. Gerentes de grandes corporações não têm a competência técnica, o

tempo ou mandato para tais atividades, as quais constituem uma tarifa sobre o lucro dos acionistas, nem foram eleitos democraticamente para tal, como o são os políticos” (Ashley et al, 2000:3).

Os defensores de uma atuação socialmente responsável das empresas, por sua vez, podem ser enquadrados, segundo Marc Jones (apud Ashley et al, 2000:3), em duas linhas: a ética e a instrumental.

“Os argumentos éticos derivam dos princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as empresas e pessoas que nelas trabalham deveriam ser conduzidas a se comportar de maneira socialmente responsável, por ser a ação moralmente correta, mesmo que envolva despesas improdutivas para a empresa.

Os argumentos, a favor, na linha instrumental consideram que há uma relação positiva entre o comportamento socialmente responsável e a performance econômica da empresa. Justifica-se esta relação por uma ação proativa da empresa que busca oportunidades geradas por:

- uma consciência maior sobre as questões culturais, ambientais e de gênero; - uma antecipação e evitação de regulações restritivas à ação empresarial pelo

governo;

- e uma diferenciação de seus produtos diante de seus competidores menos responsáveis socialmente” (Ashley et al, 2000:3-4).

Mais recentemente, nos anos 90, com o envolvimento de pesquisadores da ética dos negócios, novos conceitos surgem para delinear diferentes estágios da organização com relação ao seu posicionamento perante a sociedade (Frederick apud Ashley et al, 2000):

- responsabilidade social e responsividade social corporativa: responsabilidade da empresa com o desenvolvimento social que pode ser verificado com base em três níveis: institucional - legitimidade da

empresa; organizacional - responsabilidade pública; e individual - arbítrio gerencial;

- rectitude social corporativa: inclui a necessidade de uma ética normativa; e

- cosmos, ciência e religião: visão transcendental do papel de uma organização, representando novo paradigma destinado a resolver os conflitos existentes entre os negócios e a sociedade nos diversos níveis institucionais.

3.3 AS FUNDAÇÕES

Essas entidades procuram com sua ação dar um novo significado de sentido às pessoas e ao próprio mundo em que vivem. José Eduardo Sabo Paes (2000: 242)

Uma das maneiras do empresariado contribuir mais intensamente e de forma articulada com as questões de interesse comunitário é mediante a constituição de uma fundação.

Muito diversas são as motivações60 que induzem as empresas a criarem

organizações da espécie: pode estar relacionada desde a uma consciência do empresariado face aos graves problemas sociais por que passa o País, como apresentado na seção anterior, até mesmo uma preocupação relacionada à melhoria da imagem da empresa ou produto que representam.

Antes, porém, de abordar diretamente as fundações empresariais convém oferecer ao leitor informações sobre as fundações em geral e suas características de forma a ampliar a compreensão sobre as especificidades deste tipo de organização. Por exemplo: para se criar uma fundação é necessário se destacar previamente um patrimônio que seja suficiente não somente para iniciar as atividades, como também

60 Não serão analisados neste estudo os casos de estabelecimento de organizações travestidas de

para assegurar a sobrevivência da nova entidade. Este patrimônio, por sua vez, estará vinculado a um fim específico durante todo o período de existência da fundação.

Estas e outras peculiaridades serão apresentadas a seguir com maior detalhamento a fim de melhor clarificar o objeto desta dissertação.